Quando acordei, Gerard já não estava mais lá. Estranhei, pois ele nunca saía sem antes falar comigo. Um vento frio invadiu o quarto pela brecha da janela e meu corpo inteiro arrepiou-se. Me cobri dos pés à cabeça com o edredom e fiquei ali deitada quase o resto do dia. Meu corpo doía, minha cabeça estava a ponto de explodir, meu coração chorava. Percebi que estava com febre, talvez aquela fosse a razão de todo o meu frio interminável. Resolvi que não ficaria ali sozinha esperando Gerard voltar. Eu iria atrás dele.

Mesmo com febre, dor no corpo e um enjôo terrível, me vesti com uma roupa de frio e saí decidida a ir à procura de Gerard em todos os lugares. O tempo lá fora era um dos piores em todo o inverno de New York. Alguns flocos de neve caíam e o vento gelado só aumentava a minha febre. Andei por algumas quadras até ver o que eu nunca imaginara antes.
Gerard saiu de uma lanchonete com um sorriso no rosto e então eu percebi que ele não estava sozinho. Logo após dele, saiu também uma mulher muito bonita com o mesmo sorriso de alegria no rosto. Aquilo partiu meu coração. Eles estavam rindo e ele estava feliz. Feliz, bem diferente da noite anterior ao meu lado.
Os dois entraram no carro de Gerard e saíram juntos. Por sorte, nenhum dos dois me viu ali. Sorte? Talvez, pois o que eu mais queria naquele momento era ir até lá e bater na cara daquela vagabunda.
Voltei pra casa e antes de colocar a chave na porta me dei conta de uma coisa. E se eles estivessem ali? E se eu abrisse a porta e visse algo pior do que aqueles sorrisos na lanchonete? O Gerard seria tão cafajeste assim?
Fui fraca, covarde. Desisti de entrar em minha própria casa e saí do prédio. Caminhei solitária pelas ruas geladas de NY até minha febre aumentar e tudo virar escuridão. Desmaiei em algum lugar e se não fosse por algumas pessoas bondosas que passavam pelo local, talvez eu tivesse morrido por lá.

Acordei em um quarto de hospital. O médico disse que eu estava com hipotermia e poderia sim, ter morrido no meio da rua. Felizmente eu estava bem e meu bebê também.
- doutor, e o meu marido?
- não conseguimos localiza-lo pelo número de telefone que achamos em seus pertences. Vou pedir que tentem novamente, ok?
Uma lágrima caiu em meu rosto quando percebi que estava sozinha naquele lugar. Inexplicavelmente uma pessoa apareceu. Logo quem eu menos esperava ver naquele momento. Minha mãe.
- filha... – ela entrou no quarto e foi correndo me abraçar. Eu não retribuí o abraço.
- mãe, o que a senhora faz aqui?
- o hospital entrou em contato comigo. Eles acharam meu telefone em sua carteira.
- hum...
- eu fiquei preocupada com você, Anny. Apesar de tudo você ainda é minha filha.
- não foi isso que a senhora disse quando me expulsou de casa.
- eu estava nervosa. Descobrir que vai ser avó não é uma notícia fácil.
- mas era pra senhora ficar feliz! Um neto, um presente de Deus, mãe!
- eu sei, eu sei. E é por isso que eu quero que você volte pra casa. Pra sua verdadeira casa, Anny. É lá que você deve ficar.
- eu vou me casar agora mãe. Vou morar com o Gerard pra sempre.
- e onde ele está agora hein? Se ele te ama tanto quanto diz, ele deveria estar aqui com você, não acha?
O pior de ouvir aquilo era saber que era tudo verdade. Onde ele estava? Será que meu pensamento terrível estava certo??
- mãe, por favor...
- Annabelly, pense bem minha filha. Este casamento não é certo. Ele não é homem pra você.
Adormeci com as palavras de minha mãe. Acho que o anestésico estava fazendo efeito. Será que ela estava certa sobre tudo? Será que Gerard ainda me amava?

Quando abri os olhos, uma surpresa. Gerard estava lá, sentado numa poltrona me olhando sério. Ele se levantou e veio em minha direção. Havia algo em suas mãos. Eram fotos.
- Gerard, onde você...
- Anny, quando foi isso? – ele jogou algumas fotos em cima de mim e ao vê-las meu queixo caiu. Eram fotos do dia da boate, fotos do meu ‘beijo’ com Julian.
- mas quem...
- só me responde, Anny. Que dia era esse? – eu estava chocada. Quem tirou aquelas fotos?? Eu não sabia. – como você teve coragem de beijá-lo sendo minha noiva? Como??
- Gerard, eu não quis beijá-lo. Ele me segurou e...
- então você está dizendo que foi forçada? É isso? Vai mentir pra mim, Anny?
- EU NÃO ESTOU MENTINDO!! – gritei com lágrimas nos olhos. – você tem que acreditar em mim! Eu não tenho mais nada com ele. NADA!
- ela estava certa. Eu não sei se posso mais acreditar em você, Anny. – ele se virou e colocou a mão na maçaneta.
Acho que ele parou ao ouvir o som do meu choro. Ou talvez pela pergunta simples, mas tão difícil de ser respondida.
- quem era ela? – ele continuou calado, virado pra porta e com a mão na maçaneta. – QUEM ERA ELA, GERARD??
Ele não respondeu. Em vez disso, girou a maçaneta e saiu sem me dar um último olhar. Aquela cena não saía da minha cabeça um só minuto. Eu chorava de tristeza, choque, incredulidade. Como ele foi capaz?