CAPÍTULO VI

Fazia um calor insuportável, e a temperatura parecia estar subindo a cada minuto que passava. Edward sentia o suor escorrendo pelo corpo. Seus cabelos, protegidos pelo boné azul onde havia a letra R, estavam completamente encharcados. A dor no braço era insuportável, mas ainda havia muito tempo de jogo pela frente. O técnico Gibson já tinha se aproximado dele por duas vezes, perguntando, através de sinais, se queria que o substituísse por um outro jogador. Não que a partida estivesse ruim. Ao contrário. Eles venciam por um a zero. Mas o técnico estava achando que aquele calor exagerado e a tensão pudessem fazer mal a seu melhor jogador.

Fazia trinta e cinco graus à sombra, só que não havia nenhuma sombra.

A idéia de sentar-se um pouco era maravilhosa.

A idéia de ter o corpo dela junto ao seu era mais maravilhosa ainda.

Ficou revoltado consigo mesmo. Onde estava com a cabeça? Não podia deixar que sua mente vagasse daquele jeito. Precisava de toda a concentração possível para o próximo movimento. Os time adversário contava aquele dia com a nova estrela do time, um gigante chamado Dan Wilson, que não parecia nada satisfeito com o fato de seu time estar perdendo de um a zero.

Enxugou o suor da testa com a palma da mão e olhou disfarçadamente para o boxe reservado para a imprensa. Conseguiu avistá-la em meio aos repórteres. E achou até que podia sentir seu perfume. Murmurou um palavrão. Aquela era uma das partidas mais difíceis e importantes da temporada, e ele ali, pensando em perfume feminino! Devia estar perdendo o juízo! Era provável que o sol forte estivesse derretendo seus miolos.

Precisava tirar a moça da cabeça e prestar atenção no jogo. Nunca, em toda sua vida, havia deixado que uma mulher o afetasse daquele modo. Na verdade, nenhuma representante do sexo feminino ficava em sua mente por mais de alguns minutos. É que tinha tantas fãs e namoradas, que cada uma delas só freqüentava seus pensamentos por um breve período de tempo.

O problema, porém, é que nunca desejara uma mulher com tanta intensidade. Geralmente, quando se interessava por alguém, a garota em questão já estava em sua cama antes que pudesse abrir a boca para formular algum convite.

Só que aquela era completamente diferente. Bella Swan era teimosa, indiferente e tinha personalidade forte. Bem diferente das garotas com quem costumava se relacionar.

Avistou Gibson com o canto do olho. O técnico andava de um lado para outro, com a cara preocupada de sempre.

O juiz fez sinal para que lançasse a bola.

Ele respirou fundo e fez o que precisava ser feito. Sorriu, satisfeito. O lançamento havia sido perfeito. Arriscou um olhar rápido para Bella.

No boxe reservado aos repórteres, Bella quase pôde jurar que ele tinha olhado para ela. O estádio estava lotado de fãs dos Rebels, de fãs de Edward, na verdade, mas não podia deixar de ter a impressão de que ele olhara diretamente para ela.

— Ei, Bella, por que você ficou vermelha? — perguntou Ed Asher, com certa curiosidade. — Por acaso está tendo algum pensamento indecente?

— Claro que não. Estou vermelha por causa do calor. Está um forno aqui dentro, você não acha?

Asher murmurou qualquer coisa, mas ela nem prestou atenção nas palavras do colega.

Droga! Maldição! Afinal de contas, o que estava acontecendo com ela? Será que perdera o juízo? Não sabia. Só tinha certeza de uma coisa. Era só olhar para Edward, que já ficava toda derretida. Mas aquilo era um absurdo sem tamanho, algo completamente fora de propósito! Como podia ficar derretida por um homem pelo qual só sentia desprezo?

Ele não passava de um aventureiro ganancioso, um homem cujo único interesse era aumentar o saldo de sua conta bancária. Então por que aquela vontade louca de correr até o campo e abraçá-lo?

Talvez o calor estivesse fazendo mal à sua pobre cabecinha. Ou talvez estivesse ficando meio maluca. Era provável. Mas não importava. Maluca ou não, não conseguia deixar de pensar em como seria sentir aqueles braços fortes enlaçando-lhe a cintura.

Não. Não podia se deixar levar por aquele tipo de devaneio. Ela não queria ter um caso com ele. Muito menos ser uma a mais na vida dele.

"Então pare de pensar em bobagens", ordenou a si mesma.

— O sujeito pode fazer o que quiser com uma bola — comentou Mike Wynter, entusiasmado — menos obrigá-la a se ajoelhar na frente dele.

Bella deu um sorriso irônico.

— Essa última parte, ele deve reservar para as fãs.

O repórter levantou a sobrancelha.

— Será que você gostaria de se ajoelhar diante desse ser todo-poderoso, que faz tanto sucesso entre as mulheres?

Bella sentiu vontade de atirar a bolsa na cara daquele atrevido.

— Vá para o inferno, Mike Wynter!

No campo lá em baixo, o jogo continuava a pleno vapor. Edward havia lhe dito, durante a entrevista, que quando estava atuando, se dava inteiro para defender o time que o contratara. E tinha de admitir que ele fora sincero. O homem defendia os Rebels com tanta garra e determinação que era como se sua própria vida estivesse em jogo.

Fechou os olhos e tentou imaginá-lo em outras situações. Na cama, por exemplo. Será que ele amava uma mulher com a competência com que jogava uma bola? Se a resposta fosse positiva, feliz da mulher em questão...

Gritos vindos do próprio boxe fizeram com que abrisse os olhos de novo.

— Ele conseguiu! — berrava Mike Wynter. — A Raposa quebrou o recorde!

— Já tenho uma manchete para a primeira página do meu jornal!— gritava um outro. — Edward “Raposa” Cullen estraçalha o recorde de 1912!

Uma verdadeira multidão de fãs invadiu o campo, a fim de abraçar seus ídolos. A confusão estava formada.

Mike Wynter virou-se para Bella, com um sorriso vitorioso nos lábios:

— Gostou do jogo?

Ela deu um sorriso mais vitorioso ainda.

— Claro que gostei. Afinal, ganhei vinte dólares, não ganhei?

Após receber o dinheiro e guardá-lo na bolsa, saiu do boxe. Um minuto a mais ali dentro e desmaiaria naquele forno.

As coisas não estavam melhores lá fora. O sol forte, a gritaria dos torcedores e o corre-corre dos fãs eram de enlouquecer qualquer cristão.

Bem, agora, a única coisa que lhe restava era voltar para casa. Tinha ficado de se encontrar com Edward depois do jogo para terminar a entrevista, mas era evidente que agora as coisas haviam mudado de figura. Ele não iria ter tempo para vê-la. Pelo jeito, iria precisar de três ou quatro horas para livrar-se de toda aquela gente que o rodeava.

— Ei, Bella!

Ela se virou ao ouvir alguém chamar seu nome. Era seu amigo Emmett, que vinha se aproximando, o rosto vermelho, a respiração ofegante. À volta do coitado, havia pelo menos umas duas dezenas de fãs, mãos estendidas entregando-lhe pedaços de papel para serem autografados. Bella achou que ele fosse ser massacrado a qualquer momento.

— Ei, Emm, o que você está fazendo aqui?

— Procurando por você, ora essa. Edward pediu para que eu viesse avisá-la de que ele quer vê-la agora mesmo.

Aquilo a pegou de surpresa.

— Mas eu pensei que, com toda essa confusão, ele fosse preferir deixar o fim da entrevista para outro dia e...

— Foi exatamente isso que ele achou que você fosse pensar. Por isso, pediu para que eu viesse até aqui buscá-la, antes que você desse no pé.

Era o que faltava. Agora, o homem dera para ler sua mente.

— Mas ele deve estar cansado e eu acho melhor...

— Você não acha nada, Bella. Venha comigo. Ele está à sua espera, no vestiário.

— Ah, sim. No vestiário. Que maravilha! Com certeza marcou o encontro ali de novo, só para poder me insultar.

— Quer fazer o favor de parar de reclamar? E veja se, dessa vez, você trata o cara com um pouco mais de educação.

Os fãs de Emmett continuavam à sua volta.

— Por favor, me dê um autógrafo!

— Emmett, você é o máximo! Assine minha camiseta, por favor!

O jogador sorriu para a pequena multidão que o cercava.

— Vamos fazer o seguinte, pessoal. Me deixem tomar um banho e trocar de roupa, que eu já volto para assinar autógrafos para todo mundo. Agora, neste momento, a Raposa quer ver sua garota.

Todos os olhos se voltaram para Bella que, bufando, seguiu Emmett em direção ao vestiário.