Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 15
Desperto




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XV

DESPERTO

ROSALIE

Terça-feira, 08 de Outubro de 1935.

- Mas ele quer lhe ver!

Eu suspirei, me concentrando no capô aberto do DeSoto. Eu não queria ouvir aquilo... eu não podia.

Edward estava tentando me convencer a voltar para meu quarto há quase uma hora; ele dizia sem parar que Emmett chamava por mim – às vezes murmurando o meu nome, às vezes perguntando por que o anjo dele o abandonara. E, se eu tirasse um minuto para ser sincera comigo mesma, eu saberia que eu também queria vê-lo; queria segurar a sua mão durante a provação que eu impus a ele.

Mas eu não podia.

Eu não podia porque cada grito, cada gemido de dor... cada vez que eu via a agonia no rosto de Emmett, era como reviver as quatro longas noites que eu agonizei no porão da casa de Carlisle, dois anos antes. Eu pensei que tinha força para encarar aqueles dias, mas eu estava errada.

Eu não podia estar do lado de Emmett.

- Os pensamentos dele, Rosalie... São todos para você! Ele sabe que está morrendo! Ele quer que você reze com ele.

Dei de ombros.

- Carlisle é filho de um pastor. É ele quem sabe a bíblia até de trás pra frente. Ele que reze!

- Emmett quer você!

- E? Eu tentei, Edward... não consigo mais! Eu não consigo mais sentar ao lado de Emmett e dizer palavras que para mim são vazias!Você sabe que eu há muito perdi a confiança em Deus.

- Isso não é desculpa! Você é a culpada de tudo isso!

- Você queria que eu o deixasse para morrer, no meio da floresta?

- Não... Mas eu queria que você tivesse aceitado a morte dele quando Carlisle disse que não havia outra maneira de salvá-lo, se não a transformação!

Claro que Edward tinha razão – ele geralmente estava certo. Eu era apenas uma menina de vinte anos, enquanto ele era um homem de trinta e quatro, com mais sabedoria e experiência de vida. Ainda assim, eu não conseguia imaginar o que seria de mim se eu tivesse deixado que Emmett morresse.

Talvez Deus tenha deixado que eu trouxesse Emmett a tempo. Talvez Deus não tivesse me abandonado, afinal.

- Renovando a sua fé?

- Não... Talvez.

- Eu não preciso dizer que Deus não tem nada a ver com a sua decisão de condenar Emmett a passar uma eternidade como uma besta, preciso?

- Edward, por favor... me deixe em paz.

Dizendo isso, eu peguei a chave de fenda mais suja de graxa da garagem e sentei-me na esteira, deslizando para debaixo do DeSoto, esperando que Edward me deixasse com os meus pensamentos.

Emmett gritou.

Fechei os meus olhos. Eu conhecia bem a dor pela qual ele estava passando. Lembrava-me com clareza das longas horas de interminável agonia. Enquanto sobreviva a elas, eu tinha certeza de que estava chegando ao inferno, sendo punida pela imoralidade das minhas últimas horas de vida.

E, então, o meu coração parou. E a dor parou. E eu tive a mais absoluta certeza de que ainda estava na terra. Foi então que eu bani Deus da minha vida: se ele me amasse, ele teria me deixado morrer.

- Rosalie... Por favor. A transformação está no fim, e ele precisa ver você quando despertar.

Rolei, saindo de baixo do carro, e olhei para Edward.

- Está no fim?

- Quase acabando.

Eu lembro que, quando a minha transformação chegou ao fim e eu abri os olhos, eu desejava ver os meus pais... eu precisava vê-los. Estar numa casa com pessoas desconhecidas apenas me deixou mais assustada.

Eu não podia fazer aquilo com Emmett. Eu tinha que estar ao seu lado.

Levantei-me e tentei sorrir quando disse:

- Você vem comigo?

E Edward veio comigo. Ele me seguiu durante todo o tempo em que eu caminhei para a casa, subi as escadas e entrei no meu quarto. E ele segurou a minha mão quando eu estremeci ao ver Emmett se contorcer, com rosto deformado pela dor.

Carlisle e Esme sorriram a me ver – eles tentavam convencer Emmett da sua nova realidade há um dia.

- Rosalie, venha – Esme disse. – Ele está ficando lindo!

Respirei fundo e dei dois passos em direção à cama... e perdi totalmente o meu fôlego. Emmett não tinha mais nenhum resquício das feridas e do sangue. A pele estava clara, lisa; os músculos do tórax e dos braços dele mais desenvolvidos e definidos e eu... eu quis tocá-lo. A minha boca encheu-se de veneno.

Dei mais um passo. As linhas do rosto dele estavam mais definidas, e não existia nenhum vestígio da barba, geralmente mal-feita. Os cachos dele estavam perfeitos e... e, apesar da expressão de dor, as covinhas ainda estavam lá, mais aparentes que nunca.

Toquei a sua testa carinhosamente e delineei o seu rosto com o indicador. A pele dele, agora, estava quase na mesma temperatura que a minha – e eu sabia que sentiria falta do seu calor.

A expressão facial de Emmett se tornou mais calma, e ele abriu os olhos.

Seus olhos estavam ainda mais penetrantes, agora que exibiam um vermelho vivo. Sorri-lhe.

- Vai acabar logo.

- Não- Eu quero... viver.

Olhei, confusa, para Carlisle.

- Eu nunca vi algo assim, Rosalie. Ele não pediu para morrer. Ele não pedia para que a dor acabasse, mas para que ele fosse curado. O tempo inteiro, ele pedia para ser salvo; ele sempre quis viver.

- Ele já está aceitando que é um... a sua nova natureza?

- Um pouco. Emmett tem períodos intercalados de consciência. Quando está fora de si, volta a pensar que eu sou Deus e você e Esme são anjos.

O olhei novamente.

- Você não vai morrer, Emmett.

E ele sorriu. Em meio à dor, ele sorriu.

Eu não saí mais do seu lado. Não deixei de segurar a sua mão. Até que o coração dele começou a acelerar – Carlisle me disse que aquele era o fim da transformação. Esme e ele me tiraram de perto de Emmett, dizendo que ele não saberia controlar a própria força quando acordasse.

Esme e eu ficamos no fundo do quarto, encostadas na parede, e Carlisle e Edward em nossa frente, prontos para nos proteger. A minha mãe adotiva segurou a minha mão enquanto ouvíamos às últimas batidas do coração de Emmett.

E, então, o silêncio. Eu segurei a mão de Esme mais fortemente, ansiando pelo momento em que Emmett abriria os olhos.

Mordi o lábio inferior, apreensiva.

Quando Emmett abriu os olhos, ele parecia assustado. Ele se levantou da cama rapidamente, o seu mero impulso sendo suficiente para quebrar a madeira em três pedaços. O estrondo penetrou os seus ouvidos aguçados e ele olhou para trás, para o seu estrago, enquanto cambaleava em minha direção – Edward se aproximou ainda mais de mim, protetor.

- Emmett – Carlisle disse, baixo, chamando-lhe atenção. – Emmett, acalme-se. Somos nós, os Cullen... você se lembra de nós?

Ele ainda parecia assustado quando olhou para Carlisle.

- Não, Emmett – Edward disse. – Você não está morto... e sim, eu li os seus pensamentos.

Os olhos dele encontraram os meus, e demorou dois segundos para que um brilho de reconhecimento aparecesse neles. Finalmente, ele sorriu e deu um passo em minha direção – sendo imediatamente contido por Carlisle e Edward. Com um craque, o braço de Edward quebrou-se em dois pontos.

- Calma! – Carlisle disse. – Emmett, você não sabe a força que tem... você pode machucar Rosalie!

Emmett parou imediatamente, olhando confuso para Carlisle.

- Eu não a machucaria.

A voz de Emmett... suspirei. A voz de Emmett estava mais profunda, mais masculina. Combinava perfeitamente com o seu porte viril.

Mais uma vez, tudo que eu queria era me aproximar dele.

- Não intencionalmente – Edward sorriu, mostrando a Emmett as faturas expostas em seu braço.

- Edward?

Emmett abriu a boca, e eu sabia exatamente o que estava acontecendo – as lembranças dele estavam voltando uma a uma, encobertas por uma névoa espessa.

Finalmente, ele riu.

- Dr. Cullen, eu pensei que você fosse Deus!

Carlisle sorriu.

- É normal, Emmett. Com a dor que você estava passando, é esperado que tenha se deixado levar pela sua fé.

- Você rezou comigo.

- Meu pai era um pastor... eu cresci como um homem de fé.

- Obrigado. O que você estava falando... sobre eu ter mudado...?

- Sim, Emmett. Confio que, agora, você acredite em mim. Você está vendo e ouvindo mais claramente. Está mais forte, as suas feridas se foram. E, eu suponho, está sentindo a sua garganta queimar.

Ele colocou a mão sobre garganta e o seu rosto tomou uma expressão desgostosa.

- Sim, isso. Isso pára?

- Quando você se alimentar, amenizará.

- E por alimentação você quer dizer...?

- Sangue.

Emmett riu novamente, e me olhou.

- Quando eu lhe conheci, saí pela cidade dizendo que você parecia Nosferatu. Eu estava certo!... Rosalie, eu não vou te machucar.

Eu dei um meio-sorriso e olhei para Carlisle, como se pedisse permissão. Ele assentiu e, enquanto eu me aproximava, ouvi Edward dizer para eu ter cuidado. Não me importei... Emmett não me machucaria.

Toquei levemente a sua mão, e foi como se a pele de Emmett pudesse me queimar. Os meus olhos desceram pelo pescoço, e pelo peito, e pelo abdômen perfeitamente esculpido, e uma sensação estranha tomou conta do meu baixo-ventre. Uma sensação que se intensificou quando ele deu um passo em minha direção e pôs os seus braços fortes em volta de mim.

Eu o imitei, abraçando-o. Passeei os meus dedos por cada um dos músculos tensos das costas dele e, quando a sensação em meu baixo-ventre ficou ainda mais forte, senti o meu cheiro tomar conta do quarto.

Antes que eu pudesse entender o que tinha acontecido comigo, ouvi um grunhido selvagem deixar a garganta de Emmett e ele me olhou como se fosse um animal... e, milésimos depois, as mãos de Esme em mim, me afastando para longe. Edward e Carlisle seguravam Emmett.

- Calma – Carlisle dizia. – Calma, Emmett. Você tem que se alimentar!

Ele olhou transtornado para Carlisle.

- Eu... Eu não entendo-!

- O corpo de Rosalie reagiu ao seu, e você reagiu ao dela. Você tem que lembrar, Emmett, que, quanto aos instintos, nós não somos mais que animais! Quanto mais cedo você se alimentar, mais poderá ficar perto de Rosalie sem perder o controle.

Emmett me olhou, como quem pedisse desculpas. Eu não respondi, ainda confusa com o que havia acontecido comigo.

- Então... Caçar. Animais?

- O sangue humano é o principal alimento dos vampiros, e é quase impossível resistir a ele. Mas nós nos alimentamos apenas de animais, Emmett. Se você quiser permanecer nessa família, fará o mesmo.

- Claro. Eu não quero matar ninguém.

Edward finalmente soltou o braço dele, percebendo que Emmett estava controlado.

- Mas vai, Emmett. Controle total... são poucos os vampiros que conseguem. Não existe ninguém que não tenha cometido assassinatos nesta sala. Bem, exceto você, por enquanto.

- E vocês não se sentem culpados?

- Nós sabemos que é inevitável – Carlisle respondeu. – O nosso estilo de vida vai de encontro a nossa natureza. Leva um tempo para nos acostumarmos e, antes desse tempo... às vezes é impossível resistir.

- Eu ainda tenho certa dificuldade, querido – Esme disse. – O importante é que você queira ser como nós.

Ele assentiu.

- Eu quero.

Carlisle sorriu.

- Então, por que não vamos para a floresta?

- Tudo bem... Rosalie? Vem conosco?

O olhar que ele mandou para mim fez com que um arrepio cruzasse a minha espinha. Eu queria ir com ele. Eu queria passar cada minuto do meu dia com ele. Ainda assim, como eu poderia deixar Emmett me ver como um animal? Alimentando-me de carcaças?

- Não. Eu vou ficar.

Ele pareceu tão decepcionado, que eu tive vontade de mudar de idéia... mas não faria aquilo. Ele não me veria como uma selvagem!

Não demorou muito para eu observar, pela janela, Carlisle, Emmett e Edward se encaminhando para a floresta. E, logo em seguida, Esme colocou a mão em meu obro.

- Você o magoou.

Dei de ombros.

- Ele nunca vai me ver caçando.

- Nunc- Foi por isso? Porque você não quer ser vista como uma vampira?

Olhei para Esme, confusa.

- Por que mais seria?

- Pelo... pelo que aconteceu, querida! Se Carlisle e Edward não estivessem aqui para segurar Emmett- Eu não quero nem pensar!

Eu demorei alguns segundos para entender o que Esme queria dizer, até me lembrar do rosto de Emmett... da fome em seus olhos. Da forma como o corpo dele pressionou ao meu antes de sermos separados. Ao pensar naquilo, senti novamente o formigamento em meu ventre – e foi apenas então que eu entendi o que era aquilo.

Era algo que eu não deveria sentir, especialmente por causa de como eu morri.

Era o pecado.

Eu deveria sentir asco. Eu deveria sentir medo. No entanto, a minha única reação foi deixar que um sorriso brotasse em meus lábios.

Eu queria o pecado.

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Bjus e mais bjus para a Lou Malfoy, que betou mais esse cap. E, claro, para as lindas de comentaram o cap passado: Jss hale, Elissa Summers, Tathiana, a Lou e we're bad.


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