Um amor inesperado escrita por Tianinha


Capítulo 3
Presente de grego




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Giane e Bento continuavam trabalhando na floricultura. Até Socorro foi à loja, e começou a olhar umas flores que estavam expostas. Ela disse:

— Ai, essas aqui são bonitas pra enterro. Quanto é?

— Imagina, Socorro, você acha que eu vou cobrar de você? — disse Bento, gentil. Ele jamais cobraria da irmã de criação. — Pode deixar que eu faço um arranjo. Mas quem foi que morreu?

— O Jonathan James. Estou indo pro enterro agora.

— Tá brincando! — disse Giane. — Agora, além de babar ovo da Amora, você vai puxar saco de Bárbara Ellen?

Será que essa garota não tinha nada mais para fazer da vida, além de ficar puxando saco de gente famosa? Gente que não estava nem aí para ela? O que Socorro vai fazer lá? Deveria ir trabalhar, assim pensou Giane. Socorro se comporta como se ela e Amora fossem grandes amigas, mas Amora não estava nem aí para ela. Dá pena ver uma garota correr atrás de quem só a esnobava.

— Olha aqui, esse é um momento muito difícil pra família da Amora e você devia ter mais respeito por elas, hein? — disse Socorro.

— Ô garota, você não devia chamar Socorro não. — disse Giane. — Sabe qual devia ser seu nome? Era capacho.

Socorro saiu e ficou esperando em frente à loja. Giane continuou falando:

— Puxa-saco, viu? Também tomara, tomara que a Amora faça pra ela a mesma cara de nojo que ela fez pra gente ontem. Não é não? — e olhou para o Bento, que fechou a cara.

— Ué, cara, é mentira? Pô, que cara é essa?

— Porque às vezes não dá pra aguentar você, Giane, você está insuportável de chata — disse Bento, tratando de fazer o arranjo das flores que Socorro pediu.

— Ah é, né? Aquela nojenta te trata mal e eu que sou chata, né? — reclamou Giane. — É isso mesmo, Bento? Eu que sou chata?

— Aqui, Socorro. — disse Bento, entregando as flores para Socorro.

— Obrigada, Bento. Tchau, gente! — Socorro despediu-se.

— Tchau! — disse Wesley, o garoto que ajudava Bento e Giane na loja.

Socorro pegou o primeiro ônibus que apareceu. No horário de almoço, Giane, mal-humorada, foi direto para casa. Ficou emburrada a manhã inteira por causa da discussão com Bento. Estava irritada por ele tê-la chamado de chata. Tudo por causa daquela nojenta da Amora. Foi andando na van, dirigindo e quase atropela Lucindo. Também, ele atravessou a rua sem olhar. Giane levou um susto enorme. Lucindo gritou:

— Pô!

— Pô! — gritou Giane.

— Você tá louca, sua maloqueira! Que que é? Você tirou a carta ontem?

— Sai da frente! Não enche o saco! Cala a sua boca, imbecil! Sai da frente, vai te catar, ah! — gritou Giane.

— Ah, vai embora! — disse Lucindo, saindo de frente da van.

Ao chegar em casa, Giane bateu a porta. O pai, seu Silvério, que estava em frente ao computador, assustou-se ao ver a filha tão furiosa.

— Nossa, o que foi isso? — perguntou seu Silvério.

— Como é que o Bento ainda pode ficar pensando na Amora, hein? — reclamou Giane, enciumada, descalçando os tênis e atirando-os no chão.

Foi até a geladeira, e tirou de lá uma garrafa d’água. Seu Silvério perguntou:

— Giane, me diz uma coisa: o Bento sabe que você gosta dele?

— Que que é isso, pai? Não é nada disso que o senhor está pensando, não.

— Ah, não? Então porque essa crise de ciúmes?

— Eu não tô com ciúme, pai. Eu tô com raiva. — disse Giane, indo em direção à sala, com um copo d’água. — Tô com raiva do Bento porque ele é muito burro, entendeu? — sentou-se no sofá. — Ainda vem me chamar de mala, de chata.

Bebeu água e deixou o copo em cima da mesinha de centro.

— É, pelo visto, hoje o nervosismo é geral. — disse seu Silvério, indo em direção ao computador. — Quem passou pela rua chorando foi o Felipinho. Outro teste musical. E adivinha só o que aconteceu?

Era óbvio que Felipinho não havia passado no teste. 

— Hum! Outro cabeça-dura, né pai? Outro cabeça dura! — disse Giane, tirando o casaco e deitando-se no sofá. — Porque que homem tem que ser tão teimoso, hein?

A garota passou o resto do dia trabalhando. Continuou de mau humor. Não olhou mais para o Bento, nem falou com ele. Ambos estavam colhendo as flores no linhão, quando Bento disse, assim que ela passou por ele:

— Oh Giane! — ela fez que não ouviu e continuou andando. — Giane! Eu queria te pedir desculpas. Eu acho que eu fui grosso com você.

— Pô, Bento! — disse Giane, parando. — Eu não ligo pra você me chamar de mala, não. Mas você me chamar de insuportável por causa da Amora é sacanagem, né cara?

— Você tem razão sobre tudo, principalmente sobre Amora. — disse ele.

Giane sorriu, sem que ele estivesse olhando. Era tudo o que ela queria ouvir. Horas depois, quando ela e Bento estavam descendo da van em frente à casa dela, foram abordados por um homem.

— Senhorita Giane? Uma entrega para a senhora. — disse ele, entregando uma sacola para ela.

— Valeu! Bom dia! — disse ela, assentindo, e retirou um cartão de dentro da sacola. Ao ver de quem era o presente, Giane deu um sorriso irônico.

Ela olhou e viu que se tratava de uma caixa com um lindo par de sapatos. Bento tomou o cartão da mão dela e leu: “Obrigada pelo simpático reencontro. Adorei a Acácia Amarela”. Amora não podia deixar de alfinetá-la. Viu que Bento ficou furioso, e explodiu com ela:

— Como é que é, Giane? A Amora esteve hoje na loja e você não me disse nada? Por que? Por que você não me falou que ela foi me procurar?

— Pra você não ficar assim, Bento. Você fica aí achando que a Amora ainda é aquela garotinha doce, meiga da infância. Isso é porque você não sabe a fulaninha metida que ela virou. — explicou Giane.

O problema é que Bento ainda guardava aquela imagem da amiguinha de infância, da menina doce, carinhosa e parceira, que andava com ele para lá e para cá. Só que Amora não era mais aquela menina. Foi adotada por uma atriz famosa e rica, foi criada com todo o mimo. Amora acabou deixando-se corromper por um mundo de fama, luxo e glamour. Com certeza deixou que tudo isso lhe subisse à cabeça. Certamente tinha vergonha do passado de pobreza. Assim pensava Giane. Amora não passava de uma patricinha deslumbrada. Se ela não fosse tão metida, tão esnobe, não teria ficado tantos anos sem ter visitado o Bento ou os donos do lar onde ela foi criada. 

— Se a Amora é tão metida, o que que ela foi fazer na loja? — perguntou Bento. 

— Eu sei lá. Foi lá pra te esnobar ou me esnobar, né? — disse Giane.

— Por que ela se abalaria dos Jardins pra esnobar a gente? E esse sapato que ela te deu? Foi em agradecimento a quê? Aos que você deu a ela quando ela chegou no lar do tio Gilson? — disse Bento, irritado.

— Você acha que ela lembrou que aquele sapato era meu?

— Eu não acredito que você jogou isso na cara dela.

— Joguei mesmo, pra ela parar de se sentir melhor do que a gente. Chegou aqui me olhando de cima. Mandei ver. — disse Giane.

— Quer dizer então que a Amora veio me visitar, você desancou a coitada daqui e ainda acha que a sacana e arrogante é a Amora?

— E não é, Bento? Olha esse sapato aqui, cara. Ela só me deu isso porque sabe que eu nunca usaria um troço desse. Foi o jeito que ela encontrou de pisar ainda mais na gente, cara. — disse Giane.

— Isso não é verdade, Giane. Você não tinha o direito de destratar a Amora e de esconder de mim que ela foi me procurar. — disse Bento, indignado.

— Cara, quer saber? Eu desisto. Não importa mermo né, o que a Amora faz, o que ela diz. Você vai aí continuar correndo atrás dela feito um cachorrinho, “au-au”. Fala sério! Você quer quebrar a cara com a patricinha? Então vá em frente.

— Se eu quebrar, o problema é meu, entende isso? Para de se meter na minha vida, Giane. Você não tem vida própria, não? Saco! — Bento explodiu.

O rapaz saiu andando, e Giane disse:

— Oh Bento!

— Me erra, Giane! — disse Bento.

Furiosa, Giane jogou a caixa de sapatos na lixeira.

À noite, foi jogar futebol com os rapazes da vizinhança, como de costume. Adorava jogar futebol com os rapazes da rua, e modéstia à parte, ela jogava bem. Batia um bolão.

— Oh mano, segura essa mina, véio! — gritava Lucindo, enquanto a garota chutava a bola em direção ao gol. O time dela acabou marcando um ponto.

— Gol! — gritaram.

Jonas começou a chutar a bola. Giane, ao tentar tomar a bola dele, acaba derrubando-o. Douglas apitou.

— Isso é falta! Tá louca? — reclamou Douglas.

— Tá pensando o que? Tá maluco? Que mané falta? — protestou Giane, e Lucindo segurou-a, procurando separá-la de Douglas.

— Me solta, seu palhaço! Tá pensando o que? — gritou a garota, desvencilhando-se.

— Olha aqui! Você tá muito truculenta! Isso aqui não é MBA, não! — disse Lucindo.

— Vocês não sabem jogar, não. Bando de Bambi: “ai, ai, ai, não toca em mim”. Ah, palhaçada! — gritou Giane. Empurrou Douglas, tirando-o de seu caminho e saiu andando.

— Sai daqui! — disse Jonas.

—  Que que é, mano, que que é? — gritou Lucindo. — Me segura aí, mano, me segura que eu vou dar nela!

Giane aproveitou para ir falar com Bento, que estava regando as flores em sua casa. Precisava se explicar. Bento estava de costas para ela. Sabendo de quem se tratava, Bento disse:

— Vai ficar aí sem dizer nada?

Bento a conhecia o suficiente para saber que ela viria atrás dele se desculpar. Além do mais, ele sentira o cheiro dela. Conhecia bem o cheiro dela. Giane estava toda suada, por causa do futebol. 

— Oh Bento. Eu vim aí te pedir desculpas, cara. — disse Giane. — Eu... Eu sei que errei de não ter te contado aí que a Amora teve lá na loja. Mas é... Eu queria poupar você, entendeu?

Bento virou-se e olhou para ela.

— Me poupar, Giane?

— Oh Bento, aquela garota, ela se acha melhor do que a gente, entendeu? Só quero te proteger.

— Quem foi que te pediu pra você me proteger?

Giane não sabia muito bem o que dizer. Será que ele é capaz de entender o quanto ela gosta dele, e não suporta vê-lo sofrendo?

— Eu gosto de você, cara. Ô, Bento, se você... Se você sofre, se você... Você ficar triste, eu fico triste também. Não tem ninguém que... Que queira mais o seu bem do que eu. — disse Giane, emocionada.

— Tudo bem. Tudo bem, deixa para lá. Passou, vai. Esquece. Só não deixa isso acontecer de novo, tá? Agora, olha, vai pra casa e toma um banho que eu tô sentindo seu cheirinho daqui, viu? Sua molecona! — disse Bento, molhando-a com a mangueira.

— Idiota! — xingou a garota.


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