Utopia escrita por dastysama


Capítulo 12
Capítulo 12 - Um Fragmento




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– Bill, acorda logo! Você não vai querer perder todo o seu dia dormindo, não é? – Gustav disse batendo na porta, ele sempre odiou dormir, então quando acordava cedo sempre ficava tentado a acordar os outros.

Bill abriu os olhos e de mau humor olhou procurou seu celular na cômoda do lado de sua casa, quando conseguiu finalmente achá-lo, descobriu que já eram quase duas horas da tarde e que ainda estava morto de cansaço. A noite passada fora longa, eles chegaram quase cinco horas da manhã em casa, por que tiveram que procurar Tom que estava se atracando com uma garota.

– Já estou indo! – Bill disse voltando a deitar, mas dessa vez não para dormir, para pensar.

Sua cabeça latejava, parecia que ele tinha bebido e estava de ressaca, mas na verdade devia ser por que não dormira tudo que deveria. Principalmente por causa daquela série de sonhos que o atormentaram a noite inteira. Não que fossem pesadelos, mas eram estranhos... eram reais demais. Ele jurava que ainda podia sentir o cheiro de canela e álcool que estava incrustado naquele Cabaré ou até a respiração de Johanna dormindo ao seu lado.

Já não sabia mais se as coisas que via não passava de sonhos ou se eram alguma coisa real. Tinha sonhado demais com isso, tudo estava ficando estranho agora, quem sabe não era um aviso? Vai ver de alguma forma a casa era mal assombrada por o espírito dessas pessoas que estão em seus sonhos. Será que o melhor é embora daqui? Mas justo agora que tudo parecia estar se ajeitando?

Ele tirou isso da sua cabeça, não ia abandonar o sossego só por que andava sonhando com cenas estranhas que nem pesadelos eram. Bill decidiu que se levantar seria a melhor opção, então partiu para o banheiro onde poderia tomar banho e tirar todo aquele cansaço que ainda estava se apossando dele. Principalmente tirar aquele cheiro que parecia estar colado em sua pele, o cheiro daquele Cabaré de seus sonhos.

 

– Finalmente a Bela Adormecida acordou – Tom disse, sentado no sofá tocando seu violão calmamente – Pensamos que você tinha morrido, não acordava mais e o Gustav precisou bater várias vezes na sua porta.

– Engraçadinho – Bill disse passando a mãos nos cabelos e olhando feio para ele – Se você não tivesse sumido, eu não teria que dormir cinco horas da manhã!

– Alguém precisa ter uma noite animada, por aqui. E você não pode falar nada, sumiu do nada com a prima do Gustav – ele disse em alto bom som, olhando para Gustav – Vai deixar assim? Se eu fosse você, dava umas bordoadas no meu irmão, para ela aprender.

– Não aconteceu nada demais! Só decidimos dar uma olhada naquela prisão maldita e inútil – Bill disse revirando os olhos – Eu não tinha nada melhor para fazer mesmo, não sabia o que era pior: ficar naquela balada sem-graça ou tentar ver algum espírito onde não tem.

Todos ficarem petrificados de repente, Bill notou que Tom havia arregalado os olhos, Gustav ficou totalmente hirto e Georg começou a tossir. Será que o que ele havia dito fora rude demais, por isso estavam o olhando dessa forma? De repente percebeu que o olhar não era para ele, mas para a pessoa que estava atrás. Bill se virou e Biene estava parada na porta, o encarando pasmada, com os olhos azuis estáticos sobre olheiras de uma noite mal dormida.

– Biene... – Bill disse engolindo seco – Eu não...

Ela nem esperou ele terminar de falar, deu as costas a ele e sumiu rapidamente pelos cômodos da casa. Quando havia se referido na maldita prisão, estava falando do local onde eles ficaram, não sobre a companhia dela que era ruim, afinal ele realmente gostava de tê-la por perto. Mas da forma grossa que ele falara, Biene podia facilmente pensar que ele odiou tudo aquilo, ainda mais quando ela havia mostrado as maravilhas da paisagem daquele local, sem contar tudo que ela vem fazendo por eles. Ele fora estúpido, muito estúpido.

Respirou fundo para que aquele mau humor pós-sono interrompido acabasse e correu atrás dela. Atravessou a cozinha e saiu pela porta dos fundos, que era por onde ela sempre entrava e saía, mas seu último vislumbre foi ver os cabelos loiros dela sumindo em cima de uma bicicleta colina abaixo.

Não adiantava ele correr atrás dela agora, o melhor era esperar ela se acalmar e torcer para que venha mais tarde vê-los. Mas mesmo assim ele se sentia terrível por tê-la ferido daquele modo, como ele pode ter sido tão desdenhoso dessa forma? Sentia raiva de si mesmo!

Decidiu que o melhor era voltar para casa, comer alguma coisa já que seu estômago estava começando a implorar por comida. Foi trotando nervoso, tentando pensar se não era melhor se jogar do último andar da mansão para ver se sua cabeça dura quebraria mesmo ou se afundaria. Na cozinha, enquanto pegava qualquer coisa na dispensa, se sentou à mesa e olhou que havia mais livros em um canto. Biene havia procurado mais.

Uma pontada atingiu o seu peite e ele pegou os livros tristemente, eram todos tão velhos também e deviam ter deixado Biene toda empoeirada. E ele nem agradecera a ela. Começou a folhear os livros, procurando algo de seu interesse, então viu que era um livro sobre a cidade, feito em 1975, com várias curiosidades sobre Aach.

Então, uma foto chamou sua atenção, se tratava do Cabaré Verführung&Wollust, havia umas três mulheres na frente, mas nenhuma delas se tratava da Johanna. Abaixo da foto havia o nome do local e das mulheres, e do lado um trecho: “Verführung&Wollust foi o primeiro cabaré da cidade, conhecido por homens até das cidades vizinhas que vinham para conhecer as mulheres mais bonitas. No seu interior havia dezenas de quadros das meretrizes feito por artistas itinerantes que desejavam pintar suas musas inspiradoras. O lugar foi fundado por Jörg Liesenfeld em 1863, mas sete anos depois este decidiu abandonar a cidade e o lugar faliu”.

– Quadros... – Bill releu essa parte – Será que não há alguns na casa do Eleazar?

Ele realmente queria confirmar seus sonhos, mais ainda do que as pistas que já encontrara. Mas mesmo assim estava com medo, não sabia o que estava acontecendo com si mesmo e temia que houvesse alguma coisa terrível por trás de tudo isso. Só que ele não conseguiria tirar esse peso das costas se não descobrisse o que estava acontecendo.

Decidiu que o melhor era ir atrás de Biene e pedir desculpas e perguntar algo a Eleazar, afinal ele poderia ajudar com algo, por que trabalhou na mansão quando mais novo. Além de que talvez pudesse achar algo significativo naquela casa, como os quadros que pintavam das mulheres, quem sabe ele não encontra algum de Johanna? Não sabia por que, mas ansiava encontrar, realmente queria saber se algum dia aquela garota existira. Lembrava-se ainda do jeito de ela olhar, da forma que falava, do seu jeito de dormir. Ela era tão real e parecia tão próxima.

Bill deixou os livros na mesa e correu para o quarto para colocar uma roupa melhor, não deu bola para os outros garotos que o olharam com cara de interrogação. Ele precisava correr contra o tempo, não podia deixar tudo virar um novelo de lã, problemas embaraçados e difíceis de tirar os nós.

 

A casa de Eleazar estava como se lembrava na noite anterior e muito diferente do Cabaré, não tinha toda aquela vitalidade que parecia ter anos atrás, mas estava em ótimo estado. Foi até a varanda, olhando em todas as direções, sentindo seu coração disparar a cada passo, como se esperasse ver alguma coisa fora do comum surgir do nada.

– O que você está fazendo aqui? – Eleazar perguntou abrindo a porta, antes mesmo que Bill batesse.

– Desculpa o incômodo, queria ver a Biene – Bill disse cautelosamente, afinal Eleazar podia ser velho, mas era bastante forte para alguém da idade dele – Ela está?

– Não, pensei que estivesse na mansão, mas acho que daqui a pouco ela vem. Deve ter parado na biblioteca como sempre – ele disse dando passagem – Pode entrar.

Bill aceitou e entrou na casa. Foi bom entrar, ele recebeu uma baforada quente e acolhedora que vinha da lareira acesa na sala, além de que havia aquele cheiro de chá e café que impregnava todo o local. Eleazar fez sinal para ele se sentar no sofá e Bill quase afundou naquilo de tão fofo que era.

– Você veio falar comigo, o que quer? – perguntou Eleazar se sentando em uma cadeira e acendendo um cachimbo.

– Como você sabe que preciso falar com você?

– Está vendo aquela caneca? – ele disse apontando para a caneca de onde se vinha um cheiro de chá – Ela que me disse. Você acreditando ou não.

– É que... andei pesquisando um pouco sobre a cidade – Bill disse engolindo seco e tentando ser o mais natural possível – E soube que essa casa foi um Cabaré antigo, quando você comprou essa casa, já sabia disso?

– Claro – ele disse tragando a fumaça do cachimbo e depois soltando baforadas cinzentas – Todos sabem que isso foi um Cabaré, meio que ficou para a história, mesmo que durou pouco tempo.

– E quando você comprou, ainda havia algum tipo de coisa que pertenceu ao local antigamente?

– Por quê? Virou historiador igual à Sabine? Pelo visto, ela anda viciando as pessoas com suas manias.

– É, talvez sim – Bill disse dando de ombros, estava sendo mais difícil do que pensava – Não é tão ruim gostar do passado.

– Então me siga – Eleazar disse se levantando e indo em direção a uma porta – Sabine já deu uma olhada nelas, é o tesouro dela, então tenha cuidado.


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