Passei por toda a entrada o Empire State Building, e não me dignei a falar com o recepcionista. Fui até o elevador, a passos pesados. Ele, por sorte, atendeu ao meu chamado e se abriu. Me recusei a esperar Serena e a colocar no meio da confusão também. Enquanto o visor de andares pulava rapidamente, eu controlava minhas lágrimas. A imagem de Chuck partindo não saia da minha mente. Peguei Contracorrente, por prevenção, em sua forma de caneta. Quando as portas do elevador se abriram novamente, eu me preparei para ser fulminada. Mas Zeus estava mais ocupado olhando para uma grande TV, com a imagem de Chuck ao lado de Cronos. Era como se todas as adagas do Universo estivessem sendo fincadas nas minhas costas. 

- Está feliz agora? - Eu gritei, fazendo ele e todos os deuses presentes se virarem. Dos vários olhos pesados encima de mim, reconheci Hera e Atena. Afrodite também estava lá, o que era estranho já que eles estavam em guerra. Zeus parecia nervoso, mas não me respondeu. - Chuck está com Cronos agora. Ele largou tudo! - Continuei, enquanto sentia algumas lágrimas correrem pelo meu rosto.

- Não me acuse criança, a culpa não é minha. - Ele falou duro, caminhando na minha direção. Eu via tanta dor nos olhos dele como nos meus. Mas ignorei. 

- Não? E de quem é? Você é um pai ausente e cruel. Nunca tentou ajudar seu filho! Ele tinha motivos mais que o suficiente para virar as costas para você. Você pode ser o deus mais poderosos mas é o mais estúpido também. Ninguém gosta de você, Zeus. - Brinquei com o fogo não o chamando de senhor. - Todos lhe aguentam, suportam seus abusos e gritos! Nem mesmo o seu filho conseguiu lhe suportar! - Para minha surpresa, Poseidon surgiu logo atrás de Afrodite. 

- Blair, se acalme. - Ele me olhou, dando de entender duas coisas: a guerra havia cessado, e Zeus estava já suficientemente chateado.

- Me acalmar? Chuck acabou de partir! - Eu gritei mais, vendo Atena dar um passo a frente. - VOCÊ! - Apontei para ela. - Não venha tentar me acalmar! Deve estar saltitante com isso, não évovó? Veja bem, você conseguiu o que queria. O único homem que eu realmente amei na minha vida partiu por culpa de vocês. Espero que estejam satisfeitos agora. - Saí dramaticamente, mas tudo escureceu de repente.

Abri os olhos, reconhecendo as paredes pérolas. Era o meu chalé, no acampamento Meio-Sangue. Com a visão meio embaraçada, focalizei Serena, com os grandes olhos azuis preocupados sobre mim. No momento seguinte, percebi que outro par de olhos azuis me encaravam e por um momento pensei que fosse o Nate. Mas parecia mais velho, cerca de 34 ou 35 anos. Ele estava sorrindo quando minha visão voltou ao normal.

- Olha! Você acordou! - Ele falou animado.

- O que... aconteceu? - Eu pedi me sentando na cama.

- Você desmaiou pouco antes de entrar no elevador. - Serena disse enquanto piscava de um jeito meigo, mas ela não olhava para mim, e sim para o homem ao meu lado. 

- Sua pressão estava, tipo, uns 90 por 80, mas acho que já deve ter voltado ao normal. - Pisquei, quase sem acreditar no meu cerébro.

- A... Apolo? - Ele sorriu.

- Deus da Beleza, Medicina, Poetas e Oráculos aos seus serviços. - Não consegui deixar de gargalhar. - Acho que esse momento merece um poema. - Ele pigarreou. - A gorotinha desmaiou e pelos cuidados de Apolo acordou. - Serena o interrompeu, nervosa.

- Ãããã, acho que é melhor lhe deixarmos a Blair descançar. - Ela falou, ansiosa para interromper o poema de Apolo, o empurrando para fora. Mas eu não queria ficar ali. Eu só queria pegar minha espada e cortar a cabeça de alguém. E foi isso que eu fiz. Precisava me preparar!

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Um mês depois.

- Blair, chega, você precisa descansar. Passou o dia todo aqui. - Quíron falava para mim, enquanto eu decapitava mais alguns bonecos. Me sentia com energia reprimida demais. Raiva reprimida demais. - Vamos, querida. Vá para o chalé. Já é tarde e você sequer jantou.

- Não estou com fome. - Respondi rapidamente.

- Vai acabar ficando doente. - Suspirei, me contendo para não dizer "Quem liga!?" Não queria ser dramática. 

- Tudo bem. Eu vou dar uma volta. - Falei, colocando a tampa de Anaklusmos e a guardando do bolso.

Era noite e eu podia ver as estrelas, era tão irritante, mas eu fazia aquilo há muito tempo. Fazem 30 dias que eu venho, todas as noite, até a fronteira do acampamento, embaixo do pinheiro que um dia foi uma filha de Zeus e me sentava. Suspirei.

- É ridículo não é? - Eu falei olhando para o céu, e ri novamente. - O senhor deve me achar uma maluca. Não deve me ouvir, provavelmente. Uma maluca olhando para o céu e falando com Zeus. - Eu gargalhei novamente, maneando a cabeça. - Mesmo sabendo que você não me escuta, me sinto aliviada. é como se... eu pudesse me aproximar do Bass. - Olhei para baixo. - Eu sinto falta do Chuck, senhor Zeus. Nunca me senti tão triste pela falta de alguém, e essa falta de noticias é angustiante! O que ele está fazendo? Ele está bem? Ferido? Com fome? Com outra? - Fechei os olhos, mal acreditando no quão surreal eram as minhas preocupações. - Só posso ser masoquista, certo? Ele... ele me largou. E eu aqui, falando com o nada. Como se qualquer um pudesse me ouvir. Como se alguém quisesse me ouvir. As vezes eu... acho que deveria apenas deixar ele partir. Mas eu me sinto caindo, cada vez mais rápido e mais rápido. Acho que estou virando uma maniaca! Tem tantos sentimentos nisso que eu estou entrando em pânico! Eu queria ele de volta, Zeus. Mas acho que isso pode ser impossível agora. - Ouvi passos atrás de mim, e pulei de uma vez, pelo susto. Era Zeus, em pessoa, andando na minha direção com um olhar pesado.

- Você não é a única. - Me levantei, arrumando minha saia e tirando algumas folhas dela.

- O que o senhor está... fazendo aqui? - Ele sorriu, mas não parecia algo alegre.

- Eu... tenho ouvido seus desabafos em silêncio durante todos esses dias. - Corei. 

- Desculpe. Não queria tomar seu tempo. - Falei com calma.

- Gostaria que você soubesse que estamos fazendo o possível para vigiar Charles, embora não seja fácil. ele está passando pelo treinamento de Cronos, e ele com certeza está aprendendo a apenas ser encontrado quando quer. - Assenti. - E também gostaria de... dizer que fui rude com você, a principio. Mas acabo de perceber que você realmente se preocupa com meu filho. Você não é tão má para uma neta de Poseidon e Atena. Combinação explosiva. - Não pude deixar de gargalhar.

- O senhor também não é tão ruim para um deus mesquinho. - Ele não riu. Mas mesmo assim, eu não retirei o que disse.

- Só porque comecei a simpatizarum poucocom você não quer dizer que não irei lhe transformar em cinzas quando puder. - Eu sorri, percebendo que o tom dele não era sério. 

- Isso não passou pela minha cabeça. - Ele sumiu, como um raio e eu suspirei. Me levantei, preparando-me para ir embora, quando Serena apareceu na minha frente, ofegante. Ela parou, e colocou as mãos nos joelhos, respirando fortemente.

- Essas pernas de cabra definitivamente não foram feitas para correr. - Ele ofegou mais um pouco. - Com que você estava falando? - Olhei para o céu, sorrindo.

- Com deuzinho neorótico. - Um trovão ressonou e ela arregalou os olhos. Mas logo depois, endireitou a coluna.

- Temos problemas no mundo inferior. O exército de Cronos dominou Asfódelos e metade do campo de Punição. Dan e... Chuck, estão comandando. - Ela falou, simplesmente, analisando minha expressão.

- E o que faremos? - Eu disse como se a noticia não tivesse me afetado.

- Senhor D. nomeou você e eu para descermos até lá. Um grupo de semi deuses vai ir logo depois, mas como conhecemos Dan e Chuck ele achou melhor irmos primeiro. - Engoli seco, reunindo cada ponto de coragem do meu dorpo para responder.

- E o que estamos esperando? Vamos comprar as passagens. Avião, primeira classe para Los Angeles! Inferno, aqui vamos nós!