O Cisne Branco escrita por anonimen_pisate


Capítulo 36
Capítulo 36




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P.O.V – Hellena di Fontana

Minha pele queimava como brasa, e era como se meu sangue tivesse virado lava grossa e fervente.

Eu suava feito uma porca – porcos suam? - por baixo de tantos lençóis, e parecia que minha cabeça ia explodir de tanta dor. Eu era famosa por ter essas enxaquecas insuportáveis, mas essa superava todas.

Alguém colocou um pano molhado na minha testa.

Será que eu estava virando uma vampira? Aquele maldito nem sequer esperou a minha apresentação para cravar os dentes pontudos na minha jugular?

-Tudo dói... dói... Meus dentes... parece que estão arrancando eles... – eu gritava contra os lençóis.

-A mudança esta acontecendo. – uma voz distante soou. Uau, acho que ele cravou os dentes pontudos na minha jugular, e injetou o veneno quente nas minhas veias... Ai como dói pensar em idiotices.

-Esta cedo demais. – outra voz, tão parecida com a primeira, era a mesma?

-O que faremos? Vão farejá-la. – farejar? Que palavra estranha.

Ai, eu me sentia uma demente com retardo mental... Perai, demente não quer dizer isso? Ah eu nunca soube.

O pano se deteve na minha testa. Linhas de água morna escorreram por minha testa se misturando com as gotículas de suor.

Que nojo, parece que derrubaram um balde de suor asqueroso e quente em cima da minha cabeça.

-Nada. – uma voz dura tilintou perto de mim.

-Temos de levá-la!

-Esta tudo marcado para depois da apresentação. Tudo será feito depois da apresentação. – a voz dura disse mandona. Esse tom mandão era tão conhecido...

-Como vamos escondê-la com esse cheiro? – eu estava fedendo tanto assim? - O poder dela é tão forte que esta alertando criaturas a mais de um raio de um quilometro daqui!

-Protegeremos a casa. Faremos feitiços para escondê-la.

-Não resolvera!

-É o que à para ser feito! Não a mais nada! – ordenou.

As outras vozes pareceram discordar, mas por medo, ou algum outro motivo, concordaram e saíram do quarto, passos tão baixinhos, mas que ribombavam no meu ouvido como um sino enferrujado.

Tudo parecia amplificado e distorcido. Os cheiros eram tão fortes que machucavam meu nariz, as cores brilhavam e atravessavam minhas pálpebras fechadas, e os sons eram mil vezes o normal.

-Shh... Tudo ficara bem Hellena. – cantarolou. – Eu prometo.

Hellena? Esse era o meu nome não é? Ai que dor de cabeça.

Tentei não respirar muito fundo para não machucar meu olfato.

-Eu prometo. – repetiu com a voz hipnótica.

Minha cabeça rodou mais uma vez e eu desmaiei, de novo.

Acordei o dia seguinte com minha cabeça explodindo.

O que aconteceu a noite passada? Que droga, eu estava esquecendo tudo!

Me arrastei ate o espelho do meu banheiro. Longas olheiras roxas no meu rosto, meus cabelos estavam espetados, cada bolo em uma direção, os olhos estavam vermelhos, e minha cara amassada.

Você arrasa Hellena.

Como eu consegui conquistar Alec Volturi era um mistério para mim. Eu sinceramente acho que os vampiros têm um tipo de atração por meninas sem nenhum atrativo, excluídas da sociedade, depressivas e deslumbradas.

Não que eu fosse o ultimo.

Que clichê. Logo eu que critico tudo que é parecido com os livros que leio. Durante um grande tempo da minha vida, eu vivi dentro de um livro da saga Crepúsculo, uma versão melhorada e menos conturbada.

Ta. O meu Edward não era o tipo tímido que se afasta das pessoas para não machucá-las, hã dã! O Edward tímido era o do filme, pelo que me lembro, o Edward do livro era sexy e do tipo que tinha uma resposta para tudo.

E a Bella do meu livro não era uma... ta sei lá como eu era no livro!

Só sei que pensar tanto me deu mais dor de cabeça, e uma carência terrível. Tentei arrumar a mim mesma da melhor forma possível, tomei um banho – porque tinha uma vaga impressão de ter suado... – tentei de tudo para acalmar meu cabelo, e passei um corretivo nos punhos debaixo de meus olhos.

Desci as escadas e corri para um bom e saboroso pote de sorvete de chocolate, comecei a comer da caixa mesmo. Já estava na quinta colherada quando Georgina chegou na cozinha, e arrancou meu remédio.

-Se engodar demais não vai caber na roupa. – guardou.

-É o meu remédio!

-Você leu a bula? – zombou. – Mais de mil calorias a cada colherada.

-Um homem adulto precisa de mil e duzentas.

-Você é uma mulher.

-Mas sou adolescente. Fase de crescimento. – indiquei meu corpo pequeno.

-Tem prescrição medica?

-Ta eu desisto. – levantei as mãos em sinal de rendição. – Como foi à viagem?

-Ótima, e rápida. – deu de ombros.

Joguei o corpo na cadeira, me dando por vencida.

Fiquei parada vendo Georgina preparar panquecas enquanto dançava a lambada que tocava no radio. Se tem uma coisa que ela faz bem, é dançar essas coreografias de dança de salão; salsa, swing, lambada, ate dança caribenha.

Suspirei cansando de ser lésbica e ver como ela rebolava bem os quadris no ritmo da musica, sem mexer nada do corpo, exceto o traseiro.

-Panquecas prontas! – ela gritou, praticamente acordando toda a vizinhança.

Hoppe e Quenn apareceram na hora.

-Onde esta Blake? – perguntei pegando a primeira panqueca do prato e jogando uma quantidade extraordinária de calda quente por cima.

-Hei! Não adoce minhas panquecas desse jeito! – Georgina reclamou.

-Relaxa Georgie, suas panquecas são boas até cruas, mas estou precisando de açúcar no meu sangue... Onde esta Blake? – repeti a pergunta.

-Ela... ela... – Quenn se enrolava com as palavras, se tinha algum ruim para mentir era ela, transparente e lúcida como o ar a nossa volta.

-Teve de sair mais cedo. O irmão dela ligou. – Hoppe deu de ombros. E se tinha alguém que eu nunca conseguia ler muito bem era ela, turva como uma água suja.

-Hum... – murmurei engolindo um pedaço de massa coberta de xarope de cidra, a famosa calda quente para quem não sabe.

Minha gata de pelo malhado gingou ate mim com suas patinhas silenciosas e seu porte de rainha. Pulou no meu colo, jogando pelo por toda a minha roupa, e esfregando sua cabeça debaixo do meu queixo.

-Eponine... – cantarolei. – O que você quer amor?

As meninas sorriram doces para minha gata, todas elas tinham um amor incondicional por gatos, assim como eu, e os gatos praticamente as seguiam pela rua, isso estava acontecendo comigo mais freqüentemente agora.

Ela me encarou com seus olhos verde musgo e miou.

-Com fome? – moveu a cabeça, como se me entendesse e concordasse.

Levantei-me e fui em direção ao quarto de empregada que era para as gatas. O prato de comida delas estava vazio.

Enchi tudo como uma boa dona.

A gata avançou com tudo na ração, e do nada, Satine se projetou e correu para enfiar os bigodes no prato.

Enquanto as duas felinas comiam como duas gatas de rua, Aubrey, a gata que eu tinha mais afinidade, e que me lembrava uma lady, ficou parada observando as irmãs.

Aubrey poderia ser considerada quase uma humana, com seus modos impecáveis, se comparado à selvageria das outras duas, e ela parecia entender mais que as outras.

-O que foi mon chéri? – falar francês com ela sempre funcionava.

Ela simplesmente miou, e largou no chão um aro prateado, e como se percebendo a culpa, sumiu pela porta.

Rolei os olhos, e fiquei indignada por Alec usá-la para isso. Mas Aubrey era inteligente demais para cair no papo sedutor dele, esperta demais até para isso.

-Sabe Satine, Eponine, eu prefiro muito mais a inteligência felina de vocês, e não a inteligência humana de sua irmã. – as duas resfolegaram e continuaram a comer.

Levantei-me com esforço, e sai do quartinho guardando o anel no bolso.

-Vamos Hell? – Hoppe me chamou. Concordei, e saímos nos quatro em direção à faculdade.

Subi com Hoppe e Georgina ate a sala dos alunos que se apresentariam em breve, deixamos Quenn bufando de raiva. Blake estava lá, com o rosto aflito e preocupado, aquecendo os músculos.

-Tudo bem? – perguntei arrastando meus pés até o seu lado, as outras duas começaram a se ocupar flertando com os garotos.

-Tudo. Só estou um pouco nervosa. – murmurou. – E com você?

-Parece que alguém passou meus músculos em um triturador, e depois colocou tudo de volta. – gemi.

-Isso passa.

Comecei a me aquecer ao seu lado, e uau, minha flexibilidade estava incrível, eu conseguia me contorcer que nem uma louca, a fazer coisas que eu sempre reclamava de dor.

-Nossa... – sussurrei deslumbrada com minha perna esticada, quase tocando meu nariz com a coxa. Eu disse antes que não era deslumbrada, ta eu sei!

-... finalmente chegaram. – captei parte do bla, bla, bla diário da professora.

-O que chegou? – perguntei baixinho para Blake.

-O figurino. – disse fungando.

-Podem pegar. O de cada um esta no armário, coberto com um plástico, e uma ficha de identificação. – uma correria generalizada aconteceu. Fiquei esperando ao lado de Blake o amontoado se dissipar.

Havia duas sacolas com roupas, uma de cores berrantes e chamativas, coberta de purpurina, fitas e paetês, já a outra, era uma roupa de bailarina preta.

-O cisne negro. – murmurei vendo a mascara que eu comprara junto com a roupa.

Ta. Eu tenho de admitir, era uma roupa linda, toda preta, cheia de strass e rendas, tudo brilhava quando eu a girava em direção a luz, e estava muito bem feita. O tutu era fino e translúcido, um véu negro e perfeito.

-Vai estar linda. – Jesse sussurrou no meu ouvido. Os pelos da minha nuca se arrepiaram ao perceber que éramos os únicos dentro do vestiário.

Jesse não era o tipo bad boy sexy, era mais o estilo “sou um bailarino bonzinho e lindo com minhas covinhas”. O oposto do que eu gostava, mas agora ele estava lindo e sensual.

Senti um arrepio estranho nas minhas pernas.

-Não gosto do cisne negro. – resmunguei.

-Posso garantir que farei você gostar. – disse com a voz rouca e máscula.

E nossa, aquela voz estava tão sexy, que por um triz eu não agarrei ele como quando eu quase agarrei Duke. Só que desta vez eu não estava bêbada.

-Mesmo? – me desviei dele.

-Você esta incrível hoje Hellena. – ele se aproximou de novo, tão próximo, que roçou a mão nos meus ombros.

Ai, como eu queria sexo.

Não Hellena, NÃO!

O bom-senso gritou dentro de mim, e o alarme “se safe dessa” soou bem alto.

-Tenho de ir Jesse. – sai correndo do armário, e voltei para a sala.

Tentei ignorar com força o olhar sensual e excitante dele pelo resto da aula, em que nos tocávamos e estávamos tão próximos, que se eu me esticasse mais um pouco, eu beijava ele.

-Porque não saímos um dia desses? – ele começou quando terceiro ato passou a tocar no som.

-Não tenho tempo, preciso treinar. – disse prendendo a respiração.

-Quem sabe depois dela.

Meus lábios estavam terrivelmente secos, e fui salva pelo gongo.

-Parem de conversar, se concentrem na musica. – a velha rabugenta me salvou. Te devo uma!

Mas não era só Jesse me encarando a aula toda, os meninos todos fizeram isso. Eles olhavam para mim e franziam a sobrancelha, como se algo de errado estivesse acontecendo.

Alguns ignoravam a sensação estranha, e continuavam a dança, outros jogavam cantadas péssimas e inventadas na hora para mim.

Não que ninguém me cantasse, mas isso não acontecia tantas vezes em um dia só, ou melhor, em apenas duas horas.

Quando a aula terminou, sai exausta e confusa.

O que estava acontecendo comigo afinal?


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