POV BELLA

Mais uma vez tinha sonhado com ele, com seu cheiro, seu toque na minha pele. Resmunguei para mim mesmo quando acordei, não queria sair daquele mundo imaginário lindo e maravilhoso, queria ficar ali tendo ele só para mim.

Mas não teve jeito, meu sono já tinha passado e eu tinha infelizmente acordado para minha realidade solitária. Espreguicei na cama, esfregando meu corpo contra os lençóis e travesseiros na imensa cama que ficava no centro do meu quarto. Sentei, arrumei meu cabelo em um coque, bocejei com um resquício de sono.

Meu estomago roncou, mas antes de me alimentar iria ver Shang, averiguar se estava melhor, no dia de ontem ela ficou trancada no quarto, meditando, pratica que admiro dela conseguir, minha mente é muito inquieta para isso.

Saindo do meu quarto encontrei Lunna e Melissa arrumadas para sair e arrancar vários suspiros masculinos. A minha melhor amiga era felicidade personificada, ela praticamente quicava de tanta animação, recordei o motivo: hoje ela pegaria o carro novo.

-bom dia Bells. - ela veio me dar um abraço. - Hoje é o dia muito lindo e perfeito, não acha?

-Bom Dia Lunna. - eu respondi rindo da cara de alegria dela, seu sorriso parecia que ia rasgar as bochechas de tão largo. - bom dia Mel.

-Bom dia querida. - Respondeu Melissa sorrindo. - Vamos Lunna.

-Bells, você precisa de mim para se alimentar? Suas olheiras estão fundas já. - Lunna falou preocupada.

Eu preciso de sangue, mais que Sarah, o veneno vampiresco tinha me afetado mais do que ela. Assim preciso me alimentar de sangue de dois e dois dias, mas eu não sentia sede como os sanguessugas, só ficava um pouco mais fraca, como tivesse doente, com olheiras horríveis. Isso era sinal de alerta para minhas irmãs, porque no começo eu ignorei esses sintomas e desmaiei quatro dias sem sangue. 

-Pode ir loba. - Falei passando a mão na bochecha dela. -  Peço para as outras meninas. - eu falei rindo. - Não quero gosto de adrenalina na minha boca, pois seu sangue deve esta repleto dela. Amarga sabe?

-Não sei, mas sem duvida estou com muita adrenalina nas veias. - ela ria de orelha a orelha, exalando felicidade por todos os poros. - Então me vou. Beijos.

-Beijos. - Respondi enquanto as duas saiam animadas.

Caminhei até o final do corredor, na penúltima porta ficava o quarto da oriental mais graciosa que existe. Bati levemente na madeira, escutei sua voz suave falando que eu podia entrar.

Ela estava sentada numa espreguiçadeira lendo um livro,  pela capa era japonês, com vários simbolo típicos daquele idioma, uma das doze línguas que Shang era fluente.

Quando passei pela porta, o sorriso dela me recepcionou, respondi da mesma forma. Com a mão ela bateu no estofado preto de couro me convidando a se juntar a ela, assim fui.

-Como você está Shang? - Perguntei enquanto ela colocava o livro de lado no criado-mudo  para conversar comigo.

-Vou ficar cada dia melhor. Nada melhor que o tempo para curar qualquer ferida. - ela respondeu gentilmente. - Pelo seus olhos negros vejo que precisa de sangue.

Meus olhos eram normalmente uma profusão de cores, mas quando o sangue era necessidade no meu organismo, minha iris ficavam negras, como os dos vampiros. Bastava me alimentar com uma pequena quantidade do liquido vermelho de transformo, tudo ficava bem, até mais forte eu me sentia.

-Não vim para isso. - resmunguei.- quero saber como você está.

-Já lhe respondi. - ela esticou o pulso para mim. - Agora aproveite o banquete.

-Odeio fazer isso com vocês.

-Depois de oito anos ainda temos esse tipo de conversa. - Shang brincou comigo de maneira marota. - Vamos Bella.

Revirei meus olhos e gravei meus dentes na pele branca de Shang, ela sorriu para mim. Fiquei somente alguns minutos, menos de dez.

Logo Jonh apareceu e nos chamou para irmos tomar um café na cafeteria que tinha aberto perto da nossa casa.

Shang não queria ir, mas nós convencemos ela, em meio a nossa chatura ela acabou cedendo.

Saímos de braços dados com Jonh, que ama ser paparicado por nós todas. O dia estava especialmente agradavelmente quente, mesmo com o calor grande, eu me sentia especialmente feliz, talvez seja que meus sonhos com ele tinham sido muito agradáveis.

Sentamos no pequeno estabelecimento, muito bem decorado com algumas pinturas aquarela muito bem feitas de artistas novos. Uma garçonete veio nos atender, cheia de sorriso para urso, que por sua vez não se interessou por ela, isso nos assombrou, afinal esse garoto não rejeia mulher. Vendo nossa incredulidade, foi logo explicando para nós:

-Ela não faz meu tipo.

-Você tem isso? - Shang retrucou achando graça.

-Sempre achei que seu tipo fosse mulher e ponto. - completei na implicância com ele.

-Gosto de as vezes ficar somente com as minhas irmãs. - ele falou sério, algo incomum para ele, tinha algo estranho. Mas rapidamente ele confessou. - Ela tem um defeito que é complicado para mim. - Nós duas paramos para ouvir e anotar aquele detalhe do garanhão da casa. Ele riu das nossas caras, comunicou. - Ela é comprometida. Isso é um defeito que não tolero.  

Eu e Shang caímos na gargalhada, tai algo que nunca pensamos de Jonh, sendo conservador. Sempre achamos que nada fazia esse urso parar, mas havia: basta uma aliança. Verdadeira kriptonita contra Jonh.

-Nunca imaginei você sendo conservador a ess maneira meu menino. - Shang dizia em meio as suas risadas.

-Não gosto que tomem o que é meu, então não tomo o que é do outro. - Ele disse. - simples assim.

-Muito bem Jonh. - Falei bagunçando o cabelo dele, que bufou irritado com aquilo.
 
A mocinha trouxe os nossos pedidos, deu mais uma olhada luxuriosa para nosso irmão, rimos com aquilo, ai escutei um outro coração além do dela. Isso significa que ela está grávida, pela barriga lisa ela poderia nem saber ainda, contudo o martelar rápido já estava lá em seu ventre.

Não sei motivo uma tristeza pairou sobre mim, logo um sonho que tenho veio atona: ser mãe. Ter filhos [i]dele[/i], formarmos uma família, viver nossa historia de amor. Será que um dia eu teria essa dadiva com ele?

Em meio as minhas indagações senti a mão delicada de Shang sobre a minha, meus olhos buscaram o dela, que perguntou:

-Está tudo bem? - Seus olhinhos azuis claros eram atentos a mim.

-Sim estou, só pensei numa coisa. - respondi balançando a cabeça.

-Algo muito significativo, pois seus olhos até brilharam Bellzita. - Jonh falou preocupado.

-Vocês escutaram o coração do neném  dela? - Perguntei.

Shang virou o rosto em direção a mulher, fechou os olhos, concentrando seus sentidos na audição. Em seguida um sorriso apareceu naquele rostinho de porcelana.

-Você tem razão. - ela comentou.

-Está afiada Bellzita. - Jonh implicou comigo, bebericando o seu café.

-Eu me alimentei do sangue de Shang.

-Isso te deixa mais poderosa. - ele brincou comigo.

-Talvez.

Ficamos entretidos comendo e conversando amenidades, sempre era muito prazeroso ter companhia dos meus irmãos, eles faziam a minha vida ter algum sentido, afinal ele levou todo significado que havia em mim.

-Lunna parecia uma criança de tanta felicidade. - comentou Jonh comendou seu sanduíche enorme e natural.

-Ela estava sonhando com esse carro a meses. - Eu completei terminando de tomar meu segundo suco de laranja.

-Mel vai levá-la a oficina do outro lado da cidade e depois elas vão caçar. - Falou Shang despreocupada.

Enfim isso era a missão deles: caçar sanguessugas.

-Elas precisarão de ajuda? - perguntei um pouco ansiosa.

-Acho que não, pelo jeito são dois sanguessuga. - comentou Jonh. - Pelo menos foi isso que os olheiros de Sarah repassaram.

Os olheiros são pessoas, humanos comuns, que conhecem a existência desse mundo doentio de vampiros, que alerta Sarah para ataque deles, recebem muito bem, principalmente por cada sanguessuga delatado.   

A tranquilidade com que conversamos aquele assunto era até cômico, afinal para nós era um tipo de serviço, vivíamos para exterminar vampiros.

-Gostaria hoje de fazer um dia cultural. - Sugeriu Shang olhando através do vidro o dia ensolarado. - Acho que isso me animaria um pouco. Cultura sempre é bom, o que vocês acham?

-Eu topo. - Falei animada, queria dar esse presente para minha irmãzinha, além de amar esse tipo de programa, ainda ajudaria ela se entreter.

-Eu fico de fora, acho que vou aproveitar para treinar com May. - Jonh Falou debochado. - Gosto de implicar com ela, a pantera fica uma fera.

-Sabemos o quanto você consegue ser irritante quando quer. - Brincou Shang bagunçando o cabelo liso que era na altura dos olhos de Jonh.

-Vocês me amam dessa maneira que sou. - ele retrucou rindo vitorioso.

-Sem duvida nossa vida não seria a mesma sem você Jonh. - Mexi com ele, inflando seu ego.

Despedimos do nosso garoto, esse apelido ele amava, fomos eu e Shang para nosso dia repleto de cultura e entretenimento. NY é a cidade perfeita para isso, com exposições de artes em vários museus diferente e galerias, lojas lindas e interessantes, que vendiam qualquer coisa por você desejada. Para encerrar o dia fomos ao cinema, vimos um filme lindo francês.

O dia foi muito agradável, Shang é a pessoa mais gentil que conheço, bem acredito que ela empate com Sarah nesse quesito.

Fomos para casa em meio a nossa discussão sobre os personagem central e trama muito envolvente, a noite tinha já caído.

Para nosso espanto tudo estava calma demais no nosso lar, não havia nenhuma voz ou movimentação, achei isso estranho, pois já era hora das meninas terem chegado, Jonh deveria estar lá com May e Sarah. Porém não havia ninguém, aquilo nos deixou preocupada.

Caminhamos até o escritório no primeiro andar, nenhuma recado sequer, isso era mais estranho, enfim sempre que acontecia algo deixávamos bilhetes uma para outra.

Nesse momento escuto um barulho vindo do segundo andar, passos apresados.

Eu e Shang subimos apressadas para o andar de cima, fomos para área opostas aos dos nossos quartos, onde ficava duas salas de recuperação, para quando alguém se feria. Caminhamos até lá e vimos May preparando tudo para um atendimento.

Aquilo me assombrou, logico que minha mente alertou que só poderia ser uma das meninas, depois juntei a peça que Sarah tinha ido também, isso é sinal de algo muito grave, pois ela não sai com muita frequência do apartamento, só quando é de extrema  necessidade. Rapidamente Shang deu voz aos meus pensamentos:

-May quem se machucou?

-Não sei. - ela falou nervosa, arrumando vários vidros de tranquilizantes na bancada de mármore. - só sei que Sarah recebeu uma ligação de Mel.

-Lunna. - minha voz foi um suspiro, meu coração se apertou.

-Também pensei nisso. - May falou nervosa mordendo o lábio.

Sem pensar comecei arrumar as coisas junto com a morena, eram soros e remédios, Shang sem falar nada desceu, ouvi que seus passos eram nessa direção.

Depois de alguns minutos que pareceram ser horas devido minha ansiedade, escutamos os passos e senti o cheiro deles, havia outro perfume ali, um que eu conhecia muito bem, que me lembro sempre, mas não era possível deve ser alguma ilusão da minha mente saudosista.

Contudo  para meu espanto ouvi Lunna perguntando sobre mim, a oriental comunicou que me encontrava no andar superior.

-Bells. - Lunna me chamou.

Corri até ela, porém no meio do meu trajeto senti o cheiro dele aumentar, não pode ser uma alucinação, como algumas vezes tive, era muito forte, era muito presente. Mesmo com a minha velocidade inumana; meus passos pareciam lentos demais para mim.

Quando cheguei no alto da escada, não acreditei no que vi: era ele, embrulhado num lençol na cintura, inconsciente, sendo carregado por Jonh.

Não conseguia pensar em mais nada que não fosse: Jake estava ali.

-Jake. - as lágrimas que já pensava não mais existir em mim, pois já havia chorado todas, surgiram escorrendo pelo meu rosto.

Lunna veio até mim, aparando-me em um abraço apertado, aceitei precisava ter uma prova que aquilo que meus olhos viam eram real, pelo toque da pele quente da minha amiga. Sim, ele estava ali próximo a mim.

Quando Jonh passou por mim, indo em direção a sala de recuperação, vi que o rosto do meu sol era sereno, parecia estar dormindo, Sarah e Mel vinham atrás, logo me acolheram também, aceitei os afagos delas, que seguiram o para o recinto, fiquei com Lunna abraçada.

Não sabia o que sentir havia uma gama imensa de sentimentos, mas o que sobressaia era o meu amor por ele.

Quero ver seus olhos brilhantes, seu sorriso magnifico, ouvir sua voz rouca. Qualquer coisa que viesse dele eu queria, pois tenho ansiado por isso muitos anos.

Fomos em direção a sala de recuperação, quando cheguei a porta, vi May assustada com  aquele quadro.

Jonh e Melissa colocavam meu sol na cama, o amarrando a corrente que prendiam ao chão, ao fazer isso explicavam quem era aquele cara.

A pantera colocou a mão na boca assustada e começou ajudar prender ele na cama. Eles faziam isso porque caso Jake acordasse não se mexeria enquanto fosse tratado, já vi fazerem isso com meus irmão. Mas aquela cena era chocante para mim, afinal era Jake sendo amarrado.

Lunna percebeu meu incomodo, apertou seu braço a minha volta. Ao terminar Mel avisou que estava tudo pronto. A minha melhor amiga me soltou, mas parou e me encarou e falou:

-Bells, fica lá fora. - ela viu que eu não tinha gostado. - Você tem que encontrá-lo em outro momento, ele ficará bem, eu te prometo. Antes preciso colocar os ossos dele no lugar.

Assenti, ela tinha razão, não queria que ele me visse sem um preparo, enfim eu não era mais a menina que ele tinha conhecido, Além de que não queria ver ele sofrendo, sei que colocar ossos no lugar o faria sofrer, ele já tinha passado por isso a quase uma década.

Sarah veio até mim, aceitei de imediato o seu abraço, eu parecia uma criança perdida, querendo o amparo de qualquer um, principalmente os que amo.

-Mel fica do lado direito, Jonh esquerdo. - Lunna ordenava enquanto se colocava em cima da cama. - May segura as pernas, chama Shang para te ajudar. Ele é bravo precisa que o contenha bem, porque o efeito do tranquilizante esta pasando. - Ela olhava para o relgio  de parede do quarto. - Bells sai querida, você não vai querer ver isso.

Os braços de Sarah me encaminharam para fora, mas não queria me afastar muito daquele comodo, fiquei parada na porta do lado de fora. Shang passou por nós e entrou.

Conseguia escutar tudo que era dito por Lunna, durante sua vida ela fez faculdade de medicina, especialização em ortopedia, como sempre ela dizia: eu tenho pratica de muitos anos de ossos quebrados.

-Acho que as correntes vão dar conta, mas fique ligada Mel com a tranquilizante, porque ele pode se agitar quando eu começar a mexer. Vamos começar pelo tórax.

Os estalos começaram, logo uns rosnados dele surgiram, provavelmente o tranquilizante estava acabando seu efeito, mas ainda calmo lá dentro.

-Agora, vamos para as pernas, acredito que ele quebrou o fêmur da perna esquerda. - Lunna falou, meu nervoso era tanto que eu escutava qualquer barulho, ela se movimentava com cuidado em cima dele. - Pelo que sinto ele quebrou em três lugares, porém uma das faturas colou errado, deixando uma ponta perigosa. Meninas segurem.

O barulho do osso quebrando foi perturbador, combinado com o grito de dor que Jake deu agora gelou meu sangue, o som das correntes mexendo foi escutado por mim, elas estavam sendo puxadas.

-

-Você é forte garotão segure a dor. - Lunna comentou.

-Eu vou te matar. - ele vociferava em meio a vários palavrões e gritos.

-Seu eu ganhar um dólar por cada vez que ouço isso meu potinho de moeda estaria cheio. - Lunna falou fazendo força e colocando mais um osso no lugar. - Cada vez que você se mexer mais tempo vai demorar eu consegui colocar seus ossos no lugar.

Um urro de dor cortou a casa junto com estalo de mais um osso sendo posto no lugar, as mãos de Sarah me apertaram tentando me proteger.

Em seguida só consegui ouvir a respiração alta e raivosa dele, com alguns rosnados.

Depois ouvi um baque no chão, era Lunna saltando no chão, ela sai de cima dele e comunicou.

-Jacob. Seus braços e costas foram os pontos mais danificados. Vou te sedar para você não sentir.

-Eu quero ficar acordado. - ele falou entre dentes.

-Ela não vai sair daqui; - Lunna comentou calmamente.

-Cade ela? Bells – Ele gritou apertando meu coração, queria vê-lo mas temia sua reação mediante a minha mudança.

-Só não deixei ela ficar para não ela ver você sofrendo. - Lunna falou estalando outros ossos dele, depois de um grito ele perguntou.

-O cheiro dela esta diferente. - ele falou raivoso, mexeu mais as correntes. - O que vocês fizeram com ela? Eu te mato loba se machucou a Bells.

-Querido, eu salvei a vida dela. - Lunna disse com um pouco de raiva. - Você está muito agitado, vou ter que te sedar. Mel na veia, agora.

Depois de outros xingamentos, o silencio preencheu o ambiente. A loba terminou o seu serviço, colocou todos os ossos nos lugares certos. Quando tudo terminou entrei na sala, Jake dormia profundamente, sua pele estava molhada, seu cheiro estava perfeito.

Meu sonho, de quase dez anos, havia se tornado realidade: ele está aqui. Meu sol está aqui.