Utopia escrita por dastysama


Capítulo 20
Capítulo 20 - A Voz de um Anjo


Notas iniciais do capítulo

Então, na parte que tem música na fic, se quiserem, ouçam Summer Rain da Hayley Westenra já que a letra que eu coloquei é dessa música. Quem gosta de música celta ou tipo ópera, é um prato cheio, quem não gosta, procure outra música que ache adequada. Mas Summer Rain é ótima e vale a pena ver a tradução.



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William estava no seu quarto, sentando em sua poltrona apenas pensando como era de costume. Ele não estava preocupado com a contabilidade, muito menos com seu futuro casamento, havia algo que o incomodava muito. Já se passara uma semana desde que vira Johanna naquele sábado no mercado.

Claro que Thomas havia tentado levá-lo novamente ao cabaré, mas ele havia recusado todas as propostas. Só de pensar em ir a um lugar como aquele, Will já se sentia completamente enojado. Mas lá estava ele sábado à noite, tentando pensar no que ele podia fazer e a imagem de Johanna não saía da sua cabeça. Ela com aqueles olhos como um céu nublado, cheios de lágrimas de chuvas.

Ele não podia esconder que estava com certo interesse nela. Quanto mais ele tentava esquecer aquela suposta noite de farra, mais aquilo voltava a sua cabeça. Lembrava-se claramente quando olhou para Johanna enquanto dormia, o sono a envolvendo com uma calma tão grande, como se ela estivesse no céu e não naquele maldito cabaré.

Então, pela primeira vez na vida, ele decidiu deixar sua arrogância de lado e se pôs de pé. Faria uma visita a Thomas, não à sua casa, mas sim aonde ele devia estar passando seu fim-de-semana. Ir ao cabaré não significava que ele necessariamente precisava fazer sexo, apenas algumas conversar com Thomas – se ele quisesse conversar – e um pouco de bebida já bastariam para sua noite.

No fundo ele realmente queria enganar a si mesmo, não queria afirma que iria por Johanna. Mas ele queria se certificar que tudo estava bem com ela, por que depois dessa noite, nunca mais iria olhar para ela. Ele não queria nada com uma prostituta, mesmo que ela não fosse realmente, ela não era digna de andar em sua companhia, ainda mais quando ele tinha uma reputação a zelar. Ninguém podia saber que um Baumgärtner havia se encantado por ela.

Will colocou seu casaco de alfaiate que pagara uma nota, passou seus dedos compridos pelos longos cabelos escuros. Sua imagem no espelho não era tão agradável, ele andava com pouco sono ultimamente e com muito cansaço. Ele precisava andar mais disposto, ainda mais com a aproximação do aniversário da cidade.

Deixou sua imagem de lado e saiu porta afora, decidido a encontrar Thomas – e quem sabe, não encontrar seu pai. Mas como este reclamara de uma dor de cabeça, talvez estivesse em seu quarto, dormindo. Então a barra estava limpa para que Will pudesse ir até o Cabaré, sem que ninguém questionasse ande ia. Apenas deu uma gorda gorjeta para o cocheiro Oscar, que estava fumando um cigarro de palha.

– Espero que aonde quer que eu vá, não saia de sua boca por onde ando – Will disse usando sua voz persuasiva, como se apenas com um olhar pudesse iludir o pobre cocheiro naquela noite fria. Oscar entendia dos perigos de questionar um Baumgärtner, então apenas acenou positivamente com a cabeça.

Ele conhecia Will desde que ele era bem pequeno e enfrentava qualquer garoto na rua, mesmo que fosse o dobro do tamanho dele. Era um garoto bastante mimado pela mãe e às vezes se achava superior a todas as pessoas. Parecia que muitas coisas não haviam mudado muito depois da morte da Senhora Baumgärtner. Will continuava a ser o mesmo hipócrita insensível de sempre.

O chicote estalou e a carruagem cruzou as estradas de barro e pedra da cidade. William estava pensativo no banco de trás, pensando seriamente por que diabos ele havia saído de casa? E o que ele queria com aquela visita súbita ao Cabaré? Por que ele queria garantir que Johanna estivesse bem? Eles não eram parentes nem nada, ele não precisava se preocupar nem um pouco com ela. Mas ele não fez nada para parar o cocheiro, não o mandou dar meia volta.

Só percebeu que seu coração palpitava quando finalmente chegaram à frente do Cabaré, lotado de vozes, risos e os cartazes de mulheres bonitas. Will desceu da carruagem e ficou ali parado, sem saber se deveria prosseguir ou simplesmente voltar para casa onde era o melhor lugar a ficar. Mas ficar ali parado só lhe renderia uma gripe, então com passos rápidos ele entrou no local.

O Cabaré estava apinhado de pessoas, vários homens lotando as mesas que estavam de frente para o palco. Havia algumas mulheres trabalhando como garçonetes e ao mesmo tempo seduzindo os homens que as olhava com rostos cheios de luxúria. Will havia se esquecido de quão sórdido era esse lugar. Mesmo assim cruzou o salão, tentando localizar Thomas.

As luzes se apagaram de repente e Will foi obrigado a se sentar em uma cadeira, afinal não poderia achar Thomas se estivesse tão escuro. Só se ouvia o barulho de comentários baixos e tilintar de copos, tirando isso, tudo estava silencioso quando as grandes cortinas avermelhadas se abriram um pouco e Jörg apareceu.

– Boa noite, caros cavalheiros e belas damas. Hoje teremos uma programação especial a mais além das danças que normalmente temos. Acho que não vão se decepcionar nem um pouco, por que vou lhes apresentar a voz de um anjo. Espero que apreciem.

Jörg sumiu enquanto as cortinas abriam mais e mais até aparecer o palco inteiro. Havia um homem vestido elegantemente, sentado em um piano de madeira negra bem lustrosa, de cauda longa, onde acima estava sentado alguém. Envolvida em uma roupa de cor branca, com plumas em volta dos ombros nus, estava a criatura mais bela que já viram em suas míseras vidas. Sua face estava com uma máscara também branca e brilhante, para que não reconhecessem seu rosto. Mas Will havia reconhecido.

Com dedos rápidos, o pianista começou a tocar o piano, logo a voz de Johanna acompanhou a melodia como se sua voz e o som das teclas fossem unidas por um vínculo. A voz preencheu todo o salão, uma voz fina e angelical, algo que combinava perfeitamente com a imagem que geralmente Will tinha sobre ela.

 

 

Hear my prayer

Answer my call

Breathe life into my soul

I am waiting for you to show

Come and hold me so

 

You're my summer rain

You're my summer rain

And I know that I'll see you again

And I know that I'll see you again

 

Ele simplesmente não conseguia desgrudar os olhos dela, Will se sentia como uma serpente, sendo dominada pelo som de uma flauta indiana. Ele tentava em vão descobrir o que a música falava, no seu inglês tão perfeito quanto o dele, como se ambos tivessem tido o mesmo professor da Inglaterra que fora pago para ensinar os Baumgärtner.

Ao perceber que todos os homens daquele salão pareciam tão encantados quanto ele, uma onda de fúria subiu-lhe a cabeça. Ele sentia raiva por aqueles homens desdenhosos estarem olhando daquela forma para ela, como se a admirassem, mas apenas pela beleza, voz e luxúria. Mas será que Will era digno de olhar para ela? Ele era um Baumgärtner, mas às vezes isso parecia tão errado.

Quando a voz dela se cessou o salão ficou em silêncio, como se tentasse fixar os últimos vestígios da voz em suas cabeças. Então logo em seguida teve uma onda de palmas e assobios, alguns homens até se atreveram a levantar e mostrar um bolo de dinheiro, como se a garota ali estivesse à venda. Mas antes que algum conseguisse se atrever a subir no palco, as cortinas se fecharam e Jörg apareceu novamente.

– Sinto muito, meus caros cavalheiros, mas essa mulher não vai conceder uma noite dela para nenhum de vocês – Jörg disse, lançando um olhar severo para um homem que se atreveu a subir no palco – Continue com o que estavam fazendo, breve teremos mais shows.

Muitos homens ainda tentaram falar com Jörg, mas ele apenas fez sinal negativo com a cabeça. Parecia que nada iria mudar a cabeça do dono do cabaré e Will não fazia ideia do por que dele proteger tanto Johanna. Não importava, ele queria falar com a garota nem que fosse um segundo. Mas antes partiu para o bar e bebeu dois copos de uísque, ele precisava daquela sensação calmante e vertiginosa em seu sangue.

Com passos decididos ele foi até o palco, mas em vez de subir as escadas, atravessou a porta lateral onde já tinha visto da primeira vez. No camarim havia várias mulheres se arrumando e todas lançaram um olhar feio para Will quando ele apareceu ali. Ele simplesmente não se importou, apenas tentou procurar Johanna naquele mar de penas e cores avermelhadas.

– Por favor, onde está Johanna? – Will perguntou a uma mulher que estava sentada em uma cadeira, tomando chá calmamente.

– Sinceramente, não sei se não ouviu Jörg falando. A garota não vai para cama nem com você nem com ninguém – ela disse secamente, lançando um olhar furioso para ele.

– Não estou aqui para levá-la para cama, quero apenas falar com ela – Will levantou seu olhar e a encarou como se pudesse matá-la.

– Senhor Baumgärtner – ela disse olhando para a xícara de chá que acabara de beber – É bom você cuidar muito bem de Johanna, por que o que lhe irá acontecer, não será nada bom. Não estou fazendo uma ameaça, estou falando a verdade.

A mulher se levantou do banco, com seu robe vermelho balançando enquanto andava em direção a uma porta. Mas antes que ela fosse embora, ela se virou e deu um último olhar para Will.

– Siga a direita, ela estará lá. Primeira porta.


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