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DreamAboutLife
ID: 106393
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  • 12/10/2011


  •                 (dream)
    
                 Qualquer coisa de obscuro permanece
                 No centro do meu ser. Se me conheço,
                 É até onde, por fim mal, tropeço
                 No que de mim em mim de si se esquece.
    
                 Aranha absurda que uma teia tece
                 Feita de solidão e de começo
                 Fruste, meu ser anónimo confesso
                 Próprio e em mim mesmo a externa treva desce.
    
    Mas, vinda dos vestígios da distância
    Ninguém trouxe ao meu pálio por ter gente
    Sob ele, um rasgo de saudade ou ânsia.
    
    Remiu-se o pecador impenitente
    À sombra e cisma. Teve a eterna infância,
    Em que comigo forma um mesmo ente.
    
                         Fernando Pessoa