So What escrita por Mahriana


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Oi! Como vão? Espero que todas bem!
Muito bem! Espero que vocês gostem do capítulo, tanto quanto eu me diverti escrevendo ele.
~~ Apreciem sem moderação ~~



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PDV Jason:

Minha cabeça doía. Meus olhos, mesmo fechados, doíam. Era como se eu estivesse vendo a luz pela primeira vez na minha vida. Coloquei a mão sobre os olhos sem abri-los. Só então realmente passei a sentir o colchão macio nas minhas costas. Esperava que fosse a minha cama. Tirei as mãos dos olhos lentamente e os entreabri, quase não consegui enxergar nada. Olhei ao redor com os olhos crispados e percebi que não estava no meu quarto, Drew estava no chão e Daniel também. Percebi que o quarto era do Drew.

Olhei para baixo e vi que ainda estava com a saia de Havaiano, só não lembrava muito bem do porquê.

Levantei lentamente da cama e fui em direção à porta no intuito de ir para o meu próprio quarto. Abri uma fresta na porta e olhei o corredor. Ele estava vazio, aquilo era ótimo. Sai rapidamente do quarto de Drew e entrei no meu. Fechei a porta atrás de mim e coloquei as mãos na cabeça, que parecia que explodiria a qualquer momento, aquilo era uma verdadeira ressaca.

Tirei a porcaria da saia e fiquei somente de boxer. Caminhei até o criado mudo ao lado da minha cama e peguei uma aspirina. Entrei no banheiro, coloquei a pílula na boca e encostei os lábios na torneira para engoli-la com água. Levantei o rosto e me encarei no espelho, estava com uma aparência horrível.

Resolvi tomar banho. Passei um longo tempo embaixo do chuveiro com a água quente batendo em minhas costas. Aquilo era relaxante, encostei a cabeça na parede e tentei lembrar tudo o que tinha acontecido na noite passada. O jogo, desafio de comprar bebidas vestido de forma idiota, perguntas para Sahra, perguntas dela para mim, invadir uma casa, pular na piscina, Sahra se afogando, agarrando Sahra na piscina, briga com Sahra...

Meus olhos se arregalaram. Agarrar Sahra na piscina. Aquilo com certeza não estava nos meus planos, na verdade nada do que havia acontecido estava nos meus planos. Eu havia contado mais sobre mim do que descoberto algo sobre ela, para falar a verdade, eu não havia descoberto nada sobre ela, nada que eu já não sabia.

Já estava vestido e com a cabeça doendo um pouco menos, liguei o computador e a câmera do quarto de Sahra. Surpreendi-me ao ver que Akim ainda estava lá. Os dois dormiam. Akim deitado com as costas no colchão e totalmente esparramado nele. Sahra estava com uma perna envolta da cintura dele e um dos seus braços estava sobre o rosto dele, o outro estava estirado ao lado do corpo. Eles estavam bem à vontade.

Suspirei.

A noite passada poderia render uma enorme confusão se Sahra resolvesse abrir a boca. Alexia arrancaria minha pele, talvez ela não fizesse isso, afinal ela tinha um namorado e ele terminaria com ela, ou pior, acabaria comigo. Aquilo não fazia com que eu ficasse mais confiante, pelo que pude analisar, o relacionamento dos dois era algo muito estranho, já tinha vistos casais liberais, mas os dois beiravam a insanidade. Sahra incentivava Akim a beijar Mellany e ele a desafiava a beijar outro cara.

Se aquele relacionamento funcionava para os dois então, eu precisava de uma garota como a Sahra. Será que ela faria algo contra mim? Ela contaria para Alexia?

Aquilo ficaria rondando na minha mente, teria que achar um momento em que ela estivesse sozinha para questioná-la. Aquilo iria deixar minha cabeça ocupada por todo o final de semana.

Resolvi descer para tomar café. Apesar de já se passarem das nove da manhã, ninguém parecia ter acordado. A mesa do café estava posta, sentei e me concentrei em algumas torradas, passava geleia e as comia vagarosamente. Os acontecimentos da noite passada e da madrugada não deixavam minha mente.

Mellany apareceu junto com Drew e Dan. Clair também desceu ainda de pijama. O silêncio era meio sepulcral. Todos pareciam ainda estar dormindo em pé. O barulho das xícaras sendo colocadas nos pires dos bocejos eram as coisas mais ouvidas ali.

– O que houve com vocês? – Clair perguntou, minha cabeça latejou, pelos gemidos e reclamações vindos de todos os outros presentes, eles também estavam com dor de cabeça. – Tudo bem. Eu não volto a perguntar isso.

Minha mãe apareceu junto com Jonh.

– Bom dia crianças! – Ela nos cumprimentou, respondemos baixo. Jonh também nos cumprimentou.

Estava cada vez mais com a certeza de que minha cabeça iria explodir. Então os últimos que faltavam se juntar ao café da manhã, apareceram. Sahra e Akim. Ele estava com uma roupa diferente da que estava vestido ontem, então aquilo me fez pensar em o quão junto ele e Sahra eram.

– Bom dia! – Ambos cumprimentaram ao mesmo tempo. Jonh a olhava sério, aquilo parecia um aviso de discussão.

– Ele dormiu aqui? – Jonh poupou os cumprimentos e passou direto para as perguntas indiscretas.

– Algum problema? – Sahra perguntou franzindo o cenho e parecendo totalmente confusa.

– Você ainda pergunta se tem algum problema? – Jonh vociferou. Akim e Sahra arregalaram os olhos espantados.

– Er... – Akim começou – Não imaginei que fosse causar algum problema, tentei ser...

– Você dormiu com a minha filha! Não acha que isso é problema suficiente?! Eu não sei como as coisas funcionavam na Inglaterra, mas aqui nós temos regras. Só de imaginar que você tocou na Sahra isso me faz ter vontade de socar você! – Jonh falava visivelmente alterado, enquanto se levantava da cadeira e encarava Akim. Aquilo me fez engolir em seco, afinal eu quase tinha feito o que ele não queria imaginar Akim fazendo com a Sahra. Os dois olhavam para Jonh com as sobrancelhas erguidas.

– Você acha que ter um namorado e transar com ele é errado? – Sahra falou e parecia estar segurando uma risada. – De que século você é? Sério! Você acha que os namorados de hoje em dia saem para jogar cartas. Desculpe-me, mas eu posso estar morando com você, no entanto eu não pedi por isso. Se quiser me jogar na rua eu não me importo.

– Jogar você na rua?! – Jonh gritou. – Você deveria estar me agradecendo, agora, ou você estaria na cadeia. Salvei você da prisão.

– Esse é o único motivo de eu ainda estar aqui – Sahra falou –, do contrário já teria ido embora. Estou tentando pagar o favor que você me fez.

– Então tudo isso – Jonh falava exasperado enquanto abria os braços em um gesto amplo –, é apenas um favor? Você está aqui para me compensar de alguma maneira por eu tê-la tirado de uma possível prisão?

– Acho melhor pararmos por aqui. – Akim interviu suspirando e tocando no ombro de Sahra.

– Você. – Jonh apontou para Akim. – Acredite quando digo que não estou nem um pouco feliz com a sua presença. Talvez Sahra fosse uma garota melhor se não tivesse o conhecido. Conversei com a família que a criou quando a mãe morreu, em Londres, todos são boas influências, mas você...

– Acho melhor você parar de falar – Sahra falou com uma voz ameaçadora. – Você não me conhece ou a qualquer coisa da minha vida, não fale quem é ou não uma boa companhia para mim.

– Você quer ir embora não é? – Jonh perguntou para Sahra. – Arrume as suas coisas e vá. Eu pago sua escola, faculdade e o que for preciso, se isso a faz feliz então vá embora.

– Jonh querido. – Minha mãe falou levantando da cadeira. – Querido, por favor, não fale ou faça nada que vá se arrepender depois.

– Catherine, eu não vou me arrepender. Se isso é o que ela tanto deseja, se estar aqui é algo tão aborrecedor e a deixa tão infeliz... – Ele suspirou. – Você pode ir.

O silêncio se fez presente no recinto. Sahra saiu e Akim a seguiu. O ambiente estava com um clima desconfortável. Jonh se retirou e minha mãe foi com ele, todos os outros ficaram tomando café. Levantei e fui até o quarto, Sahra não tinha saído com Akim, se eles estivessem no quarto, aquela seria uma boa hora para olhar.

Liguei o computador e chequei a câmera. Lá estavam eles, pareciam discutir, liguei os fones de ouvido e passei a escutar, o áudio era péssimo, mas eu conseguia ouvir.

– Então você simplesmente vai embora? – Akim perguntou. Tive que colocar o volume no máximo, mesmo assim não estava tão bom, eu tinha que me concentrar para escutar.

– É isso mesmo. É o que eu quero, vai ser maravilhoso, finalmente vou embora dessa casa e vou me livrar de todos os problemas – Sahra falou sorrindo.

– Não. Sahra você não está pensando direito no que está fazendo, as coisas...

– Claro que eu estou pensando, é a única coisa que eu faço desde que cheguei aqui. Eu penso, penso, penso e penso em tudo o que eu tenho que fazer pra conseguir ir embora.

– Você poderia aproveitar esse tempo aqui. Faz quanto tempo que você não é multada? Que não foge da polícia? Que não fica chapada? – Akim perguntava sem esperar as respostas. Os dois estavam de pé, um de frente para o outro, bem ao lado da cama. – Você tem que pensar na oportunidade de vida que está levando aqui.

– Que oportunidade de vida? Eu levava uma boa vida antes de vir parar aqui. Você fazia parte dela, devia lembrar – Sahra falou. – Isso é uma oportunidade, porque você não aceita e nós dois vamos embora.

– Não. – Akim falou negando veementemente com a cabeça. – Você está jogando uma oportunidade de vida perfeita pela janela como se fosse lixo. Não percebe isso?

– Perceber o que Akim? Que eu tenho um pai rico que depois de anos quer cuidar de mim como se nada tivesse acontecido? – Ela gesticulava com as mãos enquanto falava. – E não existe a droga de uma vida perfeita. É utopia! Você sabe disso!

– Você não percebe que tem a chance de sair de uma vida medíocre, onde você não tinha futuro algum. Você anda com vagabundos, cafajestes. Disputar raxas, ganhar motos em apostas e depois vendê-las não é um futuro.

– Eu sei disso e eu já disse que vou parar. Por que você não ignora isso? – A discussão estava ficando mais séria, e eu estava cada vez mais perplexo. Sahra disputava raxas e provavelmente tinha um “desmanche”.

– Não dá pra ignorar. Esse não é o futuro que eu queria pra mim. Se eu tivesse a mesma chance que você está tendo, teria a agarrado com todas as forças e não chutado para o alto.

– Você saiu de casa, você...

– Eu sei os meus pecados, e estou cuidando para que os seus não sejam os mesmos. – Akim a interrompeu. – Você acha que eu não trocaria essa vida pela chance de ver minha família de novo, de poder abraçar minha irmã mais nova e a minha mãe? Acha mesmo que eu prefiro essa vida?

– Você parece bem satisfeito com ela. – Sahra o acusou.

– O que mais eu devo fazer? Já passei tempo demais me lamentando, em algum momento temos que seguir em frente.

– Então por que você não volta pra casa? Você reclama de que tinha uma ótima vida, mas agora você é um adulto e tem o seu dinheiro, é independente. Por que simplesmente não vai embora?

– Meu pai me mandou embora porque acreditava que eu não tinha futuro, que eu não conseguiria dinheiro o suficiente pra me manter – Akim gritou com o rosto próximo ao dela – e ele estava certo. – ele diminuiu o tom de voz um pouco. – Se eu não fizesse esse trabalho extra, não teria condições de me manter, não teria chegado aonde cheguei. Agora você? Você tem uma família aqui, tem um futuro certo a esperando em alguma universidade de prestígio, no entanto está jogando tudo para o alto.

– Eu não preciso de nenhuma lição de moral. Você vai me ajudar ou não?

– Fico com “ou não”. Não vou deixar você estragar o seu futuro desse jeito. Me liga depois, quando tiver pensado no que eu falei.

Akim falou aquilo e foi embora. Sahra estava parada no mesmo lugar em que estavam discutindo. Eu fiquei a observando, estava tão perplexo que não fazia ideia do que fazer. Sahra era estranha e levava uma vida bem “tortuosa”, não conseguia imaginá-la naquelas festas, ela era pequena e quando estava tranquila parecia frágil. Descobrir aquilo só me fez ter certeza de que Sahra não era uma pessoa boa para mim, ela tinha problemas demais, era estranha demais, enrolada demais, as coisas pareciam pender para o lado mais negativo, ela não era certa para mim, com certeza foi um erro ficar com ela e aquilo não ia se repetir.

Sahra era a pessoa errada.

Pelo menos para mim. Sahra começou a chutar o ar e a... Se aranhar? Ela estava arranhando os braços e puxando os cabelos, então ela saiu do meu campo de visão e voltou com a mochila, ela tinha ido até o closet, tirou algo de lá e rapidamente passou no antebraço esquerdo. Vi algo escorrendo, forcei mais meus olhos e vi que ela tinha cortado o próprio braço. Que tipo de pessoa fazia aquilo?

Ela passou a lâmina um pouco acima do cotovelo, na parte interna dos bíceps. Então jogou o que parecia ser um canivete, no chão e ficou parada lá. Ela não se movia, sua cabeça estava baixa, e eu não podia ver sua expressão. Então sem mais nem menos ela levou a mão direita à boca e a mordeu, não podia escutar, mas tinha certeza que ela estava sufocando um grito.

Aquilo era agonizante, ver e não poder fazer nada. Afinal o que eu poderia fazer? Bater na porta do seu quarto e dizer: Oi Sahra! Vi você se cortando por uma câmera que instalei no seu quarto, você está bem?

Não. Eu não poderia fazer aquilo, mas eu pelo menos poderia impedir que ela fizesse aquilo mais uma vez, ela poderia estar querendo conversar, talvez eu devesse indicar algum psicólogo ou quem sabe um psiquiatra mesmo.

Saí do quarto e bati na porta do seu, não obtive resposta então bati novamente, nada. Praticamente esmurrei a porta na terceira vez, escutei um clique e a porta se abriu.

Lá estava Sahra encostada no batente da porta, ela parecia tranquila, como se nada tivesse acontecido, eu teria engolido, mas o lado esquerdo do seu corpo ficava escondido atrás da porta, a mão direita estava ao lado do corpo e Sahra estava com uma expressão vazia no rosto.

– O que você quer? – Ela me perguntou. Cocei a nuca e as palavras fugiram da minha boca. Eu não sabia o que falar. – Vai dizer alguma coisa ou vai ficar aí me olhando como um idiota?

– Er... Você está bem? Vi o Akim sair daqui meio transtornado. Ouvi vozes meio alteradas.

– Eu estou bem – ela respondeu friamente.

– Tem certeza? Se você quiser conversar eu...

– Não quero conversar, quero que você me deixe em paz se puder me dar licença...

Então a porta se fechou, fiquei tentado a chama-la novamente, mas não o fiz. Provavelmente devo ter ficado parado em frente à porta por mais de cinco minutos. Dei um longo suspiro e me retirei, não havia nada que eu pudesse fazer.


PDV Sahra:


Eminem - Till I Colapse



Estava terminando de enrolar uma atadura no meu braço. Às vezes me perguntava o porquê de eu não agir como uma adolescente normal. Chorar, ligar para as amigas, chorar, comer chocolate, chorar, me entupir de sorvete, chorar...


Suspirei e sentei na cama, já havia limpado o chão onde o sangue havia pingado e tudo estava na perfeita ordem. Tinha que sair daquela casa, com o Akim me ajudando ou não. Seria o melhor a ser feito, a vida de todos voltaria ao normal. Peguei um caderno com capa de couro, preto, e abri na última folha, a admirei por um tempo, então batidas na porta me interromperam, fechei o caderno e abri a porta. Clair estava lá.

– Oi! – Ela me cumprimentou.

–Oi. – Respondi, não entendendo o que ela queria. – Algum problema?

– Eu queria falar com você.

Franzi o cenho e dei passagem para que ela entrasse no quarto. Fechei a porta atrás de mim e indiquei que ela sentasse na cama, puxei a cadeira que ficava perto da escrivaninha e me sentei na sua frente.

– Pode começar. – Falei gesticulando com as mãos.

– Você se machucou? – Ela perguntou, apontando para o meu braço.

– Foi enquanto tirava algumas coisas do closet – menti –, uma caixa caiu e bom... Não interessa.

– Essas caixas são para a sua mudança? – Ela perguntou receosa, só acenei positivamente. –Por que você quer tanto ir embora?

– Bom... – Suspirei longamente, não sabia como explicar. Eu não queria explicar, mas parecia ser inevitável. – Imagine você morando sempre com os seus amigos e sua família, de repente você vai embora. Todos os seus amigos e a sua família ficam, então você está sozinha em um lugar totalmente diferente, cercada de pessoas estranhas. Eu deixei tudo de uma hora para outra e agora vivo em um mundo estranho, minha vida não é assim. Essa não é a minha vida.

– Mas nós somos a sua família, Mellany, eu e até mesmo o papai. Você é a minha irmã. – Ela tinha um olhar triste. Dei um longo suspiro.

Por que as coisas não poderiam ser fáceis? Colocar uma criança na minha frente, pedindo que eu ficasse era um golpe baixo, muito baixo.

– Eu sei que vocês são minha família, mas...

– Não. Olha, eu sei que a Mellany não é legal e eu sou esquisita, mas se você ficar eu posso falar com a ela e eu posso ser menos esquisita. Até paro de falar com você na escola, se você quiser. Só... Só não vai embora.

Uma lágrima escorreu por sua bochecha, rapidamente ela limpou. Ela estava triste, eu não queria, nem sabia que poderia deixar alguém assim. Estava confusa, talvez o que o Akim tinha falado era verdade, aquela era uma chance de recomeçar, de fazer minha vida se tornar algo melhor. Mas deixar tudo para trás não fazia meu estilo.

– Clair, eu vou pensar nisso. Preciso de um tempo – falei me levantando da cadeira. – Por que você não vai brincar, estudar, ou fazer qualquer coisa que você faz?

– Tudo bem – ela disse suspirando. – Mas eu realmente não quero que você vá embora.

Sorri para ela, então quando ela passou pela porta a tranquei.

Eu realmente não gostava da vida. Sempre que alguma coisa estava dando certo, me davam uma rasteira e eu rolava ladeira abaixo derrubando tudo e deixando minha vida virar uma grande merda. Se essa porcaria de destino realmente existe, então ele adora brincar comigo. Não adiantava o quanto eu esperneasse, o quanto lutasse ou gritasse, as coisas sempre acabavam de forma ruim. Mas apesar disso, eu não abandonaria minha vida, não a mudaria.

Fui tirada da minha reflexão por algumas batidas na porta. Eu não aguentaria mais uma sessão da Clair chorando e pedindo que eu ficasse, era melhor eu me preparar para pular da janela. Dei um longo suspiro e abri a porta. Mellany estava parada me encarando, franzi o cenho, estava mais confusa do que quando vi Clair.

– Posso entrar? – Ela perguntou passando por mim e entrando no quarto, antes que eu permitisse.

Encarei o espaço vazio, antes ocupado por ela, entortei a boca e fechei a porta. Ela observava o quarto com atenção, então foi até a janela da varanda e a abriu. Encostou-se ao alpendre da varanda e ficou observando o imenso jardim da casa.

– Sinta-se a vontade – sussurrei sarcasticamente.

– A vista, desse lado da casa, é linda. Ainda não tinha visto.

– Você veio até o meu quarto apreciar a vista? Eu posso tirar uma foto e dar ela a você, assim você pode ver sempre que quiser e levar com você também – fui sarcástica mais uma vez.

– Clair foi até meu quarto e pediu para que eu fosse mais legal com você – ela disse sem me olhar.

– Ela não sabe o que está dizendo. A propósito, vocês deveriam dar mais atenção pra ela, acho que...

– Você não pode ir embora – ela me interrompeu e eu fiquei sem saber o que falar. – Sahra. Você pode achar que não, mas você ajudou muito quando veio morar aqui, confesso que no começo fiquei com um pouco de ciúmes por você receber tanta atenção, mas eu vi que você chamava atenção por não ser um bom exemplo. Passei a admirar você por isso. Você fez a Clair ir parar na detenção, bateu na Alexia e me fez beijar o seu namorado.

– Eu não vejo o lado bom do que você falou, mas... Obrigada?! – Agradeci incerta.

– Você não vê?! Nossa! – Ela exclamou. – Você a fez tomar coragem e enfrentar as pessoas, ela nunca havia feito isso. Confesso que ela ter ido para a detenção não foi o ponto positivo, mas sim o motivo por ela ter ido.

– Ok. Se você está dizendo...

– Bater na Alexia é o sonho de todos os alunos daquela escola – ela falou de repente. – Eu já tive vontade de espancar aquela vadia, desculpe pelo palavreado, e você sabe disso – levantei as mãos sinalizando que não me importava nem um pouco. – Ninguém nunca se atreveu a fazer isso pelo motivo óbvio, ela é filha do diretor da escola, ninguém em sã consciência faria isso e estragar o currículo para uma possível entrada em alguma universidade de prestígio.

– Obrigada por ter me avisado isso agora. – Falei acidamente. – Afinal quem se importa com o futuro não é mesmo?

– Er... Desculpe? – Ela pediu envergonhada. – Eu queria agradecer pelo que me obrigou a fazer na noite passada ou na madrugada de hoje, não sei. Quer dizer, que garota daria seu namorado para outra beijar. Você me fez sentir corajosa e quer saber? Vou me inspirar em você quando digo que não estou ligando mais para nada.

– Quê? – Arregalei os olhos.

– Claro que eu não vou bater nas pessoas, não vou fazer alguma coisa que faça com que eu seja presa ou algo assim. Só não vou me importar tanto com o que pensam de mim. – Ela falou se explicando. O que me deixou mais aliviada e percebendo por outro ângulo que eu fazia coisas idiotas. – Não vai embora. – Ela pediu. – De um modo estranho ter você aqui é melhor.

– Eu acho que vou ter que ficar de qualquer maneira – falei me dando por vencida. – Não tenho como me sustentar e não quero depender do seu pai. Apesar de tudo, Akim não pode nos sustentar – falei ocultando o fato de que o Akim não queria que eu fosse embora. – Só não prometo ficar aqui para sempre – disse com sinceridade.

– Acho que mais um pouco já é o bastante – ela falou sorrindo. – Obrigada Sahra. – Dei de ombros. – O que foi isso no seu braço?

– Me machuquei mexendo no closet, umas caixas caíram. Nada de mais.

– Sei. Bom, eu estou indo embora. – Concordei e abri a porta para que ela passasse.

E lá estava eu novamente, sem saber, o que deveria fazer. Quer dizer, não tinha muitas opções, para falar a verdade, eu não tinha opção alguma. Akim havia deixado bem claro que não me ajudaria. Quando eu dizia que minha vida era uma merda, as pessoas sempre perguntavam o porquê. Eu merecia uma vida boa, com uma família normal, uma escola normal, conhecer pessoas normais e não ter nem um envolvimento com pessoas consideradas do submundo.

Talvez uma vida normal fosse legal, ou não. Provavelmente seria chata demais e eu tentaria fazer coisas erradas para que ela se tornasse mais excitante.

Resolvi deixar o drama da saída de casa para outra hora, no momento eu tinha coisas mais importantes para me preocupar, como passar o que eu havia descoberto sobre Natanael, para Sayuri e Adam. Eles precisavam saber e eu precisava de notícias.


PDV Jason:


O final de semana passou e a Sahra parecia que estava morando dentro do quarto, Akim apareceu por lá e ficou pouco tempo, basicamente enquanto Jonh estava fora. Eu queria conversar com ela, mas meus planos não deram certo e eu estava realmente estressado.

Mais um dia de aula, aquilo significava ter que aguentar Alexia mais um dia. Tudo bem que ela era gostosa e por estar junto dela, todas as suas supostas “amigas” queriam ficar comigo, mas ela conseguia ser insuportável quando começava a falar da Sahra, e isso estava ficando cada vez mais frequente, principalmente depois dos vídeos que eu havia mandado de Sahra se cortando.

Ainda não sabia o que ela faria com esses vídeos, mas tinha certeza de que não era algo bom. Tinha acabado de deixar Alexia em sua sala, eu não estava com muita vontade de assistir aula, não hoje, então caminhava muito lentamente e olhando para os lados tentando achar alguma coisa que justificasse a minha falta, talvez alguém estivesse precisando de uma manobra de Heimlich.

Me abaixei para amarrar o cadarço do tênis, quando uma pessoa esbarrou em mim, pelo menos as pernas dessa pessoa esbarraram em mim, isso fez com que eu me desequilibrasse e ela caísse por cima de mim. Eu estava no chão com o rosto imprensado contra uma barriga, tentando me desvencilhar vi uma tatuagem quando segurei a cintura de uma garota. Quando vi a tatuagem percebi que era Sahra, então eu não precisava ser tão delicado, só a empurrei para o lado, ela caiu sentada no chão. Ela me olhou mortiferamente. Sorri em resposta.

– Onde está o cavalheirismo hoje em dia? – Ela perguntou sarcasticamente.

– Acho que ele foi embora quando você caiu em cima de mim. Isso doeu – falei massageando a nuca e levantando do chão.

Ela levantou e sua saia estava levantada até a cintura, por um minuto, esperei ver uma langerie sexy, no entanto ela estava com um short de coto preto, pelo menos era colado e ela tinha belas pernas. Ela baixou a saiu e juntou uns papeis que estavam no chão.

– Você não deveria estar na sala de aula? – Perguntei.

– Faço a mesma pergunta a você? – Ela falou estreitando os olhos. – Virou rebelde e vai cabular aula? Ui Jason, como isso é excitante. – Ela ironizava.

– Só porque eu não fico cabulando aula como você – falei, e ela começou a andar sem me dar atenção –, não quer dizer que eu não faça coisas erradas e empolgantes.

– Sei – ela falou sem dar muita importância.

– Onde você está indo? – Perguntei.

– Quanto interesse – ela falou. – O que você quer?

– Nada. Só saber...

– Não está com vontade de assistir aula não é mesmo? – Ela perguntou parando subitamente e ficando de frente para mim.

– Basicamente isso. – Confirmei com uma careta.

– Eu nunca estou com vontade de assistir aula – ela falou recomeçando a andar. – Para falar a verdade, eu nunca estou com vontade de fazer nada. Gostaria de poder hibernar, ou ficar parada por um bom tempo.

– Isso é estranho – falei fazendo uma careta.

– Não. Isso se chama cansaço – ela falou com um meio sorriso, que não chegava nem perto de ser um sorriso de verdade. – Mas não posso reclamar de estar cansada ultimamente. Tenho tido uma vida bem tranquila, tranquila até demais.

Ela parou e abriu a porta do jornal da escola com uma chave. Entrei junto.

– O que você vai fazer? – Perguntei um pouco assustado, enquanto pensava no que ela faria ali, várias possibilidades passaram por minha cabeça.

– Difamar a imagem da sua namorada. Roubei as chaves do zelador e vou fazê-la implorar para não ter me conhecido – ela falou aquilo com um sorriso meio psicótico.

– Você vai o quê?! – Perguntei assustado.

– Tirar cópias do trabalho de História para o professor – ela falou me olhando estranho.

– Você falou em destruir a imagem da Alexia e fazê-la implorar por ter a conhecido, como assim...

– Jason. – Ela me chamou. – Você bebeu? Eu não falei nada disso – ela me olhava como se eu fosse um louco.

– O quê? – Eu realmente não fazia ideia do que estava acontecendo.

Eu não havia colocado nem uma gota de álcool na boca, muito menos usado algum tipo de droga, então como eu tinha imaginado ela falar aquilo? Acho que minha mente estava colocando coisas que eu achava que deveriam acontecer e que na verdade eram somente delírios. Eu estava ficando louco.

– Você é realmente muito idiota – Sahra falou rindo. – Sim, eu falei que ia acabar com a sua namorada. Você é tão imbecil que se deixou convencer que eu não tinha falado nada. – Ela ria mais. Chegava a colocar uma das mãos na barriga.

– Você é sádica? – Perguntei irritado. – É a única explicação que consegui achar.

– Pode parecer, mas eu não me divirto com a dor dos outros – ela falou dando de ombros sendo tomada por uma seriedade súbita. Ela mudava de humor de forma abrupta, aquilo me deixava confuso.

– Você gosta de manipular as pessoas. – A acusei. Ela só deu de ombros, não negou. Então virou de costas e ligou a copiadora.

– Você pode me dar uma ajuda com isso? – Ela perguntou com um olhar muito concentrado na copiadora.

– O que você quer que eu faça?

– Como posso tirar várias cópias e também usar os dois lados do papel?

Expliquei como ela faria isso. Acabei ficando por lá, eu realmente não estava com vontade de assistir aula alguma, o silêncio na sala era bom, não existia Alexia me enchendo com assuntos relacionados à Sahra, ou mandando indiretas para que eu a pedisse em namoro. Nada disso, o único barulho era o da copiadora cuspindo papeis. Sahra estava recolhendo as folhas e as colocando em cima de uma mesa ao lado da copiadora.

– Você não vai contar o que nós fizemos para a Alexia não é? – Perguntei tentando parecer indiferente. Ela nem sequer levantou os olhos em minha direção.

– Apesar de gostar da ideia e me parecer muito tentadora – ela parou ajeitando os papeis –, não vou fazer isso. Não tenho nada a ganhar, alguns minutos de diversão talvez, mas não valem a pena. Me divirto fazendo outras coisa, além do mais, o que fizemos não foi nem um pouco relevante.

– Não foi relevante? – Perguntei me sentindo um pouco ofendido. – Nós quase transamos na piscina de um desconhecido. O seu namorado, se lembra dele? Ele estava esperando você. Mas nós estávamos fazendo coisas sem o consentimento dele. O desafio não envolvia que nós pulássemos um muro e nem que fizéssemos um “quase sexo”. Além do mais você...

– Eu só preciso apertar start aqui? – Ela perguntou, me interrompendo e fugindo completamente do assunto.

– Sim – respondi. –Não mude de assunto você sa...

– Eu não sei de nada Jason. – Ela falou virando o rosto em minha direção, ela estava com uma expressão de indiferença. – Você achou que eu iria fazer uma cena por causa daquilo? Eu sei o que faço com a minha vida. Não vai ser por uma noite de sexo que vou me apaixonar e enlouquecer por uma pessoa. Aquilo não significou nada para mim, agora se para você teve uma conotação diferente então, eu peço desculpas. Não quero me comprometer com você.

Eu a olhava boquiaberto. Ela havia me dispensado. Quem em sã consciência me dispensaria?

Bom, a resposta estava bem diante dos meus olhos. Sahra Bakers.

A garota estranha, masoquista, bipolar... Poderia dar mais centenas de atributos a ela, mas no momento estava meio boquiaberto. Ela me olhava com uma indiferença tão grande que chegava a me deixar sem graça.

– Eu não estou... Quer dizer, aquilo não significou nada pra mim. – Falei.

– Ótimo! – Ela falou olhando para a copiadora novamente. – Assim nós evitamos muitos problemas. Me ajuda a grampear essas folhas?

Fui até a mesa e peguei um grampeador, não eram tantas folhas, ela me indicou a ordem e nós começamos.

Escutei uma música e olhei ao redor. Sahra largou o grampeador e tirou a mochila que estava em suas costas, abriu o zíper e retirou um aparelho celular de lá. Resolvi me concentrar em grampear as folhas.

– Sahra Bakers. – Ela falou. – Oh! É você. O que aconteceu? – Olhei de soslaio e ela estava olhando para o chão. Estava concentrada, então suas sobrancelhas franziram. – Como assim? – Mais um tempo de espera. Ela estava meio confusa e deixava transparecer um pouco de raiva. – Você não pode estar falando sério. Não me mande ficar calma, você sabe que eu vou m... – Ela pareceu se lembrar de mim. Rapidamente desviei meu olhar do seu e continuei a grampear os papeis. – Falo com você depois. Com certeza eu estou calma. Até mais.

– Algum problema? – Perguntei querendo parecer indiferente.

– Vários – ela respondeu suspirando de olhos fechados. – Você terminou? – Olhei para os papeis grampeados e concordei. – Obrigada por me ajudar, só espero não dormir na aula na próxima vez, para não precisar fazer isso novamente.

Ela recolheu tudo e então saímos da sala. Não sei o que esperava se era algum convite para o almoço, ou simplesmente um agradecimento, mas ela simplesmente trancou a sala, me deu as costas e foi embora. Cocei a nuca e fiquei pensando na conversa que ela teve ao celular. O que ela diria se não tivesse se interrompido.

Ela era complicada, eu precisava me afastar, mas a curiosidade não deixava e junto com a raiva, se é que eu poderia chamar aquilo de raiva, por ela ter me rejeitado. Quer dizer, nenhuma garota me ignorava daquela forma, por que Sahra seria diferente?

Acabei não assistindo somente uma aula antes do almoço. Quando entrei no refeitório, passeei meus olhos por todas as mesas e encontrei Sahra sentada na mesa no canto mais afastado, como sempre. E lá estava Drew, as garotas e até o tal Nicholas.

Fui até a minha mesa e sentei ao lado de Alexia que tratou de me beijar e por um minuto pensei que ela colocaria uma coleira em meu pescoço. Daniel estava sentado entre duas garotas e sorria de forma maliciosa para elas, como sempre. Precisava compartilhar a conversa de Sahra com ele, mas seria impossível naquele momento.

Passei a tentar prestar atenção nas conversas que rodeavam na mesa, mas estava distraído pensando, me lembrei do endereço e da data que havia anotado do notebook da Sahra e se a conversa tivesse alguma coisa a ver com aquilo?

Meus olhos voaram para a mesa onde ela estava, nesse momento ela se levantou, estava com um sanduiche na boca e uma lata de refrigerante na mão, se despediu e saiu do refeitório. Fiquei a observando até sumir do meu campo de visão. Quando voltei meu olhar para mesa, percebi que Alexia me encarava com uma sobrancelha erguida.

O resto das aulas passou de forma lenta, procurei a moto da Sahra discretamente quando pedi licença na sala de aula com a desculpa de ir beber água. A moto não estava lá, ela tinha ido embora. Precisava saber mais dessa garota e terminar o que Alexia queria logo, não estava com vontade de me envolver na vida dela. Ela cheirava a encrenca e isso era o que eu menos queria.


PDV Sahra:


– Eu vou mata-lo. Simples. – Eu falava pela centésima vez para Akim. Nós estávamos em uma casa no subúrbio da cidade, era lá que ele estava vivendo. Não era nada luxuoso, mas era aconchegante.

– Não se precipite. Com o Burnier nada é simples – ele falou rolando os olhos, ele também já estava cansado.

– O que nós vamos fazer? Ficar parados esperando ele simplesmente matar algum de nós? – Eu estava meio descontrolada, tomada pela fúria. – O Adam está no hospital. Você entendeu a gravidade da situação. O carro dele ficou detonado. Ele não está bem e você quer que eu fique numa boa. Ok! Vamos sentar e esperar até que o Natanael nos mate, afinal não tenho nada a perder mesmo.

– Não fale isso – ele me olhou meio furioso. – Você pode até tentar esconder essas porcarias de cicatrizes que você faz no próprio corpo, mas eu acabo vendo uma hora ou outra. Você disse que ia parar.

– Eu tentei. – Falei suspirando. Ele me encarou seriamente. – Eu juro, eu tentei, mas não é fácil. Não é como se eu quisesse continuar me cortando, eu só... – Minha voz adquiriu um tom mais baixo. – Não consigo evitar.

– Você precisa se tratar – Akim falou, o olhei esperando alguma espécie de humor em sua expressão, mas ele não existia.

– Eu não sou uma doente. Posso ser meio maluca, mas eu não preciso de tratamento.

– Claro que não precisa. Você se corta, mas é uma pessoa completamente normal – ele falou rolando os olhos. – Eu não falei que você é doente ou algo do tipo, você só precisa conversar com alguém e colocar tudo para fora. Você não pode passar o resto da sua vida com essa mágoa, angústia ou sei lá o quê, no seu peito.

– Eu. Não. Preciso. De. Tratamento. – Falei pausadamente. – Não preciso conversar com profissional algum, eu tenho amigos.

– Só não entendo porque você não nos deixa ajudar. – Akim falou com um suspiro cansado. – Vamos conversar sobre isso depois. Agora temos assuntos mais importantes.

– Concordo plenamente. – Falei desviando do assunto.

– Não que você seja menos importante, só acho que não adianta falar nisso agora – ele comentou massageando as têmporas. – Temos compromisso no sábado, você vai correr com alguém, não temos nada oficial, então... Acho que as apostas não serão grandes.

– Mas e o Natanel? – Perguntei impaciente.

– Nada. Não vamos fazer nada. Ele está em Londres. A essa altura do campeonato ele deve estar sabendo que você não está mais lá, então deve estar enlouquecido procurando por você. Acho que dentro de algumas semanas ele vai aparecer por aqui – ele parou e mordeu o lábio inferior. – Vamos nos preocupar com isso mais adiante.

– Ainda acho que devemos nos preocupar com isso agora. – Adverti levantando as mãos.

– Não se preocupe, ele não é tão bom assim. Não vai acha-la tão logo, ele não a achou até agora...

– Mas está procurando.

– Eu sei – ele falou. – Agora mantenha o foco no que eu estava falando. Não sei quem está por trás disso, mas não vai ser tão grande. Acho melhor aproveitarmos que você está por aqui para darmos uma olhada na moto, também vou ver meu carro. Preciso de dinheiro e como sou forasteiro não vou ganhar muito na mesa de apostas.

– Vamos às análises então.

A tarde se passou no clima ameno, conversamos besteiras, fizemos ligações para descobrir nossos possíveis concorrentes e conseguimos falar com Adam.

Quando o horário de ir para a creche chegou eu fui. Fiquei com as crianças, mas estava meio ausente.

Adam estava participando de um racha, claro que acidentes acontecem e com frequência, no entanto o carro dele foi fechado por outros dois, o que resultou no capotamento do seu carro. Segundo o que ele falou, seu carro virou sucata e ele, apesar de tudo, não estava tão mal. Adam não quebrara um osso sequer. Sayuri estava com ele e parecia preocupada. Aquilo me deixou com certa angústia, eu não estava lá, não poderia fazer nada, mesmo querendo.

Flash Back:

– Não sei por que o Akim não gosta de você – Adam falou enquanto dava uma cerveja para Nate –, você é um cara legal.

– As pessoas têm opiniões diferentes – Nate falou dando de ombros.

Ele estava sentado no capô do seu carro e eu estava estre as suas pernas. Nós olhávamos o pôr do sol. Eu estava calada, Akim era meu melhor amigo e Nate meu namorado. Não queria forçar uma amizade entre eles.

– A única pessoa que eu realmente me importo com o que pensa a meu respeito já está aqui – Nate falou dando um beijo no topo da minha cabeça. Sorri.

– Você se importa com a minha opinião? – Perguntei com um sorriso e sendo sarcástica. –Sério?! Ainda não tinha notado.

– Claro que me importo, só não vou concordar quando escolhermos os nomes dos nossos filhos. Aí eu não vou ligar para os nomes que você escolheu.

– Filho? – Perguntei me soltando do seu abraço e olhando ao redor. – Adam, você está vendo algum pirralho correndo por aqui? E não, eu com certeza não estou grávida. – Adam riu e eu também, Natanael rolou os olhos.

– Eu disse “quando escolhermos”. Não falei que teríamos filhos agora, mas quem sabe no futuro – ele me puxou para um abraço novamente. Depois sussurrou no meu ouvido. – Quero uma dúzia deles, todos parecidos com a gente.

– Você é tão absurdo – falei rindo. – Coloque bons anos a frente, não quero crianças tão cedo, preciso me formar, ter uma vida plena e então conversaremos sobre isso.

– Você pensa muito – ele disse dando de ombros. Fiquei de costas para ele e observei o sol. – Eu não me importaria que tivéssemos um filho, muito pelo contrário, eu ficaria feliz demais. Seríamos nós três e mesmo com você ainda não estando formada eu ajudaria a cuidar do bebê quando você fosse para a faculdade.

– Você está viajando muito. – Falei fazendo uma careta, incapaz de me imaginar como uma mãe. – Vamos curtir o momento. – Me virei e dei um beijo suave nos seus lábios.

– Eu deveria ter no mínimo trago a Sayuri – Adam falou nos interrompendo. – Servir de castiçal não é tão legal quanto parece.

– Não se preocupe, vou fazer companhia pra você – me soltei do Natanel e sentei nas pernas do Adam que estava sentado em cima de um isopor que guardava nossas bebidas.

– Eu não concordo com isso – Nate falou. – Ela é minha namorada. Você tem que respeitar Adam. Não mandei você vir – ele disse implicando.

– Ela é minha amiga e eu não mandei você entrar na vida dela e roubá-la de mim – Adam falou e eu rolei os olhos.

– Por que vocês dois não vão se ferrar?

– Essa é a minha garota – Natanael falou rindo.

Levantei e puxei Nate para onde Adam estava. Fiz os dois sentarem no chão e eu fiquei no meio.

– Somos uma família – falei dando de ombros –, não devemos brigar.

– Verdade – Adam e Natanael falaram ao mesmo tempo.

Então ficamos os três curtindo o pôr do sol. Três amigos em uma tarde curtindo a tranquilidade.

Flash Back off~

Ainda não entedia como Natanael tinha virado essa pessoa. Ele havia quase matado Adam, justo Adam que era seu amigo. Minha cabeça estava cheia, nem Nick conseguiu me distrair. A semana seria tensa e se dependesse de mim eu acabaria com Natanael.

A semana se passou. Eu ia de casa para a escola, para o serviço comunitário e para o trabalho. Não sai de casa, como de costume, Akim ia me visitar, nos horários que Jonh não estava em casa, conversávamos e depois que ele ia embora eu dormia.

Apesar de eu estar preocupada com Adam, Akim havia me convencido a deixar o assunto um pouco de lado, claro que eu não deixara ele de lado, somente me convenci de que não podia fazer nada enquanto estivesse aqui, em Tacoma.

Me concentrei somente em ganhar dinheiro no sábado, precisava ganhar e Akim também, então nós dois nos concentramos nisso. Ganhar dinheiro.

Já se passavam das dez da noite de sábado, eu precisava sair, no entanto não sabia se Jonh me impediria. Então uma dúvida cruel pairava em minha mente, fugir pela janela, ou passar como quem não quer nada pela porta da frente?

Havia passado o dia inteiro pensando nisso. Akim me avisara que esperaria por mim no local marcado, então eu só precisava dar um jeito de sair de casa. Juntei minha coragem e sai do quarto o trancando logo em seguida. Minha mochila estava devidamente colocada nas costas, estava com uma calça jeans escura, um tênis all star preto, uma camiseta T-shirt cinza e um moletom preto. Respirei fundo.

A ultima coisa que eu queria era uma discussão.

Desci as escadas lentamente, esperava que todos estivessem dormindo, não fiz barulho algum, as luzes da sala estacam apagadas, quando cheguei à porta olhei ao redor para ter certeza de que estava sozinha. Cheguei à garagem, peguei minha moto e parti.

Um sorriso brotou no meu rosto enquanto corria pelas ruas de Tacoma, fazia um tempo em que eu não corria de verdade. Finalmente cheguei ao lugar marcado. Carros com os capôs levantados e pessoas ao redor, motos e carros disputando corridas paralelas. Centenas de pessoas, bebidas, provavelmente drogas, no entanto eu estava unicamente interessada em ganhar dinheiro.

Estacionei a moto e vasculhei o local com os olhos, procurando Akim. Meus olhos pousaram sobre ele e não me surpreendi nem um pouco ao vê-lo agarrando uma garota a imprensando da porta do seu carro. Rolei os olhos.

Pessoas passavam e me olhavam, algumas cumprimentavam e vi um garoto bonito que me olhou de forma maliciosa, eu havia dado um nó na camiseta fazendo com que ela ficasse na altura do meu umbigo. Estava esperando Akim largar a garota, mas era algo que parecia ser impossível, uma cerveja foi colocada na minha frente. Um braço passou sobre o meu ombro, a mão segurava uma cerveja bem diante do meu rosto.

Pisquei e me virei, dei de cara com Alan. Ele tinha um sorriso largo no rosto, eu o respondi fazendo uma careta. Ainda não tinha esquecido que eu poderia ter transado com ele, não que eu tivesse com nojo ou algo do tipo. Eu só não me sentia bem em relação a isso, Alan parecia ser o tipo de garoto que gostava de conversar no “dia seguinte”, eu não queria conversar.

– É tão ruim assim me ver? – Ele perguntou com um humor contido. – Vamos esclarecer algumas coisas aqui – ele falou ficando de frente comigo –, por que você me odeia? Eu sou irmão da Alexia, até aí tudo bem, mas eu não sou ela.

– Não tem nada a ver com a Alexia, é só que você e eu, sabe? Eu não quero que você entenda que nós tenhamos algo a mais, principalmente depois daquela festa – completei franzindo o cenho.

– Por que eu entenderia que nós poderíamos ter algo a mais depois daquela festa? – ele perguntou com as sobrancelhas erguidas.

– Pelo motivo óbvio – falei rolando os olhos. – Nós transamos.

– Sério? – Ele perguntou surpreso. – Eu não lembro disso, mas...

– Como assim não lembra?

– No dia da festa você ficou tão chapada que se jogou em uma piscina sem saber nadar, claro que eu também estava bêbado, mas você estava bem mais. Você mal conseguia ficar de pé. Então você me agarrou e eu gostei muito disso, só que você agarrou o seu amigo Charles – ele franziu o cenho, parecia tentar lembrar-se de alguma coisa. – Você queria fazer uma espécie de ménage se quer saber. Então seu amigo ficou com outra garota. Posso dizer que eu estava bem empolgado com você, mas quando suas costas tocaram o colchão você apagou. Foi bem broxante se você quer saber.

– Quer dizer que nós dois não... – Apontava para nossos corpos. Ele só concordou com a cabeça. – Ainda bem. Não me leve a mal, só que você parece ser o cara que gosta de ficar junto depois de uma noite.

– Na maioria das vezes eu não gosto de ser um canalha. Mas eu sei ser quando se é preciso, agora você poderia me dizer se conhece aquela garota? – Ele falou

Apontava para uma garota, que estava encostada em um Mustang shelby GT 500 todo tunado, ela estava com uma calça bag preta e uma camiseta de alças, colada ao corpo, sua barriga estava um pouco à mostra. Ela estava despreocupada com as mãos nos bolsos.

– Não sei quem é, mas que tal irmos lá? Gostei do carro dela. – Alan concordou e fomos até ela.


Ludacris - Act A Fool



O seu carro era preto com duas listras vermelhas que ia do capô até a traseira. Uma película preta fosca o cobria por inteiro, exceto alguma parte onde ela havia sido minuciosamente cortada formando um desenho tribal e toda a lateral esquerda do carro, logo perto do aerofólio o desenho de um par de cerejas vermelho sangue enfeitavam o carro. Um neon vermelho saia debaixo do seu carro.


– E aí? – A cumprimentei quando cheguei perto. Ela levantou a cabeça e deu um sorriso de lado.

Tinha um cabelo longo e preto, uma franja de lado, olhos claros e que faziam parecer que ela sempre estava com sono.

– Oi! – Ela falou e estendeu a mão para mim. Eu a peguei.

– Sou Sahra e esse é o Alan – comecei as apresentações.

– Cheryl. Mas pode me chamar de Cherry. Algum motivo especial para as apresentações?

– Nenhum – falei dando de ombros. – Belo carro você tem Cherry.

– Valeu. Gosto de brincar com ele, onde está o seu carro? – Ela perguntou para mim.

– Não tenho carro. Aquela moto é minha – falei apontando para onde a minha moto estava.

– Nossa! Bela moto.

– Nossa! Bela barriga – Nos viramos e Akim olhava para Cheryl. – Ah! Oi Sahra. E muito prazer garota desconhecida, sou Akim Afonso.

– Sou Cheryl – ela o olhava estranho.

– Muito bom, agora vou ter que roubar Sahra um pouco de vocês, eu consegui uma pessoas que acredita ferrenhamente que pode ganhar de você e está apostando alto.

– Ótimo! Se vocês me deem licença, falo com vocês depois – sai com Akim, peguei minha moto e fui até onde o meu desafiante estava.

Olhei para o rapaz encostado em uma Ducati 848, branca. Ele era alto, moreno e forte, muito bonito. Primeiro o admirei, para depois me pronunciar, não era como se ele já não tivesse me visto, mas eu estava na moto e o olhava, ele me contemplou com um sorriso que eu tratei de devolver com entusiasmo. Akim chegou andando, parou em frente ao garoto e o cumprimentou. Fiquei olhando até os dois virem até mim.

– Esse vai ser o seu desafiante. – Akim falou apontando para o garoto.

– Quanto você está apostando? – Perguntei com um sorriso de canto.

– Nossas motos – o cara respondeu.

– O que?

– Fica tranquila Sahra, ele queria a sua moto e com a dele nós podemos ganhar uma boa grana. – Akim me explicou rolando os olhos. – Não tem muitas pessoas aqui com moto dispostas a correr.

– Está com medo garotinha? – O cara provocou. Mandei meu dedo do meio em sua direção e acelerei a moto até uma pista reta. Ele me seguiu e ficou ao meu lado. – É assim que eu gosto.

Algumas pessoas que estavam no caminho saíram e deram espaço. Eu precisava ganhar essa, do contrário minha moto já era. Dei um longo suspiro, olhei para o lado e meu concorrente estava colocando um capacete.

– Hey! – Chamei. – Nada de capacete.

Ele me olhou e sem mais deu o seu capacete para uma garota. Ligamos as motos e esperamos uma garota dar a partida. Assim que a garota jogou ao que parecia ser sua blusa já que ela só estava de sutiã, nós dois aceleramos as motos. Ele acelerava colocando o motor para girar ao máximo.

Passei da primeira, fui para a segunda, terceira, quarta e quinta, quando passei para a sexta deixei o motor girando livremente e acelerei, passei por ele e quando cheguei ao fim da rua improvisada voltei até a segunda marcha. Toquei o pé no chão e coloquei todo o peso do meu corpo para fazer a moto virar, o pneu cantou no chão e a coloquei nos eixos novamente. Assim que a estabilizei novamente acelerei e passei as marchas acelerando gradativamente. Olhei pelo espelho retrovisor e vi o meu concorrente bem atrás de mim. Considerando a situação achei que ele estaria bem mais perto, na verdade aquela seria o racha mais fácil de ganhar em toda a minha vida.

Acelerei e cheguei ao mesmo ponto aonde começamos. Parei a moto derrapando um pouco a roda traseira. Desliguei o motor e esperei até ele chegar, assim que a moto do meu concorrente chegou estava com um sorriso no rosto. Franzi o cenho sem entender sua atitude.

– Acho que perdi não é mesmo? – Ele falou dando de ombros. Akim o olhava com os olhos crispados.

– É. Você perdeu mesmo – falei com a voz sem expressão, estava surpresa demais para exprimir alguma coisa. Ele era a primeira pessoa que perdia a moto e ficava tranquilo.

Eu já não entendia nada. Akim ficou encarregado de acertar as coisas a respeito da moto, como ele entregaria... Deixei minha moto ao lado do camaro do Akim e fui até onde Alan e Cheryl estavam.

Ficamos conversando e acabei descobrindo várias coisas a respeito de Cheryl, ela era de Atlanta e estava fazendo um tour pelo país, conhecendo vários lugares antes de entrar na faculdade, ela teria no máximo dois anos para fazer isso, esse fora o prazo estabelecido pelos pais, ela estava viajando havia um ano e não parecia estar nem um pouco a fim de voltar para casa ou ingressar em uma faculdade. Tinha 21 anos então de acordo com as leis nos EUA ela podia fazer tudo de forma legal.

Ela correu e acabou ganhando mil dólares de um garoto. Alan não correu, decidiu só olhar e apreciar as coisas. Até que tudo estava indo bem, a noite fluía de forma agradável.

– Tenho cervejas no meu carro – Alan falou –, você pode ir pegar Sahra?

– O trabalho sempre sobra para mim não é? – Disse rolando os olhos. – Onde seu carro está?

PDV Jason:

Eu esperei a semana inteira, ansioso pela chegada do sábado. Fiquei mais ansioso ainda quando o dia chegou, o sábado parecia passar de forma lenta e desgastante. Quando finalmente passaram das dez da noite eu vi Sahra descer as escadas, eu estava atrás delas, esperando ela descer. Ela parou na porta e olhou ao redor, fiquei espremido contra a parede, não poderia ser visto. Enfim ela saiu.

Esperei que saísse com moto para depois ir atrás dela. Não precisava ter tanta pressa, eu sabia aonde ela iria. Cogitei ir com o meu carro, mas aboli ideia. Não sabia em que lugar iria me meter por via das dúvidas era melhor pegar um táxi até as proximidades. Assim que havia decidido sair fui parado por Jonh que vinha de um corredor que ficava seu escritório.

– Vai sair Jason? – Ele perguntou com os olhos grudados em uma folha de papel que estava em suas mãos.

– Sim – respondi, sem saber como complementar.

– Aonde você vai? – Ele finalmente tirou os olhos do papel e me encarou.

– A uma festa, fui convidado e tenho que ir – respondi com um sorriso amarelo.

– Sahra foi a essa festa? – Ele perguntou com as sobrancelhas erguidas. Fiquei meio surpreso com a pergunta. – Eu vi quando ela saiu.

– Sim, ela vai. Eu esperei ela ir na frente, porque eu vou com Alexia e as duas não se dão muito bem, você sabe como são as garotas não é? – Falava e ria forçadamente. Sem querer acabei arrumando um álibi para Sahra.

– Sei. Espero que se divirtam e não cheguem muito tarde.

Só acenei positivamente com a cabeça e sai. Assim que pisei na rua dei um longo suspiro aliviado, Sahra querendo ou não teria que me agradecer mais tarde. Andei um pouco enquanto esperava que algum táxi passasse por fim passou. Parei próximo ao local, uma parte industrial da cidade.

Desci antes e caminhei até chegar onde as coisas estavam acontecendo, várias pessoas estavam lá, carros estacionados com os capôs abertos e alguns competindo. Era como em Londres, e como em Londres eu não gostava muito. Ir a festas era bom, mas aquele tipo de festa não. Para começo de conversa não poderíamos considerar como uma festa, já que geralmente alguma coisa acontecia, alguma coisa ruim, não que coisas ruins não acontecessem em festas de colegiais. No entanto as coisas que aconteciam nesse tipo de lugar eram bem mais pesadas, do consumo de drogas ao tráfico delas, homicídios. Balancei a cabeça espantando essas ideias da minha mente.

Passei por entre as pessoas, que me olhavam de forma estranha, a procura da Sahra. Por fim achei, ela estava conversando com uma garota e o irmão da Alexia. Fiquei um tanto surpreso por ver Alan ali. Apesar da vontade de chegar mais perto, me privei. Fiquei observando de longe, acabei conhecendo algumas pessoas com que conversei e fiquei bebendo, enquanto observava Sahra. Ela tinha competido com um cara e ganhou, depois a garota que estava com ela também competiu. Tirei algumas fotos dela fazendo isso.

Sahra então se separou das pessoas com quem estava e caminhou para uma área mais afastada, resolvi ir atrás dela. Ela foi até um carro e abriu o porta-malas, fiquei atrás de outro carro a observando, ela pegou o que parecia ser um engradado de latinhas de cerveja. Não havia ninguém além de nós dois ali. Ela hesitou antes de fechar o porta-malas, então foi para o outro lado do carro, subitamente ela sumiu do meu campo de visão. Parecia ter sido puxada para baixo, depois um silêncio sepulcral se fez presente.

Estava assustado, não sabia exatamente o que fazer. Por fim tomei a atitude sensata, fui até onde ela havia sido puxada, ou o que quer que tenha acontecido. Caminhei rápido, no entanto diminui o ritmo quando cheguei mais próximo. Dei um longo suspiro e fui de uma vez até o lado do carro que ela havia sumido.

Assim que foquei minha visão no chão, pronto para ver o pior, não havia ninguém, meu cenho se enrugou, não estava entendendo o que tinha acabado de acontecer. Estava ficando louco, aquilo era com certeza o comportamento de alguém que não gozava de plena saúde mental, imaginar uma situação inteira daquela forma não era normal. Respirei fundo e foquei meu olhar no chão de terra, fiquei de joelhos e me abaixei para olhar debaixo do carro. Não havia nada. Eu esperava encontrar qualquer coisa, algo que me indicasse que não estava ficando louco. Balancei a cabeça ainda olhando embaixo do carro, comecei a levantar. Fiquei de pé e comecei a limpar minhas roupas, um jeans escuro, uma camiseta preta lisa e uma jaqueta jeans escura.

– Por que você está me seguindo? – Sahra falou atrás de mim. Um intenso arrepio percorreu meu corpo, fazendo minhas pernas tremerem levemente. Virei para encará-la e ela estava me observando seriamente.

– Você está bem? – Foi primeira pergunta que veio a cabeça.

– Estou muito bem. Agora você pode me dizer o que está fazendo aqui e ainda por cima me seguindo? – Ela estava impaciente.

– Não estou seguindo você – falei bufando e rolando os olhos. Era uma boa maneira de aparentar despreocupação, pelo menos eu achava.

– Claro que não. Você ficou me observando de trás de um carro e depois veio ver se algo tinha acontecido comigo, mas não está me seguindo – ela falou sarcasticamente –, vamos deixar a parte das mentiras por minha conta. Você não é nada bom com isso.

– Tudo bem. Eu estava seguindo você mas...

– Por quê? – Ela perguntou me interrompendo.

– Só queria saber aonde você iria.

– Você não me seguiu desde o momento em que eu sai de casa – ela afirmou e crispou os olhos. – Daniel contou que eu estava aqui e mandou você ficar de olho em mim?

Fiquei meio confuso com o que ela insinuara. Daniel não fazia ideia de que eu estava ali, na verdade ele provavelmente estaria dormindo, apesar disso, fui incapaz de negar. Era a explicação mais fácil, de modo algum diria que soube quando invadi o seu quarto.

– Como você sabe? – Tentei soar convincente. Ela só rolou os olhos.

– Por que você não volta para casa? – Ela perguntou suspirando. – Eu já estraguei o seu plano de espionagem mesmo.

– Cheguei até aqui, não vou embora agora e depois o seu pai acredita que nós dois estejamos juntos em uma festa – falei dando de ombros.

– Juntos em uma festa?

– Ele viu quando você saiu. Quando minha vez de sair chegou, ele perguntou aonde eu iria e perguntou se você estaria comigo, falei que sim. Ah! Ele pediu para que não voltássemos tarde.

– Mais essa agora – ela reclamou. – Você não vai embora não é mesmo?

– De modo algum – respondi convicto.

– Então venha comigo, é melhor eu ficar de olho em você.

– Você não cansa de tentar me enlouquecer? Por um minuto cheguei a pensar que havia imaginado toda a situação de você sendo puxada ou ter caído ao lado do carro – soltei tudo de uma vez, reclamando.

– É divertido brincar com você, Jason – ela respondeu risonha. Rolei os olhos.

– Eu não me divirto com isso. Acredite – ela riu mais ainda.

Fomos até onde ela estava anteriormente. Assim que me viu, Alan ficou surpreso, rapidamente olhou ao redor, talvez lhe ocorresse que eu estivesse com Alexia. A garota me olhou de forma maliciosa. Akim estava no meio e me olhava confuso.

– Trazendo convidados? – Akim perguntou a Sahra com uma sobrancelha erguida.

– Claro. Você sabe o quanto adoro trazer pessoas para minha vida não é? – Ela respondeu acidamente. – Vocês poderiam me dar licença? – Ela pegou no braço de Akim e o rebocou dali.

Fiquei olhando para os dois, o silêncio reinou e nem um dos três parecia à vontade de quebrar. Eu parecia ser o mais deslocado ali.

– Pensei que Alexia estava com você – Alan por fim quebrou o silêncio.

– Não. Sua irmã não sabe que eu estou aqui – falei fazendo uma careta –, espero que ela continue não sabendo.

– Eu também espero – Alan falou, enquanto abria uma latinha de cerveja.

– Essa sua irmã é uma megera pelo que eu estou vendo.

– Não que ela seja uma megera, ela só é... – Alan fez uma careta pensativa. – Megera. – Todos riram.

A conversa passou a fluir normalmente. Sahra e Akim tinham sumido de vista, Cheryl era uma garota legal e muito bonita, mas Alan já estava interessado. Ela era diferente, tinha uma história de vida bem interessante.

– Então você não curte muito ficar nesse meio, mas por que você está aqui hoje? – Cherry me perguntou.

– Algumas coisas relacionadas à Sahra. Nada de mais.

– Mas não é uma vida que eu desejaria para pessoas que almejam um futuro – Ela falou tomando um gole de sua cerveja –, apesar de ser muito empolgante, você tem razão de não gostar desse tipo de lugar.

– Vamos embora! – Sahra e Akim chegaram correndo. – Vamos! – Algumas pessoas passavam correndo atrás dos seus carros e alguns dos carros passavam em alta velocidade.

– O que está acontecendo? – Perguntei aturdido. Não estava entendendo nada.

– É a polícia. Onde está o seu carro? Corre pra ele e vai direto para casa! – Ela falou rapidamente.

– Eu estou sem carro! – Estava apavorado. Não podia ser preso, minha mãe ia me matar.

– Mas que merda! – Ela esbravejou. – Cherry? – Cherry concordou com um aceno.

Sahra saiu correndo. Alan foi embora e Akim também. Fiquei sem saber o que fazer, Cheryl entrou no carro e eu continuava parado olhando para todos irem embora e passando a escutar o barulho de sirenes.

– Vai ficar parado aí por muito tempo?! Entra na droga do carro, garoto.

Entrei sem pensar duas vezes, afivelava o cinto e ela já dava a partida. O carro partiu a toda velocidade. Eu olhava várias vezes para trás, ninguém nos seguia. O carro voava pelas ruas virava esquinas de forma abrupta. O meu celular começou a tocar, atendi com a adrenalina correndo por todo o meu corpo. Cherry parecia estar tranquila.

– Alo! – Falei empolgado.

Jason?! – Era Sahra. Não me lembrava de ter dado meu número para ela. – Passa o telefone para a Cherry! – A voz dela saia abafada, o barulho do vento atrapalhava a compreensão.

– Sahra quer falar com você. – Entreguei o celular e fiquei atento ao que ela falaria.

– Pode falar. – Cherry esperou um pouco. – Como assim? Que dizer que tudo foi em vão? – Mais um momento de espera. – Então você está ferrada. Já falou com o seu amigo Akim? Claro que sim! Vou tentar o que posso, vou dar cobertura para você. – Ela desligou o celular e o jogou para mim. Sem delongas ela virou o carro em um giro de 180° graus e acelerou.

– O que está acontecendo? – Perguntei assustado e meio confuso com o giro.

– Sahra está ferrada. – Disse simplesmente. Fiquei sem entender. – Tudo foi armação. Não era a polícia, estão atrás dela e ela precisa de cobertura. Estamos indo ajuda-la.

– Quem está atrás dela? – Eu estava cada vez mais assustado. Esse era um dos motivos de eu não gostar de participar desse tipo de coisa.

– Você fez a pergunta fundamental e sem resposta. – Ela acelerava o carro e eu não estava com um pingo de vontade de olhar para o velocímetro.

Entramos em um beco pequeno que dava para uma rua adjacente, assim que entramos no beco e ela deixou o carro em ponto morto. Uma moto passou a toda velocidade, então Cherry começou a acelerar o carro e a passar as marchas. Mais uma moto passou, quando chegamos ao final do beco o carro bateu em cheio em outra moto. Meus olhos se arregalaram e institivamente coloquei os braços na frente do corpo. Nada aconteceu. O impacto fez com que a moto saísse da estrada, o piloto voou longe e eu não fazia ideia se ele estava vivo ou não. Nós não paramos para checar, só manobramos e seguimos o caminho por onde as motos passaram.

Seguimos a toda velocidade e Cherry estava totalmente concentrada. Eu tremia dos pés a cabeça, o carro parecia estar mais veloz do que antes, ao que parecia nós tentávamos alcançar a outra moto. Meu celular tocou novamente.

– Alo? – Atendi.

Agradeça a Cherry por ter tirado um da minha cola.

– Ela está agradecendo você – falei para Cherry que sorriu em resposta. – O que diabos está acontecendo?

Me sigam. Akim está dando um jeito nas coisas, por favor, fiquem na minha cola.

– Tudo bem – respondi tenso.

Jason? – Ela me chamou.

– O que foi?

Fica tranquilo!

Então o telefone ficou mudo.

– Ela pediu para que ficássemos na cola dela – informei Cherry, ela só acenou com a cabeça e acelerou o carro.

As duas motos estavam bem na nossa frente, mas não poderíamos fazer o mesmo que tínhamos feito com a outra. Provavelmente iríamos machucar Sahra também. Então só seguíamos sem fazer nada, a tensão aumentava cada vez mais, principalmente quando o perseguidor conseguiu parear com Sahra e retirou alguma coisa do casaco de motoqueiro, ele tentou acertá-la. A cada tentativa falha, um tremor descia por minha espinha. De repente a moto do perseguido dobrou e nós continuamos em linha reta. Sahra olhava de um lado para o outro e eu não estava diferente. Cherry acelerou o carro e ficamos lado a lado com Sahra, o vidro do meu lado do carro baixou.

– O que houve? – Gritei. Sahra balançou a cabeça indicando confusão.

Assim que olhei para frente um carro e uma moto viraram a esquina, tão rápidos que seria impossível não bater de frente com eles, meus olhos se arregalaram em espanto, Cherry pisou no freio e puxou o freio de mão. O carro estava meio descontrolado, Cherry tentava a todo custo conter que ele capotasse ou rodasse pela rua. Sahra não teve a mesma sorte freou e virou de lado, ficando quase deitada na pista, sem poder conter largou a moto e as duas, a moto e a Sahra deslizaram pela rua. Sahra acabou rodando pelo chão e parou.

A essa altura Cherry havia conseguido parar o carro, mas o motor havia morrido. A moto de Sahra deslizou e o que aconteceu com ela, aconteceu com o nosso perseguidor de moto. Ele fez o mesmo que Sahra, as motos pareciam se atrair como dois imãs, iam a uma velocidade incrivelmente rápida uma em direção a outra e sem mais se chocaram produzindo um barulho enorme. Pareciam várias coisas se partindo, quebrando e estourando, pedaços voavam e o cheiro de gasolina preenchia o ar. Então dentro de segundos o barulho enorme de uma explosão preencheu o ar. Chamas enormes e vermelhas tomavam conta do espaço, a fumaça negra e espessa rodeava, deixando a visão ficar prejudicada.

Eu estava chocado demais para fazer alguma coisa, mas forcei meu cérebro a funcionar direito. Minhas mãos tremiam o que dificultava a hora de tirar o cinto, Cherry imitou meus movimentos, assim que consegui, Cherry já estava fora do carro também. Corremos até Sahra que estava deitada de barriga para baixo, estava suspendendo o corpo com os braços. Ela parecia ter parado no meio de uma flexão. Não podíamos ver seu rosto, pois um capacete preto o cobria. Peguei um dos seus braços e a levantei.

– Você está bem? Nossa eu fiquei tão preocupado. O que diabos aconteceu? – Eu falava e tocava nos seus braços sem saber direito o que fazer.

Sahra empurrou minhas mãos e andou até mais perto de onde as duas motos ardiam em chamas, a segui, ela tirou o capacete, revelando seu rosto chocado. Sua boca estava aberta em um o, e seus olhos pareciam transbordar de fúria, um olhar assassino.

– Minha moto. – Foi o que ela disse. A primeira coisa que saiu de sua boca.

Um tossido desviou nossa atenção, depois um acesso de tosse. Olhamos e lá estava o nosso perseguidor se arrastando para longe dos escombros. Ele havia parado bem perto de onde as motos se chocaram.

– Eu. Vou. Matar. Esse. Desgraçado.

Meus olhos se arregalaram com tamanha ferocidade em sua voz e um repentino medo me tomou, aquilo não ficaria bem, eu não poderia deixar e nem queria testemunhar Sahra matando alguém. Assisti enquanto ela caminhava a passos largos em direção do cara e pegava um pedaço de ferro do chão.



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Notas finais do capítulo

Gostaram?
Gente eu adorei escrever esse capítulo, achei tão legal essa parte de ação. Adorei escrever.
Eu deveria ter postado no dia do meu aniversário (23/11), mas não consegui terminar, foi na mesma semana da minha prova do vestibular então a carga horária de aula e aquela pressão me deixaram cansada. --'
Quero que me deem de presente de aniversário, atrasado, reviews. O que acham? *-*
A propósito, sei que tem uma leitora que faz aniversário no mesmo dia que eu, parabéns carolinagil ! Felicidades pra você anjinho! *--*
Viram o aviso da Biand-chan! Ela não vai poder betar porque está ocupada, final de ano sempre deixa a gente com bastante coisa pra fazer mesmo. Então, por favor, perdoem os erros! *--*
Eu conheci pessoalmente uma das minhas leitoras, ela não tem conta aqui no nyah! Oi Evelyn! Foi bom ter te conhecido e falado com você, foram poucos segundos, mas já valeu.
Créditos da escolha de música desse capítulo para minha amiga @Lil__Bomb , ela que me ajudou! *---*
Gostaram da nova personagem? Espero que sim!
Então... Eu tinha escrito mais coisa aqui, mas o nyah deu lag e minhas notas finais não foram... Esqueci de um punhado de coisas que tinha escrito, sou péssima de memória.
Vou tentar trazer o próximo mais rápido possível! Até mais suas coisas mais fofas do mundo!
Porque as minhas leitoras são as mais fofas e mais lindas também! *---*
B'jus & Abraços *3* o
Me persigam: @LoydeSilva