Não Pare a Chuva escrita por sheisbia


Capítulo 2
Capítulo 2 - Ouça a chuva


Notas iniciais do capítulo

Tom aparece pela primeira vez.



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    O sol atravessava as janelas grandes daquela casa e um silêncio mortal dominava o lugar. Eu estava na cozinha, preparando meu café da manhã sem café. Fui até a sala e liguei a televisão, nunca fomos uma família de fazer refeições na mesa. Quando sentei no sofá, pude ver minha mãe na varanda, o que era muito estranho, ela quase não fazia visitas naquela parte da casa.
     — Mãe? — sorri, aproximando-se dela. — Aconteceu alguma coisa?
    — Não, eu só estava pensando — ela deu uma breve pausa. — Acho que vou visitar a sua avó no final de semana e como eu já sei que você não vai querer ir... Bom, acho que podia passar o final de semana com seu pai.
    — Mãe — eu sorri, tentando parecer gentil. — Eu tenho quase vinte anos...
    — Você não chegou nem ao menos nos dezoito, Nikky.
    — A questão é que eu sou grande mãe, é só uma noite, eu posso ficar bem. Visito o pai outro dia.
    — Mas se acontecer alguma coisa, quem vai cuidar de você? Eu estarei em Berlim, não posso.
    — Qualquer coisa eu fico na casa do Bill, mas é sério, não vai precisar, nem vou sair de casa.  — Pode falar, eu sou um amor, certo?
    — Ok.

    Sorri satisfeita com meu teatro, em certas ocasiões ele funcionava perfeitamente bem. Não que isso tudo seja mentira, eu posso realmente ser responsável, mas a questão é como lidar com isso tudo.
    Era feriado e o dia estava maravilhoso, depois de tomar meu café da manhã eu liguei para Penélope e perguntei se ela queria sair, ficar em casa estava me sufocando. Infelizmente, Penny disse que iria sair com o pai, mas me convidou para uma festa no final de semana, achei perfeito. Eu não gostava de festas, mas eu sabia me divertir com elas. Confesso que depois daquela ligação eu perdi totalmente a vontade de sair com alguém, mas eu precisava ir comprar uma pecinha para o meu notebook logo.
    Me arrumei o mais rápido que pude, com um short, uma meia-calça e uma camiseta xadrez, nem ao menos peguei uma blusa, achei que não iria demorar muito.
    O shopping estava lotado, nesse dia ele abrira em horário reduzido e somente em algumas lojas, torci para que a loja que eu estava a caminho estivesse aberta. Não sei porque, mas apressei o passo, a ansiedade de ver meu notebook funcionando outra vez me fez correr. Infelizmente, a loja não abriria naquele dia. Eu estava cansada e irritada, há algumas semanas eu estava atrás disso e não conseguia. Por fim desisti, começou a fazer um frio terrível dentro daquele shopping e não era pra menos: em meia hora o tempo havia mudado completamente, estava fechado, prestes a chover. Decidi sair e voltar pra casa antes que pegasse chuva.
    Não pude deixar de notar garotos da minha idade na entrada do shopping, conversando com uma garrafa sem rótulo nas mãos e alguns cigarros. Não prestei atenção em seus rostos, eles estavam de saída. Voltei a me apressar, o céu estava cada vez mais escuro.
    Depois de passar por cinco ruas diferentes, o caminho se tornou silencioso, mas eu ouvi passos desde que havia saído do shopping, por um segundo achei que estava sendo seguida e que seria roubada a qualquer instante. Quando virei a rua novamente, não me aguentei e tive certeza, virei meu rosto e o corpo e parei no meio do caminho, fazendo o garoto que andava atrás quase cair em cima de mim.
    — Você tá louca?! — o garoto falou em tom alto de voz, mas não chegou a gritar.
    — Eu... — Eu calei assim que vi seu rosto. — Tom?

    Ele uniu a sobrancelha, confuso. Sorri tímida e depois desfiz o sorriso, percebendo o que havia acabado de fazer.
    — A gente se co...
    — Sou eu, Nicole. — Isso parecia ridículo.
    — Nin?!

    Ele sorriu, quase rindo, como se fosse uma piada. Talvez não acreditasse que fosse eu, não sei. Também demorei a reconhecê-lo, estava grande, com um corpo mais... enfim, ele estava bonito, e isso não dá pra negar.
    — Você não cresceu nada — ele disse. — E ainda tem cara de quinze anos.
    — Você não me viu aos quinze anos — rolei os olhos.
    — Desculpa... — Ele riu. — Você tá diferente.
    — O que está fazendo aqui?
    — O Bill não contou? Eu vim passar um tempo aqui. Pensei que ainda eram amigos.
    — Nós somos. Acho que ele só me conta prioridades.

    Sorri irônica. Tom Kaulitz era o irmão de Bill, só que uma versão mais sedutora e que amava me irritar. Eu não o via desde os doze anos, quando ele foi morar com o pai. Ele era meu amigo, mas nossa amizade não era tão feliz. Notei que ele iria responder alguma coisa quando olhou para cima, senti gotas caindo fortes do céu e molhando meu rosto. De repente uma chuva forte caiu sobre nós. Corremos até debaixo do toldo de uma das casas da rua para tentar nos proteger.
    — Ótimo! — ele me olhou fazendo uma careta, mas não estava muito bravo.
    — Que foi? Eu não mando no tempo agora.
    — Mas me fez perder o meu.

    Bufei e me sentei no degrau que havia, a chuva era forte, não iria parar tão cedo.
    — Eu deveria ter trazido uma blusa — me culpei.
    — Você não é muito atenciosa.
    — Olha só quem fala... — Eu fechei os olhos, cansada. — Quando você chegou?
    — Segunda.
    — E até quando vai ficar?
    — Tá tentando saber quantos dias vai poder desfrutar da minha adorável companhia? — ele sorriu.
    — Não mesmo.
    — Não sei até quando.
    — E como está o seu pai?
    — Você se preocupa? — ele estava sentado do meu lado, mas quase não me encarava.
    — É por isso que estou perguntando.

    Ele soltou uma risada baixinha.
    — O que foi?
    — Você não mudou nem um pouco — ele sorriu, como se fosse o mais digno elogio.
    — Você acabou de dizer que eu tava diferente, doente!
    — Só por fora.
    — Tá, esquece — eu me levantei. — Vai demorar pra essa chuva passar, acho que a gente deveria ir logo.
    — Você quem vai ficar doente. Esquece, senta aí, não vai demorar.

    Sentei, não havia muitas opções mesmo. Eu estava tremendo de frio e queria ver minha cama logo, mas estava presa, só me restava esperar. Um silêncio se fez, mas durou pouco.
    — Quer minha blusa? — ele ofereceu, educado.
    — Não tá tão frio — juro, eu quis me matar por ter dito isso.

    Ele ignorou e tirou a blusa, colocando-a em mim em seguida. Melhorou bastante.
    — Então, o que aconteceu depois que eu fui embora?
    — Bom, nada demais, fazem uns cinco anos, só isso — eu suspirei. — Meus pais se separaram e meu cachorro morreu.
    — Eu sinto muito.
    — Pelos meus pais ou pelo Vinsk?
    — O cachorro — ele sorriu, me confortando.

    Passamos um bom tempo apenas conversando, nada muito importante, só falando de coisas que havíamos conhecido e perdido. Ele contou que havia começado a fumar, que o pai trabalhava muito e por isso ele tinha muito tempo livre em casa, e até imagino quantas garotas faziam parte desse tempo livre! Também contei sobre mim, disse que havia descoberto que tinha alergia a menta depois de parar no hospital, que voltei ao hospital uma vez por ter quebrado o dedo em um acidente de carro e ainda não sabia dirigir, que nunca havia fumado nem namorado na vida. Também falamos sobre outras coisas, mas nada que importe.
    — Por que você veio? Quero dizer, não é Natal nem nada.
    — Eu cansei de lá — ele disse, fugindo do assunto.
    — Só isso? Por que não veio antes então?
    — Você é curiosa demais — ele afirmou, suspirando. — Eu não aguentava mais o clima tenso daquela cidade, foi só isso.
    — Ok — suspirei e encararei a rua, eu queria perguntar outra coisa mas sei que ele não me responderia.
    — E você? Ficou com seu pai ou sua mãe?
    — Minha mãe. O meu pai decidiu mudar pra nossa antiga casa.
    — Vocês tinham se mudado?
    — Só por um ano, depois acabamos voltando pra cá. Eu gosto daqui.

    A chuva parou e decidimos voltar pra casa. A casa dos Kaulitz ficava mais perto do que a minha, então chegamos até lá primeiro. Preferi não entrar, mesmo com aquela blusa terrivelmente grande eu ainda estava com frio.
    — Não vai entrar? — ele perguntou ao notar que eu não me movi.
    — Não, acho melhor eu ir pra casa. Eu tô com frio — tirei a blusa e entreguei para ele. — Obrigada.
    — Não quer ficar com ela e me devolver depois? Você tá morrendo de frio.
    — Não tô nada — menti. — Minha casa é quase do lado, Tom.
    — Pega — ele jogou a blusa em minhas mãos. — Mas vê se me devolve.
    — É sério, não precisa — sorrimos e eu fiquei sem graça, vesti a blusa em seguida. — Vai estudar no colégio?
    — Não, aulas em casa. Só faltam quatro meses, não compensa.
    — Que inveja — eu suspirei, eu estava sem o que dizer e envergonhada. — Até amanhã.
    — Amanhã?

    Estiquei meus braços, mostrando a blusa para ele entender o porque de amanhã. Ele sorriu e eu dei as costas, continuando a andar. Eu não pensei que fosse dizer isso, mas Tom Kaulitz fazia falta e, de um certo modo, eu estava feliz por ele estar de volta.


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Notas finais do capítulo

Bom, isso é tudo por enquanto, eu espero mesmo que gostem. Posso pedir um favor grandão? COMENTEM. Sério, deixem reviews, critiquem, elogiem, opinem, mas não deixe de dizer o que achou pra eu melhorar, certo? Xx.



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