Amor, Calibre 45 escrita por LastOrder, Luciss_M


Capítulo 19
The reason


Notas iniciais do capítulo

Capitulo dedicado a Cherry-Cherry, pela quinta recomendação xD
brigadaooooo
o/



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Hospital Estadual de Nova York

20/01/2008

Os olhos se abriram abruptamente para a intensa luminosidade, como se acordasse de um sonho estranho. A visão turva só era capaz de distinguir, a principio, o teto extremamente branco. “ Estou morto?” Pensou consigo mesmo.

Não, não podia ser.

Era tudo tão calmo e silencioso, não era isso que imaginava que o esperava do outro lado.

A dor em suas costas apareceu em seguida sem aviso prévio. Miguel fez uma careta de dor. Agora sim, com certeza não estava morto. Buscou inutilmente se ajeitar melhor na cama, mas sua cabeça começou a girar assim que tentou se levantar.

Olhou em volta, tinha que descobrir onde estava.

O quarto era branco, exageradamente limpo, frio de certa forma e fechado. A única saída além da porta era uma janela na parede. Estava chovendo.

A porta se abriu de repente fazendo com que se vira-se imediatamente.

A mulher de roupa azul clara derrubou a prancheta que segurava e o encarou como se estivesse vendo um fantasma. Ele franziu o cenho.

- Doutor! Doutor! – Saiu gritando.

Ótimo, era só o que faltava, um hospital. Será que não havia tempo de voltar para o inferno?

(...)

- Então, se lembra do seu nome? – O médico perguntou com uma prancheta na mão.

- Miguel Owen. – Respondeu sem a menor vontade. Queria sair logo dali.

- Hmn... Certo, quantos anos tem? – Aproximou-se com aquela lusinha forte e a direcionou para seus olhos.

- Vinte e três. – Miguel desviou da luz afastando a lanterna com a mão. – Olha, estou me sentindo bem. Apenas me dê uma morfina para as costas e vá embora.

O médico o encarou sério.

- Escute, o seu caso é mais sério do que pensa. Você chegou quase morto há duas semanas e por isso te mantivemos em coma induzido, você não deveria estar acordado agora. Precisamos fazer alguns exames para descobrir o que aconteceu.

Ele permaneceu quieto, sem desprender os olhos do médico a sua frente. Se havia uma coisa que odiava mais do que hospitais era ter que fazer exames. Nada do que lhe dissessem o faria mudar de ideia.  E o doutor percebeu isso, era o típico paciente rebelde.

- Quanto mais rápido descobrirmos que não há nada de errado, mais rápido poderá receber visitas. – Disse sorrindo.

- O que quer dizer? – Miguel franziu o cenho.

- Uma menina loira está sempre vindo ver como você está... Hmn...  Qual é o nome dela mesmo?

- Thereza? – Perguntou desejando que fosse mesmo ela.

- Sim, essa mesmo.

O médico viu a mudança na expressão de Miguel e sabia que agora ele faria tudo o que dissesse.

- E então, temos um acordo?

Apenas concordou com a cabeça.

(...)

Ele não estava nervoso, claro que não. Estava... Ansioso. Até demais tinha que concordar. E não era por que gostasse dela , por que tinha a plena clareza de que gostava muito dela, não era por isso.

Apenas queria ver se ela estava bem.

Não era nada demais. Não estava preocupado com o que ela pensaria dele agora, não estava nem se importando com o fato de que agora Tessa soubesse que era muito importante para ele.

Isso definitivamente não podia preocupá-lo.

Seu coração quase parou quando a porta se abriu. Os olhos verdes que o acompanharam no seu leito de quase morte estavam ali novamente. Ele pôde ver como a expressão de Tessa foi da surpresa para a alegria em instantes.

- Miguel!

Ela correu e se jogou sobre ele abraçando-o com força, como se fosse ir embora novamente a qualquer momento.

Miguel ignorou as pontadas de dor em suas costas e sorriu com aquilo. Correspondeu àquele abraço como se fosse a coisa mais natural do mundo, a coisa mais certa a se fazer. E ele adorou tê-la perto de si novamente.

- Seu idiota. – Ela se afastou com algumas lágrimas nos olhos. – Nunca mais faça isso comigo de novo, Miguel!

Ele riu daquilo e a puxou novamente para perto de si.

- Não vou mais te deixar preocupada. – Seus braços a apertaram com mais força. – Eu prometo.

(...)

- Tem certeza que não quer ajuda?

- Thereza, eu posso comer sozinho. – Miguel revirou os olhos. E levou a colher com sopa até a boca. Olhou para Tessa. – Por que está me olhando desse jeito?

O sorriso de Tessa aumentou, ela estava tão radiante hoje.

- Estou feliz em te ver acordado de novo. Eu...  – Abaixou o rosto – Eu... Senti sua falta.

Miguel sentiu o rosto arder e agradeceu mentalmente por Tessa não estar olhando para ele agora.

- Bem... Eu também senti sua falta.

Ela ergueu o olhar para fita-lo direto nos olhos.

- Como pode dizer isso se estava dormindo o tempo todo? – Sorriu.

- Eu... Não tenho certeza, mas depois de um tempo eu senti um vazio estranho, e de repente uma tristeza... Eu não sei... Mas acho que... – Sentiu-se tão idiota falando daquilo, com certeza não havia nascido para ser poeta, era ridículo. – Ah, esqueça. Diga-me o que aconteceu nesse tempo todo.

Tessa piscou pela mudança de assunto inesperada.

- Louis, você quer dizer?

- Exato.

- Ele está preso, obviamente... – Continuou antes que Miguel pudesse pará-la – Eu tentei avisar você, mas não tive tempo. Antes de sair do cofre, fiz um segundo envelope só que com material de escritório. Foi esse que Louis levou. Eu mandei o verdadeiro para o FBI assim que você saiu da sala da cirurgia e os médicos me disseram que não corria mais risco de vida.

Miguel demorou um pouco para associar todas aquelas informações junto.

- Então ele está preso. – Não era uma pergunta.

- E toda sua gangue também. Estamos livres.

Tudo havia acabado, era isso. A única coisa que conseguia pensar agora era que o acordo que havia feito com Thereza acabava agora. Não havia mais a suposta trégua entre eles. Teriam que seguir seus caminhos agora, mas ele não tinha certeza se teria a coragem para deixá-la ir.

- Miguel? – Sentiu a mão dela sobre a sua. – Está tudo bem?

Não, não estava.

- Esta sopa está horrível. – Disse deixando o prato num canto.

O som de alguém batendo na porta seguido pela mesma se abrindo chamou a atenção dos dois. Tessa sorriu ao ver quem era.

- Oliver!

Miguel franziu o cenho e segurou a mão de Tessa na dele. Oliver? Quem era Oliver? Onde já havia ouvido esse nome antes

- Ei, me disseram que você estaria aqui. – E então se virou para Miguel. – Então você que é o tal Miguel.

- Quem é você?

Oliver arqueou uma sobrancelha perante o tom rude de Miguel.

- Miguel. – Tessa se expressou. – Este é meu irmão Oliver. Oliver, você já conhece Miguel. – Ah claro, o irmão médico.

E não foi apenas pela postura superior, ou pelo olhar desafiador que aqueles dois se lançavam. Não... Tessa sabia que havia muito mais do que isso quando viu que ambos se cumprimentaram apenas com um breve balançar de cabeça. 

- Tessa, - Oliver olhou para ela. – A mamãe está no telefone e quer falar com você.

Ah, então havia sido esse o motivo da sua aparição repentina.

Ela se levantou da cama hospitalar e foi até a porta.

- Eu volto logo, Oliver, por que não fica aqui fazendo companhia para Miguel? – E saiu antes que pudesse se negar.

Ambos suspiraram com desanimo, realmente, onde Tessa estava com a cabeça?

Oliver sentou-se num sofazinho encostado na parede. O silencio era intenso.

- Então... – Começou.

- Então... – Miguel continuou, se aquele garoto achava que se intimidaria tão fácil. Realmente não o conhecia. – Você é o médico.

- E você o assassino. – Concluiu no mesmo tom.

- Espero que isso não te deixe assustado. – Sorriu irônico.

-Não se preocupe, não costumo me assustar tão facilmente. – Devolveu com um sorriso falso.

Realmente, odiava médicos. Mesmo os que ainda eram estudantes. Poderia matá-lo agora se não estivesse com uma dor terrível nas costas e se... Ah o que era mesmo? Ah, é, se não fosse o irmão de Tessa.

- Devia comer sua comida,você  está com uma cara péssima.

- Não preciso que me digam o que devo fazer. – E completou com um sorriso sarcástico. – Não sou nenhum filhinho da mamãe entende?

Oliver arqueou a sobrancelha.

- Sabe, vou deixar claro. Eu não gosto nem um pouco de você.

- O sentimento é recíproco.

- Que bom. E deixe-me acrescentar que se não fosse pela minha irmã, eu já teria te denunciado e agora estaria mofando numa cela.

Aquela última frase pegou Miguel de surpresa.

- O que quer dizer?

- Como o que eu quero dizer? – Oliver perguntou incrédulo. – Não se faça de idiota Owen. Eu não sei o que fez com Tessa, mas é obvio pra mim que ela está apaixonada por você. – Sentiu o coração bater forte contra o peito enquanto ouvia atentamente o que Oliver dizia.

 – Ela praticamente passou a viver aqui por sua causa, sem nem comer direito. E quando eu conseguia levá-la para dormir no hotel, conseguia ouvir seu choro de noite. – Parou um pouco, refletindo sobre algo. – Na verdade,hoje  foi a primeira vez que a vi sorrir desde que tudo aconteceu.

Miguel estava desnorteado. Pela primeira vez, sentia tinha completa noção que algo mudava dentro dele. Ele a amava? Será que era capaz de amar Thereza?

- Eu... Eu...

Oliver franziu o cenho. Com certeza Miguel era mais estranho do que aparentava ser.

Um celular tocou dentro de um cesto branco num canto do quarto. Miguel concentrou sua atenção naquele toque. Era seu celular.

Oliver se levantou para pega-lo e o jogou na sua direção. Miguel não agradeceu, era orgulhoso demais para isso e Oliver não pareceu se incomodar.

Havia uma mensagem de voz. Digitou a senha e levou o celular à orelha.

“ Encontre-me na fábrica de motores abandonada de Nova Orleans em uma semana. Não se esqueça do nosso combinado, estarei esperando por você, filhote.”

E acabou.

O rosto de Miguel ficou tão pálido que por um momento o próprio Oliver se preocupou.

- Ei, você está bem?

Miguel voltou a si e buscou a data que a mensagem havia sido enviada. Há exatos cinco dias.

- Estou bem.

Agora tinha apenas dois dias para chegar à Nova Orleans e acabar com isso.

(...)

A noite havia chegado mais rápido do que Miguel esperara. Tessa e Oliver haviam acabado de sair, ela prometera voltar amanha para vê-lo. Miguel sorriu tristemente embora ela não tivesse notado. Amanhã não estaria aqui para vê-la, iria quebrar sua promessa.

Levantou-se da cama com dificuldade e vestiu umas roupas que Tessa havia deixado dentro de uma mochila. Estava com problemas, se fosse querer resolver mesmo as coisas com seu pai de uma vez por todas iria precisar de armas, e isso, era uma coisa que não tinha agora.

Droga.

Arrombou o armário de morfina e colocou o remédio dentro da mochila, junto com três seringas. Guardou o celular no bolso, abriu a janela. Estava nevando. Fechou a blusa de lã.

A porta se abriu assim que se preparava para saltar do segundo andar do prédio. Não precisava se virar para ver quem era. Seu corpo parecia ficar mais calmo sempre que ela estava por perto.

- Miguel? O que está fazendo?

Ele se virou lentamente para olhá-la nos olhos.

- Por que não está deitado? Onde está indo?!

Como queria não ter que tê-la encontrado agora. Como queria simplesmente ir em direção ao seu pai e acabar com tudo aquilo. Sair do país e deixá-la livre.

- Eu tenho que ir.

- Por quê? – Um estranho desespero começava a invadi-la.

- Meu pai me mandou uma mensagem, quer que eu me junte a ele para fazer o trabalho. – Disse seco.

Thereza sentiu um arrepio passar pela sua espinha devido ao tom frio de Miguel.

- Então você vai mesmo?! Você... Você não precisa fazer isso Miguel, não precisa continuar sofrendo, - Segurou as lágrimas que teimavam em descer pelo seu rosto. – Você pode mudar, pode ficar...

Ele jogou a mochila num canto e se aproximou dela. Tão perto que podia sentir o calor de sua respiração batendo levemente contra seu rosto.

- Eu queria... Apenas por um momento... Me ver do jeito que você me vê. – Pousou a mão com cuidado na face de Tessa, acariciando a bochecha com o polegar. – Como alguém que pode ser salvo.

Ela segurou a mão em seu rosto e o fitou com intensidade.

- Mas pode Miguel, eu acredito em você. Eu olho pra você e sei que não é a pessoa que aparenta ser. Por que não quer entender isso?

Ele sorriu de lado.

- Eu tenho que fazer isso.

- Não! Não tem! – As lágrimas caíram pelos olhos.

- Tenho, ele está me ameaçando com a coisa mais importante para mim. Um golpe muito baixo. – Passou o braço livre pela sua cintura e a trouxe para mais perto. – E se ele fizer algo a você, nunca vou me perdoar.

Antes que Tessa pudesse dizer qualquer coisa, Miguel já havia unido seus lábios com os dela num beijo intenso e sôfrego. Um beijo que significava um adeus, em todos os sentidos. Ele não voltaria para vê-la, ele não saberia se sobreviveria desta vez.

E por isso entrelaçou os braços no seu pescoço com força, tinha a ilusão de que assim poderia mantê-lo com ela. Aquele maldito mentiroso que amava. Por que tinha que fazê-la sofrer tanto?

Sentiu uma pancada forte na base do estômago, e começou a perder os sentidos.

- Miguel, não...

Miguel a segurou para que não caísse no chão daquele quarto frio. Encarou o rosto sereno de Thereza, perguntou-se como ela podia continuar tão bonita mesmo desmaiada. E então viu uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Mas não era dela...

Ele a deitou sobre a cama do hospital e a cobriu com a coberta.

Foi até a janela e pegou a mochila. Passou as costas da mão no rosto para limpar aquela água irritante que não parava de sair dos seus olhos. O gelo havia derretido, ele estava realmente apaixonado por aquela menina.


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