Utopia escrita por dastysama


Capítulo 40
Capítulo 40 - A Carta


Notas iniciais do capítulo

Abaixo, a música que inspirou a fanfic *-*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81561/chapter/40


Ajude-nos, estamos nos afogando tão perto, por dentro
Por que chove, chove, chove em utopia?
Por que tem que se matar o ideal de quem somos?
Por que chove, chove, chove em utopia?
Como as luzes se apagarão nos contando quem somos?

(Within Temptation - Utopia)

Promessas são feitas para serem cumpridas, independente do dia de origem e Bill bem sabia que não podia quebrá-las novamente. Nos seus braços não havia mais a imagem de Johanna, que se perdera pela correnteza, havia apenas Biene inconsciente. Ele se lembrava daquela época, quando prometera que iria vê-la de novo, antes parecia apenas uma promessa infantil, mas agora esse encontro teria que acontecer pelo bem dela.

Com os braços em volta de Biene, Bill subiu o mais rápido que podia para a superfície, com seu coração batendo rapidamente, desesperado para saber se ela estava bem. Seus pulmões ficaram aliviados quando finalmente o ar entrou por eles, o único dilema que se encontrou, é que estava muito longe da margem. Suas forças já estavam esgotadas, mesmo assim, conseguia encontrar forças para nadar até terra firme segurando Biene.

De repente, ao longe, viu um vulto pular na água e vir nadando em sua direção. Quando este estava a alguns metros, percebeu que se tratava de Eleazar, que para sua idade, nadava melhor do que qualquer jovem rapaz, até melhor que o próprio Bill.

– Deixa eu te ajudar – ele falou, pegando Biene e colocando em suas costas – Não vou perdê-la como já perdi outra Baumgärtner.

– Nem eu – Bill disse, nadando ao lado dele, em direção a margem.

Eleazar colocou Biene deitada na relva, o rosto dela estava totalmente pálido, podiam-se ver algumas queimaduras em seus braços, causados pela explosão que ela tentou se proteger. Ele apoiou as mãos no tórax dela, tentando ressuscitá-la e também fazê-la expelir a água que engolira.

– Droga! – Eleazar exclamou ao ver que nada adiantava – Demoramos demais.

– Não, não demoramos – Bill disse desesperado, afastando Eleazar e tentando ressuscitá-la – Vamos, Biene! Você não pode morrer! Você não quer conhecer todos os mistérios do mundo? Não quer participar da escavação de um sítio arqueológico?

Bill fechou o nariz dela e encostou seus lábios ao dela. Assoprou todo o ar que havia em seus pulmões, tomando cuidado para não afogá-la, só que dessa vez em suas lágrimas. Ele não poderia ter demorado, não se perdoaria se ela morresse em suas mãos novamente.

– Biene, eu prometi que ia proteger você, como você pode morrer e não me deixar cumprir isso? E o show? Eu prometi um show nessa cidade! Eu me lembrei das promessas, por favor, então me deixe cumpri-las!

Houve uma tossida. Eleazar começou a tentar ressuscitá-la novamente e logo a boca dela começou a expelir água. Biene se curvou para o lado tossindo freneticamente, tentando respirar. Seu corpo caiu pesadamente no chão, novamente, ela não abria os olhos, mas seu tórax subia e descia de forma lenta, mostrando que ainda havia algum sinal de vida. Quando Bill ia tentar acordá-la, ouviu o barulho de uma sirene e uma ambulância apareceu.

– Confiei em você, garoto – Eleazar disse, carregando a neta e ajudando os enfermeiros que desceram o morro – Chamei a ambulância antes mesmo de ter a confirmação do que você disse. Quando se trata dos Baumgärtner, qualquer acidente é uma certeza.

Bill entrou na ambulância junto de Eleazar, enquanto os enfermeiros colocavam Biene em uma maca e colocavam aparelhos para que ela respirasse melhor. Biene não tinha mais aquela aparência de morta, seu rosto até estava mais corado, mesmo assim a preocupação ainda pairava no ar. E logo iria pairar na cidade inteira quando a notícia sobre o afogamento da neta de Eleazar correu como um tufão que arrasta árvores.

O pequeno hospital local estava atolado de pessoas. No começo, Bill pensou que era um bando de curiosos, daqueles que gostam de ver e saber das tragédias de perto. Mas ele estava acostumado demais com os paparazzi, por isso julgou errado. As pessoas que estavam ali realmente se preocupavam com Biene, ele era capaz de ver Fester, branco como papel – talvez ele se sentisse culpado pelo que aconteceu –, sentado em um dos bancos. Havia também uma dezena de senhoras, cochichando entre si sobre Biene, como ela era uma ótima garota e como conversava com todos.

Bill estava acostumado a ouvirem falar dele, em qualquer lugar havia dezenas de fãs atrás, mas pela primeira vez, não havia um fã sequer ali. Todos estavam preocupados e reunidos por outra pessoa, que não era famosa, mas havia tocado todos de uma forma que marcara cada um. E Biene até tinha fãs! Uma série de crianças estava com flores, cartões feitos à mão e balões coloridos.

Isso fazia lembrar quanto falta sentia da sua vida agitada, o que era irônico, já que veio para Aach com a única intenção de se afastar dessa vida. Ele queria passar o tempo escrevendo músicas, mas não fizera isso em nenhum momento, mas não se arrependia disso já que aproveitou cada momento daquele anonimato. Foi naquele momento de angústia, que Bill, com as folhas e uma caneta que pegara na recepção do hospital pôs-se a escrever.

– Biene? – perguntou uma voz chorosa ao lado, quando percebeu que a garota abrira os olhos – Você está bem?

Os olhos azuis dela piscaram várias vezes, procurando encontrar alguma memória que denunciasse o seu estado atual. Virou-se e viu que sua mãe e seu pai estavam ao seu lado, os dois com rostos preocupados. Ela havia se afogado. E também se lembrava de alguma explosão e de... Bill. Alguma coisa havia acontecido com ela e pelo visto, se machucara feio.

– Eu me afoguei? – ela perguntou com uma voz rouca, fora de uso.

– O motor do seu barco explodiu, segundo os médicos você bateu a cabeça na quina do barco quando caiu – seu pai disse, se aproximando da cama.

– Você se afogou também – Ellise disse chorando – Se não fosse Bill e Eleazar, você poderia ter morrido.

Bill... havia alguma coisa importante para dizer a ele, mas ela não conseguia se lembrar. Sua cabeça doía fortemente e seu corpo também não parecia muito disposto a se levantar.

– Ele vem todo o dia aqui – a mãe dela prosseguiu, vendo que Biene continuava com o olhar vago, como se não compreendesse nada do que dissessem – Ficou várias oras ao seu lado, esperando que você acordasse. Mandamo-lo dormir faz um tempo, ele está totalmente acabado. Gustav está almoçando agora, ele não come faz um bom tempo, está muito preocupado com você.

– Pai, você foi ao meu quarto quando chegou? – Biene perguntou de repente. Mesmo confuso, ele fez que sim com a cabeça – Você viu um livro em cima do criado-mudo? Um bem velho com a capa caindo aos pedaços?

– Vi, o que tem ele?

– Entregue-o para o Bill – ela disse simplesmente, virando o rosto de lado e olhando vagamente para janela – É importante.

Albert passou em casa rapidamente, pegara o livro que Biene dissera e partiu para a mansão dos Baumgärtner. Ele não sabia direito o motivo de estar fazendo isso, mas Biene não era uma menina cheia de caprichos, quando ela dizia que algo era importante, de certo era. Como a cidade não era muito grande, não demorou muito a chegar ao local, estacionou seu carro e bateu na porta.

– Quem é? – perguntou um garoto de tranças pretas a porta.

– Eu sou pai de Biene – Albert disse – Ela me mandou entregar esse livro para Bill, você podia entregar a ele?

Tom pegou o livro enquanto Albert ia embora. Ele pensara que esse negócio de ficar buscando livros velhos já acabara, entretanto, ainda tinha muito mais. Bill estava dormindo no seu quarto de costume, mas quando chegou lá, percebeu que o irmão continuava acordado, escrevendo em seu caderno.

– Bill? Eu pensei que você estava dormindo. Se não se cuidar, logo é você que vai para o hospital – Tom disse adentrando o quarto – Tenho notícias! Biene finalmente acordou e mandou entregar isso a você.

– Um livro? – Bill perguntou atônito, quando Tom entregou aquele trambolho bolorento.

– É, estamos falando de Biene. Ela é do tipo que acorda de uma coma e manda entregar livros velhos para as pessoas.

Bill pegou o livro e começou a folheá-lo, não entendia o que havia de importante nele já que todas as suas perguntas pareciam já ter respostas. Mas uma folha caiu do meio do livro, não era realmente uma folha, e sim um envelope endereçado a William Baumgärtner. O coração de Bill disparou, será que tudo não tinha terminado ainda? Com as mãos tremendo ele abriu o envelope, tirou a carta e começou a lê-la.

Will,

Preciso escrever rápido essa carta, tenho medo de que ela nunca chegue as suas mãos, mas acho que Gustaf conseguirá entregá-la. Quero, primeiramente, avisá-lo de que estou bem, que ainda estou viva e talvez não por muito tempo. Não quero assustá-lo nem deixá-lo com raiva, mas o que aconteceu é um maldito infortúnio.

Não sou a melhor pessoa para aceitar o que acontece com o mundo, mas tenho que dizer, que isso não é culpa de ninguém. Às vezes certos fatos têm que ocorrer, mesmo que não queiramos. Você é um nobre, eu sou apenas uma plebéia. Talvez se tivéssemos nascido em épocas diferente, ninguém questionaria isso, mas estamos em uma sociedade que as pessoas sempre vão nos julgar.

Will, eu sinto muito pelo que está acontecendo. Não sei o tamanho do sentimento que tem por mim, mas sei que o que irá acontecer, também te machucará de alguma forma. Não é culpa de Meredith, ela só está fazendo o que foi ensinada a fazer. Eu a perdoo, como perdoo todas as pessoas que já atiraram pedras em mim. Elas nasceram assim, a vida as quebrou da mesma forma que estou sendo quebrada.

Então imploro que faça o mesmo, a perdoe, e prometa que quando chegar à hora final, você vai viver a vida do seu jeito. Não seja a pessoa que não quer ser, não haja da forma que os outros querem que você haja, viva do seu modo, lutando pelo o que quer. Viaje pelo mundo todo como você sempre quis, seus sonhos ainda podem se realizar. O meu já foi realizado, por um longo momento, eu pensei que não existia bondade nas pessoas, que elas eram fúteis, vaidosas e egoístas, mas então você apareceu. Mostrou-me que o amor, a felicidade e a bondade realmente existem. Eu não vou morrer como uma pessoa fria, morrerei sabendo que vivi o suficiente de acordo com que merecia.

O meu último pedido é que você não se culpe. Não foi sua culpa e nunca vai ser. E mesmo que se sinta culpado, eu lhe perdoo. Eu te amo de verdade e é isso que levarei comigo para aonde eu for.

Com amor,

Johanna


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Acho que o próximo capítulo é o último. No fim de semana eu escrevo ele e prometo que não vou demorar o