Não Pare a Chuva escrita por sheisbia


Capítulo 10
Capítulo 10 - Refletir


Notas iniciais do capítulo

"Eu não posso ter você, não, como você me tem" (Ouçam: The pretty reckless - You)



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   Eu apertei bem meus olhos. Aquele sol que pintava o dia era certamente admirável, mas naquela manhã eu mal conseguia vê-lo e ele parecia me cegar, mesmo assim agradeci por estar tão quente. Finalmente eu estava dentro de um carro confortável, o que me fez agradecer novamente não caminhar tanto até chegar na escola.

   - Você tá com um sorriso estranho no rosto - eu disse, encarando minha mãe.

   - Você também - ela sorriu mais ainda. - Quer me contar alguma coisa?

 

   Claro, mãe. Só queria dizer que Tom Kaulitz voltou para a cidade e eu beijei ele noite passada.

   - Não - respondi, desmanchando o sorriso. - E você?

   - Na verdade... - o carro parou devido ao sinal vermelho e ela teve tempo de me fitar com uma expressão feliz e ao mesmo tempo aflita. - Eu quero que conheça uma pessoa hoje.

   - Uma pessoa? Quem? Outra amiga?

   - Não, um amigo.

 

   Eu não estava prestando atenção nenhuma até então. Tirei o fone do ouvido, que anteriormente tocava uma música antiga e calma e passei a fitá-la também. Ela continuou:

   - O nome dele é Chris, ele trabalha comigo...

   - Eu pensei que nós havíamos conversado sobre isso - eu disse, rude.

   - Ele vai jantar com a gente semana que vem, lá em casa.

   - Ele vai jantar com a gente? - eu comecei a rir. - Em casa? Quem vai cozinhar? Você? Me poupe, você nem sabe cozinhar!

   - Nicole - ela disse brava e pausadamente. - Eu espero que se comporte, você não tem mais cinco anos. Chris é uma pessoa muito legal e ele que pediu pra te conhecer.

   - Me conhecer? - eu ri ainda mais, um riso forçado. - E o papai? Ele já conheceu?

   - Cresce um pouco - ela disse bem séria e fria, havia estacionado o carro, estávamos em frente à escola. - Você não é a única que tem o direito de ser feliz.    - Um longo silêncio se fez enquanto eu encarava o chão.

   - Eu não sou feliz, mãe. Não sem o meu pai.

 

   Eu não esperei por uma resposta dela, apenas saí apressadamente do carro e bati a porta com muita força. Entrei na escola irritada, era hora de desfazer aquela cara de sono e raiva e vestir a máscara de boa amiga. Entrei na sala, não perdi tempo naquele dia, fiquei esperando lá até as outras pessoas chegarem, sem cumprimentar ninguém.

   As aulas passaram devagar aquele dia, acho que se não fosse a presença da Penny e a Julie as coisas sairiam do controle. Olívia parecia ignorar todo mundo e passar seu tempo com um garoto, não era novidade e, sinceramente, eu não fazia mais questão. O intervalo foi a parte mais calma e relaxante daquele dia. Sentamos numa mesa longe de toda o barulho daquela escola.

   - Eu não vi o Bill hoje. Sabe se ele veio, Nikky? - Julie perguntou com um sorriso tímido nos lábios.

   - Hum, por que a curiosidade? - eu e Penny rimos.

   - Boba, eu só queria saber, sério.

   - Eu não o vi - suspirei, queria vê-lo naquele momento. - Como foi o filme? - eu mudei radicalmente de assunto, estava evitando alimentar a tristeza aquele dia.

   - Foi horrível, atualmente os filmes de terror são mais nojentos do que assustadores - disse Penny.

   - Eu também não gostei - Julie disse.

   - Aliás, por que você e o Tom saíram antes? Quer dizer, o Georg disse que você não tava se sentindo bem, mas eu te conheço Nikky! - Penny disse com um sorriso malicioso.

   - Eu? Magina, eu só passei mal e o Tom, sendo o cavalheiro que ele é, me fez o favor de levar até em casa.

   - O Tom? Cavalheiro? - Julie riu. - E depois de te levar em casa, hein?

   - Bom, depois a gente brigou, ele me chamou de infantil e... - lembra do "evitar a tristeza", dona Nicole? - me beijou.

   - SÉRIO? - elas começaram a gritar como duas crianças felizes e surpresas, o que me fez rir. - Como assim? Conta direito, vocês não brigaram ué?

   - Sim, eu sai do carro bem furiosa e ele me seguiu pedindo desculpas. Eu comecei a falar que odiava ele e falei tanto que acho que ele só me beijou pra que eu calasse a boca.

   - Você tá brincando, né? - Julie riu. - Só um idiota não vê que ele gosta de você.

   - Talvez, como amiga - respondi. - Mas nada além disso, nós dois não funcionamos juntos, só brigamos o tempo todo. Somos diferentes demais, entende?

   - Diferentes? - Penny riu. - Eu posso não conhecer o Tom há muito tempo, mas eu te conheço muito bem, Nikky. Vocês dois são exatamente iguais, é por isso que brigam tanto, você não consegue lidar com alguém tão teimoso quanto você e ele igualmente.

   - Dá no mesmo, nós não funcionamos juntos. - Repeti com mais seriedade.

   - Mas e agora? Como fica?

   - Não "fica". Na verdade, nem aconteceu. Eu já esqueci. Podemos falar sobre o filme?

 

   É óbvio que não voltamos a falar sobre o filme e elas sempre tocavam nesse assunto. Tentei evitar falar disso até comigo mesma, ainda não sabia o que pensar daquele beijo.

   Depois do intervalo eu enrolei as meninas para que elas fossem logo para a sala, eu fiquei. Matei algumas aulas mas finalmente tive um tempo sozinha, o tempo que eu queria e precisava pra refletir sobre tudo.

 

xxx

 

 

       Tom's POV

 

   O seu perfume havia se fixado naquela jaqueta, era um cheiro atraente até demais. Não sei porque as coisas tinham acontecido daquela maneira, tão... rápido. Aliás, nem sei porque tinham acontecido. Eu e Nicole juntos era algo tão improvável quanto assustador, mas dizer que ela não me chamava atenção era mentir pra mim mesmo; só não sei até que ponto ela prendia a minha atenção.

   Eu levantei da cama, há algum tempo estava senta lá somente pensando. Caminhei pelo quarto à procura de uma roupa qualquer pra vestir, seria melhor do que continuar sem camiseta. Enfim achei uma e vesti, sem me importar muito como havia ficado. Saí do quarto sem pressa e encontrei com Bill no corredor.

   - Tom, meu celular sumiu, você... - ele parou de falar e me observou. - Você vai sair?

   - Vou.

   - Pra onde?

   - Por aí - disse calmo. - E eu não vi seu celular.

   - Você vai ver a Nikky?

   - Tá preocupado com a Nin? - eu soltei uma risada baixa.

   - Tô preocupado com vocês, eu não quero que vocês se matem antes da hora - ele me encarou sério e eu estava com um sorriso irônico nos lábios. - Nem façam outras coisas antes da hora também!

   - Eu não vou vê-la, relaxa. Por que tanto cuidado com ela?

   - Por nada. Volta logo.

 

   Eu desci as escadas e o deixei lá. Logo estava fora de casa, o sol ainda reinava naquele céu vazio de nuvens. Desde quando me mudei para a casa do Bill eu sinto que meus dias são completamente tediosos, por mais que todos me dessem atenção, eu sentia que aquele não era o meu lugar, a minha casa.

   Continuei andando pelas ruas por um bom tempo até voltar pra casa por um caminho totalmente diferente, como se tivesse dado a volta em algo. Uma rua antes de casa, eu avistei uma garota sentada na calçada, encostada na parede, aquela rua costumava ser extremamente silenciosa e vazia, eu me aproximei.

   - Tá triste? - pra ser bem sincero eu não me importava, só queria a atenção dela por um momento, ela levantou a cabeça e sorriu.

   - Não. O que tá fazendo aqui?

   - Eu tava passando. Tá tudo bem?

   - Sim - ela parecia tão inofensiva, sem raiva, sem medo.

 

   Eu me sentei ao seu lado e ela mirou os olhos na calçada, tentando evitar olhar pra mim.

   - Desculpa - eu disse rápido.

   - Pelo quê?

   - Por te chamar de infantil.

   - Você devia pedir desculpas por ter me beijado, isso sim - ela sorriu sem graça e abaixou a cabeça. - Sem problemas. Eu não vou te pedir desculpas, mas... se quiser eu posso te dar ingresso pro cinema.

   - Isso é um convite?

   - Eu não te convidei, você vai sozinho - ela disse séria. - Eu não vou assistir aquele filme.

   - Você devia deixar seu orgulho de lado às vezes.

   - Não é orgulho... - ela abaixou a cabeça e seu rosto ficou vermelho. - Eu tenho medo.

   - De um filme de terror? - eu sorri.

   - Não ri - ela pediu. - É sério.

   - Tudo bem, eu te deixo escolher o filme - eu sorri para confortá-la.

   - Certo... Mas não hoje, eu quero ficar aqui.

 

    Nós fingimos que nada havia acontecido. Aliás, ela parecia tão indefesa que ser mal com ela só faria as coisas piorarem, ela não parecia querer reagir. Ela estava triste, mas ao mesmo tempo, feliz. Como se, por um momento, tivesse jogado fora a fortaleza de garota fria que a protegia.


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews sempre! Gente, eu tentei o máximo que pude pra deixar o capítulo arrumado como todos os outros, mas o Nyah tá com uma palhaçada e ficou assim. Enfim, espero que seja só esse capítulo que fique assim. Troquei a capa, o que acharam? Bjs.