Who Knew escrita por Nunah


Capítulo 4
3 - porque ela não segue o próprio conselho




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     Athena e Hera estavam em suas formas adolescentes, sentadas num canto afastado do Olimpo, entre elas repousava um pinheiro de três metros de altura, enfeitado pela metade.

- Você tá estranha – disse Hera.

- Por que? – Athena perguntou pegando as luzinhas coloridas.

- Tá feliz. Aconteceu alguma coisa ou é só o clima natalino? – Hera perguntou rindo.

- El está por mí y por ti borró, borró. Eso que tú tienes to’o y yo ni un kikí – cantou Athena dançando.

- Yo soy loca con mi tigre, loca, loca, loca. Soy loca con mi tigre, loca, loca, loca – cantaram Hera e Afrodite que tinha acabado de aparecer do nada.

- Loca, loca, loca – terminou uma voz às suas costas.

- Poseidon?! – foi a vez de Athena de rir – Não devia estar ajudando por ai ao invés de cantar Shakira?

- É, mas não tem mais nada pra fazer. Querem ajuda com a árvore? – disse ele sorrindo.

- Hera, me ajuda a pegar as bolinhas lá na outra sala...? – perguntou Afrodite se afastando e caiu a ficha.

- Ah, claro, tudo bem, nós já voltamos – ela disse se levantando – Eu disse que não iria te ajudar, mas não resisti – Hera sussurrou assim que estavam longe o bastante, arrancando risos de Afrodite.

- Ahn, er, coloca? – perguntou Athena pra Poseidon estendendo a estrela enorme em sua mão.

- Pensei que quisesse fazer isso – ele disse.

- É que a escada sumiu...

- E...?

- E eu não alcanço, cabeção – ela disse cruzando os braços.

- Não seja por isso – em um movimento rápido, Athena já estava em seus ombros.

- O que que você tá fazendo, seu doido?! – ela disse rindo.

- Coloca logo a estrela – e assim foi feito.

- Poseidon, seu tarado, tire as mãos das minhas pernas! – ela disse, mas sempre ria.

- Você que tá com um shorts minúsculo! E além disso, se eu te largar, você cai, sabia?

- Não caio, não, hã – ela disse e Poseidon a soltou. Athena deslizou para o lado e ele a acolheu em seu colo.

     Logo, os dois estavam caídos no chão, rindo como nunca.

- Perdemos alguma coisa? – perguntou Hera, entrando com um monte de caixas, sendo seguida por Afrodite – Vocês estão bem?

- Bolinhas! – disse Athena se levantando – Eu coloquei a estrela, Hera!

- Poseidon, o que fez com ela?

- Ele me ajudou a colocar a estrela! – ela disse com um sorriso eutenho32dentes.

- Será que ela bebeu? – perguntou Afrodite séria e logo todos caíam na gargalhada.

- Bom, eu já vou, até depois – disse ele saindo pela porta.

- E eu que pensei que eles iam se matar – murmurou Hera.

- Ah! Conta tudo! – disse Afrodite.

- Tudo o quê, sua maluca?! – perguntou Athena – Depois eu que bebo...

- Ah, nem venha se fazer de desentendida, dona Athena. Eu vi vocês ali no chão, rindo.

- E o que isso tem de mais?

- Athena e Poseidon caídos no chão, rindo como desesperados e você pergunta o que tem de mais?! – Hera perguntou pra ela.

- Não pensem besteira, vocês que imaginam coisas – Athena disse, pegando as bolinhas e começando a distribuí-las pela árvore.

- Sei... Bem, meninas, eu vou ajudar Ártemis e Apolo antes que eles se matem – disse Afrodite, indo embora.

- Não aconteceu nada mesmo? – perguntou Hera com um sorriso maroto.

- Até você?! Todo mundo aqui tem probleminha... Mas, Hera, agora é sério, como você tá?

- Melhor impossível.

- Ha-há, me engana que eu gosto – Athena se sentou à sua frente e segurou suas mãos – Hera, já passei por isso. Pode se abrir comigo.

- Não sei... Bem, eu estou feliz com tudo isso, mas... Não mudou tanta coisa como eu esperava, sabe? Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Eu me preocupo com ele...

- Porque ainda o ama – disse Athena, fazendo Hera arregalar os olhos, para logo depois se acalmar e suspirar – Já tentou...?

- Um novo amor? Nem pensar – ela respondeu rápido demais - Não é minha culpa. Eu sempre me dediquei a ele.

- Eu entendo. Mas... Você sabe, não é? Deuses nunca são fiéis. Afrodite é a prova viva disso. É a deusa do amor e tem uns 847364 amantes. A culpa disso é que depois que se convive com a mesma pessoa por 3000 anos, tudo começa a esfriar...

- Sim, eu sei, mas é tão difícil se manter fiel? Eu nunca o traí.

- Hera, homens não são todos iguais como se costumam dizer. É um pior que o outro. O nosso erro é achar que se os deixarmos, eles irão voltar de joelhos, implorando para voltarmos, coisa que eles nunca fazem. Homens são orgulhosos, principalmente Zeus, e normalmente nem fazem ideia de que é isso que queremos. Quando o deixamos, eles acham que é porque não os queremos mais vê-los e é hora de seguirem em frente. Não, eles nunca acham que queremos isso, que queremos voltar, que queremos que eles mostrem que se importam... Eles não sabem disso – ela disse – E nós, não nos preocupamos em informá-los.

- Está dizendo para eu perdoá-lo? Depois de tantos e tantos anos fazendo isso? – Hera falava com os olhos marejados – Eu não posso. Não aguentaria.

- Não, claro que não. Isso é apenas um conselho. Você tem que fazer o que seu coração mandar. Isso é bem irônico vindo da deusa da sabedoria, mas... Você sabe o que Afrodite diria. Como eu disse, ela é a deusa do amor e, mesmo brigando com Zeus, no fundo, ela quer vocês juntos.

- Me promete que não ficará brava se eu fizer uma pergunta?

- Por que eu ficaria? – Athena perguntou unindo as sobrancelhas.

- Porque é meio que pessoal – Hera disse e Athena assentiu, a encorajando – Por que a deusa da sabedoria não segue o próprio conselho?

- O que?

- Você já passou por isso, lembra? E, cá entre nós, sabemos que, assim como eu, você ainda o ama.

- Você não está falando de...?

- Poseidon – Hera disse e Athena se levantou alterada – Prometeu que não ficaria brava. Você o ama, sim! Admita. Ninguém pode resistir ao amor, Athena, nem mesmo a razão.

- Você não contaria...

- Estamos no mesmo barco. Athena, acabou de dizer que deuses não são fiéis, por que não segue o próprio conselho e...?

- Porque não é esse o problema! – ela gritou, as lágrimas já saltando de seus olhos – Claro que... Isso também conta, mas... Não é o verdadeiro problema.

- Então, pelo amor dos deuses, literalmente, diga qual é esse grande problema capaz de separar duas pessoas que se amam.

- Em primeiro lugar, acho que está passando tempo demais com Afrodite. Em segundo lugar, esse é o maldito problema! Como sabe que ele ainda me ama?! – Athena explodiu em um choro silencioso e incontrolável, escorregando pela parede e enterrando o rosto em seus joelhos – E quer saber? Eu não o amo. Nunca amei. Pelo contrário, eu o odeio. Nós nos odiamos.

- Ah, não, não se iluda. A cada olhar, a cada palavra, a cada sorriso...

- Sempre com aquele olhar malicioso, que todas se derretem, suas palavras que mais parecem sussurros trazidos pelo vento que fazem cócegas nos ouvidos e o sorriso debochado, cheio de ironia, por qual qualquer uma se entrega. Isso é patético.

- Não, Athena, não. Viu o que acabou de dizer? Como acha que percebeu tudo isso?

- Hera, vamos terminar aqui. Pois já está escurecendo e eu quero dormir.

- Está bem, mas lembre-se da nossa conversa.

     Um pouco relutante, Hera deixou Athena sozinha e, em silêncio, as duas trabalharam até depois da meia noite, quando já estavam totalmente cansadas e sonolentas.

     Seria o certo? Não, não seria. Mas Hera não queria viver a eternidade com isso em sua cabeça. Ele não a amava mais, aquela ideia não entrava em sua mente, por mais que quisesse, não conseguia acreditar que Zeus era capaz de sentir amor por uma mulher a quem sempre traiu. Por que ele fez isso? Por que não acabou de uma vez com o casamento, ficando, assim, livre? Por que ele nunca deu sinal de que se importava? Por que ele sempre andava com aquele sorriso canalha na cara, dando bola pra qualquer umazinha que passava em sua frente? Por que ele olhava qualquer ser que possuísse um par de seios? Essas eram perguntas que predominariam para sempre sem serem proferidas, então, sem terem respostas concretas. Sempre apenas suposições, nunca a verdade. Era a mesma coisa que perguntar para um mortal “Por que Judas traiu Jesus?”.

     Perdoá-lo – mais uma vez – depois de tudo? Depois de tudo que sofreu, de todas as desculpas aceitas, Hera daria o braço a torcer novamente? Sua cabeça estava confusa como nunca antes. Ela poderia deixar as coisas como estão, sofrer toda vez que vê-lo com uma nova mulher, chorar em silêncio quando ele sorrir por algo irrelevante e ver que não se importa, ou ela poderia aceitá-lo de volta, como fez tantas outras vezes, dar uma nova chance a essa situação que parece irreversível, ver se ele finalmente se arrependeu... Pois, nada mudará o passado, desculpas podem até amenizar um pouco as coisas mas, se olhar para trás, ainda dará para ver todos os erros cometidos por alguém consciênte daquilo tudo.

     Quer saber? Ela não faria nada em relação a isso. Apenas deixaria as coisas acontecerem em seu devido tempo pois, estava ciente de que, era a única mulher capaz de colocar Zeus na linha.

     Depois de tomar um banho e descansar um pouco, Hera lembrou de um pequeno detalhe. Ela havia esquecido - no dia em que pegou suas coisas do quarto de Zeus – sua flor. Uma flor vermelha, daquelas que se usa pra dançar tango e se lembrava bem a última vez que a usara: No dia de seu casamento. Droga, por que aquele dia estava voltando com tanta força em sua memória? Por mais que não quisesse, se levantou.

     Seu quarto era no mesmo corredor do de Zeus, cada qual em um extremo. Caminhou calmamente, na verdade não tinha nem se preocupado em colocar algo para esconder a camisola, na verdade, uma mini camisola. Mas todos estariam dormindo mesmo. Entrou sem se dar ao trabalho de bater e se deparou com três homens. Zeus, Poseidon e Hades, todos acordados.

- Hera?! – disse Zeus assutado – Sabe que horas são? O que voc...? – ele começou, mas logo sua expressão ficou maliciosa, como sempre. Seus olhos a examinaram de cima abaixo, seus irmãos fizeram o mesmo. Primeiro se concentraram em suas pernas expostas por um tecido que não dava um palmo na coxa. Depois subiram para o decote – BEM – generoso – Veio fazer uma visitinha? – ele perguntou divertido.

- Eu vim buscar minha flor.

- Sabe que não a achamos desde a noite de núpcias.

- Nossa, a festa foi tão boa assim? – perguntou Hades.

- Nem imagina o quanto – respondeu Zeus.

- Você vai me ajudar a procurar ou não?! – ela perguntou cruzando os braços.

- E o que eu ganho com isso...? – ele perguntou.

     Ok, ele queria jogo? É jogo que ele vai ter. Ela, por mais que brigasse e o negasse, sabia que ele nunca resistia aos seus encantos e, usando dessa sabedoria, caminhou sensualmente ciente de que os três a comiam com os olhos e sentou em seu colo.

- Tudo o que quiser – sussurrou em seu ouvido enquanto arranhava levemente seu peito nu, sentindo seu arrepio.

- Ok, vamos à procura da flor! Poseidon e Hades, procurem – disse Zeus saltando da cama.

- Você é um canalha, sabia? – dizia Poseidon rindo.

     Depois de alguns minutos que mais pareceram horas, Hera deu um gritinho de felicidade com algo vermelho em mãos.

- Onde estava?

- No fundo do guarda-roupa. Bom, obrigada pela ajuda, meninos. Bye! – ela disse saindo pela porta.

- E meu pagamento? – perguntou Zeus indignado.

- Vá procurar com as ninfas! Eu não jurei pelo Styx – Hera gritou, já do outro lado do corredor.

- Quanta sacanagem – ele disse.

- Vocês são loucos ou o quê?! Sabem que horas são pra gritarem desse jeito? – perguntou Athena descendo as escadas.

- Você também tá acordada? – perguntou Poseidon.

- Agora sim. O que que vocês estavam fazendo, hein?

- Conversando – respondeu Hades.

- E desde quando vocês conversam essa hora?!

- Sei lá – disse Zeus – Eu quero minha recompensa!

- Que recompensa? Pirou, foi?! – perguntou ela, já se irritando.

- Hera prometeu que faria tudo que Zeus quisesse se ele a ajudasse a achar uma tal flor e ela não cumpriu a promessa – disse Poseidon.

- Zeus prometeu amá-la, respeitá-la e ser fiel até a morte, mas ele cumpriu a promessa?! Claro que não! – ela disse – Eu vou vê-la.

- Desde quando Athena dorme com esses trajes? – perguntou Poseidon meio abobado.

- Quer dizer, uma camisola quase transparente e minúscula? Não faço ideia – disse Hades.

     Athena entrou sem permissão no quarto da outra deusa e se surpreendeu ao vê-la sentada na beirada da cama, segurando algo enquanto soluçava.

- Hera... – ela disse a abraçando – O que houve?

- Ele não muda, aquele canalha – Hera disse com a voz embargada – Eu já deveria saber. Me tratou como uma vadia.

- Se orgulho matasse... Eu também já estaria morta, mas isso não vem ao caso.

- Athena, por favor, fica aqui comigo hoje.

- Eu vou, só deixe eu fazer uma coisa – Athena disse se levantando e caminhando de volta aonde ainda estavam os três homens parados – Idiota – ela disse antes de dar um tapa bem dado na cara de Zeus que ficou sem entender nada.

- Diga não a violência – disse Hades, também levando um tapa.

- Caraca, Athena, tá tudo bem? – perguntou Poseidon que, claro, também ficou com marcas de dedos na cara.

- Bando de retardados, viu? – ela disse, voltando ao quarto

- Tudo bem? – perguntou Hera olhando a outra que parecia soltar fogo pelo nariz.

- Sim, sim. Agora, me conte, o que faz com essa flor? – ela perguntou assim que a cabeça de Hera já descansava em seu colo.

- Bem, eu sempre a usava quando jovem... A usei no casamento. Mas, na noite de núpcias, Zeus parecia pegar fogo... E eu também – ela admitiu com um risinho – Depois de arrancar minha roupa, nós já não tínhamos consciência de nossos atos e eu acabei perdendo a flor. Não a achei no dia em que transferi minhas coisa pra cá e não queria conviver com a ideia de que a havia perdido, então fui até o quarto dele procurar.

- Ah... Entendi.

- Mas você pensou no que eu disse sobre...?

- Pensei.

- E qual foi sua conclusão?

- Vou deixar tudo na mão do destino – disse Athena com um suspiro.

- Eu também.


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