So What escrita por Mahriana


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Querem tirar meu coro novamente? Eu sei que sim *-*
Mesmo assim vocês estão no meu coração! *-----*
Esse capítulo vai pra todas as minhas leitoras que comentam. Seja bem vinda Coraline_, sinta-se em casa. :B
Parando se enrolar...
~ Apreciem sem moderação ~



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Capítulo 18

                PDV Sahra:

                Estava passando pela cozinha do apartamento de Nate. Ter uma chave extra tinha lá as suas vantagens. Peguei uma pera na fruteira e vagueei meus olhos pelo apartamento. Ele era pequeno e apesar de ser meio bagunçado, tudo tinha um toque sofisticado.

                Mordi a fruta e olhei para o sofá verde pequeno. Uma cueca estava jogada sobre ele, como sempre aquele lugar tinha que ter alguma coisa que lembrasse que um homem morava ali.  A sala e a cozinha eram separadas por um balcão. Estava achando muito estranho ele não estar ali. Ele não tinha dito que iria sair. Dei de ombros e fui em direção à porta que levava ao seu quarto.

                Abri-a lentamente na intenção de assustá-lo, mas acabei parando e observando o que ele estava fazendo. Falava ao celular meio nervoso.

Eu não vou envolver ninguém nisso. Ela não tem nada a ver com isso. – Ele esperou a pessoa do outro lado da linha falar.  – Tudo bem. – Ele disse suspirando. – Pode mandar. Não quero ficar dependendo disso. Mande a mesma quantia. Eu vou esperar.

                Então ele desligou o celular. Suas palavras não faziam muito sentido. Afinal, quem ele não queria envolver? E em quê?

Amor?! – Ele falou surpreso assim que me viu. – Está aí há muito tempo?

Não. Acabei de chegar. Não achei você no resto do apartamento, então vim até aqui. – Falei me justificando e o olhando de forma especulativa. – Está tudo bem? Parece que está com problemas.

Não tem problema nenhum. – Ele disse dando um sorriso simpático. – Ainda bem que veio até aqui. Me poupou trabalho.

                Então ele veio até mim. Seus lábios procuraram os meus avidamente, me envolvendo em um beijo ardente cheio de desejo e paixão. Logo suas mãos foram descendo por minhas pernas as puxando na intenção de colocá-las ao redor de sua cintura. Estava em seu colo agora, com as duas pernas presas como nunca em torno de sua cintura. Eu já não fazia ideia de onde estava minha blusa e muito menos a dele.

Se você pensar em me largar algum dia. – Ele falou ofegante. – Espero que se lembre dos nossos momentos.

Com certeza vou lembrar. – Falei também ofegante.

                Então ele me jogou na cama e recomeçamos o trabalho infinitamente prazeroso que ele havia interrompido para falar.

Vai se lembrar de quê? – Ele perguntou com uma expressão estranha.

Do que acabou de me pedir e...

Bon Jovi - Story Of My Life

                Meus olhos se abriram de repente e dei de cara com um anãozinho parado a minha frente, com olhos brilhantes. Olhei ao redor e percebi que estava no serviço comunitário. Estava sentada no chão e debruçada sobre uma mini mesa.

Crispei os olhos e olhei para o garotinho.

– O que você quer? – Perguntei o encarando com o rosto sonolento.

– Vai se lembrar de quê? – Ele perguntou com uma expressão confusa.

– Nada. – Falei suspirando e levantando da posição desconfortável. – O que você quer?

– Terminei o desenho que você pediu. – Ele disse empolgado e me entregando uma folha de papel com rabiscos. Olhei melhor e vi um garoto com uma capa vermelha em cima de um dinossauro. Pelo menos aquilo parecia um dinossauro.

– Ah! Claro. Esse é você? – Perguntei apontando para o boneco de palitinhos. Ele balançou a cabeça. – Muito bem. – Olhei para o relógio na parede e vi que meu tempo ali já havia acabado. – Todos terminaram?

– Só um minuto tia. – Alguns falaram. Juntos. Rolei os olhos. Crianças eram legais, mas toda essa coisa de tia era estranha.

– Eu tenho que ir seus anõezinhos, se vocês não terminarem isso agora, vão ter que me entregar no nosso próximo encontro. – Tão depressa quanto falei, vários desenhos foram colocados na frente do meu rosto. – Ok! Tudo bem, agora com calma formem uma fila e me entreguem os desenhos.

                Peguei os desenhos e os observei superficialmente. Uma simples tarefa para mantê-los ocupados, enquanto eu dormia. Fazer um desenho dos seus maiores sonhos.

– O que “cê” vai fazer com isso, tia? – Uma garotinha de mais ou menos quatro anos perguntou.

– Colar na minha geladeira. – Falei despreocupada. – Ou fazer um livro. O que vocês acham? Vocês poderiam fazer mais desenhos para que nós pudéssemos fazer um livro?

– SIM! – Todos gritaram ao mesmo tempo.

– Nossa! Então é isso, toda semana teremos o momento do desenho. Nas sextas serão desenhos. No final do ano faremos um livro. Vamos continuar com a mesma ideia, seus maiores sonhos e o que fariam se eles se realizassem. Agora eu realmente tenho que ir, se não vou me atrasar para o trabalho. – Falei pegando minha mochila. – Pirralho número três, você coordena a arrumação da sala hoje. – Falei apontando para uma das crianças.

– Sim, senhora! – Ele disse batendo continência. Ri rolando os olhos.

– Vejo vocês na sexta! Até lá pirralhos.

– TCHAU! – Eles gritaram novamente.

                Eu poderia falar mil vezes, mas eles nunca iriam me escutar quando dizia para não fazerem isso. Dei tchau para todos e fui embora, direto para o River. Eu não admitiria nunca e negaria até a morte, mas eu estava me apegando às crianças. Claro que levando em consideração que eram crianças meio demoníacas, já que em momento algum paravam, não eram todos que gostava delas.

                Talvez fosse por isso que eu gostava, elas não ligavam muito para o que lhes era mandado, mas quando envolvia benefício próprio elas simplesmente faziam qualquer coisa. Então uma coisa que se deve saber sobre crianças é que elas eram pequenas chantagistas sem vergonhas. Ri com o pensamento, que parecia ser absurdo, mas que continha verdade.

                Estacionei a moto na vaga para funcionários e entrei pelos fundos. Peguei o avental estendido em um cabide na área dos funcionários, peguei a blusa bege que continha o meu nome e a vesti. Prendi o cabelo e fui trabalhar.

– Olá Sahra.

– Oi!

                Passava pelos funcionários e ia sendo cumprimentada por todos. Uma das coisas que havia aprendido com minha mãe era que para sermos felizes no trabalho, deveríamos desenvolver um bom ambiente de calma e amizade com todos os funcionários. Era o que sempre fazia, mesmo quando trabalhava em um lugar somente por uma noite, para ganhar uma grana extra. Ser educada foi algo que aprendi a ser com bastante êxito. Pelo menos eu era com pessoas que mereciam.

– Sahra, você vai ter que se virar hoje. – Bob. Um dos cozinheiros falou enquanto eu passava.

– Por quê? O que eu fiz?

– Rebeca não veio hoje e o restaurante foi alugado para uma recepção. Então todos os funcionários foram deslocados para trabalhar lá. Você terá que tomar conta da lanchonete sozinha. – Ele disse me olhando com um pedido de desculpas estampado nos olhos.

– Tudo bem. – Falei, não dando muito importância. – Eu me viro. Vocês só têm que cozinhar. O resto é comigo, pode deixar. – Afirmei dando um dos meus sorrisos e saí para a lanchonete.

Duas mesas estavam ocupadas, e já servidas. Eu saberia me virar muito bem ali, já tinha entrado em situações piores.

– Oi Sahra! – Nick me recepcionou.

– Olá Nicholas. Fiquei sabendo que terei mais trabalho por aqui hoje. Espero dar conta. – Falei enquanto ia passando por entre as mesas as arrumando e posicionando tudo de forma correta.

– Não se preocupe, ajudarei você. – Ele disse sorrindo.

                Desde a festa, no sábado, Nick havia se tornado simplesmente irritante. Ficava todo o tempo dele atrás de mim na inútil tentativa de compensar por ter levado um soco por sua namorada. O dispensei por diversas vezes, mas ele simplesmente insistia, o que o deixava mais irritante que o normal.

– Não precisa. O seu trabalho é supervisionar e não servir as mesas. Na verdade não era pra você estar aqui, então se você me deixar em paz, agradeceria muito.

– Qual é Sahra? Eu só quero te compensar. Qualquer coisa vale. – Ele dizia com uma suplica no olhar.

– Que tal um dia de folga? – Sugeri me dando por vencida.

– Claro. Você quer ir pra casa agora? – Ele perguntou exasperado.

– Não. Mas é bom saber que vou poder tirar um dia de folga. – Falei sorrindo enquanto me direcionava a uma mesa que havia acabado de ser ocupada por um casal de adolescentes. – Bem vindos ao River. Já têm alguma coisa em mente ou desejam o cardápio? – Perguntei de forma educada e com um sorriso simpático.

– O cardápio, por favor. – A garota pediu.

– Aqui está. – Falei retirando o cardápio do bolso do avental que ficava em minha cintura. – Assim que escolherem podem me chamar que virei imediatamente.

                Nick estava no balcão me observando. Fui até uma das mesas que estava ocupada, levando a conta e logo depois de receber a gorjeta limpei a mesa. Nunca pedia gorjeta ou esperava que me dessem, ela era depositada em cima da mesa e ao contrário do que muitos faziam, eu a colocava junto com o dinheiro da conta.

– Por que não fica com as gorjetas? – Nick perguntou quando eu depositei o dinheiro no caixa. – É sua por direito.

– É sim. Depois eu me acerto com você. – Falei entediada.

                De repente a porta foi aberta e por ela um grupo de jovens passou. Um grupo detestável, devo dizer. Alexia e Jason estavam a frente, ela com as mãos em volta da cintura dele e ele com os braços em volta do ombro dela. Eu não me importava com o que eles iriam fazer. A única coisa que me importava, era que eu seria obrigada a servir a mesa dos patetas do time da escola e suas líderes de torcida. O pior de tudo era que Daniel também estava lá.

                Eles sentaram em uma mesa próxima a janela e esperaram. Caminhei lentamente até a mesa.

– Bem vindos ao River. Querem o cardápio, ou já têm algo em mente? – Perguntei como se não os conhecessem e fossem quaisquer clientes.

– Que tal você me dar o cardápio, garçonete? – Alexia pediu se divertindo, por poder me provocar.

– Claro. Aqui está. – Falei distribuindo três cardápios para que todos pudessem olhar e escolher mais rapidamente. – Assim que vocês decidirem, me chamem.

                Saí da mesa e fui atender ao casal. Anotei os pedidos e os pendurei em uma janela que dava para a cozinha, apertei a campainha e ela foi aberta. Bob pegou o pedido e foi aprontá-lo.

Garçonete! – A voz zombeteira de Alexia soou.

– Posso atendê-los Sahra. – Nick sugeriu.

– Não precisa. Já passei por situações parecidas. – Suspirei longamente e me encaminhei até a mesa com o sorriso no rosto, mais forçado que o normal. – Muito bem, já decidiram?

– Sim. Mas antes eu gostaria de perguntar se o seu sanduiche de patê de frango é feito com pão integral.

– Vocês podem escolher o jeito que quiserem para fazer o sanduiche. E isso inclui o pão. Se a senhorita quiser pão integral, então será de pão integral. Nós priorizamos a satisfação dos clientes. – Falei em um tom totalmente profissional, como uma boa funcionária.

– Ótimo. Agora podemos pedir. – Ela falava com um imenso sorriso no rosto, a diversão que ela sentia era visível de longe.

                Todos pediram e eu anotei um a um. Quando Daniel pediu, ele não me olhava de modo divertido como todos os outro, pelo contrário. Olhava-me de forma séria, gravando todos os meus movimentos. Resolvi ignorá-lo e fingir que não havia notado.

– Você pode trazer as bebidas, primeiro? Estamos com sede. – Alexia pediu. Jason estava ao seu lado, ele me olhava sem o mínimo interesse. Assim como eu, ele havia ignorado o fato de me conhecer e me tratava como uma garçonete qualquer.

                Apesar da nossa interessante conversa na cozinha e das informações coletadas, não havíamos trocado mais do que cumprimentos educados quando nos víamos. Aquilo demonstrava que não queríamos nos envolver de forma mais íntima. Algo me dizia que ter Jason como amigo me traria sérios problemas. Mas Akim insistia no fato de que eu deveria me aproximar e ganhar a confiança para conseguirmos a forma como Nate se comunicava com Daniel.

                Peguei as bebidas coloquei sobre uma bandeja e levei até a mesa.

– Aqui está. – Falei colocando as bebidas sobre a mesa bem em frente aos seus respectivos donos. O sinal de que o pedido da mesa do casal estava pronto soou. – Tenham um bom apetite, qualquer coisa podem me chamar.

                Peguei os pedidos e fui em direção à mesa.

– Tenham um bom apetite. – Desejei-lhes enquanto os servia e me retirava da mesa. Dois homens passaram pela porta e sentaram em uma mesa ao lado do grupo de Alexia. Imediatamente fui até eles. – Olá! Sejam bem vindos ao River. Gostariam do cardápio? – Perguntei de forma educada.

Reparei nos dois e percebi que eles estavam de terno e gravata, tinham os seus vinte e cinco anos, eram charmosos e estampavam belos sorrisos.

– Claro. – Um deles falou com um sorriso um tanto malicioso.

– Me desculpem, vim com tanta pressa que me esqueci de trazer os cardápios. Só um minuto, por favor.

– Quanto tempo precisar querida. – O outro falou sorrindo.

Garçonete! – Novamente a voz incrivelmente irritante de Alexia me chamou, assim que dei um passo para buscar os cardápios.

– Pois não. – Falei com um sorriso extremamente forçado, enquanto virava em sua direção. – Algo errado?

– Sim. Eu não pedi suco de morango. Eu não gosto.

– Se me permite dizer, a senhorita pediu sim, por isso eu trouxe. – Falei a olhando de lado.

– Como eu pediria algo que não gosto? Isso é absurdo. – Ela falou dando uma risada irônica.

– Claro que é. Se não foi isso, devo ter me confundido. O que a senhorita pediu? – Perguntei, me agarrando até o último fio de paciência que possuía.

– Uma coca light.

 – Vou providenciá-la imediatamente. – Falei e recolhi os cardápios que se encontravam sobre a mesa. Os deixei com os dois homens e fui até o freezer pegar a bendita coca. Levei-a. – Aqui está. O suco não vai ser incluído na conta, pode ficar tranquila.

– Obrigada querida. – Ela disse pegando a coca.

                Levei o suco até o balcão e entreguei a Nicholas que continuava a me observar.

– Sahra, eu posso...

– Se você falar mais alguma coisa... Juro que te mato. Fica quieto e no balcão.

Saí de lá e fui até a mesa dos senhores.

– Vocês já decidiram? – Perguntei sendo um pouco grosseira. Balancei a cabeça. –Desculpem-me. – Me corrigi rapidamente.

– Claro, não tem problema algum. E sim, já pedimos, mas percebi que está faltando algo muito importante nesse cardápio. – Um deles falou com as sobrancelhas enrugadas.

– O senhor pode falar o que está faltando, irei providenciar para que esteja na próxima vez que vier aqui. – Falei polidamente. O cliente sempre tinha razão.

– O que falta aqui é você. – Ele disse me olhando maliciosamente. – Se você estiver no cardápio da próxima vez que eu vier aqui... Pode ter certeza que nunca mais vou a outro lugar para comer. – Ele disse me olhando de forma tão sugestiva que fiquei com vontade de rir. Lembrei das indiretas idiotas de Drew.

                E isso me trouxe outro pensamento: Por que ele não estava ali? Afinal todos eram seus amigos também.

– Considerarei isso como um elogio. E agradeço por tê-lo recebido, senhor. – Falei sorrindo. – Mas, peço desculpas por estar sendo insistente, os senhores já decidiram o que vão querer?

– Já que o que eu gostaria de degustar não está disponível. – Ele disse olhando para o cardápio. – Traga batatas fritas e um x-bacon, por favor. O mesmo para o meu amigo.

– Tudo bem. Algo para beber?

– Cerveja?

– Sim senhor, apronto em um minuto.

– Pode demorar o quanto quiser. É ótimo vê-la andando. – Ele falou novamente me cantando.

– Obrigada. – Disse e saí.

Deixei os pedidos e logo que os coloquei lá os pedidos da mesa da Alexia estavam prontos. Peguei-os e fui em direção à mesa em que estavam.

– Aqui estão os pedidos. – Falei colocando tudo sobre a mesa. – Tenham um bom apetite e qualquer coisa que precisarem me chamem.

– Tudo bem... Garçonete. –Alexia falou novamente.

                Assim que deixei os pedidos e me encaminhava até o balcão uma criança passou correndo e ficou me rodeando. Estava ficando tonta. Quando de repente um casal ralhou mandando que ele fosse sentar. Sentaram-se em uma mesa do outro lado da de Alexia. Peguei cardápios e fui até eles.

– Bem vindos ao River, querem o cardápio? – Perguntei ao casal que estava sentado e depois olhei para o garoto de no máximo seis anos.

– Não. – O garotinho falou. – Eu quero um sanduiche desse tamanho. – Falou abrindo os braços o máximo que conseguia. – E um monte de batatas fritas.

– Mas isso não é muito para um homem tão pequeno? – Perguntei fingindo falsa surpresa, com um sorriso divertido. Crianças na maioria das vezes eram irritantes e estranhas, mas mesmo assim não deixavam de ser engraçadas.

– Claro que não. Eu “consego” comer tudo...

– Consigo.

– Eu sei que o senhor consegue pai, mas eu “tô” explicando pra moça que eu também consigo. – Ele disse rolando os olhos. Dei uma risada baixa para a cena. – O senhor adora me intrometer.

– Interromper.

– Foi o que eu disse.

– Muito bem, que tal um x-tudo, uma batata frita dupla e um copo de refrigerante? – Perguntei o olhando que assentiu e logo em seguida olhei para os seus pais que também assentiram. – Os senhores vão querer alguma coisa?

– Um sanduiche natural de cenoura para mim e para o meu marido, um suco de amora para acompanhamento. – A mulher respondeu de forma muito educada.

– Ok! Trago em alguns minutos.

                Peguei o pedido da mesa dos rapazes os servindo, recebi mais olhares maliciosos, e indiretas bem diretas. Logo em seguida o pedido da mesa do garotinho ficou pronto e levei até lá. Não tinha sido nada tão desgastante assim. O casal havia ido embora e apesar da Alexia ser uma tremenda idiota, não havia me dado trabalho algum.

– Garçonete. – Alexia chamou novamente. Olhei para a mesa e vi refrigerante e restos de sanduiche espalhados no chão, perto da mesa. – Ops! – Todos que estavam sentados na sua mesa riram. Dei um longo suspiro, peguei um esfregão, um balde, detergente e fui em sua direção. – Me desculpe, mas eu estava tentando comer e de repente escorregou da minha mão.

– Não tem problema algum. – Falei suspirando.

Mantenha a calma. Mantenha a calma. Mantenha a calma...

Repetia como uma espécie de mantra.

– MENTIRA! – O garotinho da mesa ao lado gritou.

– Ryan! – A mãe o repreendeu.

– Mas é mentira mãe. Eu vi quando ela jogou o refrigerante no chão e depois o sanduiche. Não foi como naquela vez que eu acertei a bola sem querer no seu vaso. – Ele disse em tom acusador.

– Não tem problema algum. – Repeti com o rosto que parecia exalar calma. No entanto eu gostaria de arrancar a cabeça da loira idiota e sebosa.

– Mas é claro que tem. A mamãe disse que quem suja é que tem que limpar. Eu sempre limpo a minha bagunça, era pra ela, – ele disse apontando para Alexia, que o olhava com desdém – limpar tudo.

– Não precisa se incomodar, Ryan. – Falei passando o esfregão no chão e limpando a sujeira, sobre risadas baixas e coletivas vindas da mesa. – Esse é o meu trabalho. Agora se me derem licença, vou levar isso para fora. Qualquer coisa que precisarem podem me chamar.

                                                Terminei de limpar e levei a sujeira para o lixo nos fundos do prédio. Olhei ao redor e ninguém estava lá, coloquei todos os objetos de limpeza no chão. Caminhei até uma lata de lixo que estava ali e chutei.

Chutei mais algumas vezes até me acalmar.

– Loira sebosa. Idiota. Sem cérebro. – Xingava enquanto chutava a lata de lixo. Aquilo era muito calmante.

                                                Meu pior defeito, sem dúvida era ser estourada demais, ou às vezes, calma demais. Enquanto chutava além de me acalmar por causa de Alexia, coloquei para fora também as raivas pela vida que estava levando. Uma vida monótona, sem nem uma empolgação e ainda tinha que presenciar os problemas familiares de uma família que não me pertencia. Mellany colocando tudo para fora assim que comia, no banheiro da escola, em casa e provavelmente em outros lugares.

                                                Presenciar seus quase desmaios estava virando uma rotina, mais rotina ainda era ajudá-la e depois simplesmente ignorar o fato. Drew andava expondo sorrisos para todos e sempre levava sua imensa simpatia, quando na verdade estava triste. Jason era um garoto mimado que queria tudo e se sentia melhor do que todos demonstrando confiança, sentia-se um bom garoto por estar no time e tirar notas boas, mas na verdade era vazio e mesquinho. Clair se sentia rejeitada e não demonstrava estar feliz ou fingia estar bem, ela simplesmente havia se trancado do mundo. Provavelmente se tornaria uma adolescente problemática. Drogada, talvez.

Eu escutava e simplesmente ignorava, pois não poderia fazer nada. Ou não queria.

                                                Aquilo deixava minha mente totalmente confusa. Eu não estava conseguindo ir adiante sem fazer absolutamente nada. Eu tinha que fazer alguma coisa. Ajudar Mellany, Clair, Drew e até mesmo Jason. Eu ficaria ali por provavelmente um ano, tirando o tempo que já havia passado, poderia ajuda-los, fazer alguma coisa a respeito. Tentar mudar ou fazê-los ver que existiam pessoas que estavam mais na merda do que eles.

                                                Parei de chutar a lata. O amassado era bem claro em sua parte inferior. Me recompus e voltei ao trabalho. Com uma diferença. Eu faria a diferença.

                                                PDV Jason:

                Alexia parecia se divertir com tudo aquilo. Jogar o refrigerante no chão foi algo que ela achou tremendamente engraçado. Apesar de não estar me importando, não gostei muito da sua última brincadeira. Ela já estava passando dos limites, os únicos que pareciam não gostar muito do que ela fazia foram Daniel e eu. Daniel havia sido o primeiro a escolher seu pedido, o primeiro a terminar e o primeiro a sugerir que fôssemos embora. Não estava entendendo qual era a dele.

                No tempo em que estávamos ali observei Sahra discretamente. Achei tremendamente absurdo, dois caras engravatados, mais velhos, estarem interessados nela. Ela era bonita, claro, mas não tanto. Em comparação a Alexia, com certeza ela perderia, algumas líderes de torcida estavam com a gente e posso dizer que elas são mais bonitas que ela. E estavam interessadas nos homens de gravata. No dia do jantar foi o dia em que vi Sahra mais bonita e mesmo assim não fora grande coisa.

                Ela agia como um garoto e se vestia de modo estranho. Às vezes parecia uma garota, outras vezes não. Era grosseira e indiferente. Tinha pernas malhadas e bonitas, mas o quadril era meio largo e sua barriga não era totalmente reta, talvez a cerveja e o excesso de besteiras a fizessem ficar desse jeito. O cabelo parecia com uma palha e sempre trazia olheiras sob os olhos. Ela apesar de tudo tinha um nariz arrebitado e pequeno que combinava com o rosto fino sem nem uma marca ou imperfeição.

                Sahra tinha saído e até agora não voltou. Provavelmente foi embora.

                As garotas, tomando coragem, escreveram um bilhete em um guardanapo de papel e jogaram na mesa do engravatados, que conversavam distraidamente. Um deles pegou o papel e o leu, um estava de frente para nossa mesa e o outra de costas. O que estava de frente foi quem pegou o papel primeiro, levantou uma sobrancelha e passou para o que estava de costas, que foi o que mais deu em cima da Sahra.

                Por coincidência, Sahra apareceu pela porta que havia saído, caminhou até a mesa do garotinho ao nosso lado, após ser chamada para trazer outro refrigerante.

– Com licença, – o homem de paletó que estava de costas para nós falou – mas não saímos com crianças.

                Todos na nossa mesa pararam e olharam diretamente para ele, que mostrava um sorriso simpático.

– Você estava dando em cima da garçonete. – Alexia falou com um tom estressado. – E diz que não sai com crianças. Quantos anos acham que ela tem?

                Concordava com Alexia. Eles poderiam ter dado uma desculpa melhor, não idade, se isso fosse algo realmente relevante para eles, não teriam jogado piadas maliciosas para Sahra.

– Quando amadurecerem, podem me chamar para sair. Por hora fico com a Sahra. – Ele disse apontando para Sahra que olhava distraidamente para o nada, atrás do balcão. Alheia a tudo que estava acontecendo. – Sahra, querida, pode vir aqui?

                Ela levantou os olhos da revista e caminhou até a mesa deles com um sorriso bem menos forçado do que demonstrava em nossa mesa.

– Pois não, em que posso ajudá-los?

– Você poderia me dar à conta? Já estamos satisfeitos. – Ele pediu sorrindo.

– Claro. – Ela entregou a folha de um bloquinho onde anotava os pedidos , para eles e pediu para que se direcionassem ao caixa, onde Nicholas estava. – Obrigada por nos escolherem e tenham uma boa noite.

– O mesmo para você, querida. Espero vê-la na próxima vez que vier aqui, até mais.

                Os dois foram embora. Pedi a conta e Sahra falou a mesma coisa que havia falado aos dois homens. Então saímos do restaurante com uma Alexia totalmente irritada, junto com suas amigas líderes de torcida. Só suspirava enquanto elas falavam asneiras.

                Destravei o carro e coloquei Alexia dentro. Enquanto dirigia ela continuava falando, nesses momentos ela era simplesmente irritante. A única palavra que a definia. Por isso que eu não arranjava uma namorada. Não existia nem uma mulher que não reclamasse da outra por qualquer mínimo detalhe. Isso me irritava. Estacionei em frente a sua casa, então finalmente ela parou de falar.

– Está entregue. – Falei suspirando, com uma mão no volante e com o cotovelo apoiado na porta do carro.

– Não ganho um beijo de despedida? – Ela perguntou manhosa.

– Claro! – Falei me virando em sua direção com um sorriso malicioso no rosto.

                Tirei o cinto de segurança e comecei a beijá-la. Soltei seu cinto também e comecei a passar as mãos em volta do seu corpo. O beijo estava bem mais urgente. Finalmente iria conseguir o que eu tanto queria. Imprensei-a na porta e puxei sua cintura de encontro a minha. Minhas mãos estavam subindo sua blusa, quando foram tiradas por suas mãos. Parei de beijá-la e a olhei meio assustado.

– Você quer tirar? – Perguntei beijando seu maxilar.

– Não, Jason! – Ela falou me empurrando. – Não vamos fazer isso. Não aqui. Não agora. Quero que você diga aquelas palavras.

– Por favor?!

– Não. Claro que não. – Ela disse me olhando incrédula. – Você sabe quais são. – Fiz uma careta e sentei no banco do motorista novamente. – Estarei esperando que você peça Jason. Então estarei a sua disposição.

– Certo. – Falei sem dar muita importância. – Acho melhor você entrar. Seu pai pode estar aí e pensar que estamos fazendo outras coisas.

–Tudo bem. Até mais. – Ela disse, encostou seus lábios nos meus e saiu.

                Dei um longo suspiro, coloquei o cinto e arranquei com o carro. Alexia era muito gostosa, mas infelizmente insistia em querer compromisso. A única coisa que eu não queria. Já havia chegado ao quase com ela por diversas vezes, mas quando já estávamos bem animados ela simplesmente tirava o pé. Deixando-me excitado e frustrado. Então nessas vezes, pedia para Daniel ligar para qualquer garota, assim colocava minhas frustrações para fora. Ela não queria, mas isso não queria dizer que outras também não quisessem.

                Me encontrava frustrado mais uma vez, mas não podia ligar para Daniel. Provavelmente ele estaria se dando bem nesse momento, a líder de torcida era bem gostosa também. Parei o carro novamente no River e entrei para comprar um café.

                Entrei e o lugar estava com várias pessoas. Sahra passava apressadamente de uma mesa para outra, com bandejas de pedidos. Pedi um café para Nicholas que estava no balcão. Ele me encarou com um semblante nada amistoso e trouxe o café. O paguei e saí dando uma última olhada para Sahra que estava conversando com alguns clientes em uma mesa.

                Estava no meu quarto e olhava para o teto, não estava com fome e não tinha nada para fazer. Drew estava jogando videogame e eu fiquei a deriva, por não gostar muito de jogos eletrônicos.

                Liguei a câmera do quarto da Sahra e olhei para o cômodo desocupado da presença humana. Olhei o relógio no canto da tela do computador e mordi os lábios. Levantei da cadeira e fui em direção ao quarto do Drew. Entrei sem bater e ele nem ao menos se mexeu, continuou na mesma posição. Estava sentado no chão enquanto jogava algo.

– O que você quer? – Ele perguntou sem desviar os olhos do jogo.

– Só fazer algo. Vou precisar da sua varanda. – Falei indo em direção à varanda.

– O que você vai fazer no quarto da Sahra? – Ele perguntou ainda de olho na tela. O olhei espantado, mas ele nem ao menos se moveu.

– Não vou ao quarto da Sahra. – Falei e bufei querendo soar convincente.

– Então você vai se matar? Porque indo para minha varanda você só têm essas duas opções. Mas eu acho que a segunda não faz muito o seu gênero.

– Eu só quero ver o que ela tem no quarto. – Falei me rendendo. Ele pausou o jogo e virou em minha direção.

– Eu vou com você. – Disse abrindo um sorriso.

– Não. – Falei rolando os olhos.

– Se você não me deixar ir, falo pra ela que...

– Vamos. – O interrompi. Pulei a divisão das varandas e Drew me seguiu.

                Entrei no quarto e olhei ao redor. Parecia o meu quarto. Pôsteres nas paredes, no entanto era bem mais bagunçado. A bagunça parecia ser planejada. Pisei em algo macio e rapidamente tirei o pé de cima e olhei para o chão. Uma calça jeans. Fui até a mesa que parecia ser de estudos, vários livros estavam lá. Vários mesmo.

                Livros antigos, novos e de meia época. Bem conservados e diversos autores. Olhei para uma pilha que estava mais separada e dei de cara com dezenas de títulos do Stephen King. Ela era amante do terror. Mas no outro extremo a coleção do Guia dos mochileiros da Galáxia de Douglas Adams estava colocado um sobre o outro e eram os livros mais limpos e preservados, talvez os seus preferidos.

                Drew estava andando pelo quarto e olhando as paredes. Vi alguns instrumentos em um canto do quarto, mas não me aproximei.

– Vamos aos segredos. – Drew disse rindo e andando em direção ao closet. Então abriu a porta.

– Acho que o seu armário é mais arrumado que o dela. – Falei olhando para toda a bagunça dentro do seu closet. – O meu deve ser mais arrumado que o dela.

– Acho que você tem razão.

                Olhei para o chão e vi uma mochila colocada bem no canto. Peguei-a e fui sentar na cama, que estava com os lençóis amassados.

– O que você acha que tem aí? – Drew perguntou empolgado.

– Sei lá. Mas nada do que vem dessa garota me assombra.

                Abri a mochila e encontrei um notebook e cinco aparelhos de celular. Enruguei as sobrancelhas diante do conteúdo. Peguei um dos celulares e apertei em uma tecla. Estava bloqueado com senha. Todos eles estavam. Liguei o notebook, mas ele também pedia senha.

– Droga! – Drew resmungou. – Acho que consigo acessá-lo.

– Você fala sério?! – Perguntei o olhando com uma sobrancelha erguida.

– Claro. – Ele disse despreocupadamente. – Mas eu preciso de mais do que alguns poucos minutos. As senhas podem ser sequências de números e letras. Que são números binários, ou seja, temos somente o número um e o zero. Tenho um software que...

– Não faço ideia do que você está falando, – disse fazendo uma careta – mas que tal fazermos isso na sexta? Nas quintas ela ainda passa aqui para depois ir à lanchonete. Na sexta não.

– Então na sexta faremos isso. – Drew falou sorrindo.

– Você parece ser amigo da Sahra. Por que quer fazer isso?

– Por nada. – Ele disse dando de ombros. – Só quero saber se ela tem coisas vergonhosas no notebook, quero conhecê-la melhor, já que ela não fala nada da sua vida para ninguém.

– Ela deve estar chegando. Vamos, – falei para Drew – é melhor irmos embora.

                Guardei tudo de volta na mochila. Drew já tinha pulado a varanda. Estava tentando fechar a mochila, sem muito sucesso, enquanto caminhava. Quando abri a porta do closet e coloquei-a no chão, uma coisa caiu de um dos bolsos. Uma foto. Peguei-a. Vi Sahra suja de graxa com um enorme sorriso no rosto. Um sorriso de verdade. Seus olhos brilhavam e tinham a cor de musgo. Aquele limo que nasce em pedras, um verde forte, escuro como esmeralda. Um garoto a abraçava por trás. Ele também estava feliz. Assim como ela, estava sujo de graxa.  A foto os mostrava da cintura para cima.

                A Sahra da foto não parecia nada com a Sahra que eu via todos os dias. Na foto seu rosto era mais suave. Ela tinha sempre certo ponto, nos olhos, que denunciavam certo pesar. Ou eu simplesmente sou louco. A Sahra que conheço simplesmente não daria um sorriso daquele. Provavelmente sem a foto não imaginaria Sahra sorrindo de verdade. Era algo interessante. Eu provavelmente não estava normal, prestar atenção a esses pequenos detalhes não era comigo.

                Mas o que mais me intrigava era: o que ela estava fazendo com Natanael? Ele era amigo do Daniel. De onde ela o conhecia?

– Jason! – Drew me chamou da varanda. – Eu escutei o barulho do motor da moto. Acho que a Sahra deve estar subindo. Sai logo daí.

                Saí do quarto, só fechando a porta do closet. Passei por sua mesa de livros e seu animal deu uma espécie de rosnado para mim. Me sobressaltei levemente e segui. Pulei sua varanda e só então percebi que sua foto estava guardada no bolso da minha calça.

– Obrigado por avisar. – Falei com sinceridade para Drew.

– Se ela tivesse pegado você toda a minha diversão de sexta estaria acabada. – Ele disse com um sorriso.

– Acho que já chega de emoções por hoje, não é?!

– Concordo. Vou tentar facilitar meu trabalho de sexta-feira.

– Tudo bem. Por que você não foi até o River com a gente? – Perguntei realmente curioso. Sua desculpa era muito vaga.

– Eu sei que Sahra trabalha lá. Sua namorada ia. – Ele disse falando cada coisa pausadamente. – Alexia provavelmente faria alguma merda. Não queria brigar com ela, porque provavelmente resultaria em uma briga entre você e eu. Prefiro evitar essa briga.

– Sei. – Falei pensativo. –Acho que vou para o quarto agora. Vou dormir.

– Claro. Pode ir. Vou terminar de jogar. – Ele falou voltando a sentar no chão e olhar fixamente para a televisão.

                Saí do quarto e parecia que foto estava pesando dez quilos no meu bolso. Entrei no meu quarto e me joguei na cama. Esfreguei o rosto fortemente e peguei a foto. O que ela era para Natanael?

                PDV Sahra:

                Cheguei a casa e fui direto para o meu quarto. Tive que ficar até mais tarde na lanchonete por conta de estar sozinha. Tomei um longo banho relaxante e com um short de moletom e uma blusa também de moletom, estava pronta para dormir. Vestia a coisa mais confortável que havia no meu closet.

                Minha garganta estava seca então tinha que descer para beber água. O problema de se ter uma casa enorme, era que você tinha que descer enormes escadas e passar por cômodos igualmente enormes, então quando você finalmente chega à cozinha e sacia a sua sede... Você tem que voltar pelo mesmo caminho e então a sede volta.

Abri a porta do quarto e dei de cara com Clair que também estava de pijama. Ela travava uma batalha com a porta do seu quarto, tentava abri-la, mas a tarefa simples estava se tornando incrivelmente complicada por estar com algo preso à mão. Pigarreei fazendo com que ela se sobressaltasse e soltasse a chave do quarto no chão. Caminhei até ela e peguei a chave. Ela estava com ambas às mãos atrás do corpo.

– Você está bem? – Perguntei com uma sobrancelha erguida.

– E-estou. – Ela falou com a voz entrecortada. Olhei para o chão e vi que algumas gotas de sangue pingavam.

– O que está acontecendo? – Perguntei apontando para o chão. De repente seu rosto se contorceu e o que eu mais temia aconteceu. Terríveis lágrimas se espalharam pelo seu rosto. – Não chora. – Falei sobressaltada. – Por favor, não chora! Me diz o que aconteceu e vou tentar resolver. ­– Lidar com lágrimas não era nada fácil, se eram sua tudo bem, geralmente sabemos pelo menos o motivo, mas a das outras pessoas deixavam as coisas bem mais complicadas.

Ela estendeu a mão esquerda que estava enrolada de uma forma horrenda com um pedaço de tecido. Olhei séria para o ferimento. Peguei-a pela mão boa e a levei para o meu quarto. Ela soluçava e lágrimas rolavam por seus olhos. Apanhei meu quite de primeiros socorros e novamente sai a arrastando. Estávamos perto da escada quando fomos interrompidas.

– O que está acontecendo? –Jason perguntou olhando para a mão de Clair.

                Resolvi ignorá-lo e descer a escada. Coloquei-a sentada na bancada da cozinha. Retirei o pano, que percebi ser uma toalha de rosto, o ferimento estava coberto por uma pequena crosta de sangue seco, terra e ao redor o sangue fresco escorria. O corte ia de uma extremidade até a outra. Perto do pulso até o dedo mindinho. Já havia visto coisas muito piores.

– Como você fez isso? – Perguntei fazendo uma careta. Mais lágrimas foram derramadas pelo seu rosto. – Seja lá como tenha feito, fez um bom trabalho. – Conversar sempre ajudava a distrair. – Vai doer um pouquinho, ok?! Pode apertar aqui com a mão boa. – Falei estendendo sua mão para a pia e colocando meu braço para que ela apertasse. Antes que eu fizesse qualquer coisa ela agarrou na parte dos meus bíceps. Joguei um dos álcoois para limpar o ferimento. Fiz uma careta quando ela simplesmente enfiou suas unhas no meu braço. – Só estamos limpando. Agora fica quietinha, tudo bem?

                Jason ficou todo o tempo observando enquanto eu fazia o curativo na mão de Clair. Na metade do trabalho ela havia parado de chorar, o que me aliviou muito. Lágrimas me deixavam nervosa.

– Agora vamos colocar isso aqui. – Falei colocando um esparadrapo para segurar a gaze. – Você pode, por favor, me explicar como isso aconteceu?

– Eu... Errr... – Ela corou e baixou a cabeça.

– Acho que eu mereço saber. Afinal você poderia estar no hospital nesse exato momento. E o pior de tudo, com o seu pai. – Falei a última parte de forma divertida. – Você concorda, Jason?

– Sim. – Ele respondeu de forma distraída. – A parte de o seu pai estar presente é realmente assustadora. – Clair riu baixinho.

– Eu estava imitando você. – Ela soltou de uma vez e fechou os olhos.

– Quem? – Perguntei confusa. Ela corou e respondeu.

– Você, Sahra.

– Como assim me imitando? – Perguntei seriamente. Adquiri uma posição defensiva. Ela murmurou, envergonhada.

– Sabe... Às vezes você sai para correr e fazer exercícios. De vez em quando fico olhando. Vi você ficando apoiada somente com as mãos outro dia. Tentei fazer isso, mas acabei escorregando e cortando a mão na raiz daquele salgueiro nos fundo da casa.

– Você tem que tomar cuidado. – Falei coçando a nuca. Não sabia muito bem o que falar. – Eu faço isso porque já sou acostumada. Mas você não. Deve treinar mais e... Mas o que é que eu estou falando? Não faça isso, é idiotice. Principalmente sem nem um equipamento. Clair suspirou, logo falando.

–Tudo bem. Acho que vou subir para o meu quarto agora.

– Isso. Já está na hora de dormir. Amanhã, antes de ir para escola, passe no meu quarto para... Você sabe. Trocar o curativo se quiser é claro. Pode contar para o seu pai...

– Não! – Ela me interrompeu. – Conto depois. E, por favor, não conte nada. Ficaria extremamente grata se você não me delatasse.

– Claro cachinhos. – Falei dando um sorriso de lado. Ela rolou os olhos e sumiu.

                Guardei tudo na pequena nécessaire e fui beber água. A coisa que era meu principal objetivo havia sido deixada de lado.

– Muito legal o que você fez com a Clair. – Jason falou olhando para o espaço vazio distraidamente.

– Tanto faz. – Dei de ombros.

– Onde aprendeu a fazer curativos daquele jeito?

– Curso de verão. – Falei distraidamente. – É algo que preciso frequentemente.

– Por quê? – Ele perguntou me olhando curiosamente. Quase me bati por ter falado aquilo.

                Por que eu simplesmente não falei que gosto de ver sangue e vísceras? Seria uma resposta estranha, mas pelo menos evitaria explicações que eu não saberia dar. Eu não podia dizer “É que como ganho dinheiro disputando rachas, geralmente caio e me arrebento. Isso é muito comum. Quer biscoitos?”. Isso era uma opção inviável.

– Trabalhar na cozinha requer muita habilidade. Tive cortes piores do que esse da Clair. – Falei uma das primeiras coisas que me veio à cabeça. Não era totalmente mentira, eu realmente já havia me contado enquanto cozinhava. – Fiquei cansada de sempre ter que ir fazer curativos no pronto socorro. Aprendi a fazer sozinha. – Dei um sorriso amarelo. Forcei um bocejo e me espreguicei. – Já está tarde. Vou dormir, estou cansada. Até mais Jason.

                Acenei e quase corri escada acima. Tranquei a porta do quarto e me joguei na cama. Dormir seria algo extremamente agradável.

                – Isso está muito bom. – Falei para um dos pirralhos da creche. – Vocês são ótimos artistas. Esse será o melhor livro do mundo.

– O meu é o mais bonito. – Uma das garotinhas falou.

– Não! O meu que é. – Um garoto falou. Então uma série de “O meu é mais bonito!” foi desencadeada.

– Ei! Vamos nos acalmar aqui?! – Falei com a voz um pouco alterada. Então se fez silêncio em um minuto. Era bom estar em um lugar onde se era respeitada, mesmo que por crianças. – Eu disse que todos são bonitos. Então todos são lindos. Todos. Agora eu tenho que ir pirralhos. – Falei. Levantei do chão e ajustei a alça da mochila nas costas. – Vejo vocês semana que vem.

– Aaaah não! – Todos reclamaram. Ri baixinho.

– Também vou sentir a falta de vocês. Mas eu tenho que trabalhar. Cadê o meu abraço? – De repente todos estavam a minha volta agarrando minhas pernas. – Certo. Certo. Agora já chega. Até mais.

                Aquilo estava sendo divertido. As crianças eram como cachorros, você passava a mão em suas cabeças e mandava-as fazerem tarefas. Elas sempre estavam felizes por fazer algo. Eu contava uma história e todos ficavam quietos. Os mandava desenhar e todos desenhavam. Mandava-os calarem a boca e todos faziam. Até estava gostando do trabalho.

                Saí da creche e fui até a lanchonete.

                Apesar de ser sexta-feira a lanchonete não estava muito movimentada. E como um dos garçons do restaurante estava fazendo um extra, acabei sendo liberada mais cedo. Bem mais cedo para falar a verdade. Akim disse que ia se encontrar comigo assim que meu turno acabasse, mas como tinha acabado mais cedo tive que esperá-lo por um tempo. Estava sentada de lado na moto, no meio do estacionamento, enquanto o esperava.

– Como vai gata? – Ele chegou.

– Muito bem e você?

– Estou indo. – Akim disse dando de ombros. – Então vamos?

– Vamos.

– Você primeiro. – Ele disse cavalheirescamente.

                Coloquei o capacete e liguei a moto, partindo. Ele veio me seguindo no seu carro. Guardei a moto e ele estacionou do lado de fora da garagem. Passamos pela cozinha e Mellany estava bebendo água distraidamente. Akim me lançou um sorriso malicioso e olhou sugestivamente para ela.

– Olá! – Ele disse educado demais. – Como vai hermosa? – Mellany engasgou com a água e começou a tossir desesperadamente. Rolei os olhos diante da cena patética.

– Oi. – Ela disse envergonhada e passando as costas da mão na boca. Akim riu e ela ficou vermelha. – Eu vou bem e você?

Mucho bien mujer amada. – Akim disse lançando um sorriso em sua direção que foi retribuído com uma expressão de dúvida.

– Acho que ela não sabe falar espanhol querido. – Falei o óbvio, rolando os olhos.

– Me perdoe. Estou muito bem querida. Foi isso que falei. – Ele disse com um sorriso educado.

– Não que eu não saiba, – Mellany começou a falar apressada – é que eu não sou muito boa, minhas notas não são tão boas assim na escola. Mas eu sei alguma coisa é só... –Akim e eu a olhávamos com a sobrancelha erguida. – Estou falando muito, é melhor eu calar minha boca.

– Tudo bem. Agora temos que ir. – Ele falou e beijou o rosto de Mellany. – Nos vemos em breve.

                Puxei Akim e o empurrei porta afora. Não fui rápida o suficiente a ponto de não ver Mellany com um enorme sorriso e dando alguns pulinhos. Aquilo estava indo longe demais.

– Já mandei você parar. – Falei andando a sua frente e falando baixo.

– E eu já disse que não estou fazendo nada. – Já estávamos subindo a escada. Parei e virei em sua direção.

– Você sabe que nesse exato momento ela deve estar ligando para alguma amiga e contando cada pequeno detalhe das suas expressões, não sabe?!

– Você está exagerando. – Ele disse subindo mais dois degraus e parando para me olhar com uma expressão confusa. – Você acha?

– Ela é uma garotinha mimada que provavelmente sofre com algum problema. Você não quer um compromisso e não queremos fazê-la sofrer. – Falei seriamente.

– Não quero fazê-la sofrer e muito pior me meter nesses problemas. Também não quero compromisso, mas criar uma amizade com ela é uma coisa legal.

– Você não está criando uma amizade, – falei acusando-o – Está cercando a garota. Depois você vai fazer o quê? Pegá-la em uma festa e no outro dia dizer que não se lembra de nada só porque estava bêbado? – Ele me olhou com uma expressão de quem tinha sido pego em flagrante. – E eu não quero ficar como a idiota que é traída pelo namorado. Não mesmo.

– Nós nem namoramos de verdade.

– Mas as pessoas acreditam que sim. – Falei o óbvio.

– Ok! Se você não quer, não vou mais falar com a Mellany. Mas que é engraçado você ficar preocupada com a sua irmã, é sim, muito engraçado. – Ele falou rindo e subindo a escada novamente.

– Eu não estou preocupada com ela. – Falei bufando e o seguindo.

– Está sim.

– Não. Eu não estou. – Falei como se ele fosse uma pessoa com sérios problemas mentais. – Estou com ciúmes de você.

– Se você estivesse com ciúmes de mim, não teria me dado o número daquela garçonete gostosa. Você está preocupadinha com a sua irmã. – Ele falou fazendo um bico e uma voz infantil enquanto apertava minhas bochechas.

– Me deixa em paz. – Falei dando tapas em suas mãos, já no corredor. Ele riu.

                Quando cheguei à porta do meu quarto ele tentou se jogar em cima de mim. Desviei e ele acabou se chocando contra a porta. Um gemido baixo saiu da sua boca e eu ri. Destranquei a porta e a abri, dando passagem a ele.

– É melhor usá-la quando está aberta. – Falei ainda rindo. Ele entrou emburrado no quarto.

                PDV Jason:

The Offspring - Get It Right

                Estava nervoso. Drew pegava o seu próprio notebook junto com alguns cabos. Seria a melhor chance que tínhamos de conseguir descobrir coisas a respeito da Sahra. Contei a respeito do meu plano de invadir o quarto da Sahra com Drew e Daniel me desencorajou.

                Resolvi ignorá-lo e prosseguir com o que havia planejado. Pulamos a varanda e entramos no quarto. Drew conectou um cabo nos dois computadores, então passou a teclar coisas ininterruptamente.

– Quando temos alguns números como base, as coisas ficam mais fáceis. – Drew falou baixo.

– Eu não tenho nada.

– Mas eu tenho. – Ele disse sorrindo.

– O que você tem?

– A data de nascimento dela e da mãe. Coloquei os números das datas como base assim vai ser bem mais fácil. O programa vai criar uma senha falsa e temporária que vai permitir o nosso acesso, é uma espécie de código...

– Sem essas explicações, por favor? – Pedi levantando as mãos. Ele só balançou a cabeça e ficou parado olhando para o monitor sem fazer nada.

                Enquanto esperava ele terminar, resolvi procurar mais coisas suas. Havia colocado a foto no bolso da mochila sem que Drew visse. Olhei alguns instrumentos no canto do quarto e fui analisá-los. Quase caí para trás quando vi o autógrafo do Jimmy Hendrix em uma guitarra. Minha mão coçou de vontade para tocá-la, mas me contive. Vi um porta-retrato com uma foto de Sahra com várias outras pessoas, no meio de um lugar descampado.

                Olhei por entre os livros e vi um álbum de fotografias. O tirei dali e comecei a folheá-lo. Na maioria das fotos ela não aparecia, mas sim outras pessoas. Ela não tinha foto sozinha. Estava sempre acompanhada de alguém. Percebi que no álbum não tinha nenhuma foto dela com Natanael. Quando estava nas últimas páginas do álbum, algumas fotos que estavam soltas caíram no chão. Abaixei para juntá-las rapidamente. Uma foto me chamou atenção.

                Sahra estava encostada em sua moto, olhando para câmera com um meio sorriso. Seu sorriso era meio debochado, mas ao mesmo tempo feliz. Seus olhos não estavam cor de musgo, pareciam estar castanhos. Ela estava bonita naquela foto. Havia algo gravado no verso, mas antes que eu parasse para analisar, Drew me interrompeu. Coloquei a foto no bolso e devolvi as demais para o álbum o colocando no lugar.

– Você conseguiu? – Perguntei excitado.

– Não me chamaria Andrew Spade se não conseguisse. – Ele falou convencido. – Agora vamos ver o que tem aqui.

                Fiquei em pé olhando por cima do ombro dele. A imagem do plano de fundo da área de trabalho era uma foto da sua moto. No canto da tela tinha uma nota com um endereço e hora. Rapidamente anotei no meu celular. Drew clicou em uma pasta pessoal e começamos a vasculhar.

                Ela tinha coisas muito estranhas. Coisas que sem sombra de dúvida não combinavam com o seu perfil. E-books, trabalhos e assuntos da escola. Sahra carrancuda era uma tremenda nerd.

– Sahra pode até ser esperta, – Drew falou com um sorriso orgulhoso – mas não é muito esperto deixar as pastas tão desprotegidas assim. Vou copiar esse arquivo. Tenho um trabalho sobre esse assunto e ainda não fiz nada.

– Mantenha o foco Drew. – Falei. – Tente ver outras pastas. – Ele abriu uma e essa continha várias fotos. Depois abriu outra e essa continha vários vídeos. Entre eles de cirurgias e até mesmo de um parto. – Tira isso. É nojento. – Falei com o estômago embrulhado.

– Olha só isso. São orçamentos, parece que são de equipamentos. – Ele disse apontando para a tela. Logo em seguida abriu outra pasta onde continha várias fotos e notas de informações sobre a sua moto. – Ela é realmente fissurada nessa moto e em coisas automobilísticas. Às vezes acho que ela é um homem. Você não acha? Um homem bem gostoso, mas em suma um homem.

– Ela é estranha. – Falei a única coisa que veio a minha mente e que parecia ser uma imensa verdade.

– Isso são comparações de motores. Queria saber para que ela quer uma moto tão equipada. –Drew comentou distraidamente.

– Me deixa em paz. – Uma voz veio do corredor.

                Empalideci quando reconheci a voz da Sahra. Drew parecia ter tido a mesma reação. Desliguei o notebook e puxei os cabos. Se fossemos pegos provavelmente estaríamos acabados.

– Vai ficar aí parado? – Perguntei sussurrando para Drew.

                Haviam se chocado na porta provocando um barulho que fez com que nós dois pulássemos com o susto. Um gemido baixo e depois algumas risadas vieram. Corremos até o closet e antão o barulho da porta sendo destrancada preencheu o quarto. Num átimo empurrei Drew para dentro do closet joguei um monte de roupas em cima dele coloquei a mochila no mesmo lugar e depois me embrenhei no meio das roupas junto com ele. Se o seu closet fosse mais arrumado, teríamos um grande problema de nos escondermos.

– É melhor usá-la quando está aberta. – Sahra falou rindo. Estávamos espremidos entre as roupas.

                A situação era bem cômica. Afinal éramos dois homens de mais ou menos um metro e oitenta nos escondendo, dentro de um closet de uma garota de mais ou menos um metro e sessenta. Se eu saísse dessa situação sem ser pego iria me envergonhar pelo resto da minha vida.

– É melhor usá-la quando está aberta... Você é tão engraçada Sahra. – A voz do seu namorado soou meio sarcástica.

Não quero escutar os dois transando. – Drew falou sussurrando. Coloquei a mão com certa violência em sua boca. Depois coloquei o indicador na frente dos meus lábios sinalizando silêncio.

– É melhor fazer logo de uma vez. – Sahra disse.

                Depois um silêncio se fez no quarto, logo em seguida barulho de gemidos foram escutados. Drew e eu arregalamos os olhos, mas antes que ele pudesse falar alguma coisa forcei a minha mão na sua boca. Ia soltar um palavrão quando ele pisou no meu pé, mas a sua mão cobriu minha boca.

– Que porcaria é essa? – Sahra perguntou, mas os gemidos continuaram.

– É só o meu celular. – Akim falou.

– Atende isso de uma vez. – Sahra falou com uma voz impaciente. Drew e eu suspiramos de alívio. Os gemidos cessaram. – Não vai atender?

– Não. É só uma garota insistente. Você sabe como são as desse tipo. Até agora não sei como ela conseguiu meu número. Acho que foi quando fiquei tão bêbado que não lembrava meu nome.

– Essa é de quando? – Eles conversavam distraidamente.

– De ontem à noite, ou de antes de ontem. Não lembro... – Ele falou em um tom confuso. – Se você quer saber, ainda estou bêbado. – Depois disso começou a rir.

– Fala sério. Tenho pena dessa garota. Vou pegar meu notebook. – Ela falou. Novamente nossos olhos se arregalaram.

                Drew começou a suar e a se mexer inquieto. Tentei acalmá-lo sem tirar a mão da frente da sua boca. Empurrava seu corpo para baixo, ele empurrava o meu. Estávamos quase nos esmurrando.

– De qualquer forma, a garota de ontem e a de antes de ontem eram muito gostosas. Elas deviam fazer algo no circo, porque elas eram bem flexíveis, sabe quando eu puxei...

– Já chega! – Sahra falou abrindo a porta do closet. Congelamos. – Eu não estou nem um pouco a fim de saber sobre a sua vida sexual. – Ela pegou a mochila no lado oposto ao que estávamos e depois fechou a porta. Novamente suspiramos de alívio.

– Você tem que escutar, – ele falou. Então escutei o barulho de algo sendo jogado sobre a cama – Alan não está aqui e eu não tenho visto os garotos. Você é a única que tenho para compartilhar os detalhes.

– Cara, eu sou uma mulher. Não gosto de ficar sabendo o quanto a garota era bonita, o tamanho dos peitos ou da bunda. Muito menos saber detalhes sobre outras partes. Se quiser liga pro Alan que ele vai adorar escutar essa porcaria toda.

– Você não é uma mulher. – Akim falou a acusando. – Você é a Sahra. – Ele disse como se fosse algo óbvio.

– O nome já diz alguma coisa.

– Não. Você é um cara com seios, bunda e cabelo grande. Isso não quer dizer nada. Só diz que você é um cara diferente.

– Vai à merda Akim.

                Depois disso escutei mais passos e o barulho de uma porta sendo aberta. Fechada. O quarto estava silencioso. Levantei do chão e olhei por entre a porta mal fechada do closet. Não havia ninguém no cômodo. Eles provavelmente tinham entrado no banheiro. Fiz sinal para que Drew levantasse. Ele levantou desajeitadamente. Abri a porta lentamente.

– Acho que você não vai querer ficar com isso. – Drew falou baixo e risonho, enquanto apontava para minha cabeça.

                Levei a mão à cabeça e puxei um pedaço de tecido. Olhei para a calcinha e rapidamente a joguei no chão. Drew começou a rir e estava difícil para ele se conter. Bati na sua cabeça. E ao invés de calar a boca e irmos embora ele devolveu o tapa. Bati nele e depois nós dois estávamos nos batendo e empurrando no pequeno espaço do closet. Então nós dois caímos no chão.

                Meu queixo bateu contra o piso e o cotovelo do Drew foi direto até minha cabeça.

– O que vocês dois estão fazendo? – Sahra perguntou nos olhando ameaçadoramente. Levantamos num átimo e nem um fez algum som. – Vou perguntar novamente: O que vocês estão fazendo?

– Nós... Errr... – Fiquei sem graça. Olhei por sobre seu ombro e Akim assistia tudo com um ar divertido. – Bom. Nós só estávamos... É que o Drew... Bom...

– Eu desafiei Jason a entrar no seu quarto e roubar uma calcinha sua. Mas ele demorou e resolvi procurá-lo.

– O desafiou a quê? – Sahra perguntou com uma expressão furiosa.

                Engoli em seco. Uma gota de suor desceu pela minha nuca. Akim começou a gargalhar. Sahra olhou para o meu ombro, caminhou até mim e puxou sua peça de roupa que eu nem ao menos havia notado que estava ali.

– Vocês estão falando sério? – Akim perguntou sem se conter, continuava a gargalhar escandalosamente.

– Sim. – Drew falou despreocupadamente.

– Como vocês querem morrer? – Sahra perguntou.

– Calma. – Akim falou, pegando no braço dela, ainda tentando parar de rir. Ele respirou fundo e se controlou. – Eles não fizeram nada demais. São adolescentes cheios de hormônios, brincando de verdade ou consequência.

– Isso não dá o direito de...

– Ah! Não estressa Sahra. – Akim falou passando o braço sobre os ombros dela.

                Fechei a cara quando ele falou que éramos adolescentes cheios de hormônios. Sahra era uma adolescente cheia de hormônios. Aquilo era uma ofensa.

– É Sahra. – Drew falou com um sorriso enorme no rosto. – Não estressa. Isso dá rugas, aposto que você já brincou alguma vez.

– Eu nunca participei desses jogos idiotas. – Sahra falou séria.

– Então eu acho que está mais do que na hora não é?! – Akim falou divertido. – Vocês têm lugar para mais dois jogadores?

– Claro!

– Não! – Drew e eu falamos ao mesmo tempo.

– Tem ou não? – Akim perguntou com as sobrancelhas enrugadas.

– Claro que tem. Na verdade começamos agora. Com vocês somos quatro. Chamamos a Mellany e aí são cinco. Acho que ela pode chamar alguma amiga.

– Ótimo! – Akim falou. – Escolham o lugar e chamem as pessoas, nós dois já estamos indo.

                Drew saiu quase correndo com o seu notebook nas mãos e eu fui logo atrás.

                Mellany que deveria estar subindo as escadas havia sido interceptada por Drew, percebi que logo atrás dela uma garota que reconheci como Marjorie. Ela também ficou animada. Cheguei mais perto e Mellany estava com uma expressão um pouco assustada, mas ao mesmo tempo animada.

– Isso vai ser muito divertido. – Marjorie falou dando pulinhos.

– Jason. Chama o Daniel. – Drew falou.

– Eu vou chamar a Laila. – Marjorie praticamente gritou. Mellany virou-se, dizendo.

– Vou comprar pizza e conseguir uma garrafa.

                Depois as duas desceram as escadas correndo. Passei uma mensagem de texto para Daniel e fui para o quarto de Drew. Ele arrumava algumas coisas tentando deixar o máximo de espaço possível no chão.

– Você é um idiota. – Falei bufando.

– Por quê? – Ele perguntou.

– Você tinha que inventar a porcaria do jogo?

– Esse jogo vai nos ajudar a descobrir mais coisas a respeito da Sahra. Bem melhor do que se tivéssemos invadido a sua mente. Chamou o Daniel?

– Sim. – Falei suspirando. – Espero que você esteja certo.

– Acredite em mim quando digo que esse jogo vai ser muito interessante. – Drew falou com um sorriso malicioso no rosto.

                Apesar das chances de termos que passar alguma vergonha... Ou acabarmos beijando todo mundo, o jogo seria realmente muito interessante. Que Sahra Backers me espere.


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Notas finais do capítulo

Nota da Beta II: [/Biand-chan/]
Oi, leitores!
Desculpem a demora para betar, tenho estado mais avoada que o normal!
Espero que tenham gostado e perdoem a Mari-chan, ela não tem culpa! A culpa é toda minha -.-' gomen ne.
Well, eu amo todos vocês e agradeço por lerem nossa Fic (Nossa nada, dela, mas enfim... *foge do assunto*), espero que coninuem acompanhando!
See ya, minna-san!
Biand-chan/ Biand-nyah.
_____//
Então?! Gostaram? Ele foi betado. Minha Beta agora possui uma conta no nyah, vocês podem entrar no perfil dela, aquele lá em cima, ela foi adicionada como co-autora. Deixem mensagens fofinhas se quiserem!^^
Olha eu realmente peço mil desculpas pelo atraso, mas minha vida tá tão corrida. Principalmente agora que estou perto de fazer uma prova do vestibular e a minha escola da rede pública estadual entrou em greve, então estou estudando mais... =/
Olha só que lindo. Vocês gostaram do capítulo? [pergunteidenovoné?]
O próximo capítulo está legal. Ainda está sendo trabalhado e tudo mais, mas prometo não demorar tanto =x
Ah! Os reviews foram respondidinhos, muito obrigada por eles. Fico tão feliz quando recebo. *------------*
Se alguém quiser indicar eu também fico muito feliz. Muito mesmo. :B
Cara eu acho que eu sou um poço de preguiça, preciso instalar um computado na minha cama, quero que ele fique de lado e que eu não precise fazer muito esforço. Em geral as melhores ideias que eu tenho são quando to jogada na cama quase dormindo. Tive algumas ideias enquanto esperava começar o show do guns no domingo. Por falar nisso... Vocês assistiram ao Rock In Rio? Eu gostei do show da Pitty e do System nesse domingo. O do Metallica foi foda também! *-*
/Parei/ =x /amorock/
Botamos o papo em dia? Se alguém ler as notas finais deve pensar que eu sou louca. As vezes eu acho que ninguém lê aí eu fico falando/digitando e ninguém vai saber o que eu falei/digitei aqui... But mesmo assim gosto de escrever notas finais, acho tão legal ter esse espaço pra conversar com vocês. /lalalala
Escrevi muita besteira não foi? É eu sei... '-'
É que eu to doente mais uma vez... Tipo, eu passo mais da metade do meu ano gripada. Aí eu fico mais anormal, não sei o motivo, mas eu fico assim O_O'
Como vocês estão? *-*
Tá bom, eu realmente vou amarrar as minhas mãos. Sou demente *¬*
Claro que sou! Ok! B'jus pra vocês... Todos são lindos e lindas! Seus perfeitos, sem vocês isso aqui não ia pra frente! o/
~ Se vocês quiserem ver meu grau de loucura, basta me seguir no twitter :B @LoydeSilva ~