Não Pare a Chuva escrita por sheisbia
O frio invadiu meu corpo, fazendo-me encolher e cruzar os braços a fim de me esquentar, o que devo dizer que não adiantou muito. Meus pés pareciam lutar contra minha mente, queriam voltar para casa e se esquentar debaixo de um cobertor, mas meu pensamento dizia que eu deveria seguir em frente antes que levasse mais broncas. Suspirei, dando passos largos e rápidos, era engraçado, até mesmo irônico percorrer todo aquele caminho andando, eu estava acostumada a ser levada de carro.
Aquele era definitivamente o fim das férias e, cá entre nós, nunca gostei da escola, nem mesmo pelos amigos, eu a odiava. Aliás, os meus amigos nunca foram um motivo pra nada, nem pra desculpas... tanto que não falava com eles desde o início das aulas e não estava morrendo de saudade para revê-los. Não todos eles.
Não demorou muito até que eu chegasse na escola. Apenas três semanas haviam se passado e tudo parecia tão diferente. Mirei os olhos na aglomeração de alunos na porta, todos correndo para entrar e fugir do frio — que a este ponto, já não me incomodava. Sentei-me num banco debaixo de uma árvore antiga, sem ao menos averiguar o local, somente para descansar enquanto me restava tempo. Fechei os olhos por alguns segundos, poucos, até ouvir um certo alguém.
— Bom dia, Nin — disse uma voz doce, conhecida e querida, interrompendo o silêncio.
— Bill?! — Disse atônita, abrindo um sorriso ao ver seu rosto.
— Ainda se lembra do meu nome?
Estendi meu sorriso e levantei, o abraçando rápido e carinhosamente. Seu abraço era apertado e quente. Eu e Bill somos amigos desde crianças, crescemos juntos e sabemos praticamente tudo sobre o outro. Tirando os meus pais, ele era o ser humano mais importante para mim até então, como um irmão.
— Senti sua falta — afirmei, me distanciando.
— Por que você sumiu?
— Me desculpa, eu deveria ter ligado. Eu viajei para a casa da minha avó, meus pais brigaram de novo e pareceu tão sério — disse, quase sem sobrar ar.
— Acha que agora acabou?
— Acabou faz tempo, Bill. Meu pai saiu de casa.
— Sinto muito.
— Já deixei claro que consigo viver com um deles longe, tá tudo bem. É até melhor.
— Não é tão fácil.
— É sim — eu abaixei a cabeça. — A situação é diferente, você sabe.
— Tudo bem, esquece... Você tá diferente — ele disse, tentando mudar o rumo da conversa. Eu sorri.
— Isso é um elogio, senhor Kaulitz?
— Não, eu ia dizer que você está menor.
— Eu?! Por favor, né? Você que tá parecendo uma girafa, tomou o que pra crescer assim?
— Nada. Admite, você tá encolhendo!
— As pessoas não encolhem, elas crescem.
Soltei uma gargalhada e olhei para ele, que me encarava com os olhos apertados e sorridente. Eu sentia falta de nossas conversas, sentia falta dele, só dele. Começamos a andar pelo lugar e notei que ele queria me dizer algo, mas a sirene ecoou por toda a escola, fazendo o sorriso do meu rosto desmanchar-se.
— Te vejo na saída.
Aproximei-me dele e me despedi com um beijo em seu rosto, enquanto ele sussurrava um desejo de boa sorte para mim. Sorri e entramos juntos, mas cada um fora para sua sala. Ela era pequena, organizada e haviam grandes e limpas janelas de madeira e paredes azuis escuras, típicas da cidade.
Logo após minha chegada, alguns alunos começaram a entrar na classe. Pouco a pouco tomavam as cadeiras e findavam o silêncio, até o professor chegar e emudecer todos.
Uma garota cabelo naturalmente ruivo e de pele pálida adentrou a sala com uma outra, menos chamativa porém tão linda quanto a outra, esbanjavam beleza e chamavam a atenção de alguns alunos. A ruiva sentou-se ao meu lado e a morena atrás, mas eu só me dei conta quando ouvi sua voz.
— Quem está viva sempre aparece, não é?!
Um sorriso tímido e pouco feliz se fez em meu rosto. Eu raramente conseguia expressar sentimentos, mas eu estava feliz em revê-las. A ruiva chamava-se Olívia, ou apenas Livi. E a morena, minha amiga há muitos anos, era Penélope.
— O que aconteceu? Por que não me ligou? — indagou Livi entre murmúrios.
— Problemas. Nada importante.
— Oh — ela emudeceu por poucos segundos.
— Eu senti saudades. Como foram suas férias? — perguntou Penny.
— Normais.
— Nossa, as minhas foram maravilhosas! Eu tentei te ligar, mas ninguém atendia... Eu fui para Londres, é tão lindo lá... E os garotos então? Um mais gato que o outro... — Livi continuou, contando cada detalhe da sua viagem, coisas que eu não queria saber.
O assunto acabou logo, todos se ocuparam com o complexo exercício de matemática que o professor passara. Não demorou muito até que eu terminasse, mas alguns outros pareciam ter dificuldades. Parei por um instante e comecei a prestar atenção na sala e nos poucos novos alunos. Havia poucos que me interessavam, não que eu julgue pela aparência, mas todos pareciam tão agir iguais, a mesmice sempre foi uma grande inimiga minha, a desprezo, gosto de aventuras, do novo, do desconhecido.
Antes que meus olhos voltassem a se prender no exercício, ouvi alguém murmurar.
— Oi... você terminou? — ela dizia tão baixo que eu quase não escutei, e por um estante, achei engraçado ela falar assim.
— Aham, por quê?
— Eu posso comparar as respostas? — ela sorriu simpática.
— Claro.
Entreguei minha folha para ela e virei-me, encarando suas folhas jogadas pela mesa. Ela era organizada, mas não parecia estudiosa, apesar de pedir para corrigir exercícios no primeiro dia de aula, o que era irrelevante. Notei o quanto ela era magra, tinha um corpo de modelo, seus olhos eram claros e o cabelo era loiro cacheado. Era linda, descrevendo-a você pode imaginá-la como uma Barbie, mas ela não era assim, tinha traços muito incomuns.
— Bom, acho que acertei tudo — ela sorriu novamente me entregando a folha. — Obrigada. Qual o seu nome mesmo?
— Nicole.
— O meu é Julie.
Sorri simpática. Eu não sei explicar, mas nela eu ví algo diferente, ví uma futura melhor amiga.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Esse capítulo tá bem sem graça, eu sei, mas é porque é o começo. No próximo capítulo o Tom entra, não me deixem, ok? ♥