Capítulo 2 – Você se lembra?

    Cynthia continuou a observar a chuva que escorria pelas janelas do restaurante, do lado fora estava estacionado seu carro, uma das coisas que tinha mais cuidado e carinho nesse mundo, e que escondia muitos segredos de seu passado. Algumas pessoas observavam os dois jovens que estavam juntos com a loira, perguntando-se quem eram e o que faziam jantando com uma pessoa tão famosa.

    — Puxa, já basta você ter aceitado nossa entrevista, nós é que vamos pagar! — disse Dawn.

    — De modo algum, vocês são meus convidados, pode deixar que eu pagarei! — respondeu Cynthia. — Bom, onde eu parei minha estória?

    — Você estava tendo um abraço muito romântico no carro do Steven! — disse Dawn com uma voz apaixonada.

    — Ah, lembrei-me agora. — sorriu ela.

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    Cynthia ficou alguns minutos deitada no colo de Steven, tentando diminuir o som de seu choro que fazia o rapaz sentir-se cada vez mais triste por ver sua antiga amiga neste estado. Cynthia levantou-se e enxugou as lágrimas, pois lembrava que no passado o rapaz brincava que nunca deixaria ela chorar.

    — Eu lembro que eu havia prometido que nunca deixaria você chorar... — disse Steven, olhando a chuva na janela do carro.

    — Heh, heh... Eu estava pensando nisso agora mesmo... — riu ela. — Mas... Não é culpa sua, eu fui tola durante minha vida toda...

    Steven voltou seu olhar para Cynthia que continuou a observá-lo por alguns segundos, logo, o rapaz começou a corar, ele sentia-se extremamente envergonhado quando alguém ficava fitando-o por muito tempo.

    — Hum... N-Não fica me olhando assim... — disse Steven um pouco corado.

    — Heh, heh. Vejo que você continua com essa mania de não conseguir olhar as pessoas nos olhos! Engraçado, você mudou tanto. — sorriu ela.

    — V-Você também... — respondeu Steven, já suando frio por continuar sendo observado.

    — Mudei para a melhor ou para a pior?

    — P-Para melhor, é claro.

    — Você fica tão fofo quando está com vergonha! Tudo bem, vou parar de ficar olhando para você, vamos olhar a chuva. — sorriu Cynthia. — Esse carro é seu?

    — Sim, sim. Eu ganhei este carro do meu pai quando completei dezoito anos. — disse Steven. — E que eu falei que iria te levar pra dar uma volta assim que eu tirasse a carteira de motorista.

    — Nossa, nós eramos muito crianças quando você disso isso! — lembrou-se a moça, soltado um pequeno sorriso.

    — Bom, então deixa eu cumprir minha promessa. — sorriu Steven, ligando o carro para darem uma volta na cidade.

    — Não! Não, Steven! Daqui a pouco vão perceber minha ausência na festa!

    — Claro que não! Depois eu tenho uma conversinha com seu chefe. — brincou ele.

    — Nem pense, eu conheço esse seu jeito exagerado de ser, não quero imaginar o que você iria fazer...

    — Eu dou um jeito! — riu ele, saindo do estacionamento da festa.

    Steven começou a dirigir pela cidade, Cynthia parecia um pouco preocupada por estar saindo assim de repente de seu trabalho, e temia que o pior acontesse quando voltasse.

    — Você ainda está pensando na festa? — perguntou Steven.

    — Se eu não voltar a tempo eu posso perder o emprego...

    — O que aconteceu pra você... estar nesse tipo de emprego?

    — Acho que fiz as escolhas erradas na vida, depois do último dia que nos encontramos, comecei a me envolver com as pessoas erradas também. — disse Cynthia. Steven nada respondeu, apenas continuou a dirigir atentamente. — No dia em que você se declarou...

    — E você falou... Aquelas coisas de mim. — respondeu Steven com uma triste voz. — Bom, acredito que você tinha seus motivos, não é? Pelo menos depois você foi feliz.

    — Eu nunca mais fui feliz depois que parei de conversar com você... Eu só percebi o quão especial você era depois que te perdi. — Cynthia olhou por um tempo as gotas na janela do carro, mas tomou coragem para pronunciar as palavras que desejava. — M-Me desculpa por tudo aquilo que eu disse de você...

    — Eu queria ter feito de você a mulher mais feliz do mundo. — respondeu Steven, sem olhar os olhos da moça.

    — Acho que eu percebi isso tarde demais.

    Os dois continuaram em silêncio por um longo tempo, Steven ligou o som do carro colocando uma música, para tentar quebrar um pouco daquele silêncio todo. Assim que o aparelho ligou, a música que tocou era uma do CD de Steven, o motivo de toda a sua fama.

    — Ei, é a sua música! — afirmou Cynthia.

    — Meu Deus, eu já não aguento mais ouvir isso. Posso tirar?

    — Mas a sua voz é tão bonita... Falando em música, eu lembrei que quando éramos pequenos a gente disse que iria cantar juntos, lembra?

    — Heh, heh. A gente iria fazer uma música que seria a primeira colocada em todas as paradas de sucesso no mundo.

    — Parece que você conseguiu... — sorriu Cynthia.

    — Mas sempre faltou a voz feminina que eu queria em minhas músicas. — respondeu Steven, olhando os lindos olhos cor de mel de Cynthia.

    — Quem sabe ainda não fazemos uma música juntos no futuro, não é? — sorriu ela, segurando nas frias mãos de Steven. — O que aconteceu com sua mão?

    — Minha mão? Não aconteceu nada.

    — Mas ela era tão macia e bonita, parecia mão de mulher. — brincou ela.

    — E do que adiantava eu ter a mão mais bela, se eu não podia ter a única coisa que eu mais desejava no mundo? — respondeu Steven. — Era a única coisa que eu achava bonito em mim, mas depois eu fiquei com raiva e comecei a lutar.

    — Ah, agora eu lembrei. Você começou a fazer boxe! — disse Cynthia.

    — Tudo tem um preço, não? Eu paguei com minhas mãos para conseguir o terceiro lugar no campeonato de boxe.

    — Verdade?

    — É, eu perdi para aquele retardado do Lance que ficou em segundo, mas valeu o esforço, foi bem legal. — riu Steven.

    — Mas você era tão meigo e delicado... Era meu amigo gay na infância! — disse Cynthia, abraçando o braço de Steven.

    — Ah! Tem que coisas que a gente prefere esquecer. — riu ele.

    A viagem dos dois já chegava ao fim, Steven voltou para o local da festa que continuava animada, mesmo já tendo se passado várias horas. A chuva estava parando, apenas o sereno da noite continuava molhando o vidro do carro.

    — Steven, você não sabe como foi ótimo reencontrar você hoje. Estou muito feliz. — disse a loira.

    — Igualmente Cynthia. Não quer que eu leve você para casa? Não precisa ficar na festa, eu falo com seu chefe, resolvo isso num instante. — disse Steven.

    — D-De modo algum! Você já fez muito por mim hoje, daqui pra frente eu me viro! —respondeu ela um pouco sem graça.

    — Hum... Cynthia, onde você mora?

    — Eu? Lá em casa...

    — Cynthia, onde você mora?

    — Por aí...

    — Vou perguntar mais uma vez, onde você mora, Cynthia?

    — Depende do dia...

    — Não acredito que você não tem onde morar. — disse Steven surpreso.

    — Ah, Steven. Minha vida desmoronou depois que você sumiu, mas acho que já aprendi a conviver com isso... Bom, vou indo pois preciso trabalhar para pagar o aluguel deste mês. — disse Cynthia com um sorriso em seu rosto.

    — Cynthia... Pare de disfarçar, eu te conheço e sei que está sofrendo... — disse Steven.

    A moça colocou a mão em seus olhos para tentar evitar mais uma vez o choro, mas não foi capaz, mais uma vez, despejando milhares de lágrimas, assim como a chuva de horas atrás.

    — Veja só... A chuva está parando, então você também não vai mais chorar... — afirmou Steven, fitando o vidro do carro por um longo tempo.  — Venha morar comigo.

    A loira olhou atônita para o rapaz que deu um singelo sorriso para a moça, ela não acreditava no que estava ouvindo ou então se tudo aquilo não passava de um belo sonho.

    — M-Mas...

    — Não diga nada, estou te levando para casa. Você vai reconstruir sua vida, mas desta vez podemos fazer juntos. Eu imploro para que aceite! Então, como vai ser?

    — Steven, eu... eu... Muito obrigada!! — respondeu Cynthia, abraçando fortemente o rapaz.

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    — Minha nossa!! E depois? E depois? Você foi morar com ele?? Isso é tudo muito lindo! Eu queria ter uma vida dessas pra contar! — disse Dawn, fascinada com a história de Cynthia.

    — Hah, hah, hah! Muita coisa ainda vai acontecer! Minha estória começa aqui! — riu ela.

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    Cynthia ainda não acreditava que tudo aquilo realmente acontecera. Era como se todos os seus desejos tivessem sido atendidos. Por um momento sua vida não possuía mais rumo, e de repente ela encontrava um novo desejo em viver. Algo em Steven começava a chamar ainda mais sua atenção, ela sentia seu coração palpitar forte, sentia um desejo de ficar ainda mais ao seu lado, o que seria tudo aquilo que estava sentindo?

    Steven chegou em sua casa e estacionou sua Lamborghini na garagem, Cynthia ficou observando os grande portões e muros da mansão, apenas de ver o jardim já dava pra perceber que o local era realmente enorme.

    Estátuas e fontes de mármore enfeitavam as lindas calçadas de sua casa, era tudo feito num tom de branco que dava uma certa harmonia. Ao longe podia se ver uma enorme casa com várias janelas e andares. A iluminação era perfeita, dando um lindo brilho para aquela noite. Cynthia mostrava um sorriso que não cabia em seu rosto, talvez por conta da tamanha felicidade em estar em um local como aquele.

    — Bom, sinta-se em casa! — disse Steven, mostrando os alojamentos para a loira.

    — Estou sem palavras!! Eu não imaginava que era tão... tão grande! — respondeu ela.

    — Venha comigo! Vou mostrar-lhe seu quarto! — disse Steven, subindos as longas escadas da mansão.

    O quarto era realmente muito grande, tinha uma linda hidro massagem e uma cama de casal com cobertores feito dos melhores tecidos. Uma grande televisão tinha lugar especial no alojamento, com sofás gigantescos que forneciam o máximo de conforto. Aparelhos de som de última generação e lindos abajures franceses davam um toque elegante e exótico ao local. O banheiro tinha uma imensa banheira, a pia e o espelho possuiam alguns detalhes dourados que aumentavam o brilho do belo chão prateado. Tudo isso era um simples cômodo da "humilde casa" de Steven.

    — Minha nossa! Seu quarto é gigatesco!! Maior do que minha casa inteira! — surpreendeu-se Cynthia, ainda fascinada com tudo aquilo.

    — Meu quarto? Mas é você que vai ficar aqui! — sorriu Steven.

    — S-Sério? Não estou acreditando. — disse ela pasma.

    — Pode arrumar as suas coisas, você vai ficar aqui hoje! Na verdade essa casa foi projetada para apenas um casal, então você vai ficar aqui!

    — E onde exatamente o senhor vai dormir...? — perguntou ela, ajeitando seu cabelo com um certo olhar sensual.

    — No sofá da sala... — riu Steven. — Espero que goste do quarto! Amanhã haverá muitas coisas para se fazer!

    O rapaz virou-se para sair do quarto, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa foi surpreendido por um forte abraço da moça.

    — S-Steven! Obrigada... — disse Cynthia, abraçando o rapaz pelas costas.

    A loira ainda não conseguia saber se tudo aquilo não passava de um simples sonho, estaria todos seus profundos desejos sendo realizados? Talvez ela tivesse ganhado uma última chance na vida, e desta vez, ela não erraria.

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    — Aaaah! Eu quero um homem desse pra mim!! — disse Dawn.

    — Mas você já não tem o seu amigo, o câmera man? — perguntou Cynthia.

    — Minha nossa, ele tá bem longe de ser um homem perfeito... Não é Ash? — debochou Dawn.

    — Hunf! Obrigado pelo elogio! Eu também preciso achar uma mulher como a Cynthia, mas o mundo tá cheio de garotas como você, Dawn! — retrucou ele.

    — O quê?? Repete na minha cara!! — irritou-se ela.

    — P-Parem de brigar!! Meu deus, alguém dá uma ajudinha aqui!!