- MÃE! ALGUM SER VIVO? - cheguei em casa gritando delicadamente.

Fui andando até a cozinha e vi um bilhetinho na geladeira:

Filha,

fui ao mercado e depois vou ao salão. Tem comida na geladeira.

Beijinhos

Mamy.

- Valeu mãe! Por não marcar um horário para mim também! - reclamei. Qual é? Tô precisando mais que ela concerteza.

Saí da cozinha e fui na sala, ligando o som no último volume. Coloquei o cd do Mcfly para tocar e saí dançando "5 Colors in Her Hair" por aí... Fui até o meu quarto, tirei meus tênis (e os joguei em qualquer lugar) e troquei de roupa. Já falei que adoro a minha casa? Pois é, porque eu adoro! Meu quarto ficava no segundo andar, então desci correndo na escada (coisa que a minha mãe não deixa) e quase cai de cara no chão por causa do tapete. Mas ignoramos a última frase. Cheguei na sala, me joguei no sofá e peguei minha mochila jogada em um canto do cômodo. Coitada, até o final do ano não dura.

Peguei umas lições de casa e as organizei por onde de chatice. Matemática era a primeira. Bufei e começei a fazer umas questões, chatas e entediantes sobre a matéria. Fiquei uns 10 minutos fazendo, antes de jogar o caderno longe (digo, em cima da mesa) e ir ler o texto de literatura e fazer a avaliação que a professora pediu.

- Lição de casa é a coisa mais chata que alguém já inventou! - resmunguei comigo mesma.

Levantei do sofá, deixando todas as minhas coisas esparramadas sobre o mesmo, e fui para a cozinha. Minha barriga já estava começando a dar sinal de vida. Fiz um lanche rápido e ouvi a porta de casa se abrindo.

- CLARA! - minha mãe grito.

- Oi mamy! - disse sorrindo - Nossa, seu cabelo tá show, hein?

- Não adianta puxar o saco, arruma essa bagunça. Depois vai buscar sua irmã para mim, ok? - não mãe, nada ok.

- Tá bom, eu vou buscar a coisinha albina para você. - falei entediada.

- Não fala assim da sua irmã!

Revirei os olhos e fui arrumar as minhas coisas. Depois que terminei, fui procurar meu tênis para poder ir buscar a baixinha. Minha irmã tem 6 anos, é loira e tem olhos verdes. Como você pode deduzir, ela é bem branca, não branca como a Anna, mas branca. Tá, eu mesma não tô entendendo o que estou falando.

***

Eu estava indo a pé para o colégio, meu pai não acordou para me levar. Simpático, não? Enfim, pelo menos hoje eu não ia ficar tão perdida quanto ontem, além disso, estava com o meu ipod então tinha uma distração. Cheguei na frente da escola e procurei pela Val. Estava me sentindo uma completa boba sozinha olhando para os dois lados, sem sair do lugar. Foi quando a vi. Ela, Anna, Lucy e... Thomas. THOMAS? ELA É AMIGA DO THOMAS? ERA SÓ O QUE FALTAVA! Tá, eu não tenho que ficar nervosa desse jeito, nem tenho que estar sentindo as minhas mãos suando... Só porque nós não nos demos bem ontem, não significa que hoje todo mundo saiba e ele me odeia. Será? Aí, eu tenho que parar com isso!

Fui andando na direção deles, que estavam sentados em um banco do lado da escada. Ao me ver Valentina me cumprimentou:

- Oi. - ela disse sorrindo.

- Oi. - respondi sem graça.

- Oi Clara! - essa foi a Anna.

- Olá Anna.

Olhei para a Lucy e vi ela bufando de braços cruzados, olhando o além. Tenho medo dessa menina. Mas aí eu vi quem sentava perto dela, e vi o Thomas. Ele estava ouvindo música e conversando com uma Lucy emburrada. Suspirei e esperei que ninguém tivesse notado. Ouvi o sinal batendo e desliguei o ipod.

- Val, você pode me mostrar a sala de geografia? - perguntei.

- A Lucy pode te mostrar, a primeira aula dela também é geografia. - ela respondeu sorrindo para a mesma - Você pode, não Lucy?

A menina olhou para mim e depois de volta para a Val e disse:

- Tá, eu mostro.

Sorri para ela em sinal de agradecimento e ela revirou os olhos. Outch! Fiquei em silêncio quando entramos na escola, cada um foi para o seu respectivo armário, eu fui com a Valentina já que meu armário era ao lado do dela.

- O que tem de errado com a Lucy? - perguntei enquanto mexia no meu armário.

- Ah! - ela parecia surpresa com a pergunta - Ela só está meio... hã mal-humorada.

- Ela parece estar assim desde ontem. - falei baixo.

- Vem ou vamos chegar atrasadas na primeira aula! - disse Lucy aparecendo sei lá de onde.

Geografia! Matéria sem nenhuma importância real na minha vida! Sério, nenhuma mesmo. Ao chegar na sala, me sentei na única cadeira vaga: a do lado da Lucy. A professora ficou falando sem parar e eu fiquei desenhando no meu caderno.

- Então façam o começo do trabalho agora, como eu sou legal, vou deixar vocês escolherem suas duplas. - ouvi a voz distante da professora falando.

Beleza, agora eu faço dupla com quem? Ah! Já sei! Com o Gasparzinho, meu amigo camarada! Foi quando eu olhei para a Lucy e ela também não tinha par.

- Vamos fazer juntas? - perguntei olhando para ela.

Lucy olhou em volta, suspirou e pareceu pensar por um momento depois assentiu. Sabe o que foi estranho? É que passamos a aula toda de geografia conversando, parecia que éramos super amigas! E eu retiro totalmente tudo o que disse dela, Lucy é super simpática. Rimos tanto durante a aula, que eu acho que a professora nos odiou.

As outras aulas passaram rápido, graças a Deus! Tive mais duas aulas com o Thomas, e consegui passá-las sem o encarar... Talvez não sem, mais bem menos. Na hora da saída, saí com a Valentina. Porque falei que ia passar na Starbucks e ela se convidou para ir junto. Não que eu não queira a companhia dela, mas eu queria ter convidado. Manias da Clara, ignorem.

- Então, você se deu bem com a Lu, né? - ela me perguntou, antes de colocar um biscoito inteiro na boca.

- Ela é mais legal do que eu pensava. - respondi dando de ombros - Você é amiga do Thomas?

- Sou sim, ele é legal. - ela respondeu sorrindo - Você já falou com ele?

- Na verdade sim. Ontem. Mas acho que não foi uma conversa legal...

- Como assim? - esse interrogatório está me pertubando.

- Ele me fez uma pergunta meio óbvia, eu estava estressada e fui irônica. Acho que ele não gostou muito da minha resposta, mas eu sou assim mesmo. Quando estou brava, frustada e tudo mais, sou irônica e sarcastica. A culpa não é minha. - disse explicando a ela.

- Agora tudo faz sentido. - Val falou olhando para cima.

- Brisei. Pode me explicar o que faz sentido Valentina? - falei aumentando o número de interrogações no nosso diálogo.

- Hã... Prometa que você não vai contar! Prometa! - ela falou com uma carinha infantil, que eu já percebi que era dela mesmo.

- Tá, que seja, eu prometo.

- Ok. É que ele conversou comigo no msn, e disse que você.... Que você era muito mal educada, ele foi gentil com você e que você foi uma grossa sem educação.

- ELE DISSE O QUE? - gritei, fazendo metade da Starbucks olhar para mim.

Ele nem me conhece! Como pode falar isso de mim? Eu, logo eu! Ok, ele nem sabe quem sou eu. Duvido que saiba o meu nome, e desde quando isso me importa? E daí que ele não sabe o meu nome? Por mais que eu fale tudo isso, parte de mim gritava: VOCÊ SE IMPORTA SIM! E a outra parte gritava: MOSTRE PARA ELE QUE ELE TÁ ERRADO!

Adivinha qual dessas partes eu mais ouvi? O Thomas está completamente enganado, eu quero mostrar isso.