Utopia escrita por dastysama


Capítulo 34
Capítulo 34 - O Caveleiro Fantasma


Notas iniciais do capítulo

Sempre que escrevo fanfic, eu escolho alguma música tema do Tokio Hotel para ela. Nesse capítulo (como já pode perceber pelo título) a música que eu escolhi é Geisterfahrer ou Phantomrider (fica a sua escolha, pode ouvi qualquer uma das duas durante o capítulo). Espero que gostem



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Entre arbustos, lá estava uma carruagem esperando por eles, escondida para que nenhum dos capangas da propriedade descobrisse. William nunca ficou tão feliz em ver Oscar na sua vida, ele que sempre maltratara aquele cocheiro, hoje o pobre homem o estava ajudando.

Rapidamente, os quatro jovens adentraram a carruagem, tomando cuidado para não serem descobertos. Oscar estalou o chicote, e os cavalos trotaram o mais rápido que podiam para o centro da cidade. William estava afundado no banco estofado, com o coração prestes a sair pela garganta, olhando para o Sol que aos poucos parecia ficar mais próximo das colinas.

– Senhor Baumgärtner? – Oscar disse, parando a carruagem e descendo – Não vai dar para seguir adiante.

– Por quê? O que está acontecendo?

– Acho que é melhor o senhor ver por si mesmo.

William desceu da carruagem, acompanhado pelos seus companheiros. O centro da cidade não estava vazia como sempre, estava lotado de pessoas, cidadãos tolos e unidos para ver um massacre que aconteceria em poucos minutos. Eles não precisavam mais de meios de locomoção, ainda mais quando se precisava correr.

– Oscar, obrigado – William disse, se virando para o velho amigo – Desculpe por todos os anos que te maltratei. Acho que nunca precisei tanto da sua ajuda como agora.

– Vá em paz, garoto – o velho sorriu enquanto dava palmadas na costa do rapaz ou do garotinho que cresceu andando naquela carruagem – Não perca mais tempo comigo.

– Tudo bem, agora temos que ir – William disse para Thomas, Gustaf e Jörg – Temos pouco tempo.

Os quatro correram em direção à multidão, empurrando as pessoas sem nem pensarem em serem delicados, com o objetivo de conseguir espaço até a bancada que se via ao longe. Eles já haviam ouvido falar daquela bancada, fora usada em um passado remoto, quando em Aach havia mais meliantes do que simples moradores, agora aquela tábua de sangue estava erguida novamente, pronta para engolir mais almas.

– Melhor nós nos espalharmos – Thomas gritou – Se ficarmos juntos vai ser mais fácil de nos capturarmos.

William assentiu e foi para longe deles, tentando se ocultar na multidão e se aproximando cada vez mais da bancada. Ele já era capaz de distinguir os contornos de Johanna, que estava em pé e parecia ter as mãos atadas à costa. Era impossível acreditar no que haviam feito com ela, como alguém poderia tentar machucá-la? Seu cabelo preto e longo fora cortado na altura dos ombros de maneira grosseira e havias várias marcas vermelhas e roxas em seu rosto impassível.

 Seus músculos esperneavam por mais velocidade ao vê-la em tal estado, querendo ajudá-la, resgatá-la daquela crueldade que ele causara. Empurrava as pessoas com tal força que várias delas caíram, mas nenhuma valia a pena agora. Meredith estava ao lado de Johanna, sentada em uma cadeira, com seu ar imponente e de justiça. William sentiu vontade de sacar a arma e dar um tiro ali mesmo na cabeça loira daquela mulher, mas se conteve para chegar o mais rápido possível.

– Johanna Schmidt, condenada por furto de objeto valioso pertencente à família Gottwald será enforcada pela traição às cinco da tarde do dia 14 de Dezembro de 1863 – começou o orador, lendo um papel enquanto se via um sorriso satisfeito no rosto de Meredith – Aproxime-se para o meio da bancada, minha jovem.

Johanna não vacilou, como se não sentisse nenhuma dor, ela se encaminhou até onde o orador mandara. Por mais que parecesse extremamente delicada, ela mostrava uma força enorme, principalmente por seus olhos não conterem nenhuma lágrima sequer. Quem sabe ela não houvesse chorado todas antes? Foi quando o olhar perdido dela localizou Will no meio da multidão, subitamente a vida retorno ao seu rosto.

O sino da igreja badalou cinco vezes, cada badalo parecia ferir William de uma forma urgente. Ele finalmente chegou à bancada e subiu pelas escadas adjacentes ao mesmo tempo em que a corda era posta no pescoço de Johanna por um dos carrascos. Todas as pessoas que ele mais tinha raiva naquele momento estavam a poucos metros: Meredith e seu próprio pai.

– Solte-a agora! – William gritou, sacando a arma e apontando para o carrasco, sob o olhar de várias pessoas surpresas – Se você cooperar, nada vai acontecer.

– William, o que está fazendo? – Meredith exclamou, se levantando da cadeira e indo em direção a ele – Você está acabando com sua reputação, está salvando uma meretriz! Tem ideia do que as pessoas vão pensar de você?

– Vão pensar que sou um bom atirador quando verem seus miolos espalhados pelo chão, se não sair da minha frente – William respondeu, de forma grosseira e com raiva, fazendo o rosto de Meredith ficar lívido de pânico – Não vou repetir novamente, mandei soltá-la, agora!

Mas no mesmo momento, dois capangas de Meredith pularam em cima de William, fazendo sua arma voar pela bancada. Os dois brutamontes o seguraram fortemente enquanto o rapaz lutava e dava socos com toda a força que tinha. Gustaf subiu pela bancada e pulou em cima de um dos brutamontes, dando murros no homem.

– Continue com isso! – Meredith gritou para o carrasco – Não pare agora!

Thomas e Jörg apareceram e se jogaram contra o carrasco que caiu com um enorme estalo, mesmo assim, o homenzarrão conseguiu se recuperar e já estava de pé novamente, partindo para cima de quem quisesse lutar. Era o maior show que o povo de Aach já havia visto, tinha socos, sangue, pessoas caindo e se levantando novamente, lutando para salvar uma jovem da forca.

Mas Meredith não iria aceitar aquilo, quando viu que Johanna estava pensando em correr, ela passou por toda aquela briga e puxou a alavanca com suas mãos magras. O alçapão que estava abaixo dos pés de Johanna se abriu, fazendo com que todo o seu peso fosse para baixo enquanto seu pescoço, em vão, tentava lutar contra a gravidade cruel.

– Johanna! – William gritou, tentando escapar de um dos homens que o prensava contra o chão da bancada.

Todos pararam de observar a luta e miraram seus olhos para a garota que sofria em agonia, presa pelo pescoço como um peixe morrendo sem ar. Os olhos dela de repente perderam a vida, ficaram vagos, não havia mais respiração, nenhum sinal que ainda havia vida naquele corpo. William sentiu seu corpo se afundar, tudo estava extremamente silencioso, era como se o mundo tivesse morrido naquele instante. Ele lembrava exatamente daquela sensação, a dor ainda era fresca na memória como há cinco anos quando sua mãe morrera. Algo havia se quebrado novamente dentro dele, o resto de compaixão que tinha em seu coração se transformou em mil cacos impossíveis de serem restaurados.

– Acabou-se! – exclamou o Senhor Baumgärtner, subindo na bancada – Chega de show por hoje, a garota está morta!

O capanga saíra de cima de William que não se levantou, ficou estatelado no chão até o pai o levantá-lo.

– Pare de besteira William, acabou essa baderna! Não me envergonhe mais na frente dessa multidão, volte já para...

O velho Senhor Baumgärtner vacilou com o soco e caiu no chão, segurando seu maxilar firmemente e olhando para o filho com uma expressão assustada. William se encaminhou calmamente para a arma que havia escapado para um canto da bancada e a pegou. Gustaf correu para Johanna, pegando seu corpo e cortando aquela corda maldita que ainda segurava seu pescoço. Ele acolheu sua pequena irmã nos braços, com lágrimas grossas escorrendo pelo seu rosto. Havia falhado.

– Ela está morta, William! – Meredith gritou, sendo segurado pelo seu pai, o prefeito Gottwald.

– Cale a sua boca – William disse fora de si, segurando a pistola firmemente. Quando percebeu que ela ia abrir a boca de novo, ele apertou o gatilho. A bala zuniu em direção ao ombro de Meredith, a fazendo cair no chão. Seu pai desesperado, tentou protegê-la – Não vou matá-la, o inferno não merece mais uma pessoa como você. Espero que você apodreça aqui mesmo, que a própria vida a amaldiçoe e que todas as suas malditas descendentes sofram da mesma maneira que você.

Meredith se remexia no chão, sentindo a dor lancinante do começo de uma vingança. William se encaminhou para o pai, que ainda estava encolhido no chão, sem saber o que fazer.

– Como se sente papai? Tão indefeso como um inseto? Cadê sua honra? O seu orgulho? Onde está um Baumgärtner? Não vejo nada, só vejo um pobre velho caquético, se aproveitando do nome que tem para mostrar força e poder. Você que é o lixo, a vergonha da família. E agora? Sente orgulho de mim, papai? – William riu-se ao ver a expressão do pai, de puro terror.

Quando conseguiu ver finalmente a vitória, seus olhos procuraram a única coisa que realmente importava: Johanna. William foi até onde Gustaf estava, segurando sua irmã. Ele retirou delicadamente o corpo da jovem dos braços do irmão e passou para os seus, ainda admirando os intensos olhos acinzentados, sem vida. Mesmo na morte, ela era tão linda quanto sempre fora.

– Johanna, me perdoe por não chegar a tempo, por ter deixado te machucarem. Eu não cumpri minha promessa, eu a deixei sofrer...

Sem conter as lágrimas, ele beijou seus lábios frios e se afastou dela, temendo até os últimos vestígios da garota, com medo de que não houvesse perdão para o que ele deixara acontecer. Com a arma ainda em sua mão, ele aproximou o cano da pistola em sua têmpora.

– Adeus, Aach – ele disse entre os dentes.

A arma disparou. Sangue e pedaços de miolos se espalharam por toda bancada e pela multidão que gritava de horror ao ver aquela cena. Os rostos de todos estavam cobertos pelo sangue de um nobre, não sabiam se aquilo era uma honra ou uma maldição. O reinado dos Baumgärtner havia acabado, o último verdadeiro rei daquelas colinas havia sido vencido pelo amor, um toque bastou para sua destruição.

 

Agora estou aqui
Não tenhas mais medo
Anjo, não chores
Vou estar contigo
No outro lado

Adeus
Na luz
Como um cavaleiro fantasma
Estou a morrer esta noite
Tão escuro e frio
Conduzo sozinho
Como um cavaleiro fantasma
Não consigo fazê-lo por mim mesmo

Hey!
Estou aqui contigo
Deixa-me em paz
Cavaleiro fantasma
Morre sempre na dele

 

(Phantomrider – Tokio Hotel)


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