Utopia escrita por dastysama


Capítulo 5
Capítulo 5 - Um cão na colina




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– Bom dia, pessoal! – disse Biene adentrando a casa com pacotes na mão – Desculpe a demora, mas aqui está o café da manhã de vocês. Comprei vários mantimentos também!

Todos estavam na mesa central da cozinha, estavam conversando animadamente, apenas Bill era o que mais ficava em silêncio. Biene colocou os pães quentinhos em cima da mesa já que nenhum dos garotos parecia disposto a fazer isso e depois colocou o resto das compras na dispensa.

– Biene – disse Bill se levantando e decidindo que fazer um café era melhor do que ficar parado – Lembra que você falou de uma família que morava por aqui? Sabe quem eram eles?

– Bill, a família inteira Baumgärtner morou aqui, a casa vem passando de geração a geração faz séculos. Preciso achar alguma árvore genealógica desse lugar, então terá todos da família que já viveram por aqui.

– Ah, é que eu fiquei curioso – disse ele tentando pensar em um modo de justificar sua pergunta – O brasão está em tudo que é lugar.

– É um modo de mostrar que a casa pertence a essa família. Você teria que reformar a casa inteira para tirar todos os brasões, principalmente àqueles talhados no teto – ela disse ajudando ele com o café – mas se quiser, eu procuro sobre as pessoas que moravam aqui. Deve ter algo na parte mais velha da biblioteca, prometo que vou pesquisar. É sempre legal descobrir sobre o passado.

– Obrigado – disse ele sem saber se valia a pena levar isso em frente, afinal só fora um sonho. E ele não era nem um pouco interessado em descobrir o passado das coisas, mas talvez para Biene isso fosse mais importante para ela do que para ele. Então se ela queria talvez um apoio, ele daria – Isso seria legal.

Terminaram de fazer o café e colocaram na mesa junto com os outros alimentos do desjejum. Todos se sentaram a mesa, até Biene, mas está não queria comer, alegando que já tinha tomado o café-da-manhã, apenas ficou para conversar. Ela era comunicativa, falava até demais e contava a todos eles tudo que acontecia na cidade e até a história do local. Não era tão ruim assim, às vezes era melhor que alguém falasse do que ficar em total silêncio.

– Bill, vire sua caneca – disse ela rapidamente quando Bill deu o último gole no café.

– O que? – exclamou ele sem entender.

– Vire a caneca no pires, vou tentar ler suas borras de café! Eleazar está me ensinando, mas ainda é meio complicado entender alguma coisa – ela disse sorrindo como se isso fosse a coisa mais comum do mundo.

Sem entender muito bem, Bill fez o que ela mandou, virou a caneca de cabeça para baixo e deixou a borra de café escorrer até o pires, então a retirou. Biene se levantou de sua mesa e foi dar uma checada no pires, ela olhou de todos os ângulos, apertou os olhos, parecia que ela estava com certa dificuldade para reconhecer as imagens.

– Não sei bem o que é isso – disse ela ainda tentando reconhecer algo – parece uma girafa, mas acho que não é, está estranha... Mas é algum animal, eu acho... Acho que decididamente não sou boa nisso.

– Essas coisas não funcionam – disse Bill rindo – Para mim só são borrões sem sentido...

– Acho que é um cachorro! – disse ela de repente – É, é um cachorro! Mas esqueci o que significa, ótimo! Vou perguntar a Eleazar, depois eu te falo. Não vou cobrar nada, por que sou uma má vidente, nem sei ler simples borras de café, imagine acertar algo.

– Eleazar? – perguntou Gustav – Não é o seu avô?

– Sim – disse ela – Mas o chamo pelo primeiro nome, não o conhecia desde que nasci. O conheci há cinco anos, mas demorou um pouco para eu reconhecê-lo como alguém da família e ainda é meio estranho chamá-lo de avô.

– Por que vocês não se falavam? – perguntou Tom – Ele é seu avô, oras.

– Bem... Nós morávamos em Madgeburg antes, nunca falei com ele quando estive por lá e ele nunca me procurou também. Depois que minha avó morreu... ele meio que desandou. Então meus pais se afastaram dele e como eu estava para nascer, eu nunca soube mais nada dele.

– Então seus pais voltaram para reatar com ele? – perguntou Georg. Ele já conhecera Biene quando mais nova, por que ela vivia sempre com Gustav antes de ir embora. Bill e Tom não chegaram a conhecê-la muito bem.

– Sim! – disse ela sorrindo de felicidade – Meus pais não estavam conseguindo escrever alguma coisa boa, então inesperadamente meu avô ligou. Então decidimos que ir para lá não seria tão ruim, para mim não era a melhor coisa do mundo, mas aceitei vir. Meu avô é muito bom comigo, nunca pensei que seria assim.

– Mas por que ele ligou, afinal?

– Acho que para voltarmos a nos falar – disse ela dando de ombros – Talvez meu avô percebeu que isso estava errado e precisava concertar o seu erro. Bem, já tenho que ir, preciso dar aula.

– Você é professora? – exclamou Bill – Quantos anos você tem, afinal?

– Dezessete – disse ela sorrindo e pegando sua bolsa – Sou sim, é que sei muito de história e a escola local decidiu me contratar já que não tinham mais professores de história.

Ela pendeu a cabeça para um lado e levantou os ombros como se não tivesse culpa de ser o que é, então se virou e foi embora. Só se viu ela pegando sua bicicleta e seu vulto descendo a colina em grande velocidade sem medo nenhum de cair.

– Sua prima é estranha – disse Tom ainda olhando para o lugar onde ela estava antes – Falo isso por experiência própria, já peguei umas garotas malucas igual a ela.

– Bem, ela sempre foi assim – disse Gustav rindo enquanto comia um pedaço de uma torrada – Desde pequena ela é meio alienada, agora acho que piorou. Mas é uma boa pessoa, vai ser ela que vai nos animar esses dias, podem ter certeza.

– Eu não me importo – disse Bill dando de ombros e olhando para o pires de café sujo, além do tal “cachorro”, parecia também haver uma caixa? – Desde que eu consiga escrever alguma coisa, acho que já é algo grande. Talvez, quem sabe, também não podemos sair um pouco por aí? Se o pôr-do-sol daqui é lindo, imagine o resto?

 

*******************************

 

– Eleazar! – disse Biene correndo afoita para a casa dele, o encontrando deitado no sofá assistindo um programa da culinária na sua TV antiga, com a tela cheia de riscos – Hoje fui tentar ver o futuro de alguém e não consegui lembrar o que significava uma coisa.

– Calma, Sabine – disse Eleazar assustado pensando que algo terrível havia acontecido já que ela chegara gritando – O que foi?

– Vi um cachorro numa borra de café o que significa? – perguntou ela animadamente.

– Significa perdão – disse ele piscando os olhos e tentando a sensação de estar vivendo um déjà vu – Aonde você viu isso? Na borra de café de quem?

– Do amigo do Gustav, ele ama café, então aproveitei para dar uma olhada. O que acha que perdão quer dizer?

– Não sei Sabine, não conheço a vida desse cara para saber – disse ele meio tenso ao ouvir o que ela dissera – Não está atrasada para ir à escola? Você não pode ficar vindo aqui sempre, antes de ir trabalhar, pode se atrasar.

– Eu sei, me desculpe, mas é que eu queria ver o que significava. Além de que ele me pediu também para procurar alguns livros sobre as famílias que viveram antigamente na casa, então queria saber se você que viveu lá, não sabe de nada?

– Não sei muito, acho melhor você procurar na biblioteca. Só conheço as pessoas que convivi quando vivi por lá e não as de antigamente.

– As pessoas nunca falam muito sobre a mansão, devia ser um patrimônio ou o símbolo da cidade. Devíamos saber sua história e não fingirmos que ela é apenas mais uma casa. Os Baumgärtner devem ter alguma importância, devem ter sido pessoas importantes, não podemos nos esquecer deles dessa forma.

– Sabine, eles já morreram – disse Eleazar achando que essa obsessão de Biene pelo passado já estava passando dos limites. Ela podia ser professora de história, mas isso não significava que precisava viver para isso – Se fossem mesmo importantes, já teriam se lembrado deles há muito tempo. Devem ter sido todos uns mesquinhos como sempre foram conhecidos.

– Mas você é um deles – disse Biene tristemente – Se a casa é sua é por que tem ligação com eles.

– Na verdade não, não tenho nenhuma ligação com eles direta. Apenas trabalhei lá, por isso herdei a casa – disse ele dando de ombros como se isso não significasse grande coisa – Fique apenas agradecida que vai herdar essa casa. Como você gosta muito dela, no final poderá morar lá.

Ela não sabia se ficava feliz ou na verdade magoada por ele ter falado daquela forma. Apenas assentiu e deu um sorriso torto enquanto saia da casa e ia em direção a sua bicicleta. Precisava chegar à escola a tempo já que inventara de fazer essa visita de última hora. Talvez depois, quem sabe ela não dá uma passada na biblioteca e vê se acha algo? Sim, era decididamente uma boa idéia. Não era por Bill, isso era para ela mesma.


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