Posso Te Contar Um Segredo? escrita por Isabeleeh


Capítulo 4
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/82853/chapter/4

Promessas 

 

 

Uma silhueta definida e negra caminhava às margens da escuridão, descendo por uma ruazinha estreita e imunda.

 

Em seus braços uma criança chorava, amedrontada. Mesmo que fosse pequena e nada entendesse, ela sentia ao menos que algo muito ruim iria acontecer. Ela estava certa. Estava!


Uma corrente extremamente gelada de ar passou pela silhueta coberta pelas sombras, fazendo com que seus logos cabelos rumassem para todos os lados, indo de cá para lá, de lá para cá, incessantemente.

 

A mulher ao sentir a brisa forte que lhe açoitara as costas, tremeluziu. Ela estancou, olhou para cima e franziu o cenho.

 

Seu mestre estava demorando demais...

 

Ele ainda nem conjurara a marca negra no céu estrelado e repugnantemente feliz.

 

 

Não muito longe dali o ar rodopiava de uma maneira anormal, até perfeita demais; e dali corpos vestidos de longos sobretudos negros surgiam.

 

- Contas a verdade? – falou um deles, dirigindo-se a um baixinho de cabelos crespos e mal cuidados.

 

- Já lhe repeti várias vezes, senhor, eu os vi, todos mortos, incluindo Aquele-que-não-deve-ser-nomeado. – respondeu, passando as mãos suadas em seu traje esfarrapado.

 

O homem, mais uma vez, olhou-o de cima a baixo, medindo-o com um ar superior.

 

- Não creio que ELE tenha sido morto pelos Potters! Impossível! – o homem falou, mexendo a cabeça de uma forma inconformada.

 

- Senhor, foi o que eu vi! – o baixinho despenteado repetiu.

 

- Bem, veremos se o que falas é verdade!

Declarado isso, todos caminharam em direção a casa, ou o que restara dela, no final da vilazinha.

 

 

 

O homem alto e pomposo, que aparentava ser o chefe dos outros, empurrou a porta, escancarada, da casa, e chocou-se ao ver o corpo de Thiago Potter estendido no chão, próximo a escada.

 

- Está vendo? – o baixinho falava. – Eu lhe disse! Eu lhe disse! – repetia de peito estufado, todo orgulhoso.

 

- Avisem a Ordem e o Ministério imediatamente! – Ordenou com severidade o líder. – E cerquem a área. Capturem qualquer suspeito. 

Eles devem estar por perto, atrás do mestre. – o homem agora subia degrau por degrau, com um profundo receio do que encontraria ao entrar em um aposento quase que inteiramente destruído.

 

Os outros apenas concordaram e foram-se apressadamente cumprir suas tarefas.

 

Os únicos seres vivos na casa, agora, eram o líder dos aurores, receoso, o homem baixinho, e o garotinho assustado, com grandes olhos verdes marejados e já cansados de chorar, preso em um berço, sozinho, em um quarto destruído.

 

 

- Abra a porta! – ordenou o auror para o baixinho que lhe acompanhava. Esse o obedeceu. Sem temor, ele abriu a porta, que assim que fora tocada caíra duramente no chão, revelando a chocante cena de um quarto de bebê inteiramente destruído, salvo o pequeno berço branco ao lado da única parede que sobrevivera.

 

O auror caminhou até o berço, e alarmou-se ao ver o corpo de Lílian no chão em frente ao mesmo, enquanto no berço, um bebezinho sentado, escorado as hastes, olhava para o homem, assustado e temeroso de ser machucado.

 

- Eu não sabia que os Potters haviam tido algum filho? – o auror comentou, falando mais para si mesmo do que para o homem parado ao seu lado.

 

- Eu também não sabia senhor. Deve ser por isso que não houve noticias dele por quase um ano, até que isto acontecera, claro.

 

- E foi uma sorte imensa você estar perambulando por aqui quando isto acontecera, não?! – o auror falava sem nem se dar conta de suas palavras, pois ele estava ocupado demais pegando desajeitadamente a criança e analisando-a, enquanto a mesma chorava cada vez mais alto.

 

- De fato, meu senhor! – o baixinho abriu um astuto sorriso malvado, que por sorte ninguém nunca chegara a ver...

 

 

 

- Será que esse garoto nunca irá parar de chorar? – falara o auror impaciente, sentando no sofá, batendo freneticamente o pé no piso de madeira.

 

O baixinho balançava Harry em seus braços, sentando ao lado do auror. Ele, ao contrario do outro homem, não demonstrava qualquer resquício de uma irritação crescente, pelo contrario, ele olhava para Harry com um brilho cheio de uma perigosa fascinação no olhar.

 

- E por que diabos aqueles inúteis estão demorando tanto? – o auror perguntou, levantando-se em um salto e dirigindo-se à janela estraçalhada que dava para o jardim.

 

 

Sua impaciência só crescia, e quando ele viu uma figura alta de feições cansadas, mas com um jovial sorriso no rosto, um sorriso quase que completamente escondido por sua longa barba crespa e branca. O chapéu pontudo e as vestes com um ligeiro tom reluzente o denunciavam: era sem duvida Alvo Dumbledore.

 

- Senhor Beckword, agradeço por terem mandado avisar-me antes do Ministro. – falara Alvo adentrando a sala, seguido por um auror de cabelos já esbranquiçados, e seu fiel Snape, em sua constante posse superior e assustadora.

 

- Não agradeça-me! – o Beckword falara fazendo pouco caso do assunto. – Vocês apenas tiveram a sorte grande de chegar antes do Ministro.

 

- Sim, meu caro, eu vim assim que soube. – Dumbledore andou calmamente até Harry. – Ele fora o único que sobrevivera? – perguntou com sua testa franzida.

 

- Já foi muito encontrarmos essa criança viva. Eu nem sabia que os Potter tiveram filhos. O senhor sabia? Falta mais alguém da filha?

 

- Não. – Dumbledore respondeu instantaneamente, sem alterar o tom da voz ou a suavidade de suas feições. – Se não se importas Beckword, eu quero mandar Snape para vasculhar a área.

 

- Será totalmente desnecessário, pois já mandei meus homens o fazerem a muito tempo!

 

- Como o senhor mesmo dissera, já faz muito tempo, eles devem ter encontrado algo pela demora!

 

- Ou ficaram perdidos! – pela primeira vez Snape manifestara-se, e o fez cheio de arrogância e sarcasmo.

 

- Faça como quiser! – o auror falou arrogante, voltando-se ao seu assento no sofá, mas fez uma cara de desgosto quando Harry voltara a chorar.

 

 

Dumbledore e Snape foram até o jardim. O vento soprava gelado, arrepiando a pele desprotegida.

 

- Se o que dizes mais cedo é verdade... – Dumbledore fez uma pausa, olhou para o céu estrelado e depois voltou o olhar ao rapaz de nariz fino e torto. – Narcisa não deve estar longe. Ela deve ter pressentido que algo está errado e deve estar esperando seu mestre, escondida em algum lugar. Ache-a antes que os outros aurores o façam. Ache um jeito de convencê-la a lhe entregar a criança.

 

Snape acenou a cabeça, concordando.

 

- Lílian não gostaria que a filha fosse criada por comensais! – Dumbledore comentou.

 

- Mas, senhor, se a profecia estiver certa...

 

Snape falava, até que Dumbledore lhe interrompera, com um aceno de mão, em um pedido mudo para que ele não fosse tão imprudente.

 

- Por Merlim, que a profecia não esteja certa! – disse o velho, por trás de seus óculos em forma de meia lua seus olhos marejavam-se.

– Caso contrario, eu terei pena dessas crianças.

 

 

 

O Ministro já havia chegado, trazendo junto seus melhores aurores. O clima dentro da casa estava tenso. Todos muito pensativos e aliviados. Aliviados porque Voldemort finalmente caíra; pensativos porque não sabiam o que aconteceria dali para frente.

Talvez, os comensais revoltem-se e por conta própria tomassem o Ministério e controlassem o mundo mágico. Ou talvez, eles apenas calem-se, escondam-se, fujam amedrontados, perdidos sem o seu mestre.

 

 

Dumbledore estava lá fora, na noite terrivelmente gelada; algumas gotas de chuvas teimavam a começar a cair, intensificando-se cada fez mais, porém, isso não incomodava o velho sábio.

 

Passos quase que inteiramente sufocados pelo barulho da água batendo contra o asfalto fino da estrada, eclodiram, tomando a atenção do velho, que se aliviou profundamente ao ver Snape segurando uma sonolenta garotinha.

 

- Graças a Merlim! – Dumbledore aclamou. – Vamos, dê-me ela!

 

Snape entregou a garota aos braços frágeis de Dumbledore, que a segurou com um demasiado cuidado.

 

- Tão parecida com a mãe, não achas? – falara Dumbledore analisando pela primeira vez em muito tempo a menina. – Ah! Desculpe-me Severus, sei que não gostas de tocar nesse delicado assunto.

 

Snape apenas deu de ombro, seu coração estava apertado demais, impedindo-o de falar algo que saísse claro e firme.  

 

- Mas, diga-me, estou curioso, o que você fez para convencer Narcisa a entregar-te a menina? – perguntou Dumbledore, olhando o amigo de uma forma fascinada, mas o fascínio logo cedeu ao escutar a resposta curta e inerte de Snape.

 

- É deprimente o jeito como as pessoas cofiam demais uma nas outras!

 

 

 

Dumbledore voltou o olhar para a menina em seus braços, que já dormia com a cabeça encostada no ombro direito do velho, e os curtos cabelos escuros misturavam-se com a noite.

 

- Vamos levá-la para um lugar seguro, longes deles! – falou Dumbledore, caminhando pela ruazinha.

 

- O senhor tem certeza de que somos os únicos que sabem da existência dela e da daquela profecia? – perguntou um raro Snape apreensivo.

 

- Quanto à profecia, receio que não posso lhe afirmar nada ainda. Porém, com a existência de Claire, pode ficar calmo, somos os únicos vivos que sabem fora Sirius e os Malfoys, claro.

 

Quando Snape abriu a boca para perguntar como Dumbledore tinha certeza de que Sirius sabia daqui, Dumbledore lembrou-o:

 

- As lembranças!

 

- Claro senhor! – Snape falara de cara fechada, emburrado. Ele poderia viver “feliz” sem Lílian de agora em diante, mas aquela narcisista queria atormentar-lhe até depois de morta, deixando aquelas lembranças! Arg! Mulheres!

 

 

Eles aparatam atrás de um muro alto de alguma fabrica velha e possivelmente abandonada.

 

Em questão de poucos segundos chegaram ao seu destino: um bairro normal, de uma cidade normal, com casas normais e pessoas normais.

 

Eles andaram apressadamente até pararem em frente a uma casa laranja com dois andares, repleta de janelas que revelavam cômodos luxuosos.

 

Dumbledore bateu três vezes na porta de madeira maciça e esbelta.

Passos ecoaram do outro lado, aproximando-se cada vez mais.

 

 

Uma jovem mulher magra, de longos cabelos ondulado castanhos misturando-se anormalmente com um tom de verde musgo, abriu a porta, surpresa.

 

- Senhor... – falara a jovem, nervosa, hesitando a cada nova palavra que era expulsa as pressas de sua boca. – O que o senhor quer? Entre, por favor! Quem é essa menina? É sua filha? Meu Merlim! Quem é a mãe? Conte-me tudo! Pensei que depois daquele meu comportamento áspero e totalmente infantil o senhor nunca mais iria querer me ver, mas é ótimo saber que eu estava errada! Oh! Entre, entre!

 

A jovem afastara-se para que Dumbledore e Snape pudessem entrar, e quando os dois o fizeram, ela fechou a porta rapidamente e conduziu-os até a sala.

 

- Artur! – a jovem gritara ao pé da escada, parando seu trajeto rumo à sala. – Veja quem está aqui!

 

Sorridente, ela caminhou até o cômodo onde seu antigo mestre e Snape estavam.

 

- É tão bom revê-lo! Como está as coisas, senhor? Não devem estar fáceis, não é?! Não estar fácil para ninguém que não seja um comensal! – a jovem riu-se. Snape revirava os olhos e pensava como ela continuava a mesma irritante que falava pelos cotovelos de antes. – E essa menina? Sua filha? A mãe é a Minerva, acertei? Eu sempre soube que ela tinha uma quedinha por você, mas não sabia que um dia vocês poderiam ter um futuro de fato.

 

- Minha querida, uma coisa de cada vez, por favor! – pediu Dumbledore, sorrindo meigamente

 

- Desculpe-me!

 

- Primeiramente, é sempre bom revê-la de novo, Sophie! E eu nunca fiquei com raiva de você e de seu marido por terem abandonado a Ordem, pois compreendo perfeitamente o motivo: vocês se casaram, tiveram um filho, queriam viver. E o único meio que encontraram para isso foi fugindo da magia.

 

- Vivendo como trouxas, patético! – Snape comentara, olhando para Sophie daquele irritante jeito esnobe dele.

 

- Snape! – Dumbledore repreendera.

 

Nesse momento um homem esguio entrara na sala.

 

- Artur, meu querido, veja, Dumbledore veio nos visitar. E ele tem uma filha! Não é ótimo.

 

Artur nunca gostara de Dumbledore. Ele apenas o tratava com respeito por causa de sua esposa.

 

- Bom lhe ver novamente! Também teve um filho? Meus parabéns! – Artur falara, sem um pingo de emoção em sua voz. Ele se pôs ao lado da mulher, em frente ao confortável sofá

 

- Não! Sophie, você e seu julgamento prematuro continuam o mesmo! – falara Dumbledore, respirando pesadamente ele continuou: – Essa criança não é minha. E eu vim aqui lhes pedir um favor, e serei eternamente grato se vocês o cumprirem.

 

- Nós não voltaremos para a Ordem! – Artur respondera rapidamente, carrancudo.

 

- Artur! O que o senhor deseja?

 

- Bom, para a alegria de Artur é algo bem simples e não envolve a Ordem! – Dumbledore ajeitou seus óculos, que escorregaram ligeiramente pelo seu nariz pontudo e continuou: - Quero que vocês cuidem dessa garota!

 

- Por quê? – perguntou Sophie com uma ponta alarmante de curiosidade na voz.

 

- Você-sabe-quem matou os pais dela. – confessou Dumbledore. Ele não iria mentir. Contaria toda a verdade para os dois, mesmo que isso os assustasse. – E alguns comensais estão desesperados atrás dela, por causa...

 

- Senhor! – Snape advertiu. Ele dirigiu um olhar frustrado para o velho. Não acreditava que ele iria contar a verdade para aquelas pessoas de lealdade duvidosa, segundo Snape.

 

- Eles merecem saber o que vão ter que enfrentar se aceitarem à minha arriscada proposta. Sentem-se e deixe-me lhes contar tudo pelo qual essa pobre garota terá que enfrentar.

 

 

Dumbledore contou-lhes tudo. Desde àquela profecia estúpida que os levara a tudo isto, até que a ultima ordem de Voldemorte era que os Malfoys cuidassem daquela criança, ensinado-a os “princípios de todos os bons Comensais”.

 

 

- Então, será que vocês podem me fazer um ultimo favor? – Dumbledore arqueou uma sobrancelha, adoçou seus olhos e abriu um sorriso bondoso. – Eu apenas quero que o nosso mundo nunca saiba da existência dessa criança.

 

Sophie olhou para o marido e mordeu o lábio inferior.

 

Ela ponderou por um momento. Ela podia dizer que não, que era perigoso, e não queria que sua família se machucasse; ou ela podia dizer que sim e finalmente ficar livre de todo o complexo mundo da magia e suas guerras incessantes.

 

- Até quando teremos que cuidar dela? – perguntou Artur, afastando sua mulher de seus pensamentos longuinhos.

 

- Se tudo ocorrer como eu penso; e eu penso que Você-sabe-quem está de fato morto e que apenas os Malfoys, por lealdade exacerbada, estão atrás da criança; então vocês terão que aceita-la desde já como sua filha, para sempre.

 

Artur balançou a cabeça, em uma afirmação muda de que entendera e de que aceitava aquele pedido.

 

Ele apenas queria ficar livre de tudo aquilo o mais rápido possível. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Posso Te Contar Um Segredo?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.