“Depois de algum tempo (...) você aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. (...) Com o tempo, você aprende que falar pode aliviar dores emocionais” William Shakespeare

Seth despediu-se de mim, com um leve e caloroso beijo em meu rosto. As lágrimas ameaçaram a cair novamente assim que dei alguns passos em direção a porta. Respirei fundo e então olhei em direção a Seth, seu corpo desenvolto e ágil já pegando uma boa distancia da minha casa.

- Tem planos para hoje? – gritei para Seth.

Não estava me sentindo forte o suficiente para ficar sozinha, muito menos, ficar entregue ao choro e ao sofrimento. Precisava de algo para me distrair, e a presença de Seth, eu tinha certeza de que me animaria. Ele podia não ser meu Sol, mas compensava a sua falta.


Seth me deu seu melhor sorriso, e veio quase quicando em minha direção.

- Eu iria fazer ronda, mas agora que perderei meu companheiro, prefiro adiar o quanto puder ficar ao lado de Quil ou Embry – minhas únicas opções…

Ouvir aquilo me fez estremecer um pouco, entendi perfeitamente o que estava acontecendo. Era de se esperar que Jacob e Leah estivessem na mesma rota, agora que estavam juntos.

- Sem contar que não quero presenciar mais nenhum afeto entre Jacob e minha irmã… eles dois juntos…

Seth parou de tagarelar quando percebeu minha reação.

- Foi mal, eu não me toquei que isso era ruim para você… eu… nossa Bells, foi mal mesmo.

Finalmente a língua de Seth estava de volta!
- Não se preocupe, eu estou bem. – tentei sorrir, mas tenho certeza de que a máscara em meu rosto passou longe de uma garota feliz – Está com fome? – perguntei ao sentir uma leve dor em meu estomago.

O sorriso em seus lábios foi a mais sutil resposta. Como se fosse necessário perguntar para alguns dos meninos se eles estavam com fome, seja qual fosse a hora, até mesmo depois de vê-los devorando um belo banquete.

Seth me ajudou com a preparação do café da manhã, foi bom tê-lo ali, ele era um garoto muito doce e trazia uma atmosfera leve e natural para o ambiente. Depois de um tempo, a aura negra que havia pairado sobre minha alma, deu espaço para alguns sorrisos e alguns momentos de descontração.

Passamos a manhã e uma boa parte da tarde juntos. Comemos, assistimos a alguns filmes e então, depois de recuperar o bom funcionamento dos nossos músculos faciais, percebemos que já estava ficando tarde. Seth se despediu com a promessa de que voltaria mais vezes.


Edward não apareceu em casa, como o prometido, ele estava me dando o espaço para me decidir, espaço para colocar minha cabeça no lugar. O fato é que, apesar do que presenciei na noite anterior, isso não mudava em nada minha decisão. Eu ainda estava surpresa com tudo, e tive pouco tempo para digerir as novas colocações das peças em minha vida, mas ainda assim, era Jacob quem eu queria.

Lavei toda a louça e depois de arrumar a bagunça, decidi subir um pouco e tirar um cochilo, até dar o horário de fazer o jantar para Charlie e eu.

Mal coloquei os pés no degrau da escada, quando ouvi a campainha tocar. Respirei fundo, pensando em quem poderia ser. Caminhei a passos lentos e então ao abrir a porta, a surpresa: Alice estava impaciente, com a expressão zangada, de mau humor… Coisas típicas de uma garotinha ao ser decepcionada.

- Como você pode fazer isso, Bella?

Alice esbravejou comigo.

Caminhei em direção ao sofá, ciente de que as lamentações seriam longas e difíceis de serem contidas.

- Diga-me que isto é apenas insegurança, que estas tendo um ataque momentâneo de quem está prestes a se casar… - Alice vagava suavemente pela sala - Vamos Bella, me diga!!?! O que deu em você? – Ela parou diante de mim, batendo os pés impaciente no chão a espera de uma explicação.

- Não é nenhum ataque, Alice…

Como era de se esperar, meu raciocínio foi interrompido por Alice.

- Ótimo. Se não é nenhum ataque, e você já se encontra em perfeitas condições mentais, podemos, por favor, rever os últimos ajustes do casamento?


Ela estendeu as mãos em minha direção.

- Não. Alice! Acho que você não está entendendo… - me ajeitei no sofá para olhá-la melhor nos olhos – Eu já tomei minha decisão. Eu não irei me casar com Edward.

Os lábios de Alice se entreabriram de espanto, mas algo em suas feições me deixou a sensação de que aquilo não lhe era tão surpreendente assim. Não fiquei chateada, porque poderia ser que Edward a tivesse informado.


- Como não? Você ficou louca, Bella?! Você e Edward se amam que motivo haveria para não se casarem?

- Eu o amo, é verdade. Mas não o amo de forma suficiente…

- Bella, minha querida Bella. Você não pode estar falando isso. Não estou compreendendo…

- Talvez se você falasse um pouco menos, poderia me ouvir e compreender um pouco mais. – grunhi irritada, primeiro com as exigências de Alice, e segundo pelo barulho de seus pés batendo freneticamente no chão.

Alice arregalou os olhos, mas se calou. Sentou-se ao meu lado, esperando que eu prosseguisse.

- Eu amo Edward, mas não quero me casar com ele. Eu amo Jacob e é com ele que quero ficar.

Alice se colocou de pé, como se tivesse acabo de ser chicoteada. Retomou novamente seu caminhar apressada, por toda a sala.

- Eu sabia que isso ia acontecer… eu avisei a ele, mas ele não quis me ouvir.

As palavras de Alice me atingiram em cheio, minhas suspeitas estavam certas, Alice já sabia da minha decisão, mas Edward não foi seu informante. Alice sabia disso muito antes, até mesmo de mim.

- Você já sabia não é?! – coloquei-me de pé – Sabia que esta seria minha decisão, mas quando te perguntei sobre meu futuro você desconversou, alegando ter a mesma certeza que eu. – Caminhei em sua direção.

- Pensei que você só estava assim porque ele havia partido, achei que fosse passageiro… - Seus olhos fixaram-se no chão.

Não adiantava brigar com Alice, embora ela tivesse tido uma visão sobre meu futuro, duvido que suas palavras pudessem fazer algum efeito sobre mim, eu teimei em não ver a verdade, eu teimei em me manter cega para os meus reais sentimentos.

- Mas não é passageira, Alice. Minha decisão não é momentânea. – Recuperei o foco. – Sinto muito, mas não irei me casar.

Alice bateu os pés no chão.

- Depois de tudo o que fizemos por você, é assim que você retribui? Magoando o Edward, e desprezando um lugar em nossa família?

Preferi não levar a sério as palavras de Alice, não era possível que ela estivesse falando sério. Preferi acreditar que era produto de sua frustração.

- Pensei que seriamos irmãs… Pensei que quisesse ser minha cunhada, Bella.

- Eu também pensei, Alice.

Os olhos de Alice demonstravam tristeza. Mas sua tristeza não me comoveu. Eu não iria mudar minha decisão por causa de Alice, não mudei por causa de Edward…

- Mas ainda podemos ser amigas…

Alice tentou sorrir, mas a irritação em suas feições era tanta, que a única coisa que ela fez foi partir.

- Isso não pode ficar assim.

Foi tudo o que ela disse, e então a porta foi fechada logo após sua saída.

Fiquei parada alguns instantes tentando entender a reação de Alice, tentando compreender o que suas últimas palavras significavam, mas logo Charlie chegou e então não pude ficar mais sozinha com meus pensamentos, pelo menos não sem ter que interrompê-los para responder algumas de suas perguntas.

Caminhei em direção a cozinha assim que ele me mostrou o peixe, mas para minha surpresa, desta vez, ele decidiu me fazer companhia na preparação do nosso jantar. Charlie tagarelou a respeito do seu dia, mas senti que aquele não era o assunto principal, pelo menos não aquele em que sua curiosidade circundava.

Como ele não tocou no assunto, apesar de suas insinuações, eu também não falei nada. Ele acabou se rendendo, e guardando sua curiosidade para algum outro momento oportuno, ou quando ele encontrasse coragem para perguntá-lo.

O jantar estava pronto. Charlie ficou na cozinha até mesmo depois de termos jantado, me ajudando com as louças sujas. Mas desta vez em silencio.

- Hoje não tem jogo?

Ele apenas sorriu sem graça. Ele estava concentrado, talvez agora viesse seus questionamentos. Sua concentração poderia significar isso; a oportunidade perfeita para me questionar, sobre o que quer que fosse…

- Pensei que meu castigo não incluísse a falta de conversa… - tentei descontrair um pouco ao perceber que ele não respondeu nada.

- Só estou tentando passar um tempo de qualidade com minha filha, já que logo, logo serei abandonado por ela… - Charlie me olhou de canto de olho.

Então esta é a sua tática? Psicologia reversa!

Olhei para Charlie, mas não sorri, era minha vez de entender onde ele pretendia chegar.

- Não irei te abandonar, seu bobo.

- Não? Então você e Edward irão morar em Forks? – O sorriso de Charlie estava descontraído, o que indicava que ele sabia demais.

Fiquei curiosa em saber como ele descobriu, já que apenas Edward, Alice e eu sabíamos o que eu havia decidido.

- Eu não irei me casar, pai. – disse por fim, desistindo de tentar entender como ele havia descoberto.

Achei que Charlie iria ficar bravo, mas então lembrei que Edward nunca foi sei preferido, e estava longe de ser verdadeiramente aceito por ele. Meu pensamento estava correto, Charlie estava tão feliz que me abraçou apertado, suas mãos cheias de sabão percorreram meu cabelo, e depois molharam meu rosto.

- Sabia que não tinha ouvido errado… Fico tão feliz em ouvir isso.

- Menos, pai. Por favor!

Disse soltando-me de seus braços e limpando meu rosto. Charlie ainda sorrindo me estendeu um pano para que eu pudesse me limpar.

- Como você ficou sabendo?

- Ouvi Alice esbravejando, que não iria mais ter casamento…

Estava explicado!

- Ela pediu que eu colocasse juízo na sua cabeça, mas vejo que você esta com o pleno uso dele. – Charlie sorria – Nunca vi Alice tão irritada daquele jeito.

- Isso passa…

Disse terminando de me ajeitar.

- Espero que sim. Gosto dela…

Ele disse indo, finalmente, para frente da TV. Sorri ao vê-lo feliz, ao menos alguém havia se alegrado com minha decisão.

Dei-lhe boa noite e então subi as escadas, arriscando ficar por ali mesmo, mas ainda me sobrou forças para tomar um banho e me jogar na cama. Meus olhos logo fecharam-se, meus pensamentos manifestaram-se em formas de pesadelos.

Edward sofrendo. Jacob me rejeitando. Eu sozinha… Sempre de formas diferentes, mas sempre com a mesma linha de raciocínio. Apesar de tudo, os pesadelos não foram tão cruéis, e nem poderiam. Já que ao raiar do sol, o que eu presenciaria era a realidade, e a dor que ela me traria, nenhum pesadelo era capaz de superar.

Algumas semanas se passaram, Edward não apareceu, e também não recebi noticias nenhuma de Alice. Mas eu tinha certeza de que os Cullens ainda estavam na cidade, pelo menos Carlisle e Esme estavam, caso contrário Charlie lamentaria a ausência de renomado doutor na cidade.

Seth me visitou como o prometido, às vezes passava algumas horas, outras, não ficava nem dez minutos, mas sempre passava para ver como eu estava. Eu evitava perguntar sobre Jacob, Seth tentava, mas nem sempre conseguia deixar escapar alguma novidade. Para minha decepção eles continuavam juntos…

Hoje completava exato um mês, desde que fiquei sabendo do namoro de Jacob e Leah, e ainda não tinha decidido o que fazer para contar a ele que o amava e que havia desistido do meu casamento com Edward. Apesar da freqüente visita de Seth a minha casa, nunca toquei no assunto, embora soubesse que a esta altura ele já tivesse se tocado que não haveria mais casamento, ou que alguma coisa séria entre mim e Edward estava acontecendo.

Mas Seth era muito distraído. Por mais maduro que a sua transformação pudesse tê-lo deixado, Seth ainda tinha a alma de um menino, e na maioria das vezes se comportava e via o mundo como um.

Estava terminando de colocar a roupa na máquina, quando ouvi o telefone tocar. Coloquei um pouco de sabão na máquina e então corri em direção, ao insistente telefone.

- Alô? Bella! – Demorei a reconhecer a voz. – É a Ângela.

- Ah, oi Ângela.

- Oi, Bella. Estava com saudades, como você já deve saber fiquei fora da cidade quase um mês resolvendo alguns probleminhas, mas estou de volta… e… bom… como recebi seu convite de casamento resolvi voltar a tempo.

- Casamento?

Fui pega de surpresa pelas palavras de Ângela. Então Alice não havia cancelado o casamento?!

- É amanhã, não é?!

Olhei no calendário perto do telefone e vi um circulo vermelho destacando bem a data. O grande dia! Suspirei. E me perdi em meus pensamentos.

- Ehr… Ângela, você poderia vir aqui em casa? Assim agente conversa melhor. – sugeri.

Não queria contar aquilo por telefone, e Ângela não merecia uma conversa dessas de uma maneira tão fria.

Ângela não demorou para chegar, esperei que ela contasse tudo sobre sua viagem, como seria sua nova vida como acadêmica. Curti sua animação com a república e quanto ela havia amado os cursos oferecidos pela universidade.

Nunca presenciei em Ângela tanta empolgação, ela estava eufórica com suas novidades, com o seu futuro… foi então que eu percebi que nunca estive assim, nem mesmo quando Edward me pediu em casamento. Aquela felicidade tinha fundamento, poderia ser palpada; a minha era vazia e sem nexo. A única felicidade que senti que realmente poderia ser considerada normal era a que cultivei estando ao lado de Jacob. Nossos momentos simples na garagem, as latas de refrigerante quente, suas mãos cheias de graxa ameaçando me sujar…

- ahran, Bella? Tem alguém ai? – Ângela bateu levemente em minha cabeça, espantando minhas lembranças – Onde esta Alice? Pensei que você estaria na maior correria com o casamento.

Contei a Ângela que eu havia decidido que não queria mais me casar, mas mantive o real motivo longe da minha explicação. Ela se manifestou surpresa, depois tentou me reconfortar, mas ao perceber que era minha decisão, ela apenas sorriu.

Apesar de Ângela ser sempre uma pessoa alegre, o clima ficou meio esquisito. Depois de um tempo em silencio, ela me convidou para ir a Port Angeles, como eu não havia programado nada, aceitei o convite. Uma tarde “só de meninas”, poderia me fazer bem. Subi para trocar de roupa e ao descer fui à lavanderia e desliguei a máquina de lavar.

Deixei um bilhete para Charlie, avisando onde estaria, e então corri em direção ao carro. Decidi ir no carro de Ângela, que fingiu não notar a presença da Mercedes Guardian estacionada na frente de casa. Deu de ombros, e expliquei que ainda não tinha devolvido. Embora já tivesse tido tempo para isso.


O caminho foi mais tranqüilo, Ângela me contou que ainda estava namorando Bem, e que ele possivelmente estaria na mesma universidade. Ela me contou como estava feliz ao lado dele, e como os planos para o seu futuro pareciam promissores. Fiquei feliz por ela, Ângela realmente merecia.

Caminhamos até uma lanchonete, comemos panquecas, waffes e tomamos muito suco de laranja. Ri a beça com Ângela, e notei que havia um brilho diferente em seus olhos.

- Eu pretendia lhe comprar algum presente de casamento, mas vejo que não será mais preciso. Podemos então ir ao cinema e depois ir a um bom restaurante, o que achas?

- Por mim tudo bem.

Disse dando um ultimo gole no suco.

Fomos ao cinema, depois de Ângela ter passado em uma loja e comprado uma câmera nova. Tiramos algumas fotos, antes do início da Sessão, e depois na saída. Nunca fui fã de fotos, mas hoje eu estava me sentindo disposta, sem contar que eu não conseguiria dizer não à Ângela.

O filme foi bom, optei por não assistir nenhuma comédia romântica, e Ângela se recusou a assistir um filme de terror. Acabamos por assistir uma animação. O que se tornou uma ótima escolha, rimos muito, eu mais do que Ângela que se sentiu um pouco incomodada com o óculos 3D.

Saímos do cinema em direção ao restaurante, o sol já estava se pondo. Foi quando o som de uma moto familiar me chamou a atenção. Procurei por ela, Ângela acompanhando meu olhar pode perceber minha reação.

Era a moto que tinha deixado para Jacob, como bonificação de seu trabalho árduo. Mas ele não estava só, Leah estava em sua garupa, agarrada em sua cintura. Por algum motivo, ainda desconhecido para mim, Jacob estava de jaqueta, uma jaqueta preta de couro. Acompanhei por alguns instantes seus movimentos, ele estacionou no restaurante onde nós pretendíamos ir jantar. Leah saltou da moto, tirando o capacete. Ela estava com uma calça jeans colada, uma blusa branca de manga ¾ , um pouco solta na barriga, mas muito justa e um pouco decotada no busto. Jacob desligou a moto e também tirou o capacete, eles pareciam felizes.