Um amor inesperado escrita por Tianinha


Capítulo 17
Dor de cotovelo




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Giane e Bento trabalharam o dia todo. E à noite, assim que terminou o expediente, começaram a levar as plantas e flores que estavam do lado de fora da loja para dentro. Conversaram a respeito da entrevista que Bento dera à Sueli Pedrosa, de manhã. Giane perguntou:

— Será que a sua entrevista pra Sueli vai aparecer hoje?

— Duvido muito, Giane. — disse Bento, carregando vasos de plantas e levando-as para dentro da loja. — Ela não tem interesse em colocar uma pessoa falando bem da outra. Isso não costuma dar audiência.

— Devia ter sido difícil pra você falar bem da Amora com essa raiva que você está dela, né? — disse Giane, que estava ajeitando umas flores que havia levado para dentro da loja. — Você queria era ter esculhambado com ela.

— Eu não tô com raiva dela. — disse Bento, indo para fora, buscar mais flores. — Nem queria falar mal da Amora, Giane. No fundo, o que eu queria mesmo era que...

— Que ela te assumisse, né? — interrompeu Giane, triste, por constatar que Bento gostava da Amora.

— Que ela fosse feliz. — disse Bento. — Comigo ou com qualquer outro cara. Que ela encontrasse um caminho legal e construísse uma vida mais digna, longe desta ostentação e futilidade. Quando a gente ama uma pessoa, Giane, o que a gente deseja pra ela é a felicidade.

Giane entendia o que Bento estava dizendo. Era o que ela sentia. Queria o bem dele, queria vê-lo feliz. Pena que Bento era tão cego que era incapaz de perceber o quanto ela gostava dele. Será que Bento não percebia que seria mais feliz ao lado dela? Ela sim gostava dele, ao contrário da Amora, que o fazia sofrer. Bento tinha de se tocar que Amora não tinha nada a ver com ele. Afinal, o que um florista pobre tinha a ver com uma it-girl, rica e famosa? Giane achava que Amora jamais largaria o Maurício para ficar com Bento. Bento achava que Amora tinha de largar a vida de celebridade. Só que Amora jamais largaria o mundo de fama, luxo e glamour onde vivia. 

— É. A gente só quer mesmo o melhor pra quem a gente ama. — disse Giane.

— Hum! Você falou isso com uma propriedade! — disse Bento. — O quê que você entende de amar alguém, hein, pirralha?

Por que Bento insistia em tratá-la como criança? Até quando ele ia tratá-la como se fosse uma garotinha? Ela é adulta, podia se apaixonar sim.

— Mais do que você imagina. — respondeu Giane.

— Ah, é? Então, quem é que você gosta? — perguntou Bento.

Era a hora para dizer a Bento o que sentia por ele. Porém, não tinha coragem. Morria de vergonha. E se ele não quisesse ficar com ela? Pior, e se Bento nunca mais quisesse olhar na cara dela? Aí nem a amizade dele teria mais. Giane morria de medo de perdê-lo.

— Fala aí, Giane! — insistiu Bento. — Quem é o sortudo, pô? Me conta!

— Para, Bento! Não tem sortudo nenhum. — Giane desconversou.

— Então, como é que você sabe como é amar alguém?

Giane suspirou, impaciente.

— Ah, eu observo as pessoas. Você... O Érico, sei lá. — disse, nervosa.

Bento gargalhou, enquanto levava mais flores para dentro da loja.

— Até gaguejou. Ah, está ficando vermelha, hein, Giane? — disse Bento, colocando os vasos no chão. — Olha só, não precisa ficar nervosa, não. Eu estou brincando, viu? — andou em direção à porta da loja, onde Giane estava. — Mas, uma coisa o tio Silvério tem razão: você está mesmo apaixonada! — riu. — É pelo Jonas?

— Que Jonas, Bento? — disse Giane.

— O Douglas, então? — disse Bento.

Giane irritou-se. Agora Bento ia ficar interrogando-a? Ainda não se sentia à vontade para dizer a ele o que sentia. Não tinha coragem.

— Bento, deixa de ser tonto, cara! Para!

— Você soltou os cachorros desse jeito! — disse Bento. — Só pode ser o Douglas!

Bento estava enganado. Ela soltara os cachorros porque ele já estava enchendo o saco, querendo saber de quem ela gostava.

— É que você está me dando nos nervos!

— O Douglas é novinho, mas é gente boa. Tá aí. Eu aprovo! — disse Bento.

— Você vai aprovar é a minha mão na sua cara! — disse Giane, irritada, levantando a mão para o Bento.

O celular no bolso de Giane tocou. Ela resolveu atender.

— Salvo pelo gongo! — disse Giane, antes de atender. Era Douglas. — Oi, Dou... Douglas?

Bento riu. Giane ficou mais irritada ainda. Deu as costas para ele.

— Fala, Douglas! O que você quer? Tá. Tá. Se der, eu vou mais tarde. Tchau!

Desligou o celular, enfiou-o no bolso e virou-se para Bento.

— Já estão até marcando encontro, é? Então vai rolar. — provocou Bento.

— O que vai rolar é o seu dente da frente! — disse Giane, levantando a mão para ele. — Ele só ligou pra dizer que o Filipinho vai participar do Luxury hoje lá no Cantaí.

— O Filipinho, no Luxury? — perguntou Bento.

Filipinho, filho da garçonete Rosemere e sobrinho da dona Odila, ficara famoso depois que um vídeo ridículo que fizera viralizara na internet. Filipinho fora fazer mais um teste para um musical, como sempre. Porém, fora enganado, feito de trouxa. Não existia musical nenhum. Tudo era uma armação de Xande, filho da madrasta de Filipinho. Xande queria humilhá-lo, e conseguira. Filipinho ficara até doente por causa da humilhação. Mas parece que agora tudo mudara. Xande se arrependera e ele e Filipinho viraram amigos agora. Depois deste episódio, Filipinho ficou conhecido no Brasil inteiro e agora parecia estar fazendo sucesso, especialmente entre os jovens e a criançada.  

— É. Mas não se empolga, não. O programa é com a Lara. — disse Giane.

— Pô, então, aquele vídeo deve ter rendido. — disse Bento. — Vamos lá conferir?

— Eu vou é pra casa cair na cama. — disse Giane.

— O quê? Você não vai no Cantaí? O Douglas vai ficar chateado. — provocou Bento.

Giane correu atrás dele, furiosa. Bento estava merecendo uns sopapos.

— Bento! Eu vou acabar com você, hein, Bento!

Bento gargalhou e saiu correndo. Giane fechou a loja e foi embora para casa. Foi direto para o quarto. Estava cansadíssima. Já deitada, lembrou-se da conversa que tivera com Bento. Ele percebera que ela estava apaixonada, mas achava que ela gostava de outro. Bento não fazia ideia do quanto estava enganado. Lembrou-se de quando Bento quis saber se ela estava apaixonada por Jonas ou Douglas. 

— Por você, seu burro! É de você que eu gosto. — murmurou.

No dia seguinte, Bento e Giane começaram a descarregar as caixas, como sempre. Jonas também acordara cedo, e chamou Douglas:

— Bora, Douglas! A gente tá atrasado, mano!

— Já vou, mano! Já vou! — disse Douglas, descendo as escadas da praça. Uma garota subiu as escadas e passou por ele. — Opa!  — desceu os últimos degraus e foi em direção a Jonas. — E aí, mano?

— Pô, você estava tirando cutícula, cara? — perguntou Jonas.

Cumprimentaram-se batendo na mão um do outro, e em seguida com a mão fechada. Giane e Bento estavam por perto, colocando as caixas na van.

— E aí, Giane? Por que que não foi no Cantaí ontem? — perguntou Douglas.

Giane estava sem paciência para aturar um pirralho feito o Douglas. Além do mais, quis deixar bem claro para Bento que não queria sair com Douglas, nem tinha o menor interesse nele:

— Porque eu não quis, saco! Não enche!

Saiu andando. Foi buscar mais caixas. Foi trazendo mais caixas e colocando-as na van. O celular de Bento tocou e ele atendeu:

— Alô? E aí, Malu? Tá, vou fazer o possível. Beijo.

Giane não gostou nada. Pelo visto, Bento vai deixá-la sozinha na loja novamente, para ir atrás da Malu. Malu agora vivia atrás do Bento, sempre levando ele para se apresentar na mídia, para ir na Toca do Saci ou frequentar qualquer outro evento. E o trabalho sobrava todo para ela, Giane. Bento não percebia que aquela Malu era uma sonsa. Giane não se deixava enganar por aquele jeitinho de boa moça, sempre simpática. Era uma falsa. Desde que Malu apareceu, e trouxe a Amora junto, a vida do Bento virara um inferno. Bento, que vivia uma vida tranquila, agora vivia metido em fofoca, em baixaria.

Bento, que estava de costas para ela, desligou o celular e virou-se.

— Vai me deixar sozinha, de novo, né? — disse Giane. — Pra correr atrás da patricinha, pra impressionar a outra patricinha!

Agora Bento não faz outra coisa que não aparecer na mídia.

— Vou te deixar sozinha, sim, mas é por uma boa causa. — disse Bento. — Quebra essa pra mim, vai, parceira?

Bento acabou saindo com Malu. Foram a algum evento. Giane acabou pedindo para o pai ajudá-la na loja. Trabalharam a manhã toda.

— Oh pai, obrigada pela mão, viu? Eu não ia dar conta sozinha. — disse Giane, dando uma olhada em umas tulipas amarelas.

— Eu, por mim, ficava direto. — disse seu Silvério. — Você não sabe como é bom pra quem foi faxineiro, trabalhar aqui no meio dessas flores.

— Ah, é, pai? Então, toca aqui. — bateu na palma da mão do pai. — Valeu!

Uma cliente, Caetana, apareceu carregando um vaso de flores.

— Oi gente! — cumprimentou Caetana.

— Oi! — disse Giane.

— Essa aqui é 30 reais, né? — perguntou Caetana para seu Silvério.

— Isso. — disse seu Silvério.

— Tá aqui. — disse Caetana, entregando o dinheiro para seu Silvério. Dirigiu-se à Giane. — Tão bonita a tua loja!

— Pô, obrigada! — disse Giane.

— Dá meus parabéns pro Bento? — perguntou Caetana.

— Dou sim. — disse Giane, sorrindo.

— Pela loja e pelo namoro. — disse Caetana.

— Como assim? Que namoro? — Giane não estava entendendo nada.

— Você não tá sabendo? — disse Caetana. — Ele e a Malu Campana estão namorando, acabaram de assumir no Luxury. Tchau, querida.

A cliente foi embora. Giane ficou furiosa. Bento dissera que fora defender uma causa. Pelo visto, não estava defendendo causa nenhuma. Bento fizera ela de idiota. Giane não gostara nada de saber que Bento estava lá, no bem-bom, do lado da Malu, enquanto ela, Giane se matava na loja.

— Como assim? Que palhaçada! — disse Giane, histérica. — Oh pai, como é que o Bento assume namoro? Ele falou pra mim que... — pegou o celular e começou a digitar o número do amigo. — Não acredito.

Esperou. O celular tocou, tocou, e não atendeu. Caiu na caixa postal.

— Droga! Caixa postal.

— Calma, filha. — pediu seu Silvério.

— Calma nada, pai. — disse Giane, digitando o número da Socorro no celular. Socorro sabia de tudo o que acontecia na televisão. — Ele vai ter que me explicar essa história.

Socorro atendeu. Estava no trabalho. Giane perguntou se era verdade que Bento estava namorando a Malu.

— É, é verdade, Giane, eu vi na TV. — disse Socorro. — Gente, eu tô até agora lavada a seco e passada a ferro, viu? Tava o maior climão entre os dois! O Bento com aquela cara de santo, hein, quem diria? — riu. — Desculpa, Giane, eu preciso ir, tá? Beijo, beijo.

Giane desligou o celular. Seu Silvério percebeu que a filha ficou chateada.

— Filha, depois você conversa com ele. — disse seu Silvério, colocando as mãos sobre os ombros dela. — Não fica assim, não, hein?

— Assim como, pai? — disse Giane, se segurando para não chorar. — Não tô nem aí pro Bento. Se ele quer... Quer pagar de otário pra esse bando de mauricinho, que se dane!

Correu para a van, para não chorar na frente do pai. Assim que chegou na van, deixou as lágrimas correrem livremente pelo rosto.

Bento não apareceu na loja o resto do dia. Passou o dia todo com Malu. Mais tarde, quando o expediente há havia se encerrado, Giane foi dar uma olhada no site do Luxury. Queria dar uma olhada na entrevista que Bento dera ao programa. De fato, ao serem entrevistados por Amora, Bento e Malu acabaram assumindo o namoro. Giane ficou chateada. Não conseguiu evitar chorar outra vez. Ficou de olho, para ver a hora em que Bento ia chegar. Horas depois, Giane viu o amigo chegando no carro da Malu. Os dois, Malu e Bento, estavam no maior clima. Estavam quase se beijando, quando Giane bateu no vidro do carro.

— Tô interrompendo alguma coisa? — perguntou, mal-humorada.

Bento e Malu garantiram que não. Bento desceu do carro. Giane ficou observando, com a cara amarrada, o amigo se despedindo de Malu. Malu disse:

— Obrigada pelo dia feliz. Até amanhã!

— Até amanhã! — disse Bento.

— Tchau! — disse Malu, antes de dar partida no carro.

Giane ficou mordida de ciúmes ao ver que Bento e Malu combinaram de sair novamente.

— Até amanhã? Quer dizer, que os bonitinhos já até marcaram um outro encontro romântico?

— É porque a gente tem assuntos em comum, sua grossa! — disse Bento.

Giane bem podia imaginar que assuntos eram esses.

— Imagino! — a garota cruzou os braços, enfezada.

— Oh Giane, por que você trata tão mal a Malu, hein? — perguntou Bento. — Precisa ser tão rude?

Bento não estava entendendo a reação da amiga.

— Quer dizer que o senhor passa o dia inteiro namorando, a burra de carga aqui faz o serviço todo sozinha e você ainda quer que eu seja fina?

— Sozinha por quê, Giane? O teu pai não te ajuda quando você precisa?

— Bento, o meu sócio é você. — disse Giane, apontando para o rapaz. — E eu não sou tua empregada! Nem meu pai é! Você me falou que você ia sair pra defender uma grande causa, não pra namorar essa daí!

Virou-se.

— Oh Giane! Giane! — disse Bento, rindo.

— Oi! — disse Giane.

— Sabe o que você está parecendo? Uma jaguatirica enfurecida! É isso que você está parecendo. — disse Bento. Giane deu um sorriso irônico. — Eu saí pra defender a Serra da Cantareira, tá legal? E a gente só inventou essa história de namoro, porque a Amora veio entrevistar a gente.

Mais uma vez, Bento usou a Malu para provocar Amora. Quando o Bento vai esquecer aquela entojada?

— Ah, tá. Então, vocês não estão namorando? — perguntou Giane.

— Não. — respondeu Bento.

Mas Giane bem que percebeu o interesse de Malu em Bento. Aquela sonsa estava só esperando a hora certa para dar o bote.

— É. — disse Giane, virando-se e olhando para ele. — Mas se eu não chegasse bem na horinha, ia rolar um beijo. Diz se não ia! Porque aquela ali é da mesma laia da irmã!

— Não viaja, Giane! A Malu não tem... — defendeu Bento.

— Bento, eu não quero saber! — interrompeu Giane, apontando o dedo para ele. — Eu só vou te dizer uma coisa! Se você me largar de novo, trampando sozinha, pra ficando dando pinta de galã pra imprensa, nossa sociedade dançou, cara! Eu estou te avisando!

Giane estava se afastando, quando Bento disse:

— Vem cá. Vem cá. Esse drama todo é porque eu te deixei sozinha à tarde ou tem mais coisa aí? Hum? É o Douglas?

Até quando Bento ia encher o saco com essa história de Douglas? Será que ele não se tocava que não era do Douglas que ela estava afim?

— Você é um cretino mesmo, né, Bento? — explodiu Giane.

Resolveu ir embora. Estava furiosa com Bento.

— Giane! Giane, peraí! Oh Giane! — dizia Bento, rindo, porém a garota não deu ouvidos. — Ai, caramba!

Giane chegou em casa bufando de raiva. Entrou batendo a porta. Seu Silvério estava na sala, assistindo à televisão.

— Oi! — disse seu Silvério. — Tudo bem, filha?

— Não, pai, tudo uma droga! — disse Giane, indo para o quarto.

— Nossa! O que foi que aconteceu pra você ficar assim, tão chateada? — perguntou seu Silvério. Giane voltou para a sala. — Ah! Já sei! Já sei! É aquela história do Bento com a Malu.

— Pai, como é que o Bento pode ser burro desse jeito, pai? Maldita a hora que essa patricinha apareceu na nossa vida! Ah, mas que droga de vida! Droga! — disse Giane, voltando para o quarto.


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