Utopia escrita por dastysama


Capítulo 18
Capítulo 18 - Amor e Morte




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/81561/chapter/18

 

Bill estava em seu carro, arfando, enquanto segurava fortemente o volante. Olhava assustado para o mercado, afinal há alguns segundos atrás, ele sentia como se tivesse voltado no tempo e agora do nada estava de volta no futuro. Sua testa suava frio e suas mãos tremiam quando conseguiu finalmente desgrudá-las do volante.

Tentou organizar os pensamentos, mas sua última visão ainda o deixava atordoado. Ele sabia que no fundo, havia alguma coisa realmente acontecendo, sentia que precisava fazer algo, mas não fazia ideia do que. Não adiantava ele deixar esses sonhos – que agora se tornaram visões – de lado.

Ele ligou a ignição e partiu para o único lugar onde poderia conseguir ajuda, mas teve que parar para pedir informação, já que não fazia ideia de onde era a casa de Biene. Depois que conseguiu o endereço com uma velhinha bem simpática, Bill conseguiu chegar até uma casa branca, de enxaimel, com uma clara-bóia no telhado avermelhado onde deveria ser o sótão.

Mesmo depois de estacionar o carro, Bill ficou com receio de ir falar com Biene. Ele não sabia se contaria o que estava acontecendo com ele, ou simplesmente tentava pedir a ajuda dela, mas sem contar a verdade. No fundo, sabia que ela entenderia tudo que ele falasse, mas não queria colocá-la no meio dessa confusão que se instalava em sua cabeça. Mas ele precisava se abrir com alguém, alguém que não acreditasse que ele estava ficando louco.

Por isso desceu do carro, decidido a falar com Biene, ele nem precisou apertar a campainha ou bater na porta, por que ela abriu rapidamente como se soubesse que ele estava ali.

– Olá, Bill! – ela disse sorrindo abertamente – Eu te vi lá da janela do sótão antes que você me pergunte como eu sabia. Mas na verdade, hoje de manhã, li nas borras de chá que iria receber uma visita! Acho que estou melhorando.

– Ah, bom saber – Bill disse constrangido. Ele sempre era pego de surpresa quando falava com ela, na verdade nunca sabia ao certo o que esperar – Bem... eu precisava falar com você, acho que não vai demorar muito.

– Pode entrar – ela disse se afastando da porta para que Bill entrasse.

Ele se encontrou em uma sala grande, com sofás creme bastante acolchoados e com mantas cheias de desenhos que deviam ser africanos. Havia uma televisão grande em uma estante com os objetos mais estranhos que Bill já tinha visto, desde vasos de argila até pequenas estatuetas de algum deus mitológico.

– É um Akuaba – Biene disse quando percebeu o interesse dele em um boneco em forma de cruz – Ganhei de um amigo meu que foi para Gana uma vez. Mas sente-se, vou lhe trazer um pouco de chá, assim vou poder ler o seu futuro!

Bill tentou impedi-la, mas ela havia ido para cozinha, o deixando naquela sala estranha com artefatos que davam medo como aquelas máscaras africanas na parede. Será que os pais de Biene a deixavam decorar a casa? Por que ela tinha um jeito bem estranho de fazê-lo. Talvez a melhor resposta fosse que eles não tiveram escolha, ela praticamente tinha feito isso antes que eles pudessem pará-la.

– Aqui está! – ela disse trazendo uma bandeja com dragões chineses a ornamentando, um bule e duas xícaras de porcelana com desenhos chineses – Espero que goste.

Biene se sentou em uma poltrona de frente para o sofá e começou a colocar chá para Bill e ela.

– Biene, hoje eu fui ao mercado próximo a mansão – Bill disse aceitando a xícara de chá e bebericando com cuidado, afinal estava quente – E eu vi a árvore genealógica da família Gietzen. Conversei com o balconista e descobri que os donos sabem muito sobre a sua família antiga. Será que a família Gietzen não pode ter alguma ligação com os Baumgärtner?

– Ah, eu já vi essa árvore genealógica! Conversei um dia com o Senhor Gietzen, ele tem bastante material sobre a família dele mesmo. Ele deixou uma vez eu dar uma olhada, mas nunca me aprofundei de verdade no assunto – ela disse pensativa – Por que acha isso? Que os Baumgärtner têm alguma ligação com os Gietzen?

– Eu não sei – Bill disse constrangido – É... ambos são famílias antigas, talvez quando falem dos Gietzen, também podem ter citado algo sobre os Baumgärtner. Deve ter algo sobre eles em alguma parte da cidade, não podem ter se esquecido. Além disso, deve ter algum herdeiro em algum lugar.

– Já perguntei algumas coisas para Eleazar, ele disse que a última herdeira morreu faz uns anos. Talvez tenha alguma coisa na casa, mas nunca achei algo, acho que a maioria das coisas foi doada ou vendida. Mas vou tentar procurar mais, não vou desistir facilmente.

– Obrigado – Bill disse bebendo mais um pouco de chá, percebendo o quanto ele estava doce.

– Acho que exagerei no açúcar – Biene disse rindo quando tomou também mais um gole de chá – Um dia eu aprendo ou vai ver, me saio melhor lendo o futuro das pessoas. Posso ver suas borras de chá?

– Ah, claro – Bill disse, estendendo sua xícara para que Biene pudesse dar uma olhada.

– Hum... acho que é mais difícil do que parece... – ela disse girando a xícara para vê-la de vários ângulos – Acho que é uma arma... tem a forma de um revólver...

– E o que significa?

– Deixe-me pegar o meu livro, eu não decorei ainda os significados – ela disse sem-graça, indo até uma prateleira e pegando um livro grosso e velho. Começou a folheá-lo, então parou em uma página – Aqui! A arma significa perigo, catástrofe. Tome cuidado, principalmente com viagens a lugares que não conhece.

Bill engoliu seco, olhando do livro para o rosto de Biene que parecia também bastante espantado.

– Eu devo ter visto errado, não se preocupe – ela disse fechando o livro – Como eu disse, não sou muito boa com isso. Sei que parece ter a ver um pouco com a situação atual, mas...

– Tudo bem, acho que não acredito mesmo nisso – Bill disse respirando fundo e olhando para a xícara de Biene – Talvez você devesse dar uma olhada na sua também, vai que tem mais sorte que eu?

Biene concordou e pegou a sua xícara, olhando atentamente para ela. Seu rosto também não teve uma expressão muito boa.

– Linhas curvas – ela disse amargamente – Quer dizer dificuldades. Também não tenho um futuro tão bom assim. Mas o meu parece muito mais com linhas curvas do que o seu parecia uma arma.

– Me deixa dar uma olhada – Bill disse estendendo a mão para pegar a xícara da mão de Biene, quando sentiu uma imensa tontura.

 

Era uma sala cheia de camas, todas com colchas com cores fortes como carmim e roxo. Havia várias mulheres ali, em volta de mantas, rindo abertamente enquanto seguravam suas xícaras com um pouco de batom manchado na porcelana que não parecia ser cara.

– Então Bertha vai viver um grande romance? – riu uma das mulheres, com os cabelos preso em um rabo de cavalo mal feito, apenas segurado por um palito de madeira – E eu apenas vou me contentar com notícias boas?

– Isso mesmo e não reclame do pouco que tem – disse a voz de uma mulher altiva, parecendo um pouco mais velha do que as outras, mas tão bonita quanto elas.

– Terminei meu chá – disse uma voz serena e fina, estendendo a xícara para que a mulher mais velha pudesse olhá-la – Poderia dar uma olhada, Srta Grünewald?

– Claro, pequena Johanna – a mulher disse sorrindo para a garota e pegando a sua xícara – Vamos ver...

A mulher não estava com uma cara muito boa. Virou a xícara diversas vezes e então olhou para Johanna com olhos estáticos. Várias mulheres no local ficaram meio tensas, com medo do que a Srta Grünewald havia visto.

– Não é muito bom Johanna, dependendo do ponto de vista. Há uma ceifeira aqui, pode significar morte ou uma boa colheita, mas que eu saiba você não é uma fazendeira – ela disse com a voz um pouco tremida – Mas também há um círculo, que significa amor.

– Como morte e amor podem ficar juntos? – Johanna perguntou surpresa – Deve ter algo de errado, não é mesmo?

– Eu não sei minha, querida... mas esqueça isso. Já errei muitas vezes, afinal não sou tão boa ainda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!