Muita coisa aconteceu nessas últimas semanas. Muitas delas pessoais demais para serem comentadas (como as noites que passei com Damon em Amsterdã, em nossa lua de mel).

Mas posso dizer que no fim das contas, não estava chateada com a "operação-lua-de-mel-surpresa". Nadinha chateada. Na verdade, ao chegar à Fell's Church, eu tinha abraçado e agradecido às duas diabinhas até não poder mais.

Amsterdã era uma cidade maravilhosa, os restaurantes eram ótimos, e os passeios foram muito românticos. Foram duas semanas de tirar o fôlego.

Agora que voltamos para casa, eu finalmente parei de vez com a escola. Não que eu não gostasse de lá; eu tinha vários amigos e tudo mais, o problema era que eu sou uma recém-casada agora, e quero ficar o maior tempo possível perto de Damon.

E além disso, minha barriguinha discreta, agora está beeem maior. Não sei como, de uma hora pra outra, o bebê começou a crescer em um rítimo muito maior. Eu pareço estar grávida de seis meses. Talvez seja por causa do monte de sangue humano que me fazem beber. Tudo o que eu escuto é "Beba tudo, é pro bem do bebê", "Desligue essa TV! Se você visse menos Friends e saísse mais para caçar.." e "Chega de cheetos, o bebê vai nascer obeso! Ele precisa é de sangue."

Ai ai.. não aguento mais esses "conselhos amigáveis". Suspiro. Uma grávida precisa de paz, não?

Hoje é um dia muito especial. Estou deitada no sofá, de pijama, e comendo meus cheetos. Enquanto (é claro) assisto a reprise de Friends.

Tá, tá. Eu sei que isso não parece lá muito especial. E na verdade não é. O acontecimento realmente especial vai ser assim que Damon voltar com meu carro (que eu mandei encerar), quando iremos ao hospital, fazer o primeiro exame de ultra-som. 

Pelo tamanho de minha barriga, estamos esperando que esse exame já mostre o sexo do bebê. Elena e Bonnie mal podem esperar para começar a decoração do quarto e as compras de roupinhas. 

Estava começando a assistir mais um episódio, quando ouvi Damon chegando. 

- Oi amor! - Eu disse enquanto enfiava meus dedos amarelados dentro do saco decheetos pela milésima vez. Eu amava o som crocante que aquilo fazia.  

Comecei a rir, aquela gargalhada que me vazia chorar; quando senti as mãos de Damon eu meus ombros. Olhei pra cima.

- Bom dia, amor. - Disse ele. E então revirou os olhos. - Porque eu não estou surpreso de chegar em casa e encontrar essa cena? - Disse ele se referindo ao meu passatempo preferido, que era tão reprimido por eles. Eu senti que tinha que me defender.

- Hey! Eu sou uma mulher grávida, que não tem mais nem sequer a distração de ir à escola. Friends é a melhor série de todas, e eu amo cheetos. Já me alimentei o bastante, e o bebê está ótimo. E eu estou sozinha em casa, e daí se eu gosto de ficar de pijama?? Você é meu marido agora, não pode ficar me julgando, ok? - Eu disse tudo num fôlego só. Estava cansada de todos tentando mandar em mim. Posso ser pequena, aparentar ser a mais nova do grupo e estar grávida, mas ninguém diz a Elizabeth Salvatore o que fazer! (¬¬)

Ele continuou me encarando, aturdido. Talvez não tivesse notado o quanto todas aquelas críticas me irritavam. Eu me arrependi depois de terminar de falar. De todos, Damon era o que pegava mais leve comigo. Ele nem ligava se eu queria passar o dia vendo TV; ele só cuidava para que eu não chegasse perto de bebidas alcoólicas nem deixasse de caçar com regularidade. 

- Olha, me desculpa, ok? Eu não devia jogar tudo pra cima de você desse jeito. - Suspirei. - O problema é que eu não aguento mais ouvir repreensões e ordens o dia inteiro, todo dia. Isso está me sufocando. Uma hora eu vou acabar matando alguém asfixiado dentro do saco de cheetos.  

Ele riu. Na verdade, o que eu disse era sério. Não era para rir. Mas tudo bem, se aliviou o clima..

- Tudo bem, eu sei que deve ser muita coisa pra você, Lizzie. Mas você tem que entender que tudo o que fazemos é para o seu bem. E do bebê também. - Ele analisou meu biquinho. - Ok, eu falo com eles. Vou dizer ao trio para te deixar em paz, certo? Não precisa matar ninguém com esse troço fedorento de queijo artificial. - Disse ele fazendo uma careta em direção ao saco enorme que estava em meu colo.

Eu ri. 

- Obrigada, Dam. Eu te amo. - Eu disse sorrindo. - E então, nós vamos fazer o exame ou não?

- Só depois que você estiver arrumada e sem esse cheiro, por favor. Me dá náuseas. 

- Imagine a sensação toda manhã. - Eu disse rindo. Na verdade a fase de enjôo matinal já tinha passado. Finalmente.

Eu me levantei e desliguei o dvd. Levei o saco de cheetos até a cozinha e lavei as mãos. Voltei para a sala,e antes de subir as escadas, soprei um beijo para Damon. Ele sorriu.

- Eu não demoro! - Gritei lá de cima. Não que eu precisasse gritar para que ele me escutasse, mas o chuveiro já estava ligado, e fazia barulho.

Tomei um banho e me arrumei rapidamente.

(http://www.polyvore.com/months/set?id=26527124)

Desci as escadas e encontrei Damon na sala, sentado no sofá. Fomos pro meu carro, mas ele dirigiu. Eu deixei porque, sinceramente, a barriga me atrapalhava um pouco.

Chegamos ao hospital, e fomos até a recepcionista. Ela nos deixou entrar imediatamente, e não se lembra mais disso, graças ao meu querido marido. Ele não me faria esperar, e nem sequer tínhamos hora marcada.

Entramos no consultório, e o médico aparentava uns sessenta e poucos anos,e se apresentou como Dr.William. Ele tinha uma expressão amável, e emanava uma onda de tranquilidade.

Ele nos cumprimentou, e me ajudou a deitar na maca com o forro descartável. Levantei a blusa até que a barriga ficasse toda para fora, e ele passou um gel gelado nela. Enquanto ele ajeitava o aparelho do ultra-som e o monitor, Damon chegou perto de mim e segurou minha mão. Parecia tão ansioso quanto eu.

- Prontinho. - Disse o médico. - E então, são seis meses, não? 

Eu fiz que sim com a cabeça. Era mentira, é claro. Eu estava grávida à cerca de seis semanas. Mas ninguém podia saber.

- Então quem sabe nós não descobrimos se é menino ou menina? Vocês querem saber ou preferem surpresa? - Perguntou ele delicadamente.

- Nós queremos saber. - Disse Damon sorrindo para mim.

- Tudo bem então. Vamos lá. - E assim ele encostou o aparelhinho em mim, e começou a desliza-lo por minha barriga.

A imagem no monitor não fazia sentido. Estava tudo confuso demais. Isso eram.. Três pés?? Meu bebê era deformado!!!

O médico viu que eu estava entrando em pânico, e várias lágrimas escorreram por meu rosto. Eu olhei para Damon; ele parecia pasmo, mas de um jeito bom. Ele sorriu para mim, como se eu estivesse chorando de felicidade. Ele tomou um susto enorme quando eu comecei a soluçar.

- Lizzie, o que houve? Calma. É uma notícia boa! - Ele passava a mão por meu cabelo, tentando me acalmar. O médico olhava pra encabulado.

- Eu nunca vi uma reação como essa.. O máximo que já houve foram mães preocupadas com os gastos a mais, mas elas nunca ficaram tão apavoradas.

- O-o que?? Me-meu bebê tem três pés, e vo-cês estão levando isso nu-numa boa??!

Os dois se encararam por alguns segundos, e depois começaram a rir. Sério, a rir de mim.

- Por que vocês estão rindo?! - Perguntei furiosa.

- Lizzie, amor. O bebê não tem três pernas. São quatro.  - Sim, ele estava tentando me fazer ter um infarto. - E quatro mãozinhas. Duas cabeças.. Você não vê? 

Meu pânico era tão grande que eu não entendia o que ele estava dizendo. Simplesmente balancei a cabeça, negando, e chorando convulsivamente. O médico suspirou, era como se estivessem lidando com uma criancinha de cinco anos.

- Lizzie, são dois bebês. Nós vamos ter gêmeos! - Disse ele com um sorriso enorme. E tentando limpar minhas lágrimas.

- O que? - Perguntei em um sussurro. Olhei novamente para a imagem no ultra-som. Olhando dessa forma, imaginando dois bebês, ficou claro pra mim que eram perfeitos. Duas mãozinhas cada um, juntinhos como se estivessem se abraçando. Meus bebês.

Eu tinha aceitado a ideia de nunca poder ser mãe, descobri estar grávida, e agora eu ia ter dois bebês! Eu era a pessoa mais sortuda do mundo!

Novas lágrimas escorreram por minha face, mas dessa vez eram de felicidade. A maior felicidade de todas. Virei-me para Damon e joguei meus braços em volta de seu pescoço. Dei um abraço tão forte que se ele fosse humano já estaria morto agora.

- Vamos ter gêmeos!! Vamos ter dois bebês! - Eu disse praticamente cantando. - Eu te amo Damon. Vamos ser a família mais feliz do mundo!

- Hey, desculpe interromper, mas vocês não querem saber o sexo dos bebês? - Disse o médico meio envergonhado de atrapalhar o momento "família feliz".

- Queremos. - Disse Damon com seu sorriso que espelhava o meu. Sim, todos os dentes reluzindo. 

- Vejamos.. Este daqui - Disse o dr.William apontando para um dos bebês no monitor. - é um menino.

Damon deu um beijo no topo de minha cabeça.

- E o outro.. uma menininha. Parabéns, vocês terão um casal! - Disse o médico sorrindo para nós. Ele guardou o aparelho e limpou o gel de minha barriga enquanto falava. - A boa notícia é que ambos estão saudáveis, e são perfeitos. Já tem as mãos e os pés formados, mas são um pouco pequenos para seis meses.  - Eu olhei para Damon e dei de ombros. Eles eram bem grandinhos para seis semanas. *-*

O modelo de gestação de nove meses não servia de padrão para nós. O importante é que eles estão saudáveis.

Conversamos mais um pouco com o médico, e depois infelizmente, tivemos que apagar a memória dele, para que ele não se lembrasse de nós na próxima consulta.

Não teria como explicar o crescimento da barriga em tão pouco tempo, e eu tinha gostado da delicadeza desse médico. Ele não fazia muitas perguntas.

Fomos embora, alegres como nunca, e doidos para dar aos nossos amigos as boas notícias.