Sara Sidle era um prodígio na faculdade. Com seus 26 anos já com um mestrado, trabalhava no necrotério (e as vezes no laboratório) da criminalística de São Francisco, porém seu passado turbulento ainda a assombrava por mais que estivesse distante: as matérias do jornal e o noticiário falando sobre “A garotinha cuja a mãe louca matou o próprio marido que abusava dela” ainda a assombrava. Ela odiava tudo aquilo. Depois de passar anos indo de lar temporário a lar temporário, tendo boas notas e sendo curiosa, conseguiu além da simpatia dos professores, uma bolsa em Harvard.

Agora estava ela lá, colocando seu jaleco branco e pegando sua camera e kit para tirar fotos e coletar evidencias na sala do simpático legista Dr. Renner, (um senhor negro, de quase 2 metros de altura e um belo sorriso e que quase sempre estava animado). Aquele era mais um dia no paraíso.

— Dr. Renner – Sara disse aparentemente contente se aproximando do homem que estava muito quieto. Sua expressão mudou totalmente quando notou que o cadáver era uma jovem mulher que deveria ter mais ou menos sua idade. O mundo era injusto, mas ela estava ali para trabalhar – O que aconteceu?

— Você sabe o que aconteceu...- disse o senhor claramente triste com aquela situação, mostrando as mãos da moça para Sara. Nas juntas dos dedos, hematomas consistentente com defesa- Wilma Carson. 28 anos...- O homem suspirou olhando para o corpo da moça na maca --Estuprada e morta num beco atrás do Tony’s. O mundo vem estando cada vez mais louco... Raspe as unhas, colete o que achar, tire fotos e pegue as impressões digitais. O laboratório vem buscar provas daqui umas 2 horas. – Sara apenas acenou com a cabeça e começou seu trabalho.

Aquele era o tipo de coisa que Sara odiava com todas as suas forças. Uma coisa era ter alguém idoso que falecera por alguma doença. A outra era olhar e relembrar de ver seu pai morto graças a um ataque esquizofrênico de sua própria mãe... às vezes, apenas pensava sobre o que teria acontecido se seu pai estivesse ainda vivo... ele gostava de beber, e isso sempre saia do controle. Será que ele morreria de cirrose? Será que sua mãe tivesse fugido? Ela nunca saberia. Assim como o futuro que aguardava Wilma Carson, que agora estava morta, deitada na mesa fria de um necrotério.

Após trabalhar com completo silêncio coletando várias evidencias com a supervisão do Dr. Renner. Recolheu a sujeira das unhas que pareciam sangue seco, uma aliança de noivado, e sujeira de seu cabelo, além de amostra de sangue e fluidos vaginais. Tirou fotos das lacerações. Era muito trabalho, mas Sara completou a tarefa. Um dos investigadores veio buscar as provas e em troca, entregou ao legista um envelope branco.

— Carta da admiradora secreta? – Sara brincou quebrando o silencio de quase duas horas, mesmo que ainda estivesse séria olhando para o corpo.

— Minha admiradora está em casa cuidando dos gêmeos – ele riu como comentário e andou até a direção de Sara agora arrumando para colocar o cadáver na geladeira cuidadosamente – Além disso, Kurtney é péssima fazendo surpresas... você sabe disso bem – Ele fechou a geladeira e voltou-se para sua ajudante- Está sabendo da Conferencia Forense?

— Sim... Falaram que vai ter muita coisa legal. Vou fazer minha inscrição ainda hoje – A mulher respondeu tirando as luvas de silicone e jogando-as no lixo, se preparando pra próxima leva de coleta. -Vai ter peritos e técnicos de todos os lugares.

— Sabe... acho que não precisa fazer – Ele disse indo até a gaveta do pequeno balcão e pegando o envelope que assistente do laboratório tinha entregado minutos antes. O sorriso de Dr. Renner foi de orelha a orelha enquanto sua mão segurava o papel para que uma Sara surpresa o pegasse. – Você já foi selecionada com honras para a convenção... seu currículo e suas notas exemplares deram uma forcinha também.

A mulher pegou o envelope e imediatamente começou a ler, ansiosa para saber o conteúdo:

“Sara Sidle,

Nós da conferencia Forense nacional em parceria com a Universidade Harvard e o laboratório de São Francisco, gostaríamos de convidá-la como convidada de honra para o evento que acontecerá nos dias 10 à 12 de fevereiro de 1998... “

Aquela era sua chance de sair do laboratório e ser uma CSI nível III, finalmente indo à campo e podendo fazer muito mais, por ela e por cada vítima. Sara largou o papel e abraçou firme o mentor que retribuiu o carinho.

— Muito Obrigada! – Ela agradeceu olhando nos olhos do Dr. Renner ainda com o papel em suas mãos.

— Foi você, Sara. Você vai ser uma grande cientista – ele sorriu pra moça que quase estava chorando. Ele apoiou sua mão em seu ombro, orgulhoso da garota quase como fosse seu próprio pai.

— Mas e o caso Carson? – Ela perguntou com preocupação, após se tocar que haveria que deixar o caso que acabara de entregar provas. – Certamente precisará de ajuda...

— Não se preocupe... São apenas 2 dias. Tem também alguns estagiários que precisam um pouco de prática na disciplina de anatomia – Ele deu uma piscada para Sara- Sei que está emocionada, mas temos trabalho para fazer ainda hoje já que a conferencia é só amanhã. -Sara fungou o nariz e voltou a trabalhar aquela noite, querendo que o evento chegasse logo.