Noiva por Herança escrita por Juffss


Capítulo 1
Capítulo 1




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Mansão Hale

Agosto de 1989

22h36mim

 

 

- Era uma vez... – forcei minha mãe a começar o conto.

- Era uma vez no tempo de Reis e Rainhas – ela começou – uma linda menina que se chamava Cinderela.

- E como era Cinderela, mamãe? – perguntei.

- Era linda. – resumiu a olhei pedindo mais informações. Ela suspirou – Tinha cabelos de ouro, dentes de pérolas, olhos de esmeraldas e lábios de rubi. – sorri – Seus pais a amavam muito, mas, depois de contrair uma doença, sua mãe veio a falecer. O pai, homem muito bonito e sem muito jeito para crianças, achou que a filha não poderia crescer apenas com seus cuidados. Depois de certo tempo – ela olhou a janela de frente a minha cama, seus olhos vagaram pelas nuvens prateadas – ele decidiu quem seria sua próxima esposa. A mulher escolhida tinha duas filhas, e também, assim como sua antiga esposa, era dona de grande beleza.

- E por que ele a escolheu, mamãe? – seus braços me envolveram, me apertando contra seu corpo.

- Ele a escolheu por ela também ser viúva, e, ainda mais, por ela ter duas filhas. Filhas que ela cuidava e protegia com sua vida. O homem, porém, foi adoecendo aos poucos, não era mais aquela pessoa que levantava e ia brincar com as filhas, a sua nova esposa estava o envenenando, aos poucos. Mas cedo do que imaginava, o homem já estava imobilizado sobre sua cama, e mesmo quando fingia tratar dele e ser boa com Cinderela, o ódio de Grisalda...

- Grisalda? – a interrompi.

- Um nome feio para uma pessoa com sentimentos feios – me explicou – quer que mude?

- Quero – pedi – Mesmo ela sendo malvada, ela ainda é dona de uma grande beleza. Eu quero que ela chame... – parei um pouco para pensar no nome perfeito para a mulher da estória – Lucy.

- O ódio de Lucy só se fazia aumentar. Depois da morte do pai... – ela me olhou sugestivamente.

- Edmund. – sugeri.

- Depois da morte de Edmund – seus olhos voltaram a vagar pelo meu quarto – Lucy mostrou sua verdadeira face. Aos poucos, e com o passar do tempo, ela foi ficando mais rude com Cinderela, que ao contrário das irmãs de consideração, se transformava numa mulher bondosa e meiga, como sua mãe. Um ano depois da morte de Edmund, Cinderela já fazia todos os trabalhos domésticos e as vontades da madrasta e das irmãs. – a olhei.

- Fale um pouco mais sobre as irmãs, mamãe, fale mais sobre Grace e Sophie. – pedi.

- Grace tinha cabelos negros e olhos azuis, bonita até, mas seu coração era tomado por ódio, talvez por nunca ter superado a morte do pai, e agora não gostar nem um pouco de sua vida, era a mais velha. Sophie, por sua vez, dois anos mais nova, era mais bondosa, havia herdado o coração do pai, e só maltratava Cinderela por influência da irmã e de sua mãe. – ela me olhou e lançou seu sorriso perfeito – Lucy, como ia dizendo, a mandava fazer os serviços de limpeza e dormir no sótão, enquanto as suas filhas ocupavam os outros dois quartos daquela casa. Quando a pequena... – em minha mente se formou uma pergunta, a olhei com dúvida – sim Rosalie, ela ainda era pequena, - foi o que ela me respondeu em seguida – Quando a pequena Cinderela terminava o seu dia exaustivo, ela, com suas roupas sujas e seus sapatos gastos, sentava perto da lareira, deixando o fogo aquecer seu corpo, mal protegido pelas roupas, e sua mente vagar pelas chamas.

‘ Talvez seja esse o motivo de Lucy, Grace, e por mais que não queria Sophie, zombarem-na tanto, ou simplesmente, talvez, por Cinderela ser mil vezes mais bonita que elas, mesmo usando roupas velhas, rasgadas e sujas, enquanto as dondocas usavam seus vestidos feitos por grandes nomes da moda daquela época, esplendidamente cortados e que caiam devidamente sobre o corpo das meninas.

‘ Quando Cinderela atingiu sua maioridade, longe dali, o Rei mandou organizar um baile para que seu filho escolhesse uma jovem para se casar. Uma grande festa, então, seria realizada, e a ordem era bem clara: todas as mulheres do reino deveriam comparecer. Os convites foram mandados e aos poucos, bem aos poucos, as mulheres ficaram sabendo do grande baile real. Vestidos foram comprados, os estoques das lojas foram aos poucos acabando e os grandes nomes da moda ficaram lotados de serviço.

- Mãe – a chamei – e as moças pobres, como Cinderela, que não podiam comprar vestidos caros em lojas?

- Elas compravam tecidos, e as mesmas costuravam seus próprios vestidos, e não ficavam muito atrás dos das moças da alta sociedade. – ela me olhou apreensiva – Quando se é pobre, Rose, temos que aprender a nos virar e economizar ao máximo.

- Cinderela fez isso? – perguntei.

- Não – foi sua resposta – Quando o convite chegou a casa onde Cinderela morava, a madrasta e suas filhas ficaram muito felizes com a idéia do baile, mas a coitada da Cinderela nem ficou sabendo da existência deste. As irmãs, animadas, fizeram o mesmo que tantas outras do Reino: correram para os estilistas e mandaram fazer o mais bonito de todos os vestidos. De alguma forma, desejar ser princesa era o que toda menina tinha, principalmente quando o príncipe era filho único, e logo assumiria o trono real.

- Cinderela também queria isso? – perguntei.

- Não, Cinderela era boa, não se importava com títulos, ela apenas queria encontrar uma pessoa que a amasse e que ela amasse também. – Ela me disse ajeitando uma mecha de seus cabelos loiros que caiu delicadamente sobre seus olhos – Cinderela até ajudou as “irmãs” com os preparativos desse baile. E ela não desconfiou sobre essa festa, pois a madrasta sempre levou as filhas em vários bailes da alta sociedade, esse seria somente mais um entre tantos. “Cinderela” a voz de Sophie se fez presente quando a irmã mais velha e a mãe saíram daquele cômodo. Cinderela ainda arrumava a bainha do vestido perfeito de Sophie, “Senhorita?” foi o que ela se censurou em dizer. “Sabe do baile onde todas as mulheres do reino foram convidadas?”, Sophie jogou sujo, ela sabia que Cinderela não sabia do baile, mas não achou justo o que as outras faziam, ela era boa, como já disse mais cedo, ela queria que a sua não-irmã fosse. “Não” foi a única palavra que Cinderela conseguiu falar. “Não estou te contando isso para que fique chateada, estou te contando para que corra até meu armário e pegue um dos meus vestidos velhos, corra até uma loja de tecidos e compre alguns para que faça suas alterações... Cindy, eu quero que você vá” se explicou Sophie.

 ‘ Cinderela a olhou com seus olhos doces, e por um momento, suas esmeraldas brilharam. “É um baile real, não é? Realizado no palácio? Eu não sei me comportar perante a isso. Eu não vou” se lamentou Cinderela. E por ali, a conversa terminou naquele dia. Mas mesmo com a resposta negativa de Cinderela, Sophie não desistiu e com o passar dos dias ela sempre insistia para que Cinderela fosse.

- E Cinderela foi, mamãe? – perguntei ansiosa.

- Calma – pediu – já irei chegar a esse ponto – deu um simples sorriso – Cinderela queria ir, mas não se sentia habilidosa com seus modos perante a alta sociedade, assim se rendeu a falar que não queria ir. Com a chegada do tão esperado dia, a cidade foi a delírio. As mulheres se arrumavam como nunca, passavam batom, prendiam os cabelos... Afinal tudo tinha que estar perfeito para o príncipe.

- Bernardo, mamãe – Contei a ela o nome que com todo o cuidado escolhi para o príncipe.

- Bernardo, por sua vez, não gostava nem um pouco da idéia. Já havia despenteado todos os fios do cabelo escuro, mais de uma vez, e isso porque não achava que iria encontrar a mulher que ele entregaria o coração em uma noite, em um baile, no seu palácio, enquanto dançava com todas as suas pretendentes.

- Mas ele achou? – perguntei.

- Calma, Rose, a ansiedade não leva a nada – me repreendeu. – Ao ver a madrasta e as “irmãs” irem de carruagem para o palácio, Cinderela sentou-se frente à lareira e começou a chorar. Por mais que ela não quisesse pagar mico, ela queria ir. Grossas lágrimas rolaram pela sua face e seus lábios sussurram palavras que a própria não entendiam. Não sei ao certo se foi por causa das palavras murmuradas por Cinderela, ou se foi por pura magia, uma fada, pequena com cabelos escuros e com olhos de um ouro derretido, apareceu a sua frente.

- Alice – algo naquela descrição me fez lembrar esse nome. Não sei o porquê, mas apenas tinha que ser Alice.

- “Você gostaria de ir ao baile, não é” Alice perguntou cuidadosamente. “Sim” Cindy respondeu, ela não via motivos para mentir para aquela criatura, afinal ela achava que era apenas a sua imaginação que estava falando alto de mais. “Eu posso fazer com que você vá ao baile” Allie disse animada “Você só precisa ir ao jardim e me trazer uma abobora” completou. Cinderela riu com a imaginação da fada animada, mas se rendeu a diversão, se ela estava sonhando, como imaginava, não iria ficar sem se divertir.

‘ Cinderela correu até o quintal daquela casa e pegou a maior abobora que viu em sua frente. Levou, com muito custo, para onde a fadinha esperava. Alice, por sua vez, tirou toda a polpa da abobora e deixou somente sua casca, isso tudo com uma ajudinha básica de magia. Depois levou a abobora até a entrada da casa, colocou-a sobre a grama esverdeada e a transformou em uma linda carruagem dourada. Pela noite escura ela encontrou seis ratinhos e os transformou em cavalos brancos. Escolheu um rato e, mais uma vez com magia, o transformou no cocheiro mais bonito do mundo inteiro.

“Olhe atrás do regador” instruiu Alice “Você encontrará seis lagartos. Traga-os para mim” pediu. Cinderela não se importava mais em estar ficando louca. Ela sabia que aquilo estava acontecendo. Sabia que a magia existia, e talvez por isso nunca sofrera tanto após da morte dos pais, nem mesmo com os abusos domésticos da madrasta. As seis lagartas que Cinderela entregou a Alice foram transformadas em lacaios, que subiram atrás da carruagem, com seus uniformes de gala, e ficaram ali como se nunca tivessem feito outra coisa na vida.

‘Tudo ia de vento em poupa para Cinderela. Que, quanto aos trajes, bastou um toque da varinha de condão de Alice para se transformar no vestido mais bonito já visto. Cinderela levantou o vestido para ver o que calçava, não sentiu nenhuma transformação nessa parte do corpo. “Calma, Cindy, eu sou a Alice, sua fada madrinha, não iria esquecer-me de seus sapatos de cristais, minha pequena humana” se divertiu a fada, e com apenas seu olhar os sapatos gastos de cinderela se transformaram em um lindo par de sapatos de cristais. Alice realmente tinha mãos de fada, e sua visão do belo era perfeita. Cinderela estava tão bonita, que a mais bela mulher do reino não conseguiria superar sua beleza. Ela estava visível frente à sociedade. – minha mãe sorriu, seus lábios se contorceram em outro sorriso, talvez pela imagem que provavelmente invadiu sua cabeça.

- Tão bonita assim? – perguntei.

- Como você – ela me respondeu e sua boca tocou leve e rapidamente minha cabeça – mas tudo aquilo tinha seu tempo de duração. “Volte antes de meia-noite, minha menina, minha magia não dura mais que esse tempo” avisou Alice enquanto Cinderela se afastava, já dentro da carruagem, em direção ao palácio real. Com um sorriso Alice desapareceu.

‘A chegada no palácio, não poderia ter sido melhor. Cinderela desceu delicadamente e como uma rainha da carruagem, nunca havia se encontrado maior graça naquele ato. Os funcionários do castelo logo se encontraram para ajudá-la. Ninguém a conhecia, mas ela já havia ganhado a admiração de todos. Quando entrou no salão de festas todos pararam para admirá-la. E não era para menos, ela dava passos que mais pareciam uma dança, eram firmes mais ao mesmo tempo graciosos.

‘ Mais uma vez a atenção de todos se voltou para ela. Inclusive a do príncipe, que por lá se distraia em pensamentos. Ele a achou tão bela que não quis saber de mais nada a não ser dançar com ela. E assim se fez, eles dançaram, não uma, mas todas as músicas. Ele a rodopiava em seus braços fazendo o salão se encher de graça. Cinderela, por sua vez, estava tão absorvida com o príncipe que mal prestou atenção no tempo veloz. Quando se assustou o relógio soava meia-noite, e como a fada havia avisado, ela não poderia mais ficar ali.

‘Apressada, ela saiu correndo sem se importar com nada. Nem com o príncipe que estava logo atrás dela, a seguindo. Correu tão desesperada que nem voltou para pegar seu sapatinho de cristal que lhe tinha escapado do pé e havia ficado na escada principal do palácio. Logo entrou em sua carruagem e essa saiu rapidamente. – uma longa pausa se vez depois de sua última palavra.

- Mamãe – a repreendi – queria uma estória com final feliz.

- Rosalie – ela riu – não terminei a estória, minha filha.

- Oh... – me senti envergonhada – desculpa – dei um sorriso tímido, ela riu.

- Com as badaladas do relógio a magia foi sendo quebrada. A carruagem, um pouco longe do palácio, voltou a ser abobora, os lacaios e o cocheiro voltaram a ser animais, os cavalos brancos voltaram a ser as coisas miúdas que eram e saíram correndo pela cidade. Cinderela teve que voltar a pé, e chegou em casa exausta. Quase nada restou de todo o esplendor da noite, a não ser por duas coisas: a lembrança perfeita, e sem sombras de duvidas real, e um pé do seu sapatinho de cristal. Cinderela, por sua vez, chegou a pensar no outro pé, será que também havia restado o esplendor no sapato?

‘Sophie, assim que chegou correu para o sótão, ela queria contar sobre a princesa desconhecida. Cindy chegou a ficar feliz por ninguém ter percebido ser ela, ela achava que quando o príncipe descobrisse que ela era apenas uma empregada ele a deixaria de amar. Isso é, desde que ele a amasse por essa noite que nunca sairia de sua cabeça. “... E então ele ficou fitando o sapato de cristal que ele pegou da escada e não quis dançar com mais ninguém. Assim que ele se retirou, mamãe nos trouxe de volta a casa.” Sophie terminou de contar. Depois ambas dormiram, cada uma em sua cama, claro.

‘Mas Bernardo queria a dona do sapatinho. Por mais que ela fosse pobre ou rica, era ela a dono do coração do príncipe. Com o sonho e o sapatinho de cristal ele o experimentou em todas as mulheres do reino, sejam elas princesas, duquesas, marquesas... Ou simplesmente plebéias, mas em nenhuma delas o sapatinho serviu. Um mensageiro era enviado à casa da escolhida do dia e essa experimentava o sapatinho.

‘ A cidade estava um caos, todos queriam que o sapato servisse, que ele entrasse e ficasse perfeito, mas não, não servia em nenhuma. Umas tinham pés grandes de mais, outros pequenos de mais, já outros tinham pés gordos de mais e outras magros de mais. A única coisa que o príncipe sabia era que o pé de sua amada era perfeito... De mais. – mamãe suspirou – Ele só queria estar com ela. Ele a amava, mesmo não a conhecendo bem. A conversa que eles tiveram no baile já havia sido o suficiente para que o príncipe se apaixonasse, perdidamente, por Cinderela.

‘Quando a casa de Cinderela finalmente foi visitada pelo mensageiro, as duas irmãs tentaram inutilmente calçar o sapatinho. Grace tinha o pé grande de mais e o sapatinho ficou pequeno. Sophie quase conseguiu que o sapato ficasse perfeito, mas por pouco mais que um centímetro ele ficou largo. A ordem era clara: Todas as mulheres devem experimentar o sapatinho, portanto Cinderela também deveria calçar o sapato. O mensageiro não pensou duas vezes antes de obrigar a Cinderela a calçá-lo. E para a surpresa de todos, menos de Cindy, o sapatinho ficou perfeito em seu pé.

‘Assim que o príncipe foi avisado que haviam encontrado a mulher sua alegria aumentou bruscamente. Saiu de seu quarto mais que apressado e dançou com todos que encontrou pela frente até sua carruagem, já preparada para a viagem à casa de Cindy. Riu o caminho todo e quando chegou lá não negou a alegria de vê-la, mesmo suja e com suas roupas rasgadas.

‘ Um beijo, assim ele agradeceu a dona do seu coração por ser real. Ele a pegou em seu colo e a levou até a carruagem, que seguiu sem parar para o palácio, onde uma grade festa já havia sido preparada. E não foi preciso pedido de noivado, eles sabiam que estavam frente ao seu verdadeiro e único amor. Assim se casaram, e, por fim, viveram felizes para sempre.

- E as irmãs mamãe? – perguntei – Sophie foi bondosa com ela.

- Claro – ela sorriu – como pude me esquecer das irmãs, não é, princesa? – ela parou um pouco, talvez tentasse lembrar o que aconteceu com as irmãs – Cinderela era boa, não guardava rancor. Assim que se viu como princesa logo tratou de arranjar pessoas boas o suficiente para acabar com o ódio que as irmãs tinham lá no fundo. Um marques para a madrasta, e dois duques para as meninas, foi isso que ela conseguiu. E sabe? Foi mais que suficiente para tudo ficar as mil maravilhas. – ela me olhou apreensiva – E então?

- Amei mamãe – sorri para ela.

- Boa noite, princesa – ela falou enquanto puxava o cobertor sobre meu corpo.

- Boa noite, mamãe – respondi enquanto coçava meus olhos.

Ela se levantou, depositou um beijo em meu rosto, sorriu. Era mais um sorriso doce e único que só ela dava. Caminhou até o apagador, colocou sua mão sobre ele e murmurou um “Eu te amo, e sempre vou te amar” antes de apagar a luz.

E naquela noite eu não sonhei.

Acordei na manha seguinte e corri para o quarto de meus pais. Aquilo era mais como um modo de acordá-los. E eu nem sabia o quanto eles gostavam dessa minha simples mania. Abri a porta enquanto ainda coçava meus olhos, outra mania minha: coçar os olhos antes de dormir e depois de acordar.

Sorri ao vê-los acordados e já sentados na cama. Mamãe abriu os braços me esperando em seu colo. Corri e a abracei. Ela me deu um beijo na testa e eu sentei entre suas pernas.

- Bom dia, princesa – desejou papai.

- Bom dia – falei de volta.

- Querida – mamãe me chamou enquanto afagava meus cabelos – eu terei que viajar. Hoje à noite. E não poderei esperar você dormir para te contar outra estória. – contou.

- Mas eu posso fazer isso – papai abriu um sorriso.

- Obrigada, papai – agradeci – mas não seria a mesma coisa.

- Acha que não sei contar estórias? – me perguntou magoado.

- Não, não é isso – argumentei – é que seria... Diferente.

- Eu volto semana que vem – ela me deu um beijo na bochecha – vai se cuidar? – perguntou para o papai.

- Sempre, e vou cuidar dela – ele falou antes de mamãe poder falar alguma coisa.

- Vai se cuidar? – ela me perguntou.

- Como uma boa menina – respondi sorrindo.

E ela abriu um sorriso. Não como qualquer, mas aquele de covinhas. Sorriso que tanto amo, mas que não tive a sorte de puxá-lo. E um beijo nos lábios de meu pai ela deixou. Por algum tempo eles ficaram com as bocas encostadas. E quando eles se separaram, finalmente, ela me olhou apaixonada.

- O segredo para um longo casamento é nunca deixar de beijar seu marido – me confidenciou.

- Querida... – papai tentou impedir esse assunto.

- Rosalie já tem cinco anos, deve aprender coisas que a ajudem na vida com seu futuro marido – mamãe se justificou.

- Ela não vai se casar, não é querida? – papai perguntou com esperança.

- Não, eu vou me casar. – admiti – com um homem forte e grande, que tenha olhos bonitos e um sorriso fascinante – imaginei.

- E para que essas características? – mamãe perguntou divertida enquanto papai fechava a cara.

- Para que ele me proteja, me deixe segura e abobada – respondi orgulhosa – mas não fique pensando que só por ter essas características ele vai me fazer de gato e sapato, não, de forma alguma, ele não vai mandar em mim – disse autoritária.

- Vai querer que eu te matricule numa escola de meninas? – mamãe perguntou tentando mudar de assunto. – Vai aprender tudo o que uma menina deve saber.

- Quero mamãe, e aí vou saber tudo que a Cinderela não sabia. Portanto não terei vergonha quando for a um baile e me comportarei como uma princesa.

- A mais bela princesa – papai abriu um sorriso.

- A mais bela – mamãe concordou. – como a Cinderela.

E assim sua voz perfeita emanou uma canção em outra língua.

 

Muñequita linda de cabellos de oro

de dientes de perlas, labios de rubí.

Dime si me quieres como yo te quiero;

si de mí te acuerdas como yo de ti.

 

Y a veces escucho un eco divino

que, envuelto en la brisa

parece decir:

Si te quiero mucho,

mucho, mucho, mucho;

tanto como entonces,

siempre hasta morir.


- Eu te amo, e sempre vou te amar. – falei a ela – e você também, papai – pulei dos braços de mamãe para os dele. Um beijo demorado, eu deixei em sua bochecha – sempre – repeti.

Eles me abraçaram mais uma vez. Ainda existiam dúvidas que essa família era perfeita?

Nosso dia foi perfeito. Não houve muita diferença dos outros. Na verdade, a não ser pela mamãe arrumar as coisas para sua viagem no final da tarde, ele foi igual aos outros, numa rotina animada.

Durante a noite eu acordei, havia um grande tumulto aqui em casa. Carros de polícia, médicos, pessoas de preto... Tudo isso estava bem claro da janela ampla do meu quarto. Levantei-me da cama, e, sem calçar o sapato, desci para o andar de baixo.

Ainda coçava meus olhos quando encontrei meu pai de costas conversando com algumas pessoas. Ele estava com seu casaco e fitava atentamente os homens de preto a sua frente.

E então ele caiu no sofá.

- Não, não pode... – ele murmurou – não com ela – lamentou.

- Senhor, eu sei que isso é delicado de se tratar, principalmente a essa hora da noite- falou o homem mais loiro.

- Mas... Ela é tão nova... – papai sussurrou.

- Era – corrigiu o outro – Não podemos mais tratá-la no presente, ela já não está entre nós.

- Papai – minha voz soou um pouco rouca a principio, mas mesmo assim me forcei a continuar – onde está a mamãe? – perguntei.

- Vem cá – ele me chamou sem se virar.

Caminhei com passos lentos e sem muita vontade até o sofá. Ele deixou seus braços me envolverem. Um beijo foi depositado no topo de minha cabeça.

- Mamãe pode não voltar – ele me falou.

- Senhor – chamou o loiro – ela não irá voltar – papai o olhou e eu encarei-o triste. – desculpe – pediu o homem.

- Eu fiz algo errado? – perguntei temerosa.

- Não, pequena, foi a mamãe – ele tentou falar – ela encontrou um lugar melhor para viver – disse pausadamente.

- Melhor que nossa casa? – perguntei. – Ela não gosta mais da gente?

- Ela nos ama, para sempre, esqueceu?

- Mas ela não quer mais voltar! – afirmei inocentemente.

- Não é que ela não queira, pequena, ela não pode mais voltar – ele me explicou.

- E por que não pode? – minha voz soou fina.

- Ela não pode porque quando ela estava indo para a casa de Eliza ela encontrou outro lugar, um lugar muito bom, e quando entrou, atraída pela beleza do local, ela percebeu que não podia mais sair.

- Então ela não vai mais voltar? – perguntei, e só agora percebi que eu estava chorando. – Ela não me quer mais? Ela não me ama?

As perguntas rodaram minha cabeça e eu não queria mais ficar ali, com a atenção dos homens de preto, que mais me incomodaram enquanto me olhavam do que serviam para o que vieram.

Subi correndo as escadas enquanto limpava as lágrimas que escorriam sem parar dos meus olhos. Ela não me queria mais... Ela não me amava...

Assim que entrei no meu quarto não pensei antes de bater a porta. Aquilo para mim era como machucar minha mãe. Por meus curtos cinco anos ela repetiu milhares de vezes que não deveria bater as portas, isso acabava com as maçanetas, e, dependendo do jeito com que se pega, arranha a invernizada porta de madeira que ela tanto gostava.

Joguei-me sobre a cama e abracei o travesseiro. Chorei. Ninguém tinha noção de como isso doía em mim? Os minutos foram passando trazendo a realidade, ela realmente não voltaria. E eu? Eu não poderia fazer nada para mudar isso.

- Rose – uma voz surgiu em meu quarto quando a luz do corredor o invadiu.

- Não quero conversar, papai – pedi.

- Rose – ele repetiu – sua mãe não tinha escolhas ou ela ia... Ou ia – um nó se fez na minha garganta.

- Ela tinha escolha – falei nervosa – todos temos!

- Não ela... Não naquele momento – a justificou.

- Eu não quero conversar – gritei.

- Tudo bem... – ele falou fechando a porta, porém não saiu.

Forcei minha cabeça contra o travesseiro, cobrindo qualquer visão que poderia ter, enquanto me afogava, aos poucos, nas lágrimas.

Senti um baque na cama, o colchão se afundou um pouco na direita. Ele havia se sentado ao meu lado. E eu senti seus braços me aconchegarem.

E assim choramos, dolorosamente, por toda a noite.

 

 

N/A: Oi meus amores...

 

Olha isso é de extrema importancia...

 

Primeiramente eu queria agradecer e esperar que gostem mais dessa versão do que da outra...

 

Segundo eu tenho uma fic. a recomendar...

 

 

Por Amor ... a escritora em si é otima escritora e nessa versao da historia de Rose/Emm nao seria diferente... o final é surpriendente e eu espero que gostem... entao vamos fazer nossa parte, passar lá e falar se gostamos ou nao... (Lembrand: vooc nunca leu algo parecido... e nao se confunda pelo inicio...)

 

http://fanfiction.nyah.com.br/historia/85443/Por_Amor.

 

Acho que por hoje é só e até os reviews...

 

Juliana.

 

 


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Notas finais do capítulo

Olha é só a confirmaçao que eu irei reescreve-la... talvez o proximo cap. saia daqui a duas semanas...

Até a proxima e espero ver todos aqui...


Beijoooos

Juuh