Fui comer algo ali por perto. Quando havia ensaio com as garotas não costumava almoçar em casa.Jhony foi em bora de skate, de vez em quando ele ficava para ver o ensaio, ou melhor dizendo as garotas.Annie preferiu não ir almoçar comigo, disse que tinha que fazer umas pesquisas na biblioteca.fui até ao Roly, a lanchonete mais próxima da escola, e ao chegar ali me deparei com Matt sentado em uma das mesas,parecia não se surpreender ao me ver chegar.

- sabia que você viria para cá depois da aula.

- Acho que você realmente sabe muita coisa sobre minha vida – disse a ela.

- Faz parte do meu trabalho, mas garanto que não sou o único, você também parece saber coisas sobre minha vida não é?

- Olha sobre mais cedo eu queria me desculpar.

-Sente- se você deve estar com fome, quer um sanduíche? Um suco?

-É pode ser- enquanto ele chamava o garçom para fazer o pedido, eu me sentei a sua frente.

-Bem o que foi aquilo?- ele estava agora me fitando com os olhos, aquilo me deixava meio insegura.

-Aquilo o que?

- O que aconteceu mais cedo leu minha mente, absorveu minhas memórias?

- Como? –Fiquei meio confusa ,agora ele estava dando um sorriso, daquela maneira sarcástica que eu odiava.

- Quem era ele?-perguntei. Agora sua expressão ficou mais séria.

- Ele era meu irmão, mas agora está morto.

- eu sinto muito

- Tudo bem. Acho que foi melhor assim, as drogas estavam acabando com sua vida, primeiro ele começou a roubar coisas de nossa casa, depois começou a ficar violento.

-E como ele morreu?

-Não sei, acho que o mataram por dividas, sabe como é, se você não paga eles te matam.

- deve ter sido difícil.

- É – Agora ele estava olhando para quela pulseira que de alguma maneira quando a toquei me trouxe aquela visão - Pertenceu ao meu irmão.

- Hã?

- Essa pulseira, ela era de meu irmão, me traz boas lembranças dele.

-Sei como é, guardo este medalhão que meu pai me deu quando era mais nova – ele ficava preso em uma fita em torno do meu pescoço – também me traz boas lembranças dele.

-Bem mas você ainda não respondeu minha pergunta,como foi que você soube,ninguém sabe que eu tinha um irmão na escola,não faz muito tempo que estudo ali,e sem querer ofender, você não tem cara de ser esperta o suficiente para xeretar a vida dos outros.

- É, agora entendo porque você abriu o jornal da escola.

-Esse é meu talento. E ainda tem aquela maneira quando você me tocou, você ficou em transe por um momento, seus olhos ficaram vácuos, vazios, aquilo foi tenso. - Nunca havia pensado em como eu ficava quando tinha essas visões .

- Acho que você não vai acreditar.

- Bem se um dia quero ser um bom jornalista, devo escutar todo tipo de loucura não é mesmo?Pode me contar não se preocupe não vou sair daqui gritando que você é uma maluca com poderes paranormais.

- haha engraçadinho

- É o que dizem- e abre um sorriso malicioso

Uma garota com cara de taxo se aproxima da mesa com os pedidos, entrega dois sanduíches e dois sucos, não faz nem questão de perguntar se queremos mais alguma coisa, ao colocá-los sobre a mesa rapidamente sai de perto antes que possamos agradecer.

-Que belo atendimento. - disse Ele.

-Os lanches por aqui são bons, equilibra a situação.

-Há claro, bem, mas então.

-Bem, vai parecer loucura, mas... eu posso ver o futuro.- olhei para ele, mas ele não disse nada, também não riu, ficou apenas me olhando e esperando que eu continuasse – a algum tempo atrás, comecei a  ver o que ia acontecer antes que acontecesse, começou com uma garota, Mindie, ela é do colégio vi ela tendo um ataque epiléptico, e tivemos tempo de irmos ajuda-la. Desde então, estou tentando conviver com isso.

- Não te perturba?

-Muito, me deixa maluca, irritada, me da vontade de sair por ai berrando para que isso acabe, mas sei que não vai adiantar,iriam apenas me internar num hospício.Então tento relevar a situação, e tentar olhar o lado positivo.

-Qual?

-Não sairei desprevenida em um dia que possa chover.

-A mais é claro.

Ficamos em silencio por alguns instantes, para comermos o sanduíche, seria para que ele pudesse avaliar melhor a situação?

-Mas ainda tem algo que não entendo, se você vê coisas sobre o futuro, como você teve aquela visão do meu irmão? Ele já esta morto, o que você viu não vai acontecer certo?

-Não. Foi uma visão passada mesmo, foi no momento em que te puxei pelo braço, peguei em sua pulseira, e a visão veio. Foi como se tocar nela me trouxesse a visão de uma cena em que o objeto estivesse presente. Estava no pulso de seu irmão naquele momento.

-Clarisciência eu acho.

-?

-Clarisciência, é um tipo de capacidade que um individuo tem De ver eventos passados de pessoa, objetos, através de certo contato físico. Talvez ao você tocar na minha pulseira você tenha trazido um momento marcante em que ela estava presente, no caso uma das discussões que eu tive com meu irmão.

-Hum.Como que você sabe dessas coisas?

-Quando era mais novo, gostava de pesquisar sobre esse tipo de coisa, ma atraia. Também lia muitas historias em quadrinhos. Mas e como isso funciona? você se concentra e vê?

-Na verdade não, elas apenas vêem, como por exemplo, esta vendo a garçonete mal humoradinha ali – era a garçonete com cara de taxo que momentos atrás havia nos trazido o pedido, com aquela cara de nojo – então, espere alguns instantes, a bandeja que ela esta pegando no balcão vai se espatifar no chão, e o copo com suco vai cair sobre a freguesa de vestido branco sentada naquela mesa.

Matt ficou apenas observando meio ansioso para o que pudesse acontecer. Logo a garçonete pega a bandeja do balcão e meio sem vontade começa a carrega La com apenas uma mão.Ao passar ao lado da mulher do vestido branco que estava lendo sua revista, ela se desequilibra e a bandeja sofre uma queda até o chão com tudo que havia dentro exceto pelo copo de suco, que cai sobre o colo da freguesa que toma um banho de suco de uva.

-MAS O QUE É ISTO!?! – Grita a mulher levantando, e mostrando seu belo vestido branco, agora com uma enorme mancha rocha.

-Me desculpe senhora – pede a garçonete sem saber se recolhe a bagunça do chão ou se preocupa com a mulher histérica ao seu lado.

A discussão parece aumentar com a chegada do gerente, e garçonete muda seu humor mal humorado para um novo agora assustada.

-Sinistro.

- É.

Um pouco depois de a discussão ao lado ter acabado e o gerente resolver pagar o prejuízo a freguesa, Matt pede a conta, e insiste em paga – La.

- bem agora eu preciso ir,se não Stacy me esgana por chegar atrasada.- disse a ele – e ainda vou conhecer o namorado da minha mãe hoje a noite, que saco.

- Boa sorte.E foi bom conversar com você,acho que você realmente não é o tipo de garota anorexa que gosta de pisar nos outros. Mas ainda te acho metidinha.

- É acho que isso é aceitável. E concordo foi bom conversar com você também , não havia contado isto a ninguém ainda, queria contar a Annie, mas ela não parece acreditar nesse tipo de coisa. Matt, você não vai contar a ninguém NE?

-Não, acho que se eu postar isto no jornal da escola, daí vão chamar a mim de maluco.

-É acho que sim.

-Nem esquente guardo segredo. Se precisar de algo pode contar comigo.

-Obrigada.agora preciso ir.

Estava saindo dali quando ele me chama novamente:

-Sarah!

-Sim.

-Eu falo serio.Pode contar comigo.

-Valeu

Matt realmente era um garoto legal,acho que mudei meu ponto de vista em relação a ele.E ia ser bom ter alguém que eu pudesse dividir essas visões, acho que assim me sentiria mais segura.E gostava que esse alguém fosse ele.

O ensaio foi mais demorado do que pensei, Stacy nunca estava satisfeita com nada, ficamos repetindo a coreografia dezenas de vezes.ao chegar em casa mamãe estava correndo de um lado para o outro com talheres,e pratos.

-Oi mãe chegou cedo.

-É, me deram o resto do dia de folga, melhor assim posso arrumar as coisas por aqui, não imaginava que havia tanta coisa, ainda tenho que me aprontar.

-Mãe deixa que eu termino aqui, pode subir e se arrumar.

-Sarah que bom, então vou fazer isso.

-Tudo bem, e Jhony onde esta? 

-Aquele moleque deve estar por ai com aquele maldito skate, mas já deve estar chegando.Bem então estou subindo.

-Pode ir, me viro aqui.

Enquanto mamãe subia eu nem sabia por onde começar, mas dei meu jeito.Logo Tudo estava pronto,Mamãe seguiu meu conselho e colocou seu vestido azul, e realmente ela ficou uma gata, eu e Jhony estávamos prontos também, agora era só espera a chegada do digníssimo, e se ele demorasse muito  mamãe ia ter um enfarto,não parava de andar de um lado para o outro verificando se tudo estava perfeito.Em dois minutos um carro de policia estacionaria ali do lado de fora, obvio que só sabia disso.E em três minutos a campinha tocou.

-É ele. - mamãe abriu a porta, e ali do lado de fora, estava um cara parado com buque de flores. Eles deram um beijo de comprimento, mas mamãe estava meio insegura por casa de meu irmão e eu. – Bem crianças este e Frank. Frank este é Jhony e Sarah.

-Olá – Ele tinha cabelos castanhos, e olhos de um verde tão intenso que nos prendia a sua atenção.

Primeiro cumprimentou Jhony, e logo dirigiu- se a mim.Ao apertar minhas mãos algo muito estranho aconteceu.Um lampejo de imagens brotou em minha mente, foi tudo muito de repente.Era sangue, chuva, e um cheiro muito forte de terra,Havia uma pá, e a cruz, uma linda cruz e os olhos.Eram olhos assustadores, olhos frios que metiam medo, muito medo, e o cheiro, que cheiro horrível de terra molhada.

-Sarah? – disse mamãe – Frank disse olá.

- Ola? – Ele estava me fitando, e agora algo nele me deu arrepios, acho que os olhos.

-Nem se preocupe a cocaína deixa ele meio distraída as vezes – disse Jhony, quebrando aquele clima que estava no ar.

- Jhony! Pare com essas besteiras- disse mamãe olhando feio para ele.- Bem então vamos.

- Vamos - disse Frank.

Dirigimos-nos a sala de estar. Frank me olhou tentando decifrar minha expressão, então dei um sorriso forçado para ele. O que foi aquilo? Havia algo de estranho nesse Frank, algo que agora estava me deixando assustada. O jantar foi agradável, menos para mim. Frank Fez perguntas sobre colégio, sobre o que gostávamos. Jhony se identificou muito com ele, isso me perturbou um pouco. Fiz o Maximo que pudi para não dar demonstrar minha inquietação,mas acho que Frank percebeu algo, quando ele me olhava, eu tentava desviar o olhar ,mas era como se ele chamasse nossa atenção a ele,era medonho.

- Então Sarah, já sabe o que quer fazer no seu futuro?

-Hã...é.Gosto de dançar.Vou tentar uma universidade de Artes.

-Sua mãe me contou que você é líder de torcida, em seu colégio.

-É, Gosto disso.

- Que bom,você deve ser muito popular.

-É acho que sim.

-Só tome cuidado, as vezes isso atrai inimigos.- Ele estava me olhando com aquele olhar sinistro,e eu não conseguia desviar o olhar.

-Pode deixar. - então baixo a cabeça e começo a cortar a carne de meu prato.

O resto da noite passou um pouco mais rápido, Mamãe trouxe a sobremesa e Frank contou um pouco sobre seu trabalho. ’Devemos botar esses marginais na linha sem dó’ dizia ele.

Eram 11:00 horas da noite.Frank estava se despedindo de mamãe.

-Até logo Jhony, vamos marcar um dia para você ir comigo ao trabalho, você vai gostar.

- Pode deixar Frank.

-Até logo Sarah, se cuida.

-Até. – Preferi não olhar para ele, e nem mês despedi de longe, não queria um novo contato físico com ele, o ultimo não me trouxe uma experiência boa.

Mamãe O levou até La fora.

Não gostei nada dele, havia algo muito estranho nele.E o que foi aquela visão sem nexo, aquilo foi o que mais me intrigou.

-O que acharem dele? – perguntou mamãe entrando em casa.

-Adorei- disse Jhony rapidamente – ele é demais.

-É, acho que sim. - não podia dizer nada, nossa mãe estava muito feliz, não podia estragar isso, fazia tempo que não via mamãe assim depois que papai morreu, e sua vida ficou corrida. 

-Que bom que vocês gostaram, fico muito feliz.

-Também ficamos mamãe, bem acho que vou para a cama pode deixar que amanhã eu arrumo tudo.

-Esta bem, então vou descansar também. Boa noite crianças.

-Boa noite mãe.

Jhony também foi para a cama, fiquei um pouco sentada no sofá, em meio aquele silencio que se formou ali, fiquei refletindo sobre essa noite. Realmente havia algo com esse Frank. Mas o que era?  Ele me metia medo, muito medo.