POV Bella

Era hoje, não tinha mais como fugir, como adiar.

Hoje era o dia em que cada pedaço de mim temeu, o dia em que eu veria Edward Cullen, o cara que partiu meu coração.

Eu sempre adorei o primeiro dia de aula, eu via minhas amigas que viviam viajando nas férias, eu me sentia bem com todas aquelas pessoas ao meu redor.

Mas esse primeiro dia eu não iria adorar. Nada poderia ter me preparado para o que aconteceu nesse dia.

Só pra começar o pior dia de todos, topei com Jane na entrada da escola.

Ela sorriu diabolicamente e foi embora, eu ainda tinha medo do que aquela garota era capaz.

Pelo menos tive alguns bons momentos, encontrei Alice no corredor.

“Bella!” Ela gritou escandalosa como sempre. Algumas coisas nunca mudam.

“Hey, Alice.” Eu falei enquanto ela me sufocava com seu abraço. “Alice. Respirar. Não consigo”

Ela riu e me soltou. Ela continuou a falar com sua voz manhosa.

“Ai Bella eu queria que você tivesse ido comigo para Paris, foi tão divertido!” Ela dizia toda empolgada.

“Você sabe que eu tenho a dança.” Ela apenas revirou os olhos e voltou a falar.

“Comprei tantas coisas lindas, roupas, perfumes! De tudo. Paris é tão maravilhosa Bella!” Ela parecia estar falando mais com si mesma do que comigo.

Eu não liguei, já estava acostumada com seu jeito Alice de ser.

“Mas então Belinha, me conta, e os garotos?” Alice sempre fazia essa pergunta, e eu sempre respondia a mesma coisa.

Mas hoje as coisas eram diferentes. Meu estomago revirou ao receber essa pergunta. Alice percebeu.

“Eu sabia que tinha alguém! Você esta no mundo da lua demais para uma solteirona, me conta tudo, quem é o bofe? Eu conheço?” Ela perguntou super empolgada.

Sua empolgação em excesso estava me deixando tonta.

“Alice eu...” Eu não conseguia terminar de falar. Falar em Edward ainda era muito difícil pra mim.

Por sorte Alice era boa com essas coisas, ela sempre sabia o que eu estava sentindo.

“Ai meu deus Bella!” Ela falou com a mão na boca. “O que esse cara misterioso te fez?”

E então eu contei tudo pra ela, sobre Edward, sobre sua irmã, sobre tudo.

Então eu percebi que eu realmente estava precisando desabafar. Deixar tudo aquilo preso dentro de mim tinha sido doloroso.

“Ai amiga eu não acredito que ele teve coragem de te falar essas coisas!” Ela dizia indignada enquanto me abraçava.

“Tudo bem Alice, eu vou superar.” Eu falei enquanto entravamos na secretaria para pegar nossos horários e a chave de nossos armários.

Nossos armários por sorte ainda eram os mesmo do ano passado, ou seja, um ao lado do outro. O De Rose também estava no mesmo lugar, ao lado de Alice.

Meu horário até que não estava tão ruim, eu não precisava escolher nenhuma atividade extracurricular, pois o diretor falou que como eu já tenho a dança para me ocupar eu não teria tempo.

Alice tinha escolhido a oficina de moda, como em todos os anos. Ela ainda estava tentando convencer minha professora de ballet, Heidi, a fazer nossas roupas para Giselle.

Quando encontramos Rose perto dos armários ela estava toda alegre, pois tinha acabado de escolher sua atividade extracurricular, ela iria ser líder de torcida. Tinha passado no teste.

E Rose era perfeita pra isso, combinava totalmente com ele, tirando a parte de ser metida, isso ela não era.

E o melhor de tudo é que a aula estava quase começando e eu ainda não havia encontrado o Cullen. Estava tudo indo tão bem.

Minha primeira aula era biologia. Eu caminhei tranquilamente até a sala sete. Andei distraída pela sala até achar uma carteira livre.

Mas para meu espanto, Edward estava lá, e ele estava sentado na única carteira livre (era de duplas) que tinha.

Oh que ótimo, não estou acreditando nisso.

Passei a aula inteirinha sem olhar para ele, eu sentia a tensão que estava rondando aquela sala.

E eu também sentia o olhar de Edward em mim, aquilo estava me deixando desconfortável.

No finalzinho da aula, que parecia ter durado uma eternidade, o professor falou uma coisa que não me deixou muito feliz.

“Pessoal, espero que tenham gostado de seus lugares, porque eles serão seus até o final do semestre, e a pessoa que esta ao seu lado será seu parceiro até o final do semestre também.” Ele falou, segurei um gemido abafado.

Edward ficou mais tenso. Se é que isso é possível.

“Bem, para amanhã eu quero uma redação sobre o que foi ensinado hoje, uma folha por dupla.” Ele falou e finalmente o sinal tocou.

Eu sai bufando, Edward segurou meu braço.

“Depois da aula me encontre na biblioteca, temos que fazer a redação.” Ele falou e então saiu. Que merda.

Minha próxima aula era matemática, sorri ao entrar na sala, tinham varias carteiras vagas. Mas então eu vi Rose acenando e apontando para a sua carteira, que estava vaga. Fui até ela e me sentei.

O professor entrou um pouco atrasado e então o pessoal parou de gritar e jogar bolinhas de papel.

Rose me passou um bilhete. Observei sua caligrafia caprichada.

Alice falou alguma coisa sobre você é um cara. Me conta tudo.

No mesmo papel, escrevi de volta:

É uma longa história. No intervalo eu te conto, é grande demais para escrever... E é complicada demais também.

Ela leu o papel e não pareceu muito feliz. Ela escreveu mais alguma coisa e me passou o papel.

Você não vai escapar, no intervalo eu quero saber de tudo!

Eu sorri para ela e guardei o papel.

O professor olhou para nós com cara feia, fingimos estar prestando atenção.

Minha próxima aula foi geografia, sentei com Mike, ele me pareceu feliz.

Na hora do intervalo eu encontrei as meninas no refeitório, e para a minha sorte, Alice já tinha explicado a historia para Rose.

“Belinha que cafajeste esse cara!” Ela falou. “Mas me mostra quem é, ele ta aqui no refeitório?” Ela perguntou, olhando para as mesas.

Eu não queria vê-lo de novo, mas procurei por ele no refeitório, e então eu vi. Ele estava sentado na mesa do time de basquete.

“Aquele na mesa do time de basquete, com cabelos cor de bronze e olhos verdes...” E lindo, e perfeito e tão maravilhoso. Eu completei mentalmente.

“Ai meu deus Bella!” Rose e Alice falaram ao mesmo tempo.

“Ele é gostoso!” Falou Rose.

“Lindo!” Disse Alice.

Era só o que me faltava.

“Mas vocês não sabem da ultima.” Elas rapidamente voltaram suas caras para mim. “Edward Cullen é meu parceiro na aula de biologia.” Elas fizeram cara de espanto. “E hoje teremos que nos encontrar depois da aula pra fazer uma maldita redação!”

Elas ficaram conversando qualquer coisa que eu não prestei atenção. Eu comi apenas uma maça, tinha perdido totalmente a fome. E ainda tinha inglês e historia depois do intervalo. Merda.

O pior de tudo era aguentar o que viria depois da aula.

Eu teria que ficar no mesmo ambiente que Edward, eu teria que falar com ele. E aquilo seria muito doloroso.

Tive a ultima aula com Alice, que tentou me deixar mais confiante sobre ver Edward, mas não deu muito certo.

Quando o sinal tocou meu corpo inteiro tremeu, Alice me desejou sorte e foi para casa com Rose.

Quando cheguei à biblioteca e vi Edward concentrado, escrevendo alguma coisa em uma folha.

“Já vou avisando que precisamos ser rápidos.” Falei. “Tenho Ballet depois.” Ele bufou.

Foi tenso fazer aquilo. Não nos falávamos direito, apenas escrevíamos. Quinze minutos depois, já tínhamos terminado a redação.

Eu e ele fomos até ao almoxarifado para grampear as folhas, e aquele lugar era muito pequeno!

Ficamos espremidos ali, e de repente bateu um vento e a porta fechou em um estrondo.

Eu levei um susto e segurei o braço de Edward, quando percebemos, eu soltei.

Edward foi abrir a porta e ela não abriu.

“Esta emperrada!” Ele disse, forçando a porta.

“E a chave?” Perguntei.

“Acho que deixei do lado de fora.” Ele disse de cabeça baixa.

“Não acredito Cullen!” Falei irritada. “Faça alguma coisa que preste e ligue pra alguém vir nos tirar daqui, meu celular esta sem bateria.”

Ele tirou o celular da mochila, mas quando ele foi discar ele me olhou com uma cara de “fudeu.”

“Ta sem sinal!”

Eu sentei no chão e me desesperei. Eu não podia ficar presa ali com o cara que eu menos queria ver na minha vida. Não podia!

Ele se sentou ao meu lado. Eu fiquei meio apreensiva.

“Bella, você não acha que isso é um sinal?” Eu revirei os olhos. “Por favor me desculpa, eu sei que eu fui um idiota, mas é que eu tenho motivos.”

Eu olhei pra ele já chorando.

“Edward, não posso namorar alguém assim, a dança é a minha vida!” Eu já estava quase soluçando.

Ele passou os braços pelos meus ombros, e por incrível que pareça, eu não reclamei.

“Eu prometo pra você que não serei preconceituoso com sua dança Bells, eu posso até ir assistir você, sempre.” Ele agora acariciava meu cabelo, sorrindo. “Eu te amo Bella.”

Eu tremi.

“Prove.” Eu precisava de alguma coisa que me fizesse acreditar, eu estava insegura, e eu tinha meus motivos.

“Não posso provar Bells.” Ele disse e então olhou em meus olhos. “O amor é construído com confiança, você precisa confiar em mim! Você tem que acreditar que eu te amo de verdade!”

Eu chorei mais, as lagrimas caíam desesperadas pelo meu rosto. Ele limpou com seus dedos e então colou nossos lábios.

No começo eu hesitei um pouco. Mas depois eu deixei ele me beijar, eu me sentia bem com aquilo, mesmo não querendo.

E então eu precisei parar para respirar.

“Eu acredito em você.” Falei. Ele imediatamente sorriu. “Mas antes você precisa me contar o seu motivo para odiar a dança.”

Ele suspirou.

“Eu ia ter que te contar um dia mesmo não é?” Ele coçou a cabeça. “Você nunca pode contar isso pra ninguém Bella, só a minha família sabe.”

Eu assenti com a cabeça, fazendo sinal para ele continuar.

“Eu fiz ballet desde os meus cinco anos de idade até os doze.” Eu me assustei, nunca imaginei isso. “E eu adorava, era minha vida, assim como é pra você.”

Eu sabia bem como era isso.

“Mas uma vez, o pessoal da escola foi em uma das minhas apresentações em um passeio escolar e descobriu que eu fazia ballet. E foi a gota d’água, ninguém mais falava comigo, eu não tinha mais amigos. Todos riam de mim, zoavam de mim.”

Soltei um gemido, coitadinho!

“E então eu sai do ballet, mas mesmo assim continuaram me chamando de coisas como viadinho e se afastando de mim toda vez que eu passava, como se eu tivesse uma doença contagiosa.

Eu mudei de escola, mas não foi o suficiente, eles continuaram me perseguindo, me zoando, contaram pro pessoal da escola nova. E eu não tinha mais paz. E então eu e minha família fomos obrigados a nos mudar.

Fomos para Forks, uma cidade bem pequena e chuvosa, e lá ninguém me conhecia, ninguém sabia que eu já tinha feito ballet e ninguém me zoava. Eu entrei para o basquete, virei popular, fiz amigos, fiquei com garotas.

Essas coisas que todos os garotos fazem, e eu nunca mais voltei para a dança. Eu criei repulsa pela dança, eu tinha nojo, pois graças a ela tive que abandonar minha antiga vida e me mudar, e o pior de tudo, arrastei minha família junto.

Jane me culpa até hoje pelas amiguinhas que ela perdeu graças a mudança repentina. Meus pais perderam clientes, essas coisas, mas agora tudo voltou ao normal, até eu conhecer você.

A única bailarina pela qual eu não senti repulsa.”

Ele parou de falar e eu comecei a chorar novamente e o abracei.

“Oh Edward, não culpe a dança!” Eu falei. “Os culpados são as pessoas idiotas e preconceituosas que fizeram aquilo com você. As coisas não são mais assim Ed, porque você não volta a dançar?” Perguntei, ele apenas negou.

“Ainda não consigo Bells, não consigo mesmo, quando eu fico na ponta dos pés eu me lembro de tudo o que aconteceu, da dor que eu sentia, e eu não consigo continuar.” Ele estava prestes a chorar, eu segurei sua mão.

“Tudo bem Ed. Como você quiser, mas é bom saber a sua historia.” Eu sorri para ele.

Eu fiquei ali por alguns minutos, abraçada com ele, até que alguém abriu a porta.

Era o zelador, explicamos pra ele o que tinha acontecido e ele nos deixou sair, eu fui até minha aula de ballet e por incrível que parece, Edward foi comigo.

No meio do caminho eu parei e olhei pra ele.

“Você nunca me disse que jogava basquete.” Falei.

“Nunca me lembrei de te contar.” Ele sorriu.

“E se eu tiver algo contra atletas?” Eu falei.

E então nós dois caímos na gargalhada.