Não Pare a Chuva escrita por sheisbia


Capítulo 20
Capítulo 20 - Falando sobre o passado


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que seria narrado pela Nin, não é? Mas alguém me fez mudar de ideia, então o Tom continua narrando!



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Quando nos distanciamos eu percebi que não sabia mais o que fazer. Eu podia continuar a beijando durante horas ou esperar ela sair correndo como sempre fazia por estar arrependida. Afinal, eu sabia que ela estava, e muito. Nicole sempre foi orgulhosa, mas não era isso que fazia com que ela se arrependesse, era medo. Do quê? Eu também não sei. Mas era medo, eu tenho certeza.

Eu sorri e ela afundou a cabeça em meu peito enquanto pensava naquilo. Você já teve uma garota nos seus braços e nunca mais quis soltá-la? Pois é assim que eu me sentia.

— Posso te contar uma coisa? — ela sussurrou e pude senti-la sorrir.

— Claro.

 

Ela tomou fôlego e continuou da maneira que estava.

— Eu era muito apegada aos meus avós. Quando os meus pais brigavam, eu fugia pra casa deles e ficava lá até que as coisas voltassem ao normal. Então eles se mudaram para outra cidade e eu não tive mais pra onde fugir, em toda briga eu me escondia dentro do armário ou embaixo da cama — ela riu. — Mas eu fiquei grande demais pra isso e voltei a fugir, me encontrando sempre com o Bill. Nós três sempre fomos amigos, lembra? Mas acho que só nessa época eu passei a considerar ele um irmão pra mim.

 

Ela voltou a segurar uma de minhas mãos enquanto falava.

— Era isso que eu sempre fazia, eu fugia... Meus pais finalmente estavam se acertando quando meu avô foi internado. Ele escreveu aquela carta sabendo que ia morrer e me entregou. A única frase em português foi a única que se dirigia à minha avó, o resto é para mim. E minha avó me deu aquele caderno um mês antes de tudo acontecer, disse que eu deveria colocar coisas importantes nele e que ela iria ler tudo quando eu escrevesse a última linha.

— É por isso que guarda aquilo com tanto cuidado?

— Exatamente.

 

Notei algo quente tocando meu peito através da camiseta e tive certeza de ser lágrimas. Eu não queria encará-la, acho que durante todo o tempo que passei perto da Nin, uma ou duas vezes ela chorou na minha frente.

— Vamos voltar — ela disse baixo.

 

Eu nem ao menos tinha notado que a chuva havia cessado completamente. Eu concordei em ir embora daquele local, afinal, já deveríamos ter deixado todos preocupados e famintos. Fiquei com a história na cabeça por muito tempo durante o caminho, mas não deu tempo de refletir ou algo do tipo, pois logo chegamos em casa.

Ao contrário do que eu esperava, ninguém parecia estar preocupado, pois todos, exceto Olívia, estavam reunidos na sala de jantar jogando pôquer.

— Finalmente! — gritou Bill. — Por que demoraram tanto?

— Deve ser porque tinha uma tempestade lá fora — eu disse com pouco humor.

— Isso não é desculpa, por que não ligaram para um de nós ir buscar? — indagou Penny.

— Não tinha sinal — Nicole disse, jogando as compras na mesa e acabando com o jogo. — Vocês nem se importaram em ligar ou ir buscar, não é? Será que ninguém se preocupou com a amiga totalmente indefesa no meio da tempestade na companhia desse idiota?

— Obrigado pela parte que me toca.

 

Ela riu e sentou-se em uma cadeira.

— Não precisava destruir tudo — Bill disse, recolhendo as cartas.

— Ah, me desculpa, mas você ia ganhar mesmo. Você sempre rouba!

 

Bill encarou-a com um olhar quase assassino, mas devo dizer, Nicole tinha razão. Julie não desanimou e levantou-se, levando as coisas para a cozinha e cantarolando algo como "eu vou cozinhar". Penny a seguiu junto com Nicole.

— Onde está a Olívia?

— Quando a chuva parou, ela foi para a piscina e não voltou — Georg respondeu.

 

Eu não era muito fã da garota, mas por um pingo de humanidade que me restou, fui procurá-la e Bill me acompanhou. Ela realmente estava ao redor da piscina, com os pés dentro d'água, chutando. O chão não estava molhado por causa do telhado que cobria a piscina, mas a saia branca que ia até um pouco acima do joelho dela estava toda molhada. Parecia uma criança.

— Você tá bem? — perguntei, despertando sua atenção.

— Mas é claro.

 

Ela sorriu e eu sentei-me perto dela, assim como Bill.

— E vocês? Voltaram agora? — ela completou, fitando as ondas que nasciam na água dos chutes desajeitados que ela dava.

— Sim.

— Ele ligou?

— O quê?

 

Ela abaixou a cabeça e suspirou.

— O pai dela ligou? — ela reformulou sua questão.

— Não, o celular estava sem sinal... Por quê?

— A Nin tá esperando o pai ligar desde que nós chegamos aqui — disse Bill. — O Matt disse que ele ligou na casa dela no dia que saímos.

— Espera, me explica direito! — pedi. — Por que o Matt sabe disso? E por que a Nin quer falar com o pai? Não é só ligar pra ele?

 

Ambos suspiraram, e eu me senti idiota.

— O Frank, o pai dela, é uma boa pessoa — Olívia disse. — Mas ele não se importa muito com a filha, sabe? Ele se mudou pra outra cidade sem nem se importar com a distância e não veio visitá-la desde então. Não entenda errado, ele ama a Nikky, mas não tanto quanto ela o ama. Ele concordou com ela visitá-lo, mas no dia que viajamos ele disse que talvez teria que trabalhar e essas coisas todas.

— E o Matt é amigo da mãe dela, então a Nikky pediu pra ele cuidar dela, então ele tá visitando ela durante essa semana.

 

Que Frank não se importava com ela eu já sabia há muito tempo.

— De onde a Nikky conhece ele? — perguntei.

— Eles se conheceram na escola, se viam todo dia mas conversavam pouco. Até o dia que Nikky estava num lado da cidade que ela mal conhecia e passou do lado de um carro que estava sendo lavado por Matt.

— Ele jogou um balde de água no momento que ela passava — Bill continuou. — Isso é o que eles contaram.

— A Nikky disse que ele estava sem camiseta e vestia só uma bermuda marrom e tênis, com certeza foi isso que fez ela não ficar brava — Olívia disse, rindo.

— Quem disse que ela não ficou brava? — Bill sorriu. — Do jeito que eu a conheço ela deve ter xingado até não ter mais voz.

— O Matt chamou ela pra entrar na casa dele e trocar de roupa, com certeza com outras intenções!

— Ele só foi gentil e ofereceu as roupas da irmã! Cá entre nós, se a Nin fosse uma desconhecida eu não teria feito nada disso com aquela péssima educação.

— Ah, Bill! Você nem sabe se ela foi ou não educada! — Olívia disse, mas eu concordava com o Bill. — Continuando, ele ofereceu ajuda, ela vestiu as roupas da irmã dele e eles conversaram. Pelo menos é o que eles dizem, eu duvido muito!

— Que romântico — eu disse, rolando os olhos.

 

Eu fiquei incomodado com aquela história, por mais que eu discordasse de Olívia, eu também conhecia Matt e algumas coisas que ela dissera podiam estar certas, isso me deixou irritado. Eu estava começando a entender esse negócio de "ciúmes" e não gostei nada disso.

— Não demorou muito depois disso para eles ficarem juntos — continuou a tagarela. — O Matt nunca pediu ela em namoro, mas eles se comportavam como se aquilo já tivesse acontecido. Eles saiam juntos quase todos os dias e estavam bem, até que eles terminaram.

— Por quê? — indaguei, a esta altura eu também estava curioso.

— Uma vez os pais dela brigaram e ela sumiu durante três dias. Não contou nada para eles ou para o Matt. Quando ela voltou, eles brigaram por causa disso, mas você sabe que as brigas dela nunca ficam por menos, né? Então eles terminaram, assim, do nada. Se for contar por esse lado, eu tenho um pouco de influência nisso.

— Como assim?

— A Nicole não sumiu, ela estava na minha casa — eu a encarei com curiosidade. — Olha, nem sempre nós fomos amigas. Quando eu a conheci nossas personalidades fortes não se bateram e brigávamos o tempo inteiro. Não como ela faz com você, eram brigas sérias. Então, um vez, ela me pediu desculpas e me convidou para ir no shopping. Eu comecei a rir, mas ela ficou quieta e apenas sorriu quando deu as costas, eu não tinha amigo nenhum naquela escola e ela foi gentil comigo.

— Entendi.

— Bom — disse Bill. — Depois da briga, ela e o Matt ficaram bons tempos sem falar um com o outro, mas não durou muito. Eles voltaram a conversar, mas como amigos.

 

Suspirei, estava digerindo todas aquelas informações. Não podia imaginar a Nin sendo gentil ou com o Matt, ou talvez não quisesse. De qualquer forma, eu fiquei pensando também no que poderia ter acontecido caso eu nunca tivesse partido daquela cidade.

— Tom — Olívia me chamou. — O Matt é maravilhoso em todos os sentidos, não que você não seja, mas... A questão é que eu conheço o Matt, ele jamais desistiria daquela garota por uma briga boba. E a Nicole também não é boba de perder tudo aquilo. Então...

 

Senti algo quente e macio tocar meu ombro e, quando olhava para Olívia, vi uma mão tocar-lhe o ombro também. Suspirei e olhei para trás, e lá estava Nicole, com um olhar desafiador, lábios rosados e um sorriso estampado nele.

— A Nicole o quê? — ela perguntou.

— Ah, oi Nikky — Olívia disse. — Eu estava falando mal de você com seu amor, digo, amigo.

 

Olívia riu e recebeu um olhar de fúria da menor. Bill ria baixinho e eu apenas observava tudo. Ela sentou-se entre nós e continuamos conversando por poucos minutos, até que o celular dela tocasse. Ela pegou-o e observou a tela por muitos segundos, com uma expressão séria, e só depois atendeu.


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Notas finais do capítulo

Desculpa pela demora, eu tirei uma sexta (o dia que eu normalmente posto) de folga por ser meu aniversário e na última sexta eu não consegui escrever nada mesmo. Então mais beijos pra Lovethek que sempre me ajuda e me ama muito.

Já estamos no capítulo vinte e, seguindo o pensamento que eu tinha quando criei a fic, ainda tem muito chão pela frente! Esse capítulo parece ser pura enrolação, mas é importante pra esclarecer algumas coisas que ficaram pra trás. Se tiver algum erro me avisem. Reviews?