The Chosen One escrita por Ducta


Capítulo 31
Be prepared to fight till the death




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Nós estávamos nas masmorras do castelo. E isso eu soube assim que fui jogado dentro de uma cela precariamente iluminada pela luz que vinha das tochas nos corredores. Nós fomos separados, Jean foi a única a ser jogada na mesma cela que eu, mas nós não éramos os únicos ocupantes do cubículo. Ocultos pelas sombras haviam três figuras distantes umas das outras. Eu não podia ver seus rostos, mas eu tinha certeza que estavam olhando para nós. Jean não pareceu se importar com isso, começou a andar de um lado pro outro tentando pegar algum vislumbre da cela de Leon pouco mais a frente. Eu achei melhor me acomodar já que não parecia que iríamos a algum lugar tão cedo. Sentei-me no chão, próximo à grade, tentando me manter o mais longe possível daquelas figuras nas sombras. Minha mente trabalhava em tudo o que acontecera lá em cima, principalmente no momento em que eu perdi os sentidos. Eu não sabia o quê havia me feito desmaiar, mas isso não me intrigava mais do que as coisas que Justin dissera. Fiz meu cérebro trabalhar duramente, determinado a encontrar algum sentido naquilo tudo, mas nada me acometeu e eu exalei exasperado. O que fez Jean me olhar.

- Eu estava pensando nisso também - Ela disse como se pudesse ler meus pensamentos. Eu não duvidava que estivéssemos falando da mesma coisa.

- É, mas até nós termos uma conversa com Justin para ele explicar tudo isso, nós temos mais com o que nos preocuparmos. - Eu disse, passando as mãos pelos cabelos.

- Sim, essa coisa de eu e Mabel e você e Calleb. - Jean disse, evidentemente preocupada.

Uma risada fraca e sarcástica nos alcançou, nos fazendo virar automaticamente para as sombras. 

- Vocês vão lutar com Mabel e Calleb? - Uma voz masculina e bastante sarcástica nos alcançou.

- Nós vamos lutar? - Jean perguntou surpresa o bastante por nós dois.

- Oh, não explicaram isso para vocês? - Uma voz feminina perguntou, cansada.

- Eles nunca explicam. - Rebateu o primeiro garoto - Simplesmente nos jogam na arena e que o pior vá para o prato. 

Eu engoli seco.

- Vocês podem nos explicar? - Jean pediu, cuidadosa.

- Não deveríamos. - replicou a garota - Quando nós chegamos aqui, ninguém nos explicou nada.

- Tudo bem. - Jean disse rapidamente - Não precisa explicar, então. A gente se vira.

- Se virarem contra Mabel e Calleb? - O garoto perguntou, sarcástico - Essa eu quero ver.

- Não me subestime, garoto - Jean disse, começando a se alterar.

- Hey! - Eu chamei - Vem aqui, você precisa descançar. - Eu disse indicando o "lugar" ao meu lado.

Felizmente ela não hesitou em largar-se do meu lado. Na verdade desmoronar, porque ela já estava chorando quando sentou ao meu lado. Eu a olhei um pouco surpreso.

- Isso nunca vai acabar? - ela perguntou embargada, erguendo os olhos para os meus.

Eu não queria dizer pra ela que achava que as coisas tinham começado agora, não queria dizer que talvez nunca acabassem ou até mesmo que nós não aguentaríamos até o final. E não disse, guardei meus pensamentos para mim, mas não menti.

- Eu espero que acabe logo. 

Três dias se passaram sem que tivéssemos nenhum sinal de Justin e Alethia ou qualquer alteração nas masmorras. Nós recebemos apenas água, comida não. Jean e eu começamos a conversar com outros nos espremendo contra a grade tentando vê-los. Da nossa cela tínhamos um pequeno vislumbre de Sarah e Leon. As vezes os outros nos mandavam calar a boca e eu creio que Lucas foi esbofeteado uma vez porque simplesmente não acatou a ordem e continuou a conversar em alto e bom som com Thalia. 

Eu nem preciso dizer que estava tonto, fraco e que mal conseguia levantar minha cabeça, não é? Jean dormia recostada em meu braço, porque dormir era tudo o que podíamos fazer. Eu notei que conforme o dia clareava e o pessoal acordava, havia uma expectativa no ar. Alguém falou de comida na cela vizinha e isso me fez prestar atenção no assunto. 

- Vai ser a ruiva! - gritou aquele garoto da minha cela, eu não faço ideia para quem.

- Ela é boa? - Um garoto perguntou, uma voz abafada vinda de longe.

- Bastante carne, isso tem! 

- Hey! - A voz de Leon chegou clara em meus ouvidos - Parem da falar dela!

- Olha só, ela tem alguém para torcer por ela sem interesse! - disse a garota na nossa cela, sarcástica.

Nesse ponto eu estav prestes a cutucar Jean para ela ouvir a conversa também, mas então passos começaram a ecoar pelo corredor e todos os três na minha cela recuaram para seus cantos. Fizeram o mesmo na cela de Leon e Sarah, então eu cutuquei Jean e a empurrei para trás, por segurança.

- O que está acontecendo? - ela perguntou sobressaltada, em um sussurro.

- Acho que vamos descobrir logo. - eu respondi, no mesmo sussurro.

A cela foi aberta e dois homens entraram puxando Jean pelos braços, eu sequer tive change de segurá-la. Ela gritou. Leon gritou. E uma série de protestos seguiu de nosso pequeno grupo, mas logo os gritos dela estavam longes demais e então a gente não podia ouvir mais nada. Nenhum dos outros respondeu quando perguntamos o que estava acontecendo, mas eles estavam todos animados. Com o quê, meus deuses?


Uma, duas, três horas andando pra lá e pra cá na cela, preocupado demais para lembrar que eu estava faminto. E então a cela tornou a ser aberta, mas dessa vez ninguém foi puxado. Eles saíram de boa vontade, com sua estranha animação e eu os segui. Entrei em um grupo desordenado com os meus companheiros e nos deixamos ser conduzidos pela massa formada por outros 20 garotos e garotas de várias idades. Agora eu percebia o quão surrados e maltratados eles eram. E comecei a ter uma ideia do que tudo aquilo se tratava. Nós fomos levados ao que obviamente era a parte debaixo de arquibancadas. Havia uma grade de onde era possível ver uma arena de terra, em formato oval e arquibancadas se estendendo acima. Nosso grupo das masmorras se espalhou ao redor da grade, todos tentando obter um bom lugar colados na grade. Nós não ficamos para trás. Foram necessários alguns chutes e cotoveladas, mas Leon, Thalia, Lucas, Sarah e eu conseguimos um bom ponto de vista. 

As arquibancadas acima de nossas cabeças estavam lotadas e percebíamos isso pelo barulho de passos acima. Por um momento temi que aquilo tudo fosse desabar em cima de nós.

- Bem-vindos, sejam todos bem-vindos a mais uma rodada do nosso torneio semanal - Anunciou uma voz clara e empolgada de homem por aquela espécie de auto-falantes que se encontravam por todos os lados. - Essa semana nós temos atrações inéditas. Um novo escalão de lutadores chegou. Fortes, saudáveis e prontos para lutar até a morte.

Eu soube que ele falava de nós e isso me perturnou horrivelmente. Lutar até a morte? Era disso que se tratava então? Entretenimento as custas de nosso sangue. Ao meu lado, Leon arfava terrivelmente, obviamente passando mal. E eu sequer precisei perguntar o porquê. Esse homem nos classificara como fortes e saudáveis quando na verdade estávamos famintos, fracos.

- Ela vai se sair bem - Lucas disse de repente, evidentemente tenso - Ela é a melhor do Acampamento, certo?

Exatamente a nossa frente, do outro lado da arena, uma das grades se abriu e uma garota alta, magra, de cabelos negros curtos e pele de oliva, vestida em uma roupa de gladiadora bem típica, pés descalços, uma espada de quase um metro em uma das mãos e um escudo na outra. Ela seria linda se não fosse aquele ar selvagem que ela tinha, como se não precisasse da espada para matar alguém. A garota foi ovacionada com bastante entusiasmo pela multidão e pelos garotos e garotas ao nosso lado. Obviamente já era uma queridinha do público.

De um ponto exatamente ao nosso lado eu pude ouvir o som de outra grade se abrindo. 

- Jean! Jean! - Leon começou a gritar imediatamente. 

- Leon! - Ela chamou, obviamente assustada.

Não demorou nada para que ela nos visse e corresse para a grade. Ela estava vestida exatamente como a outra garota. Seus longos cabelos castanho-avermelhados caindo perfeitamente penteados pelas costas. 

- Senhoras e senhores, essas são as nossas lutadoras de hoje: Mabel Littora e Jean Dewit!

A multidão foi a loucura. Leon passou as mãos pelo vão da grade e segurou o rosto de Jean em suas mãos, tremendo, urgente.

- Leon... - Ela começou a beira do choro.

- Shh - ele fez rapidamente - Me escuta, isso é um show, entretenimento. - Ele disse muito rápido - Mas é até a morte.

- Morte? - Ela repetiu em pânico.

- Ou você, ou ela. 

A multidão começou a gritar, pular, torcer. E de novo eu achei que as arquibancadas iam desmoronar em cima de nós.

- Jean ela está vindo! - Thalia alertou.

Lucas estava certo, Jean era a melhor do Acampamento pelo o que eu ouvira quando estive lá. E foi honrando tal título que ela  defendeu o golpe furioso da espada de Mabel. E revidou. Ao meu lado, Leon mal respirava. Creio que nenhum de nós respirava direito. Jean fazia uma boa luta, mas em grande parte só se defendia, porque era tudo o que ela podia fazer. Meu coração martelava pesado por Jean. Eu estava com medo por ela. Mas desviei minha atenção por um momento e olhei para as arquibancadas a procura de qualquer sinal de Alethia. Tentei me concentrar nos rostos, mas eu ainda me sentia um pouco tonto, foi difícil. Eu comecei a andar ao redor da arena, aproveitando que tinha bastante espaço para vagar por ali e podíamos ter uma visão de 360º da arena e das arquibancadas. Mas eu não achei ela, apenas Justin. Sentado bem acima de onde nós estávamos, rodeado por pessoas bem-vestidas, incluindo aquele ser com aspecto cadavérico. Eu tentei chamar sua atenção, não gritando, é claro. Acenei freneticamente, mas seus olhos estavam presos em Jean. Eu a olhei. Havia um grande corte em sua perna, e vários outros por seus braços e rosto, mas ela não estava desistindo da luta.

- Lembrando que Mabel já derrubou doze lutadores! - Disse aquele homem que as introduzira no começo, agora eu o via, ele estava sentado perto de Justin com uma espécie de microfone nas mãos.

Eu queria gritar para Jean, mas me mative calado por medo de distraí-la. Mas eu comecei a ficar realmente apreensivo, pois Mabel não estava nem de longe tão ferida quanto Jean.

- Não tenho dúvidas, quem vai vir pro prato é a ruiva! - Disse um garoto ao meu lado, empolgado. - E isso é uma pena, ela é tão bonita...

Eu queria muito saber o que era essa coisa de ir para o prato, mas eu não perguntei, voltei a me concentrar em atrair a atenção de Justin. Ele parecia bem, apesar de tenso. Com certeza ele fora alimentado esses dias. Ele não tirava os olhos de Jean.

Eu corri de volta para os outros.

- Achei Justin.

Lucas, Sarah e Thalia me olharam imediatamente, Leon sequer se mexeu. Continuou a gritar incentivos para Jean. Eu disse onde Justin estava e que Alethia não estava a vista. Um gongo soou e Mabel deixou sua espada cair. Ofegante, ela foi para trás e se largou no chão. Era uma pausa. Jean ofegava mais ainda, mas não largou a espada, cambelou até onde estávamos e deixou-se cair recostada a grade. Leon abaixou-se e rapidamente começou a sussurrar estratégias para ela. Eles eram mais do que um casal, eram uma equipe. Ele não estava tão tenso então, estava prestando atenção na luta para ajudá-la. Por isso ele gritava tanto.

Lucas começou a contar em voz baixa. Cinco minutos, essa foi a pausa. 

- Volta pra mim, sim? - Leon disse fechando os olhos.

Jean apenas assentiu.

O gongo soou novamente e Jean e Mabel voltaram ao centro da arena. Lucas recomeçou a contagem.

- Thalia - Eu disse em voz baixa. - Você tentou falar com Ártemis?

- Claro que sim. - Ela disse, mas parecia exasperada - Nenhuma resposta. Essa deve ser terra de além-deuses.

- Ótimo. - Eu disse sarcástico.

Passei as mãos pelos cabelos, começando a entrar em pânico. Eu precisava saber de Alethia, precisava que Jean conseguisse, precisava dar um jeito de nos tirar dali.

- Nós devíamos eletrocutar todo mundo - Eu disse para Thalia, exasperado.

Mas assim que ela fez menção de abrir a boca para responder, a multidão explodiu nos assustando. Eu rapidamente me virei para a arena. Mabel estava caída por cima de Jean. Não dava para ver seus rostos, então eu me concentrei no de Leon. Ele estava tenso, maxilar trancado, segurando a respiração.

Aos poucos o barulho foi diminuindo e o único som que se sobrepunha eram os ganidos das garotas na arena. Eu fizei meus olhos na figura de Jean claramente lutando para se livrar de Mabel. Então, com um urro de dor ela jogou Mabel para o lado e ergueu-se em seus joelhos. Sangue correndo em grande quatidade do lado esquerdo de seu corpo, onde ela tinha as mãos. Seu rosto era pura dor enquanto ela se arrastava para longe de Mabel. Eu olhei para a garota, caida e cruelmente senti meus ombros relaxarem quando vi uma espada atravessada em sua caixa toráxica.

- Morta. - A voz de Justin ecoou pela arena.

No segundo seguinte a multidão vibrava pela vitória de Jean, mas ela de desmanchou em lágrimas de horror e dor. 

Todas as grades que rondavam a arena, no ponto onde estávamos foram abertas. Leon e Lucas rapidamente correram para Jean e a trouxeram para onde nós estávamos.

- Você foi muito bem, meu amor. Incrível! - Leon dizia, afagando seus cabelos.

Sarah saiu correndo no meio da confusão dizendo que iria procurar alguém para ajudar Jean. Eu só me dei conta do motivo pelo qual a arena havia sido aberta quando finalmente reparei no motivo da confusão. Nossos comapnheiros, armados de pequenas lâminas, punhais, pedras afiadas, vidros e afins correram até o corpo de Mabel e claramente começaram a lhe multilar. Ninguém nas arquibancadas parecia se importar. Eu não consegui me mover de horror. Não por estarem multilando a garota, mas porque começaram a come-la. Meu estômago revirou e eu pus pra fora toda a água que eu ingeri nos últimos três dias. Só então eu me lembrei do que eu tinha que fazer. Fui até onde eu vira Justin, esperando que ele não tivesse ido embora, por sorte ele ficara tão horrorizado quanto eu e ficara lá, estático. 

- Justin! - Eu chamei, certo que ninguém me notaria no meio da confusão.

Ele olhou dessa vez.

- Ela está bem. - Ele me disse rapidamente. Eu assenti, um pouco mais tranquilo. - Onde vocês estão?

- Nas masmorras, dá um jeito de tirar a gente de lá! - eu disse.

Ele assentiu com firmeza, mas então nos viram. Ele foi puxado por dois homens para fora das arquibancadas. Eu voltei para o nosso grupo.

- Se você correr, talvez consigap pegar uma costela. -Disse aquele garoto da minha cela passando por mim com as boca completamente ensanguentada, segurando algo em suas mãos juntas em formato de concha. Eu nem olhei para ver que parte de Mabel era aquela. 

Então isso significava ir para o prato. Se você morresse na arena, viraria alimento para os outros. Que nameira cruel de fazer aqueles garotos lutarem pela sobrevivência. Matar para comer ou morrer de fome. Eu certamente morreria de fome. Eu seria o próximo a lutar e ali, naquele momento eu prometi a mim mesmo que eu sairia vitorioso da arena, mas que morreria de fome nas masmorras. Matar alguém não era tão ruim quando se pensa no canibalismo que se segue.


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Notas finais do capítulo

Yep. I'm alive.



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