Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 16
Vida Após a Morte




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XVI

VIDA APÓS A MORTE

EMMETT

Era... incrível.

Novos cheiros, novas cores... Toda uma nova maneira de perceber o mundo. Eu podia ver cada detalhe de cada coisa. Eu podia distinguir cheiros e odores de uma forma espetacular. Eu me sentia super poderoso.

E tudo havia melhorado depois que eu tomei o sangue de um leão da montanha – a queimação irritante em minha garganta havia diminuído, e eu podia me concentrar mais. Eu podia perceber a minha velocidade e a minha força. Ri; já nem me importando mais com o tom diferente da minha voz.

Aquilo era incrível!

- Fico feliz que você esteja encarando tudo tão bem, Emmett – Edward disse, tentando acompanhar o meu passo acelerado. – As pessoas normais se assustam com a perspectiva de ser um vampiro.

- Você sempre fala difícil, Edward?

O garoto riu-se.

- Hábito. Dá pra parar um minuto?

Eu parei, me voltando para ele sem conter o sorriso em meu rosto.

- Ok. Está cansado?

- Não... Nós não ficamos cansados, na verdade. Eu apenas acho irritante correr e conversar ao mesmo tempo.

- Nem tinha pensado nisso, Edward! É que parece que eu tenho tanta energia para queimar!

- Você tem. É o sangue humano; o seu corpo está cheio dele. Você será mais forte enquanto o mantiver, Emmett... Mas, ao mesmo tempo, será mais difícil de resistir à urgência de se alimentar de outros humanos.

- Eu não faria isso – Eu disse, olhando para o rio que corria perto de onde eu estava. A água era turva, mas eu conseguia enxergar cada peixe que nadava nele. – Matar pessoas, sabe? Até onde eu sei, isso é uma passagem só de ida para o inferno.

Edward se aproximou de mim – e eu não precisei me virar para saber daquilo. Pude ouvir cada passo, cada folha sendo esmagada pelos seus pés, a respiração dele ficando mais ruidosa e o cheiro dele mais forte. Ele levou dois segundo e vinte e três milésimos para chegar até mim.

- Para nós, Emmett, matar é instintivo. Não é algo que se possa controlar, de início.

- Eu não acredito nisso. Não há nada que eu não possa controlar com esse novo corpo! – Ri. – Quantas pessoas você já matou?

- Trezentos e vinte e oito – Em minha mente, soltei um palavrão. – Mas só matei pouco mais de uma dezena até me acostumar com o nosso estilo de vida. As outras... bem, foi numa fase rebelde.

- Dr. Cullen aceitou isso?

- Não; claro que não! Eu deixei a família para poder me alimentar de humanos.

- O que Rosalie achou disso?

- Foi antes de ela chegar. Rosalie é a mais nova da família.

Eu assenti novamente, e voltei a olhar os peixes. Me lembrei de Rosalie; de como ela era ainda mais bonita, vista pelos meus novos olhos. Me lembrei da forma como ela me abraçou e como eu quase a ataquei. Me lembrei de como ela havia se recusado a caçar comigo.

- Ela não teve a intenção de lhe rejeitar, Emmett. Rosalie tem problemas com essa existência... tudo o que ela queria era ser humana.

- Como assim?

- Ela nunca escondeu que preferia ter morrido. E, como você pensava que ela era humana até alguns dias, Rosalie não queria que você a visse caçando.

- Mesmo? Ela deveria saber que eu não me importo com o que ela é. Eu a pedi em casamento, por Deus!

Sim, porque eu lembrava bem daquela parte da minha vida. Eu lembrava nitidamente de dar um anel de noivado para Rosalie, e ser rejeitado logo depois.

Uma coisa estranha que acontece quando se vira um vampiro: toda a sua vida passada fica encoberta por uma névoa. Eu conseguia me lembrar de alguns rostos e de alguns momentos com certa nitidez; mas a grande maioria da minha vida estava... inacessível. Eu sabia quem era a minha mãe, onde ela morava e conheceria a sua voz em qualquer lugar; mas o meu pai, a pessoa que eu mais idolatrei em vida, não passava um homem sem rosto. Eu sabia que Louise Pace era a minha garota, mas apenas conseguia ver claramente o seu sorriso. Até mesmo a Rosalie de antes era uma imagem distante.

Exceto nas lembranças daquele dia. Daquele dia em que ela me rejeitou.

- Ela apenas fez isso porque queria que você seguisse com a sua vida, Emmett.

Olhei para Edward, e levei um tempo para entender que ele respondia aos meus pensamentos. Ainda não tinha me acostumado com aquele... dom.

- Mas eu queria ficar com ela.

- Eu sei. Todos sabem, na verdade – Ri. – Mas Rosalie não queria que você fosse condenado a essa vida.

- Ainda assim, Edward, ela não deveria ter falado aquelas coisas.

- O que eu posso dizer? A minha irmã gosta de dramatizar, de vez em quando! Mas ela se importa com você, pode acreditar.

Dei de ombros, as palavras de Rosalie voltando à minha mente. Não queria mais falar naquele assunto.

Edward, aparentemente, percebeu – ou leu em minha mente – que eu estava com mais vontade de caçar do que conversar, pois ficou quieto e apenas me observou enquanto eu drenava um cervo. Não demorei a perceber que os animais herbívoros não satisfaziam muito; era como comer grama. O sangue dos carnívoros era bem mais encorpado.

Usando a desculpa de que eu era um cara grande, consegui manter Edward na floresta por tempo suficiente para caçar mais um leão da montanha. No entanto, depois de matar o animal, ele disse que deveríamos voltar para casa: o Dr. Cullen ainda tinha muito que me dizer sobre o estilo de vida de um vampiro.

Logo chegávamos a casa. Os três Cullen estavam sentados lado a lado no sofá, aparentemente me esperando para uma reunião de família. Me senti um pouco tímido, e, quase instintivamente, procurei o olhar de Rosalie. Ela me evitava.

- Como foi a sua primeira caçada, querido? – a Sra. Cullen me perguntou.

- Boa, eu acho. Beber sangue é estranho. Acho que se os meus amigos caipiras me vissem daquele jeito, sairiam correndo atrás de mim com tochas e forcados!

- E como você está se sentindo?

- Melhor do que nunca.

Rosalie bufou e rolou os olhos. Não conseguia entender aquela atitude dela: até aquele momento, eu ainda não conseguira ver nenhuma desvantagem naquele meio de vida.

- Você quer sentar? – O Dr. Cullen me perguntou.

- Não. Eu estou com muita energia!

- Tudo bem. Enquanto você esteve fora com Edward, Esme, Rosalie e eu estávamos conversando sobre o vamos fazer, agora que temos um vampiro recém-nascido entre nós... isso levando em consideração que você queira, de fato, fazer parte da nossa família?

- Sim – respondi rapidamente. – Claro que eu quero!

O Dr. Cullen sorriu, e eu vi a Sra. Cullen segurar a mão de Rosalie.

- Então nós temos que sair de Riverside, Emmett. Essa casa é muito perto da cidade, e nós temos muito vizinhos. Não seria seguro.

- Espere! – Edward disse. – Nós acabamos de nos mudar, Carlisle. Você não acha que as pessoas vão suspeitar, se nos mudarmos logo depois do desaparecimento de Emmett?

- Provavelmente, Edward, mas não podemos fazer nada! As pessoas gostam de nós, aqui; elas nos visitam. Não podemos arriscar!

- Então nós teremos mais dois anos como Syracuse? Trancados em casa, sem falar com ninguém?

- É a única solução, Edward.

Eu dei um passo à frente.

- Dr. Cullen, eu não quero causar nenhum aborrecimento. Vocês não precisam se mudar! Eu posso voltar à minha casa; tenho certeza de que mamãe não se importará com o que eu me tornei.

- Oh, querido – a Sra. Cullen respondeu. – Você não pode voltar para casa.

Franzi o cenho.

- Eu posso, Sra. Cullen. Mamãe não se importaria!

O Dr. Cullen deu um longo suspiro, e se levantou. Se aproximou de mim lentamente.

- Emmett, olhe para nós. Olhe para você.

Ele apontou para o grande espelho que ficava por trás do piano. Não tive escolhas senão obedecer. Tomei um susto quando finalmente vi a minha imagem: eu estava... diferente. A minha pele estava bem mais clara, e os meus cabelos diferentes. Eu estava visivelmente mais magro, mais musculoso e menos peludo. E os meus olhos... os meus olhos tinham um tom demoníaco de vermelho.

Não... Eu não podia ser um demônio!

- Ele está preocupado com a cor dos olhos, Carlisle – Edward disse. Não gostei que ele tivesse espiado aquele pensamento em particular.

- Se você decidir ficar conosco, Emmett, essa cor vai mudar. Os seus olhos vão ficar como os nossos.

- Eu vou com vocês, Dr. Cullen, mas preciso ver minha mãe antes. Preciso dizer a ela que eu estou bem!

- Emmett, você não resistiria ao cheiro do sangue humano. Nem mesmo ao da sua mãe.

A minha garganta ardeu ao ouvir aquilo e eu senti uma vontade quase incontrolável de atacar o Dr. Cullen. De parti-lo em mil pedaços – e eu sabia que conseguiria fazer aquilo, com o meu corpo novo.

Quando dei por mim, um barulho parecido como um rosnado saía da minha garganta e o Dr. Cullen e Edward tinham se colocado mais uma vez em frente às mulheres, protegendo-as.

Eu era um demônio?

- Eu não faria nada contra mãe!

- Você não conseguiria se controlar, Emmett – Edward respondeu. – Seria como o impulso que você acabou de ter, sendo um milhão de vezes mais forte.

- Querido – A Sra. Cullen disse, afastando o Dr. Cullen para poder me encarar. – Você acha que algum dia eu tive intenção de matar alguém? Você acha que se eu tivesse escolha, eu não preferiria me matar a tirar a vida de outro?

A Sra. Cullen sorriu calidamente e ela pareceu ser uma pessoa tão boa, que poderia servir de inspiração para as imagens de Nossa Senhora da igreja. Ela, definitivamente, não parecia uma pessoa má.

Ela estava falando a verdade?

Eu seria capaz de matar a minha própria mãe e beber o seu sangue?

Eu era um demônio!

- Tudo bem. Sair sem me despedir.

- É mais que isso, Emmett – o Dr. Cullen disse. – Veja bem, em Chicago há uma lápide dizendo que Edward Anthony Masen morreu em 1918. Em Columbus, que Esme Anne Platt Evenson morreu em 1921. E, finalmente, em Rochester há uma que diz que Rosalie Lilian Hale se foi em 1933. Emmett, as pessoas daqui, que lhe conheceram em vida... eles não podem lhe ver assim. Eles não podem lhe procurar. Você não tem apenas que desaparecer; eles têm que pensar que você está morto.

Eu prendi a respiração – apenas então percebendo que, de fato, eu não precisava respirar.

- Dr. Cullen – Disse lentamente. – Minha mãe já enterrou um marido e um filho. Eu não vou permitir que ela enterre outro.

- Emmett, seja razoável.

- Eu entendi; não posso ver minha mãe. Mas, se o preço pra ficar com vocês é fazê-la acreditar que eu estou morto... eu sinto muito.

O Dr. Cullen não respondeu, e eu não parei de olhá-lo, desafiador. Eu queria que ele soubesse que eu não mudaria de idéia.

Se eu não pudesse ficar com os Cullen, será que o meu anjo viria comigo?

Como se tivesse me ouvido pensar nela, Rosalie falou – me espantei ao ouvir novamente a sua voz.

- Não tem que ser assim.

- O que você disse, Rosalie? – O Dr. Cullen perguntou, curioso.

O meu anjo respirou fundo e se levantou, o seu olhar finalmente procurando o meu. Eu senti um calor se apossar do meu coração.

- Nós não precisamos forjar a morte de Emmett. Tudo que você precisa fazer, Carlisle, é dizer a Sra. McCarty que hoje você encontrou o meu quarto vazio e um bilhete... dizendo que eu fugi com o filho dela.

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Bjus e mais bjus para a Lou Malfoy, que betou mais esse capítulo. E, naturalmente, para as lindas que comentaram o cap passado: Duaschais Seneschais (Sabe, eu também não lembro se o Edward culpa o Carlisle por alguma coisa. Acho que simplesmente não prestei atenção – já que ele nunca me interessou muito), Elissa Summers, We're-bad, Tathiana e a Lou, porque beta que eh beta, deixa review! E, do Nyah!, a Relsani.


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