“Um garoto… um garoto… um garoto…” era o que ecoava pela cabeça de Yuuki, que continuava paralisado em choque. Ao fundo, se escutava algo que inicialmente não se compreendia, até que foi clareando, e clareando.

— Yuuki-kun… Yuuki-kun? – Ele recobrou os sentidos, e sua primeira reação foi de aversão. – Por que essa expressão? Eu sei que o que eu te falei pode ter te chocado, mas você ao menos ouviu o que eu te disse? – O garoto reagiu com um aceno negativo, arrancando um suspiro decepcionado dela. – Tudo bem, não faz mal. Vamos? – Ela esticou sua mão, o sugerindo que ele a pegasse. Ele a olhou com cuidado, como se a analisasse, com as frases ainda a perturbar sua mente. Como via que ele não se decidia, ela pegou sua mão e o puxou, surpreendendo-o mais uma vez.

Ainda que ela o dissera a verdade sobre si, a sensação suave de sua pele ao segurar a mão dela o davam a imagem de que aquela suavidade era impossível de ser de alguém como ele. Sua mente pensava o contrário, e insistia em lhe dizer a verdade, o confundindo. Afinal, ela havia falado a verdade, correto? Ou será que estava pregando uma peça com ele e o enganando para se aproveitar de sua boa pessoa? Ele já não sabia mais.

Chegaram no dormitório Nozomi, aonde algumas poucas caixas estavam sendo descarregadas lá dentro.

“Estranho… não lembro de ter mais coisas…” Pensava ele, indignado ao ver o caminhão e as caixas.

— Com licença… – Akane chamou a atenção de um dos descarregadores. – … Essas são as minhas coisas, não são?

Hisashi direcionou seu olhar para a menina, enquanto o homem pegava um papel.

— Diz aqui que é de Miyagi Akane…

— Então são minhas coisas mesmo. Akane Miyagi sou eu. Muito obrigada. – Agradecia, se arqueando levemente, fazendo o menino corar.

“Ei, ei, ei! Espera aí! É de um garoto que estamos falando! Ele tem o mesmo que você debaixo daquela saia…” Se convencia Yuuki em seus pensamentos.

— Você se mudou para cá também? – E tal pergunta fez Miyagi encara-lo nos olhos.

“Não… não vou provocá-lo agora… não seria muito divertido.” Pensou a garota. – Claro, já que agora estudo na mesma escola que o Yuuki-kun. – Ela decidiu responder com um sorriso meigo em seu rosto, e as confusões dentro da cabeça dele continuava.

— Não me diga que… – Mais uma vez, ela pegou em suas mãos, gerando nele uma reação de surpresa, o fazendo pular levemente de susto.

— Você não me disse, que iriamos ficar juntos para sempre? Se prometeu, você tem que cumprir. – Soltava sua mão. – Agora vou começar a desempacotar as caixas e arrumar meu quarto, tudo bem?

— Espera, eu não sabia desse seu--

— Agora isso não importa mais, então nem pense em usar como desculpa. É uma promessa, você me jurou, não pode mais voltar atrás. – Dizia, se afastando já dentro do dormitório, após ter assinado os papéis e já ter pagado previamente à empresa de mudanças.

“Que besteira que eu fiz… uma promessa com um garoto…” Suspirou, decepcionado. Entrou e foi até seu quarto, colocando sua mochila dentro do guarda-roupa. Pegou vestimentas limpas e se direcionou até o banheiro do dormitório, que era em conjunto com a área de serviço, separados por uma porta. Despiu-se e começou a tomar seu banho, a fim de tentar esquecer aquilo.

Algum tempo depois, no corredor principal de Nozomi-sou, estava Akane, que havia também decidido tomar um banho. Parou em frente a porta da área de serviço, e como não escutou nenhum som, julgou não haver ninguém ali. Adentrou-se e fechou a porta, começando a se despir, quando escutou um som de porta se abrindo atrás dela. Do banheiro surgia Yuuki, que não esperava que ali ela estivesse, assim como ela não o esperava ter terminado de se banhar, suas intimidades cobertas quase completamente pela névoa. Seus rostos ficaram extremamente vermelhos, e um grito feminino ecoou daquela construção. Ela se cobria com a mão, e ele com a toalha que estava segurando.

Por instinto, Akane começou a pegar o que havia por perto, como frascos de shampoos e jogou-os nele, enquanto o chamava de pervertido entre outros nomes. No instante que a porta havia se aberto, ela desistiu de jogar coisas no jovem e decidiu se esconder atrás dele.

— E-Ei! Não se esconda atrás de mim! – Sussurrava. Algo ali lhe incomodava com ela. “Agora não existem dúvidas! Eu consigo sentir claramente graças a você.” – Reclamou em pensamento, instantaneamente frustrado antes da professora entrar.

— Que grito é esse? – A professora exclamava antes de ver a situação dele junto de Akane, ficando levemente avermelhada. – Mas que desgraça está acontecendo aqui?! – Gritava, apontando aos dois, enfurecida. Os outros alunos que ali estavam, ficaram chocados com a cena

— Sensei, isso não é o que a senhora está pensando--

— Eu não quero saber!!! Vocês dois venham comigo após se vestirem!

— Mas eu estava indo tomar meu banho-- Tentava explicar a garota, sem sucesso.

— Já disse que não quero saber! Vista seu uniforme novamente e venha comigo imediatamente! Estão entendidos?!

— S-Sim senhora! – Concordaram, amedrontados enquanto a sensei saia de lá, fechando a porta.

— E vocês, o que estão fazendo aqui? Voltem já para os seus quartos! – Ordenava enquanto os alunos assim a obedeciam. Durante o tempo em que se vestiam, Hisashi se perguntava em sua mente se ficarem de costas era realmente necessário, já que eram ambos do mesmo sexo. Devidamente vestidos, saíram da área de serviço, aonde a professora os aguardava.

Ela os levou até uma sala privada do dormitório, para que ninguém pudesse ouvir suas conversas.

— Sentem-se. – Os dois se assentaram no tatame. – Antes de começarmos, para não piorarem a situação de ambos, evitem gritar. Eu também evitarei de elevar minha voz mais do que necessário, entretanto, isso não significa que deixarei de ser rígida com vocês, entendidos? – Acenaram com a cabeça positivamente. – Agora, quero saber: que situação deplorável foi aquela lá na área de serviço? – Ela questionou, os fitando com um olhar sério. Eles tentaram se explicar, todavia, suas vozes obscureciam umas as outras, embolando a mente da sensei. – Ok, ok. Vamos com calma, um de cada vez. Primeiro você, Yuuki. – Consentiu ao rapaz de dar sua explicação.

— Eu tinha chegado do colégio, e nessa, decidi ir tomar banho. Quando saí, dei de cara com ela, sem roupa nenhuma. – Esclareceu. – Eu não sabia que ela estava ali, não escutei som nenhum da porta a se abrir. – Justificou sua explicação.

— Muito bem, Miyagi. Agora me conte sua versão.

— Eu estava terminando de organizar minhas coisas no quarto, e como estava suada, decidi tomar um banho. Nessa, eu fui até a porta do banheiro, para ter a certeza de que não havia ninguém lá. Não escutei nenhum som, nem mesmo de chuveiro ligado, então entrei, jurando estar sozinha. Comecei a tirar minhas roupas, quando escutei um barulho de porta abrindo atrás de mim. Nessa altura do campeonato, eu já estava nua, e quando me virei, me deparo com o Yuuki-kun saindo do banheiro. – Explicou. – Por isso gritei, não dava mais para rapidamente me vestir o uniforme e sair dali como se nada tivesse acontecido. – Fez questão de fundamentar seu ponto de vista. Mais uma vez, a sensei suspirava de preocupação.

— Então foi um infeliz acidente por parte dos dois? – Acenaram. – Olha, eu sei que isso vai parecer bobo, mas você deveria ter ao menos perguntado se havia mesmo alguém ali quando tivesse entrado na área de serviço, Miyagi. – Akane concordou com um semblante triste. – E você, Yuuki, também não existe desculpa, poderia estar um pouco mais atento após desligar o chuveiro, assim podendo avisar com mais antecedência. – Sugeriu, e o rapaz também assentiu, um pouco chateado. – Vocês sabem que a escola não admite esses tipos de coisas nem lá e nem aqui, não sabem? Tomem cuidado com isso, pois se um rumor se espalha, quem ficam manchados são vocês, e a vida escolar de vocês se desmorona quase que imediatamente. Agora, se conciliem, e voltem cada um para os seus quartos. – Pediu a professora, e ambos, apesar de chateados com aquela situação, se conciliaram, nos seus termos.