Mudando o Jeito de Viver escrita por Mayara Paes


Capítulo 18
17- Invisível. (Bell)




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"Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada."

*Wonderwall – Oasis.*

http://www.vagalume.com.br/oasis/wonderwall-traducao.html

Dizem que quando você está extremamente próximo de morte, sua vida inteira passa em flashes nítidos e vivos diante de seus olhos em questão de segundos.

Mas afinal, qual o fundamento desse último pensamento?

Mostrar-nos os momentos felizes? Os momentos tristes? Nossos erros? Nossos acertos? O que poderíamos ter feito e o que nem devíamos ter considerado? Nossos medos? Nossas angustias? Nosso nervosismo? Nossa impaciência? Desejos? Nossos arrependimentos?

Coisas tão relevantes em um momento tão inoportuno!

Porque se uma pessoa estiver prestes a morrer, ela gostaria mesmo de pensar nas besteiras que fez durante uma vida inteira? De pensar o quão idiota, inconseqüente, irresponsável, fútil, insensível ela foi um dia? De se arrepender de algo e perceber que, naquele momento, já não havia como concertar, não havia mais reversão, já não havia mais volta.

Você estava fadado á ser eternamente lembrado pelas suas atitudes impensadas, atitudes desagradáveis e nada convencionais. Ser apenas lembrado como mais um, como um peso gigante na vida medíocre que teve.

Uma pessoa realmente gostaria de ser recordada pelos seus erros? Ser conhecido como um ser desagradável e que só pensava em si mesmo? Não se importando com os sentimentos alheios? Não se importando com o que causaria? Não se importando com absolutamente nada alem de seu próprio benéfico?

Eu acreditava que não.

Todos gostariam de paz no fim de tudo, desejavam sentir alivio e ter a consciência tranqüila de que fez aquilo que queria e que achava certo. Sem rancor, amargura, tristeza, somente... Tranqüilidade! Era isso que a morte significava afinal, não era? Descanso de corpo e alma.

Sorrir e pensar que seu dever estava cumprido. Não havia mais nada á ser feito por você.

Mas, por mais que eu almejasse esse fim, comigo havia sido diferente. Não havia nada. Eu não sentia absolutamente nada. De repente, eu já não mais me controlava; não era capaz de mover meus próprios braços, abrir os olhos. Eu não conseguia pedir socorro. Meus olhos não se focavam, apenas fazia-me enxergar a escuridão impiedosa e enervante, causando-me certo desespero e uma ligeira angustia que exprimia meu coração que batia lentamente, como se estivesse depositando arduamente suas ultimas forças para continuar a pulsar, cansando e quase parando por completo.

Então, esse era o fim?

Mas, cadê o flash Black? Cadê a tranqüilidade? Cadê o descanso de corpo e alma?

Comigo seria diferente? Por quê? Porque meus pensamentos ainda estavam em um turbilhão? O porquê dessa sensação de que ainda não era à hora? Que ainda existia muito para fazer? Qual o significado do meu corpo querer parar de sucumbir á todo custo para a escuridão interminável e irreversível?

Eu era apenas um fantoche! Um boneco sem movimento, sem emoções, sem vida. Já não havia mais ao que recorrer, o preto me tomava de uma forma nauseante, nocauteando-me de forma certeira e mortal.

NÃO! NÃO! NÃO!

Onde está minha voz? Onde estão minhas lembranças? Onde estão todos?

Ajudem-me! – eu queria gritar, mas minha garganta estava fechada, nenhum ruído foi liberado e nenhuma esperança de retorno surgiu para afugentar esse receio de não ser mais capaz de viver.

Alguém? Eu não consigo permanecer, eu não consigo respirar! Tirem-me daqui! AJUDEM-ME!

Nem mesmo o desespero fazia-me ofegar. Esforços cansados! Já não havia como ficar, já não havia mais como voltar!

Enfim, a morte indesejada.

X-X

–Edward, esse não é o momento para você ficar parado! REAJA SEU IDIOTA! Bell precisa de você! – a voz de Alice soava distante, mas não menos intensa. Imaginava de forma nítida sua expressão de desespero ao ver Bell estirada no chão inconsciente e seu irmão em estado catatônico á sua frente, somente dando algum sinal de vida pelas lagrimas grossas que escorriam por sua face morta. Tampouco Edward respirava.

Gritos, exaltações, exclamações de ódio e raiva eram escutados ao longe. Lagrimas silenciosas escorriam pela face de quem presenciou a cena. O choro histérico se destacava em meio ao silencio desconfortável, quase mortal em um recinto repleto de emoções desagradáveis e desesperadas. O clima que pairava sobre aquele lar não era nada agradável, nada saudável.

Uma respiração ofegante tornou-se alarde no momento.

Carlisle, com todo seu ardor e determinação, tentava á todo custo fazer com que os batimentos cárdicos voltassem. Já estava naquele exercício á alguns minutos. Sua massagem cardíaca até surgiria efeito em alguém, em outra pessoa. Mas em Bell, os esforços estavam sendo vãs.

VAMOS! – seus pensamentos gritavam em seu ouvido de forma ensurdecedora, fazendo-o depositar tanta força na massagem que seus braços latejavam pedindo arrego. – VAMOS, VOLTE, VOLTE! - suas preces já não eram tão silenciosas assim.

–Por favor, poderia me informar se a ambulância já está a caminho? – sussurrava a voz não tão calma de Esme ao telefone, falando pela quarta vez com a mesma atendente. – Entenda minha querida, não há tempo! - exaltou-se, olhando de relance o desespero de Renée, que já desabara no chão frio tamanha era sua entrega.

Suspiro.

Afinal, que mãe agüentaria de pé a dor de ver um filho morrer diante de seus próprios olhos?

Enfim, ao mesmo tempo em que os batimentos fracos e quase inaudíveis de Bell retornavam, a ambulância estacionava com toda sua imponência em frente à casa dos Swan.

Rapidamente a porta da frente foi aberta, permitindo assim que os paramédicos fizessem seu trabalho com eficácia e sensatez. Carlisle suava frio ao constatar que seu trabalho havia surgido algum efeito.

Bell já devidamente depositada sobre a maca dentro da ambulância, recebia oxigênio de um pequeno cilindro ao seu lado. Edward que a muito despertara de sua letargia, corria em direção á pequena multidão iluminada pelas luzes vermelhas e azuis.

A sirene ecoando tornava tudo muito mais assustador para todos ali.

–Hey garoto, você não pode entrar ai! – um dos paramédicos repreendeu-o, impedindo sua passagem.

–Por favor, deixe-me acompanhá-la! – suplicou de forma desesperada, quase histérica.

–Sinto muito, apenas uma pessoa é permitida! – negou já dando lhe as costas.

–Por favor, eu imploro! Não faça isso, deixe-me ir com ela! – insistiu segurando o uniforme do homem.

–Somente uma... – mas o médico foi interrompido.

–Deixe que o garoto vá. – permitiu Charlie, de forma apática.

O médico suspirou.

–Tudo bem. – concordou por fim.

Enquanto a ambulância cortava a cidade, com suas luzes translucidas, trepidantes e a sirene alta, arrepios e calafrios eram sentidos pelos moradores da pequena cidade de Forks. Ao que tudo indicava, havia alguém com sérios problemas.

Edward, em todo percurso, rezava como nunca antes. Depositava em suas preces sussurradas toda sua fé e esperança de que Bell retornaria. Retornaria para ele.

Mas, talvez, só talvez, pudesse ser tarde demais.

X-X

– PDV Carlisle Cullen.

Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip. Bip…

O coração de Bell, naquele momento, pulsava de forma compassada e uniforme. Não batia ligeiro feito asas de passarinho, mas fraco e ritmado feito as pequenas asas de uma mariposa. Sua respiração, enfim, voltará ao normal. Mas, ainda havia certa dificuldade, e isso justificava o pequeno aparelho respiratório preso em suas narinas levemente infladas. Ela precisava de instrumentos para sobreviver, ela precisava de cuidados especiais. Bell necessitava de todas as ajudas possíveis.

Suspirei.

Como uma menina tão jovem poderia estar em um estado tão lastimável quanto este? – questionei-me não contendo a indignação e o sentimento de impotência.

Bell era uma garota linda, gentil, perfeita. O porquê de sua morte parecer tão próxima quando a mesma não merecia tal fim? Existia tanta maldade nesse mundo para ser liquidada! Porque uma pessoa tão bondosa tinha que deixar de viver? Tudo me parecia tão injusto.

Deus sabe de todas as coisas Carlisle, não o subestime.

É verdade! Pensando bem, Deus sabia o que fazia! Afinal, nada era por acaso.

Sorri pensando o quanto essa jovem fez bem ao meu filho. Edward exalava felicidade á um tempo atrás. Nunca tinha presenciado algo assim, ainda não tinha visto nada desse gênero acontecer á ele. O amor faz isso com as pessoas.

Afaguei levemente sua face mais pálida que o normal, agora sem qualquer vestígio da cor rosada que diariamente poderia se observar em seu rosto de boneca. Isso mesmo! Uma boneca! Uma boneca de porcelana! Linda, pálida e frágil.

–Agüente firme criança! – murmurei não escondendo a esperança em minha voz. – Edward ainda precisa de você!

Duas batidas rápidas na porta retiram-me de meus devaneios.

–Dr. Cullen? – chamou-me uma das enfermeiras.

–Sim. – respondi girando nos calcanhares.

–Os resultados dos exames de Isabella já estão prontos! Quando pretende examiná-los? – questionou-me enquanto adentrava ao quarto carregando com si algumas pastas e papeis.

Olhei meu relógio de pulso. 6h52min.

–Agora mesmo! Estes já levaram tempo demais para ficarem prontos. – resmunguei retirando-os de suas mãos e abrindo-os ali mesmo.

Uma rápida visualização em tudo me fez crer que seu caso era mais grave do que o esperado.

–Os pulmões estão bem comprometidos. Há lesões em toda parte, mas o esquerdo é o mais afetado. – opinei olhando atentamente o exame.

–Então é isso que veio obstruindo a via respiratória?

–Exatamente. – concordei.

–Isabella também perdeu muito sangue, a hemorragia no intestino foi controlada, mas não o suficiente. Olhe, a veia ainda está rompida. – a enfermeira apontou exatamente o ponto que mostrava claramente sua conclusão.

–Não há como operá-la, as plaquetas estão extremamente baixas. Isso causaria uma infecção. – comentei olhando horrorizado a porcentagem. – Teremos que reverter isso. A reposição de sangue é a melhor forma de fazer sua imunidade aumentar. – conclui.

A enfermeira desviou o olhar para os pés, como se estivesse receio de algo.

–Doutor, as doações de sangue são bem raras nesta entidade. A cidade é pequena, os moradores locais não colaboram com tanta freqüência. – informou desgostosa. – O estoque está vazio.

Arregalei os olhos.

–Como assim? Não há sangue?

Balançou a cabeça negativamente.

–Quanta negligencia! Que tipo de hospital é esse? – vociferei. – Vamos ter que mudar isso, mas não temos muito tempo! Precisamos de uma solução.

–Só há um jeito, doutor Cullen!

X-X

A passos largos e ritmados, dirigi-me de forma silenciosa pelos corredores desertos do hospital para o local onde todos ainda se encontravam, madrugada á dentro, á espera de noticias.

Ao abrir a porta, constatei que todos estavam da mesma forma que havia deixado á algumas horas atrás. Ninguém havia ido embora, ninguém sequer se movera um milímetro. Todos permaneciam parados, sentados nas pequenas poltronas pouco confortáveis, com semblantes desolados e olhares perdidos. A única mudança seria á de Marie, que deitada no colo de Renée, dormia um sono repleto de intranqüilidade. Sua expressão denunciava tal afirmação.

Assim que anunciei minha presença, todos imediatamente levantaram de suas cadeiras, repentinamente tensos e inquietos. Mas, Edward havia sido á exceção, permanecia sentado, recostado na parede olhando um ponto fixo sem realmente ver. Se sua expressão não estivesse tão alterada, deduziria que o mesmo havia entrado em choque.

Suspirei.

–E então, como ela está? - Charlie foi o primeiro á quebrar o silêncio.

–Revertemos o quadro e conseguimos, finalmente, estabilizar-lo. Os batimentos voltarão ao normal, mas ainda há certa dificuldade para a respiração. Bell ainda respira com a ajuda de aparelhos, por que as lesões pulmonares estão obstruindo o canal respiratório. Mas, acredito que logo ela não precisará deles. – informei-os.

–Ela ainda corre risco de vida? – questionou Esme, esfregando as mãos.

–Bem, ainda há riscos sim, seu estado ainda é bem delicado! Ela está muito frágil. – assim que proferi essas palavras, Edward resmungou, colocando a cabeça entre as mãos. Alice suspirou e foi ao seu encontro, acariciando suas costas levemente, tentando confortá-lo. – Ainda á um problema, a hemorragia intestinal foi controlada mais não totalmente sanada. Queríamos operá-la, para reconstruir a veia afetada, mas sua imunidade está extremamente baixa. Causaríamos uma infecção caso tentássemos.

Renée baixou os olhos, escondendo seu rosto entre os cabelos de Marie, ainda adormecida em seus braços.

–E agora? – perguntou Charlie.

–Só há uma solução! Teremos que repor o sangue de qualquer forma, e as doações aqui estão bem escassas. – informei insatisfeito.

–Então como vocês poderão repor? – Jasper se pronunciou.

Suspirei.

–Por meio de transfusão com alguém compatível. – conclui recebendo olhares um tanto assustados.

–Há uma lista de espera nesses casos, não há?

–Sim, por isso seria mais fácil fazermos o teste de compatibilidade em vocês, claro, os que quiserem. – disse.

–Mas, os pais já não são compatíveis?

–Algumas vezes não. Por isso faremos o exame.

–Se é assim, todos farão. – Edward se pronunciou pela primeira vez, sua voz soou determinada.

–Todos estão de acordo? – questionei olhando cada rosto. Todos, sem exceção, afirmaram.

–Ok, então vamos aos testes.

X-X

–Qual foi o resultado Carlisle?

Consultei os papeis novamente.

Suspirei.

–Somente dois são compatíveis com Bell. – pronunciei-me. – Marie e... Edward.

Edward levantou-se de imediato.

–Eu farei então. – decidiu.

–Tudo bem, mas á restrições. – adverti. – Nem você nem Marie são cem por cento compatíveis. A transfusão talvez não seja o suficiente para uma pessoa. Talvez Marie também tenha que doar.

Renée e Charlie olharam para Marie receosos, decidindo se isso realmente era seguro.

–Eu vou fazer tio Carlisle, não tenho medo de agulhas. – disse Marie arrancando alguns sorrisos fracos.

Renée olhou-me.

–Ainda não é certo que ela tenha que doar, só é uma suposição. – intervir. – Edward é mais resistente, fará primeiro.

–Vamos então! O que estamos esperando? – perguntou já saindo da sala de espera.

Sorri orgulhoso.

Edward se tornou um homem determinado.

X-X

Edward já havia doado e não foi o suficiente. Marie também doou sua cota extrema, mas ainda sim, não era o suficiente para reverter e repor o necessário para Bell.

Suspirei, olhando novamente os exames.

Todos já estavam cientes de nossa derrota, todos ficaram desolados e receosos pelas conseqüências que esse resultado poderia acarretar.

–O que eu farei agora? – questionei-me com a cabeça entre as mãos.

–Eu doarei novamente. – sobressaltei-me com a voz de Edward, agora parado á minha frente.

–Não é possível meu filho, é perigoso demais para você! – neguei, recebendo um revirar de olhos em resposta.

–Eu não me importo! Farei de novo com ou sem a sua ajuda. – rebateu petulante. – Sou maior de idade, posso por lei fazer minhas escolhas.

–Você não entende! Retiramos sangue até demais de você, se refazermos á doação antes de você se recuperar, poderá haver fraqueza. - expliquei. - Você desmaiará e ficara um bom tempo fraco.

Edward não precisou pensar.

–Eu não me importo! - repetiu de forma irreversível.

–Edward... - tentei intervir.

–Você e nem ninguém irá me impedir de salva-la. - dito isso, simplesmente saiu porta a fora, fazendo-me concluir que ele não desistiria.

Levantei as pressas, correndo pelo corredor á sua procura, mas o mesmo já estava longe.

– Fim PDV Carlisle Cullen.

–PDV Renée Swan.

Observava através de um vidro, minha pequena menina deitada sobre uma maca hospitalar, totalmente imóvel e sem vida. Praticamente em seu leito de morte.

Morta! – pensei não contendo as lagrimas sôfregas de escorrerem por meu rosto. Ao que parecia, elas continuariam ali por muito tempo.

Acho melhor eu me acostumar á chorar diariamente.

Como as coisas chegaram á este ponto?

Por mais que eu fosse otimista, no fundo eu já esperava o dia em que eu já não mais veria minha Bell com vida, ao lado de sua família.

Meu coração de mãe se apertava á cada dia, vendo-a no estado em que estava. Cada dia era uma crise diferente, cada dia a situação piorava cada vez mais.

E ver o sofrimento dela, não era algo com que possa se acostumar.

Suspirei, apoiando as mãos sobre o vidro.

–Já não podemos fazer mais nada querida, deixe tudo nas mãos de Deus! – Charlie abraçou meus ombros.

–Queria poder ir em seu lugar! Filhos não devem morrer antes dos pais. Esse é o ciclo normal da vida. – suspirei em meio a lagrimas e desespero. – Está chegando ao fim Charlie, está chegando ao fim.

– Fim PDV Renée Swan.

Tic. Tac. Tic. Tac. Tic. Tac. Tic. Tac…

O tempo passa. Mesmo quando isso parece impossível. Mesmo que cada batida do ponteiro dos segundos dói como o sangue pulsando sob um hematoma. Passa de modo inconstante, com guinadas estranhas e calmarias arrastadas, mas passa. Até para mim.”

Tic. Tac. Tic. Tac. Tic. Tac. Tic. Tac…

–(…) Emmett, pare com isso! Você não pode fazer isso aqui dentro!

Um resmungo.

–Ah, mas eu amo esses biscoitos! Eles estão aqui, sem ninguém para comê-los. – rebateu com a voz meio fanha. Parecia estar com a boca cheia. – E Alice, deixe de ser chata, gnomo! Bell ainda não acordou, ninguém sentirá falta dessas deliciosas guloseimas.

–Gnomo é a sua vovozinha, seu idiota! – vociferou Alice, tentando controlar a voz.

Uma risada contida.

–Você não devia falar de pessoas que já se foram gnomo, eles podem voltar do alem e virem atrás de você!

–Ah, cale essa boca Emmett! – gritou descontrolada. – E me dê já esses biscoitos, você está fazendo uma tremenda sujeira.

–Não, eles são meus! – negou e pude ouvir passos apressados. – Sai de perto de mim ou eu te mordo! Inhak!

–Agora Emmett, eu estou mandando!

Ouvi mais passos apressados ecoando pelo chão, parecia correr.

–Eu vou te morder, já disse.

–ME DÁ LOGO ESSES BISCOITOS! –gritou Alice.

–NÃO! – e um pequeno estrondo.

Uma risada.

–Eu avisei.

–Aiiiiii, você me mordeu? – Alice parecia perplexa.

–VOCÊ ME MORDEU! – e pode se ouvir um enorme estrondo, parecia algo quebrando ou caindo ao chão. – Olha o que você fez seu idiota!

–EU fiz? Quem caiu em cima da mesa foi VOCÊ!

O barulho da porta se abrindo chama á atenção.

–Que gritaria é essa aqui? Quem fez isso? – uma voz feminina e desconhecida, sussurrou.

Silêncio.

–ELE!

–ELA! – disseram ao mesmo tempo.

–Os dois, já para fora! Aqui não é lugar para gritaria! A paciente precisa de descanso e SILÊNCIO. – ordenou autoritária, elevando gradativamente sua voz.

–Desculpe! – sussurram juntos novamente.

Suspirei, abrindo os olhos em fendas.

Eu estava em um lugar claro, excessivamente branco. Em um quarto de hospital como de praxe. Com móveis de hospital, roupas de hospital e aparelhos de hospital. Comum demais.

Resmunguei.

–Veja quem acordou! Como se sente querida? – uma enfermeira desconhecida por mim perguntou, lançando-me um sorriso carinhoso enquanto apalpava minha testa e pescoço, certamente medindo manualmente minha temperatura corporal.

Esfreguei os olhos, vendo minhas mãos enfeixadas.

–Estou bem, só um pouco dolorida. – minha voz soou mais rouca que o normal.

E era verdade, toda vez que eu respirava meu peito doía.

–Ah, isso é normal! Utilizaram força demasiada para reanimá-la. – riu levemente, enquanto Alice e Emmett - com a boca suja de biscoito - acenavam, sorridentes em suas costas.

Sorri, tornando-se uma careta ao constatar aquele aparelho preso em meu nariz.

–Isso está me incomodando! – reclamei, tentando solta-lo, sendo impedida pela enfermeira que verificava meus batimentos.

–Hey, não faça isso! Daqui a pouco você já não precisará dele. – retirou delicadamente minhas mãos do meu rosto, acariciando-as. – Bem, acho que está tudo normal, mas vou chamar o médico e avisá-lo que você acordou. – virou-se com o semblante serio para Emmett e Alice. – E você dois, comportem-se! – e saiu do quarto.

–Bellzinhaaaaaaaaaaa! – Alice festejou, dando-me um abraço meio desajeitado.

–Bellota, nunca mais faça isso conosco, ok? Nós deu um tremendo susto! – fungou apertando-me em seus braços.

Sorri.

–Emmett, você está chorando? – perguntei perplexa ao ver seus olhos e nariz vermelhos.

Arregalou os olhos.

–Chorando? NÃO MESMO! É apenas um cisco que caiu nos meus olhos. – justificou tentando esconder o rosto.

Alice gargalhou.

–Nós acreditamos Emmett.

Ele resmungou.

–Há quanto tempo estou aqui? – perguntei tentando me situar.

–Bem, á apenas algumas horas. – respondeu, dando de ombros. – Foi só o tempo de você fazer os exames e a transfusão.

Franzi o ceio.

–Transfusão?

–É, tiraram sangue do Edward e da sua irmã para por em você, entendeu? Fizeram exames em todos nós e só eles foram compatíveis. – explicou Emmett se empanturrando de biscoitos novamente.

Alice balançou a cabeça negativamente, rindo.

–Espera, Edward também doou? – perguntei descrente.

–Ele foi o mais determinado de todos nós! Estava realmente disposto á te salvar. – explicou Alice, sentando-se na ponta da cama.

Meu coração se apertou.

–E onde ele está agora? Quero agradecê-lo.

Alice desviou os olhos.

–Bem, teimoso como só ele, exagerou sabendo que não podia e passou mal! Agora está internado aqui.

–O QUÊ? – gritei alarmada, sentindo uma forte pontada no abdômen.

–Hey menina, acalme-se! Ele está bem! Edward apenas doou uma segunda vez e ficou extremamente fraco! Desmaiou na sala de transfusão, e levaram-no para um quarto de reabilitação, para o mesmo conseguir se recuperar. – explicou empurrando meus ombros, obrigando-me á deitar novamente. – Mas, esta tudo bem, ele ficará apenas essa noite para se recompor.

Suspirei, nervosa.

O aparelho que marcava meus batimentos disparou de forma desenfreada, exercendo um barulho ensurdecedor.

–Calma Bell ou vamos ser obrigados á chamar um médico. – avisou Emmett preocupado.

–Tudo bem! Eu estou bem! Não precisa fazer isso, só fiquei surpresa! – respondi, ajustando-me novamente ao travesseiro.

–Já que tocamos no assunto, acho que vou dar uma passada rápida no quarto dele! – Emmett riu, travesso. – Vou zombar de Edward até a morte por ele está com aquela bunda branca de fora.

Alice gargalhou, fazendo-me franzir o ceio, confusa.

–É que o medico deu um suprimento para ele por uma injeção na nossa frente, entendeu?

–Bem na bunda. – completou Emmett gesticulando para a própria.

Rimos.

–Também vou! Se ele souber que ainda não fui lá, ele me mata! – Alice também se pronunciou.

–Então vamos todos! – sugeri, tentando levantar da cama.

–Onde a senhorita pensa que vai?

Ah, que merda!

X-X

Já se passava das onze da noite. Há muito todos já haviam partido para suas casas depois de um dia exaustivo. Afinal, todos mereciam descanso. Com exceção de meu pai, Charlie, que nesse momento dormia profundamente em um pequeno sofá ao meu lado direito. Acho que o cansaço o dominou, pois até roncando o homem estava. Ao contrario de mim, que insistia em permanecer acordada, olhando para o teto por sobre a escuridão.

Suspirei.

Talvez se eu chamar o médico ele me dê algum remédio para dormir e cessar essa aflição.

Mas, essa inquietação tinha um motivo, com nome e sobrenome: Edward Cullen.

Isso era obvio.

Só o fato de saber que Edward teria contribuído para salvar minha vida, meu coração se exprimia de forma dolorosa. Mas, ao contrario de felicidade, eu sentia tristeza, culpa. Isso mesmo! A culpa me corroia por ter consciência que ele me ajudou e em agradecimento, somente o tratei da forma mais desprezível possível.

Resmunguei, remexendo-me mais sobre o colchão.

–Droga, porque isso tem que ser tão desconfortável? – sussurrei indignada, socando pela vigésima vez o travesseiro cheio de buracos.

Por fim, desisti.

Soltando fogo pelas ventas, sentei-me, trazendo todos os inúmeros aparelhos conectados em meu corpo comigo e ignorando completamente o barulho um tanto alto que esse movimento exerceu.

Suspirei, roendo as unhas. Mais uma vez indecisa.

Desta vez, não precisei pensar muito.

Sim, era isso que eu faria. Eu seria capaz de tudo por ele.

Sorri travessa.

*Simple Plan. – Untitled.*

http://www.youtube.com/watch?v=5_5YcwwnPV4



A adrenalina corria por minhas veias, enquanto eu desconectava todos os monitores, fios, tubos, tudo! O aparelho que monitorava meus batimentos fez seu ultimo bip antes de ser desligado.

Fiquei de pé sobre o chão gelado, e caminhei de forma sorrateira até a porta, ignorando a leve vertigem que a rapidez dos movimentos me proporcionou.

Olhei para os dois lados e vi os corredores desertos. Sai, fechando a porta o mais silenciosamente que consegui atrás de mim. Escorando-me na parede, segui pelo hospital verificando cada porta que me passava pela frente. Em nenhum deles, eu o encontrava.

Subi pelas escadas até o segundo andar, pois se pegasse o elevador, correria o risco de me flagrarem.

Fiz exatamente o mesmo em todas as portas. Foi quando em uma delas encontrei o que tanto procurava.

No quarto 302 estava ele. Minha sina, meu amor, minha vida.

O aposento inteiro estava escuro, somente iluminado pela luz do luar, que entrava pela abertura da janela escancarada. O vento fraco balançava levemente as cortinas claras, fazendo o mesmo com algumas mechas de seu cabelo que se estendia pelo travesseiro. Suas pálpebras tremiam levemente e sua expressão me parecia atordoada. Certamente seu sono não era pacifico.

Adentrei sem qualquer cerimônia, arrastando-me até a cama em que Edward estava adormecido.

Acariciei levemente seu rosto e imediatamente sua expressão se tranqüilizou. Tracei com os dedos cada pedaço de seu rosto perfeito, me demorando nos lábios que se entreabriram minimamente. Contornei seu rosto, afagando seus cabelos macios.

Edward resmungou algo inaudível, remexendo-se na cama.

Segurando suas mãos, deitei cuidadosamente ao seu lado, abraçando seu corpo e puxando-o para junto de mim.

Fitei a janela por alguns minutos, recaindo meus olhos para sua face de anjo.

Suspirei.

–Eu realmente sinto que as coisas sejam assim. – sussurrei em seu ouvido, fechando os olhos.

–Eu também Bell, eu também!

X-X

2 semanas depois...

–O JOGO ESTÁ EMPATADO MEU PÚBLICO. O TIME DE FORKS HIGH SCHOOL ESTÁ POR UM FIO DA VITORIA. SERÁ QUE TEREMOS MAIS UMA TAÇA PARA NOSSA COLEÇÃO? – o locutor se pronunciou quase histérico.

As arquibancadas estavam lotadas, o público estava em polvorosa, os jogadores suavam e corriam pela quadra para garantir o ponto que nos levaria a vitoria. A lideres de torcida gritavam em incentivo, balançando seus pompons verdes para todos os lados.

Alice de pé ao meu lado, gritava eufórica vendo seu namorado se esquivar com maestria dos adversários. Eu gargalhava cada vez que ela se descabelava e a veia se alterava.

Olhei a tempo de ver Edward roubar a bola e correr em direção á cesta. Se ele fizesse esse ponto, seriamos campeões.

–EDWARD CULLEN ASSUMI A POSIÇÃO! ELE VAI CONSEGUIR MEU POVO, ELE VAI CONSEGUIR! ELE CONSEGUIU! O CAMISA 2 GARANTE NOSSA VITORIA E NOS PRESENTEIA COM MAIS UMA TAÇA.

Levantei de meu assento, não agüentando de tanta empolgação.

Edward comemorava com seus amigos, enquanto eu corria ao seu encontro. Queria parabenizá-lo, queria festejar junto com ele.

Sorri em antecipação, abrindo os braços para recebê-lo.

Foi quando Tânia Denali entra em minha frente e agarra-o diante de meus olhos.

Paralisei, respirando com dificuldade.

–Mas, o que...? – as palavras me faltaram, vendo Edward arregalar os olhos e empurrá-la para longe, com a boca suja de batom.

–Bell, não é nada disso que você está pensando! Você viu, ela que me agarrou. – desculpou-se vindo em minha direção.

Meu sangue ferveu como nunca antes, meus olhos embaçaram, minhas mãos coçaram.

Desviei de Edward e cutuquei o ombro de Tânia. Quando a mesma virou-se com um sorriso petulante nos lábios, eu não agüentei. Aquilo havia sido o cumulo. Tânia Denali havia passado de todos os limites, dissolvendo totalmente minha paciência.

Espalmei minha mão em sua face, fazendo um enorme estalo.

Imediatamente a quadra inteira silenciou por completo, nenhum ruído era ouvido.

Observando atentamente a arquibancada inteira arregalar os olhos e ver a expressão perplexa estampada na cara de Denali, eu tive uma conclusão.

Eu nunca mais seria a garota invisível de Forks High School.

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