Capítulo 10: Talvez seja

     O vento batia na janela e um arrepio passou por meu corpo. Fazendo-me erguer a vista e afastar a cortina para olhar o tempo. O céu estava com uma ventania fraca e eu podia ver as folhas das árvores balançando e eu acompanhava a dança silenciosa das folhas que caiam com cuidado e leveza no chão. Meu olhar passava para cada nova folha que seguia o mesmo rumo. Suspirei escondendo-me outra vez pelas cortinas da cama.

    O outono de certa forma mexia comigo. Ele parece-me tão triste. O incessante cair das folhas abandonando a árvore me dava à sensação de abandono. Quem sabe a guerra não tenha me deixado meio depressiva? Afastei os pensamentos ao ouvir passos vindos pelo quarto na minha direção. Não fiquei assustada ou impressionada ao ver uma cabeleira loira aparecendo a minha frente e jogando-se na cama.

-Bom dia Lu. - Disse-lhe sorrindo.

-Bom dia Mi. -olhou-me de esguelha- Dormiu bem?

   Eu ri um pouco de sua pergunta por que afinal quem passara por momentos ruins há pouco fora ela e não eu. Acenei afirmativamente enquanto vi-a focar-se no lençol da cama e brincar com eles. Como se estivesse medindo as palavras certas. Sabia que viria agora algo que eu não esperava ou uma noticia ruim. Desejei muito que fosse uma novidade da qual eu nunca tivesse tido o conhecimento. Minha curiosidade só aumentou conforme ela abria a boca e fechava balançando a cabeça.

     Este gesto fez-me a lembrança de certo rapaz aparecer em minha mente. Seus olhos azuis acinzentados. Movi-me sem jeito na cama incomodada com a direção de minha cabeça. Luna vendo minha reação sorriu um pouco e pareceu achar que deveria falar. Por um segundo se levantou e fitou o lado de fora da minha cama e quando volto para o nosso “esconderijo” aproximou-se de mim e eu fiz o mesmo nervosa com a sua postura.

-Você não o tira da cabeça, né?

    Olhei-a chocada. Do que ela está falando? Eu não estava falando nada. Suspirei vencida e de repente minha expressão ficou amedrontada. Será que eu falara enquanto dormia? Eu estava muito ciente de ter sonhado com o Malfoy e isto sem dúvida não me agradava nem um pouco. Desta vez quem mexeu sem jeito no lençol fui eu. E sem me conter as palavras escaparam de minha boca como se fosse algo incontrolável.

-Eu não estava pensando no Malfoy.

     Tapei minha boca no momento em que proferi estas palavras e um sorriso de cumplicidade surgiu na face de minha amiga. Respirei umas vinte vezes para me acalmar fitando o nada. Ela parecia pesar outra vez as palavras e por fim decidiu-se por comentar de novo, mas agora eu não estava muito segura de que queria saber o que se passava em sua cabeça. Ela segurou minha mão e disse com seu jeito sonhador.

-Eu sei que não tem como controlar.

Apertou de leve minha mão me dando apoio. Soltou uma risadinha nervosa e completou.

-Também estou assim.

E aí estava a minha deixa para mudar de assunto. Obrigada Merlin! Olhei para ela e a vi se mexer desconfortável.

-Hmm.

     Foi o que eu consegui dizer. Queria perguntar sobre o Ron, mas fiquei com medo dela achar que eu estava com ciúmes.

- E ele já sabe?

-Ah... Não.

-Por quê?

-Eu... Er...Não sei.

-Você devia falar com o Ron.

    Levei minha mão à boca vendo outra vez falar mais do que queria. Ou mais do que deveria. Vi seu rosto corar e me senti sem jeito. Se fosse eu estaria da mesma forma. Ela assentiu para mim. E eu não entendi nada.

-É deveria e você também.

Levantou da cama e desapareceu pelas cortinas. Fitei sem entender nada. Num segundo somente seu rosto apareceu pela fresta e ela sussurrou.

-Pelo menos para você mesma. Ou diga apenas a si mesma que algo mudou.

      Voltou a desaparecer e eu fiquei paralisada com suas palavras. Não pode estar falando o que penso estar, pode? Uma vontade enorme de sair dali se apossou de mim e assim o fiz. Corri para o banheiro e entrei no banheiro. Tomei um banho e me vista deixado meu cabelo solto. Hoje não esperaria ninguém. Voei para o salão principal e me sentei-me à mesa da minha casa. Meu olhar parou numa mesa especifica. Da Sonserina. Levantei a cabeça olhando para ele. Talvez. Talvez seja verdade.