Dekais escrita por Marlon C Souza


Capítulo 4
Avenida principal número 87




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Anoiteceu e o Batalhão de Polícia cumpria sua rotina noturna. Maxwel, ou Max, o pai de May, fazia sua ronda pela cidade junto com James, seu parceiro. James era alto, porém seu porte físico demostrava o porquê de ele ser um dos melhores soldados do batalhão. Seus olhos eram castanhos claros e era bastante peludo, tanto que isso também era motivo de comentários pelos corredores da delegacia.

Aquela noite de domingo estava tranquila. Ouvia-se apenas o rádio do carro ligado e o motor. As ruas desertas e quietas e o baixo índice de ocorrências policiais demonstravam como aquela cidade era um bom lugar para se viver.

— Aparentemente será mais uma noite tranquila. — Disse Max, para James, que estava quase dormindo ao seu lado. — Ei, soldado, não durma, temos trabalho a fazer!

— Desculpe, senhor. Eu passei a noite acordado ontem. Tive uma pequena discussão com Katley. — Katley era esposa de James. Eles vivam discutindo por coisas bobas e quase sempre James saía na pior.

— Até quando vocês irão discutir desse jeito por futilidades? — Perguntou Max, balançando sua cabeça com tom de reprovação.

— Eu já não sei, senhor. Eu amo Katley, mas meu trabalho atrapalha muito nosso relacionamento. — James parecia desanimado. Seu casamento estava indo por água à baixo devido seu trabalho como policial. Quase não parava em casa, e à noite fazia rondas pela cidade, que apesar de não parecer, casos estranhos eram frequentes naquele lugar. Mas nada como bandidagem ou conflitos, apesar disso, aquela era a cidade mais tranquila da região, grande parte das ocorrências eram apenas moradores que ligavam para polícia relatando ter visto algo estranho em seu quintal ou coisas desse tipo. No começo pareceu uma grande mentira, mas as ligações tornaram-se cada vez mais frequentes fazendo com que as rondas nos últimos dias aumentassem de forma considerável. O que tem gerado um conflito entre James e sua esposa, que se vê dividido entre o trabalho e suas obrigações como marido. Apesar disso sua mulher se preocupava com a integridade física dele, temendo que algo de muito ruim acontecesse.

— Recomponha-se soldado. Todo casal tem brigas. Eu e Mary brigávamos muito também. — Disse Max tentando acalmá-lo.

— O senhor é um ótimo conselheiro, sargento. Eu gostaria muito de ter conhecido sua esposa, pelo que sei, ela era professora na escola de Hayan.

— Sim. Eu não sei o que eu faria se descobrisse quem é o real culpado pela morte dela.

De repente, a rádio parou de tocar e uma voz que parecia vir da central da polícia dizia: “Atenção, todos os postos. Um homem encontra-se em fuga na Rua 46 fugindo de outro homem. Max, vocês encontram-se mais perto, verifique a área”.

— Vamos. – Disse ele a James.

James aumentou a velocidade e quando foi passar na esquina que dava acesso à Rua 46, sem perceber, atropelou um homem que parecia estar correndo. Max saiu do carro apavorado para ver o que se sucedera e disse para James — Fique aqui e ligue para a central para relatar o ocorrido.

— Sim senhor. — Disse James.

— O senhor está bem? — Perguntou Max dando umas batidinhas no homem que parecia desacordado apenas, pois ainda respirava. Antes que James pudesse ligar para a central, o homem acordou e se assustou ao ver Max.

— O que você quer? — Perguntou o homem. — Veio me prender?

— Acalme-se! Por que estava fugindo? — Perguntou Max.

Vendo que o homem já acordara, James decidiu não comunicar o ocorrido a central. Saiu do carro e andou até Max que estava com o homem deitado com sua cabeça encostada em suas pernas.

— Estava sendo perseguido por um homem estranho. Eu não consegui ver seu rosto. Ele possuía olhos negros, e a pupila... A pupila era vermelha. Eu não sei o que era, mas ele desapareceu logo após o senhor me atropelar. — Disse o homem, assustado.

James ao ver aquele homem suspirou fundo. De alguma forma ele sentia que aquele homem não era alguém comum.

— Entre na viatura. Não mandei sair. — Disse Max, olhando para James.

— Sim senhor. — Disse James, ainda desconfiado. Max levantou o homem e perguntou se ele conseguia andar. Vendo que sim o homem caminhou até a viatura acompanhado de Max e então os três partiram rumo à delegacia.

Enquanto isso, Emily estava cansada, pois passou o dia inteiro na biblioteca fazendo pesquisas para seus trabalhos de escola, logo depois saiu para comer alguma coisa com May, depois a amiga a chamou para ir a sua casa terminar um trabalho que as duas faziam juntas. A garota só chegara em casa perto da meia noite e acabou levando uma bronca de seu pai, Dean, na frente de seu amigo Nathan, que a esperava junto com seus pais.

— Isso são horas de chegar menina? Onde você esteve? Eu te liguei inúmeras vezes e você não me atendeu! — Disse Dean.

— Eu estava com a May, pai. Estávamos terminando um trabalho de escola e nós acabamos perdendo a noção do tempo e meu celular acabou ficando sem bateria. Desculpe pai, isso não vai se repetir.

— Tudo bem filha, que isso não se repita. — Dizendo isso Dean se retirou. Ellie não disse nada e se retirou com seu marido.

— Nathan? Você aqui há essa hora? — Perguntou a garota, percebendo que faltava pouco para meia noite. — Amanhã tem aula, esqueceu? — Completou, sabendo que ele teria que dormir cedo, mas como de costume, Nathan sempre chegava atrasado.

— Seus pais me deixaram ficar aqui por um tempo. — Disse Nathan. Emily sentou-se no sofá ao lado do amigo e colocou os livros que trazia consigo ao seu lado no sofá.

— A situação piorou com seu pai então. — Comentou a garota, aparentemente abatida.

— Está pior a cada dia Emily. Eu não sei o que fazer. Ele está estranho nunca foi assim comigo, nunca quis se aproximar ou sequer ter um diálogo comigo. Por que iria querer isso agora? – Fez uma pausa e continuou — Acho que não voltarei para casa tão cedo.

— Nathan, eu não vou falar mais nada sobre isso. Além disso, vou gostam muito de ter você aqui em casa. — Disse Emily sorrindo meigamente para ele, mesmo com o coração apertado. Nathan não sabia o porquê mais apreciava muito esse sorriso, principalmente quando era direcionado exclusivamente para ele. O garoto meio sem jeito mais querendo ser gentil ajudou a garota a levar os livros para seu quarto.

Enquanto isso, Max e James levavam o homem desconhecido até a delegacia. Ele não queria dizer seu nome e causava espanto nos dois policiais. Principalmente em James que desconfiava de quem estava lidando.

Ele não aparentava nenhum arranhão, nem sequer reclamava de dores causadas pela batida. Ele foi atropelado e se quer se machucou, do contrário de sua roupa, suja e rasgada.

— Estou surpreso que não tenha se machucado. — Disse Max.

— É que sou duro na queda. — Disse o homem, fazendo piada.

— Podemos perceber isso. Aliás, o senhor é daqui da cidade mesmo? — Questionou Max.

— Não, sou de Nevada, vim passar o final de semana aqui, visitar alguns amigos. Realmente é uma bela cidade, mas desde quando cheguei não tive sossego. — Disse o homem. Ele aparentava não entender porque estava sendo perseguido. James continuava a olhar para ele estranhamente, de vez em quando ajudava Max a fazer algumas perguntas tentando colher alguma informação, mas aparentemente sua presença ali afligia o soldado James.

Ainda na rua 46. Alguém caminhava em meio a escuridão de uma rua quase sem iluminação. Escondia-se completamente e apenas sua voz era ouvida. Falava com alguém ao telefone em viva voz — Ele fugiu.

Do outro lado da linha, era Denovian. Ele disse: — Droga! Por que ele está na cidade? Se os humanos descobrirem quem ele é vai ser um grande problema para nós.

O cara misterioso saiu da escuridão, parando debaixo de um poste de luz parcialmente quebrado que piscava incessantemente. Era uma figura sinistra e grande, escamosa, com um grande rabo. Aparentava um dragão, mas com aparência humana. Em suas costas havia uma espada e em sua mão estava um machado de chumbo. Grandes chifres que cobriam sua cabeça e uma feição séria demostrava que não cumprira seu objetivo. Logo após ouvir o que Denovian dissera, tomou sua forma normal e era Samuel, o porteiro de Hayan. Pegou seu celular que estava na cintura e o pôs no ouvido.

— Não se preocupe, Denovian. Ele será capturado. — Disse Samuel, desligando o telefone. Denovian, praticamente jogou seu telefone celular em cima da mesinha, colocando uma de suas mãos em sua testa, num sinal visível de preocupação.

— Quem está de volta? — Perguntou Daniel, que escutou a conversa, meio sem querer.

—Ele está de volta. Isto é um problema. — Disse Denovian massageando sua testa, não havia prestado atenção ao que seu filho falara, o mesmo não entendera nada das palavras de seu pai.

Enquanto isso, na delegacia, o homem que Max e James trouxeram estava prestando depoimento. Mas nada conseguiram extrair dele, apenas que ele estava sendo perseguido por um homem cujos olhos eram diferentes, anormais, como se não fossem humanos. Os policiais achavam que aquele homem era louco, ou estava tendo alucinações, mas eram apenas suposições. Alguns riam e se divertiam. A única coisa de que os policiais tinham certeza era de que ele realmente estava sendo perseguido. Pois a cidade possuía câmeras em toda parte, e algumas delas eram controladas pela polícia local. Mas, devido a escuridão não foi possível identificar quem perseguia aquele homem.

— Tudo bem. O Senhor ficará sob a proteção da polícia, para sua segurança e também uma forma de pegarmos o suspeito. — Disse Max, tranquilizando o desconhecido.

— Obrigado. Espero que vocês consigam. — Disse o homem, neste instante Max levantou-se para resolver a papelada do inquérito, deixando James a sós com aquele homem misterioso.

— Por que está me olhando desse jeito, soldado James? Se é que este é seu nome mesmo. — Comentou o homem, com um sorriso malicioso no rosto.

— O que você faz aqui de volta? Sabe que não é bem-vindo mais nesta cidade. — Comentou James, olhando pela janela para ver se Max estava prestando atenção.

— Saber que não sou bem-vindo me deixa com mais vontade ficar. Mas podemos fazer um trato, você faz a minha escolta, principalmente para me proteger dos olhos da Havin, e eu não conto para ninguém quem você é de verdade. — Disse o homem, ainda sorrindo.

— Você não seria capaz. — Ao James dizer isso, Max entrou novamente na sala.

— Preciso trocar a camisa, posso ir ao banheiro? — Perguntou o homem fingindo que nada estava acontecendo.

—Pode ficar à vontade. — Disse Max. – O banheiro é logo no fim do corredor. — Ao Max dizer isso, o homem se levantou, em uma rápida olhada para James, sorriu sarcasticamente e prosseguiu rumo ao banheiro.

— Ele é estranho, sargento. — Disse James, depois que aquele homem se retirar.

— Sim. Eu concordo com você. — Disse Max — vamos ficar de olho nele, tem mais nessa história do que ele está nos contando.

James parecia preocupado. De alguma forma sabia com quem estava lidando. “Na verdade, sargento, o senhor não sabe mesmo com o que está lidando. Denovian que se cuide”, pensou James, demostrando preocupação.

O banheiro era um lugar amplo e era dividido em vários compartimentos com portas que davam privacidade aos visitantes. O homem estranho lavava seu rosto na pia, havia uma câmera que monitorava a movimentação fora dos “compartimentos”. O estranho olhou o dispositivo eletrônico e o mesmo explodiu em chamas e elas desapareceram em um piscar de olhos, como se ele pudesse controlar livremente o fogo. Em suas costas havia uma grande ferida, que não fora causada pelo acidente, mas aparentava ser bem antiga. Olhou para o espelho e seus olhos estavam iguais aos que ele descreveu aos policiais como sendo os olhos de seu perseguidor. Os olhos negros e pupilas vermelhas como sangue. Sem dúvida havia muito mais do que ele contara aos policiais.

— Estou de volta, Denovian. — Disse num tom sombrio, fazendo todo seu corpo arder em chamas, mas o fogo não o consumia.

Dia seguinte, já era de manhã bem cedo quando Nathan acordou. Com toda a certeza era a primeira vez que ele não acordava já atrasado. Fez sua higiene matinal, estranhando a quantidade de tempo extra que tinha para completar sua rotina sempre tão corrida. Desceu as escadas e encontrou uma Emily sorridente que lhe cumprimentava de forma animada.

— Bom dia! — Exclamou a garota, olhando para Nathan, que estava ainda com sono.

— Bom dia. – respondeu o garoto, completamente desanimado.

— É segunda-feira. Melhore essa cara Nathan, não é como se você fosse para a forca — Disse a garota sorrindo. Estranhamente ela aparentava estar feliz por ter aula naquele dia, ao contrário de Nathan que se recusava a sair daquela casa sem achar que estava a caminho de uma forca.

Enquanto isso, os alunos iam chegando aos poucos em Hayan e alguns se amontoavam em frente ao portão enquanto outros entravam acompanhados de seus amigos falando sobre como passaram o final de semana e até mesmo o que fariam no próximo. Dentre eles estavam Marcos e Cristofer, que permaneciam em uns cantos afastados, mas nem por isso deixavam de chamar atenção com suas motos. Logo em seguida, chegou May. Ela era a menina que Marcos gostava. Ela chegava da forma mais despercebida possível, mas sempre chamava atenção, pois assim como sua falecida mãe tinha longos cabelos castanhos. E seus olhos seguindo a mesma coloração. Era irresistível, mas ela gostava apenas de uma pessoa: Marcos.

— Que saco! Já é segunda-feira. — Disse May, enquanto abraçava Marcos. Logo em seguida o beijou. — Vamos fugir hoje e ir a uma praia ou sei lá. — Completou.

— Não estou a fim. — Respondeu seu namorado, com arrogância. Pegou um cigarro e começou a fumar.

— Você está ficando muito irritante ultimamente. A culpa é daquele seu amiguinho, Daniel... — Disse May. Interrompida logo em seguida por Cristofer, que disse:

— Daniel não é um péssimo amigo.

May suspirou e pegou seu celular e começou a mexer. O ônibus escolar ia chegando. Estacionou em frente à escola para os alunos descerem. Emily desceu e logo atrás, Nathan.

— Vejam só. Nathan chegando de ônibus. Será que ele caiu da cama hoje? — Indagou May, rindo.

— Tem alguma coisa errada. — Comentou Marcos, jogando seu cigarro fora. Quando seu telefone tocou.

— A essa hora da manhã? — Indagou ele, sabendo que era Denovian.

Do outro lado da linha, Denovian dizia: — Preciso que faça um favor para mim.

— Sim senhor. — Disse, desligando o telefone, logo em seguida colocou-o no bolso. — Estou de saída. — Completou pegando sua moto.

— Aonde você vai? — Perguntou May, um pouco chateada. — Vai sair não é mesmo? Comigo você não quer sair.

— Não é de sua conta. Vá logo que o portão está aberto. — Disse Marcos a May, depois subiu em sua moto e saiu apressado. A garota se chateou com a atitude dele e entrou andando emburrada em direção ao pátio da escola, deixando Cristofer para trás.

Nathan percebeu que Daniel estava sentado na escadaria da escola, sozinho. Decidiu passar despercebido, pois estava desconfiado que Daniel estivesse voltando a ser amigo Marcos e Cristofer, quando ele não queria isso. Daniel percebeu a frieza com que seu amigo o estava tratando, mas não disse nada, preferiu ficar quieto antes de arrumar confusão. Emily também percebeu, mas também não argumentou, apenas abaixou sua cabeça e seguiu seu caminho. May passou do lado de Emily e a perguntou: — Você terminou o trabalho?

— Terminei sim. — Respondeu a garota e rapidamente mudou de assunto. — O que está acontecendo com você e Marcos?

— Nada não. — Respondeu May, abaixando sua cabeça. Emily percebeu que o astral de todos estava muito baixo.

Aquele horário seria com a professora Elizabeth, aquela que a maioria odiava ter aula, estava preparando um teste, obviamente mais de metade da sala faria uma pontuação perto de zero.

— Droga! Odeio teste surpresa. — Disse Nathan.

— Eu avisei a vocês, Elizabeth me contou sobre o teste. Você não estudou porque não quis. — Disse Emily, sorrindo satisfeita.

O teste foi distribuído, Nathan não sabia responder uma questão se quer. Por outro lado, Emily parecia fazê-lo com uma facilidade incrível.

Os minutos iam se passando e os alunos saiam da sala um a um à medida que acabavam seus exames. Naturalmente Emily foi a primeira, e segundo a professora ela havia acertado tudo. Nathan, Cristofer e Daniel ainda faziam o teste. Apenas os três. De alguma forma, aquilo se tornou uma tortura para Nathan. Dos dois que lhe faziam companhia, Cristofer era o que ele mais odiava, depois de Marcos que não estava ali, e Daniel era seu amigo “traidor”, mas ainda seu amigo. Afeiçoara-se muito a ele nos últimos dias. Nathan respondera apenas cinco das dezenove questões. Imaginava o tempo todo quantas o traidor havia respondido. Já Cristofer, ele imagina que nenhuma fora capaz de responder. Foi surpreendido quando ele gritou: — Acabei!

Nathan olhou para Cristofer assustado. Sabia que ele não estudava nem nada, e estava longe de ser um dos melhores da classe. O teste era totalmente dissertativo e provavelmente lá estaria escrito muitas besteiras sem nexo, pensava. Foi surpreendido novamente quando a professora disse que seu rival acertou dez das dezenove questões e ele ainda não havia passado da quinta.

Os minutos continuavam a se passar e apenas Daniel permaneceu junto dele na sala, pois a professora se encontrava no batente da porta olhando para o lado de fora, olhando o movimento que alguns alunos faziam no corredor. Não entendia porque Daniel não tinha saído ainda. Então, finalmente o amigo resolveu dizer alguma coisa:

— Eu não queria te magoar Nathan. Me desculpa se te incomoda falar com Marcos, mas eu e ele já fomos muito amigos. Nos conhecemos desde criança.

— Não fale comigo, estamos fazendo um teste importante.

— Eu já acabei o meu faz um bom tempo. Eu só queria que todos saíssem da sala para eu ter essa oportunidade de te pedir desculpas. Por favor, Nathan, aceite-as.

— Daniel, por favor. Entregue logo seu teste. Faltam apenas dez minutos para acabar a aula dela. Você perderá seus pontos.

— Farei isso. Mas pelo menos diga que me perdoa.

— Eu te perdoo. Agora vá logo.

Daniel se levantou e deixou uma folha com anotações da prova em cima da mesa de Nathan dizendo:

— Todo mundo já compartilhou as respostas. Acho que só com você que ninguém fez questão de compartilhar. Como seu amigo, estou fazendo isso por você.

— Sério? Obrigado Daniel. — Disse Nathan, agradecido. Sem aquilo provavelmente não conseguiria fazer nem metade da prova. Mas seu alívio durou pouco, pois logo a professora entrou na sala e viu os dois conversando e o pedaço de papel em cima da mesa de Nathan e logo deduziu o óbvio e eles olharam para ela assustados.

— Ambos receberão zero. Podem se retirar o diretor os espera em sua sala. — Disse Elizabeth, totalmente revoltada. Não demorou muito e os dois já se encontravam na sala de Denovian.

— Estou desapontado com ambos. Principalmente com você, Daniel Miller. Como ainda se julga meu filho? — Comentou e questionou Denovian. Como sempre ríspido demais com seu filho.

— Pai, eu só queria ajudar Nathan. — Disse Daniel, tentando se justificar.

— Ambos ficarão em disciplina por cinco dias contando de hoje. — Disse Denovian. Daniel estava cabisbaixo, até mesmo Nathan que não costumava ser perceptivo, percebeu que não era por causa da disciplina que os dois haviam ganhado e sim, por outros motivos. Nathan se retirou e decidiu não falar nada, pois aquele era um assunto dele e de seu pai. Quando Daniel estava se virando para sair também, Denovian gritou:

— Você não, Daniel.

— Pai, já disse o bastante. Está decepcionado. Eu entendo.

— Não pense que eu não sei o que está fazendo. Esqueça tudo, sua missão não é se tornar amigo de Nathan, lembre-se, ele é perigoso para nós.

— Obrigado pelo alerta. — Após Denovian dizer isso, Daniel se retirou aborrecido, e deu de cara com seu amigo do lado de fora ouvido toda a conversa. Constrangido, ambos saíram em direção contrária, Nathan com os olhos lacrimejando.

Enquanto isso, Marcos olhava em um papelzinho um endereço que dizia: “Av. Principal. N° 87 – Hotel Havanna”.

— É aqui. — Disse ele, estacionando sua moto e subiu a escadaria que dava acesso a entrada do Hotel. Perguntou na recepção se havia algum cliente com o nome de “Hagar” por ali. A resposta foi não. Marcos estava profundamente desconfiado das intenções de Denovian. Não que isso fosse de sua conta. Ele apenas executaria o que lhe fora mandado.

— Obrigado. — Disse Marcos, retirando-se. Do lado de fora permaneceu escondido olhando para a saída do hotel, esperando que alguém saísse ou entrasse. As horas se passaram, até que finalmente, uma viatura da polícia parou em frente ao hotel. Ele observou e percebeu que um homem, o mesmo que fora perseguido e atropelado saiu do hotel usando óculos escuros, um chapéu e um sobretudo preto. Entrou na viatura, que saiu em seguida. Marcos rapidamente subiu em sua moto e a seguiu.

No mesmo instante, Nathan e Daniel varriam a escola de canto a canto. Os colegas de turma de Nathan caçoavam dele. — Ora, vejam só. O filhinho do professor virou faxineiro. — Disse um dos seus companheiros.

Nathan ficava irritado, mas esforçava-se ao máximo para ignorar.

— Acalme-se, Nathan. Só vai piorar a nossa situação você levar em conta o que eles dizem — Disse Daniel, que desistia de limpar, porque sendo a hora do recreio tudo já estava sujo novamente, antes de terminarem de limpar. Nathan jogou a vassoura no chão, irritado, resolveu não comentar, apenas retirou-se. Johnny observava sorrindo próximo dali.

Enquanto isso, a viatura da polícia parava na delegacia da cidade. Alguns metros atrás, Marcos estava escondido observando. O homem saiu da viatura, tirou o chapéu e os óculos escuros. Era Hagar, exatamente quem Marcos procurava. Exatamente quem Denovian não queria ver por um bom tempo.

— Desgraçado. Então é verdade. — Disse Marcos pegando seu telefone para ligar para Denovian.

— Não restam dúvidas, Denovian. Realmente Hagar está de volta. — De repente, seu telefone começou a pegar fogo.

— Droga! — Exclamou ele, jogando seu telefone longe, deu tempo de ver uma explosão de pequeno porte vinda do aparelho. Percebeu que Hagar estava parado virado para a direção que ele estava, mas os óculos escuros encobriam seus olhos. Mas não o sorriso sarcástico estampado em seu rosto. Marcos encarou Hagar e percebeu que ele não mudou em nada, porém, parou de encará-lo apenas quando o policial começou a desconfiar dele.

— Algum problema senhor? — Perguntou o policial.

— Não. Vamos! — Disse Hagar, seguindo com o policial.

Marcos pegou sua moto e partiu de volta para a escola de Hayan para confirmar as suspeitas de Denovian. “Droga, o que será que ele está fazendo aqui? ” Pensou ele, já em alta velocidade. Em Hayan, Nathan permanecia em um canto qualquer meio escondido torcendo para que ninguém o visse e resolvesse testar a sua paciência pela milésima vez naquele inferno que chamavam de escola. O intervalo acabou e os alunos já voltavam para suas salas exceto ele. Antes de entrar na sala, Daniel acabou esbarrando em Franco.
— Daniel, sabe onde está Nathan? — Perguntou Franco, aparentemente tranquilo.
— Ele estava comigo. Não sei mais onde ele se encontra senhor Franco.
— Tudo bem. Quando você o vê, avise que eu estou procurando por ele.
— Certo.

Marcos passou pelos dois apressado, correndo em direção a sala de Denovian que permanecia trancada, pois ele não gostava que o incomodassem durante o horário de aula. Ele bateu na porta por algum tempo, até que se irritou, olhou ao redor e não percebeu ninguém no corredor. Concentrou-se em sua habilidade e seus olhos já mudaram e com um único soco conseguiu arrancar as portas da dobradiça. Seus olhos iam voltando ao normal enquanto encaravam Denovian, pego de surpresa pela atitude do rapaz.
— O que você fez? — Perguntou Denovian, visivelmente irritado.
— Foi necessário. Hagar está na cidade. Você e Samuel estavam certos. Ele destruiu meu celular então fiquei incomunicável. – Disse Marcos entrando na sala desviando dos escombros da porta.
—Tenho que falar com ele. Não quero que faça nenhuma besteira. Onde ele está? — Perguntou Denovian.
— Provavelmente na delegacia. Talvez vá depor sobre a perseguição de ontem à noite.
— Isso não é bom. Eu não sei o que ele planeja aparecendo aqui assim. Deveria tê-lo impedido quando tive chance.

Enquanto isso, Nathan e mais alguns alunos que se encontravam próximos ouviram o barulho que a porta fez ao cair. Minutos depois uns bandos de curiosos já se encontravam de frente para a porta da sala da diretoria. Denovian tentava amenizar a curiosidade dos alunos que viam a porta ao chão como se tivesse sido derrubado bruscamente por alguém, o que realmente havia acontecido.
— Voltem todos para suas salas. As aulas não acabaram. Foi apenas um pequeno inconveniente. — Dizia Denovian.

Marcos assim como Denovian estava preocupado. O diretor decidiu que os alunos seriam dispensados sem algum motivo aparente, o que não fez nenhuma diferença para eles já que eles queriam apenas curtir seu dia fora daquele lugar, e algumas horas de folga na segunda feira era uma proposta totalmente irrecusável.
Horas depois, Denovian saía de casa, acompanhado de Johnny em seu carro. Por algum motivo, Denovian não queria que Samuel o acompanhasse nessa missão. Estava indo atrás de Hagar, precisava conversar com ele e descobrir o que ele estava fazendo na cidade. A última vez que eles se viram fora há dois anos no estado de Nevada, nos Estados Unidos como uma forma de garantir que ele não voltaria. “O que levaria Hagar aparecer na cidade?” Pensava Denovian. Ele sabia que Hagar planejava algo, mas não iria deixar que qualquer um estragasse seus planos e tudo aquilo que ele conquistou.

Paralelamente, Emily e Nathan passeavam pela praça da cidade. A garota tinha em mãos um sorvete que ofereceu ao amigo que educadamente recusou. Conversavam sobre muitas coisas, inclusive sobre Franco e sua mudança de comportamento com relação à Nathan.
— Eu vi o diretor conversando com o Daniel sobre mim. Eles me consideram perigoso. Talvez, por causa de meu pai. Coisas que eu tenho medo de avaliar mais a fundo. Eu já não sei se devo ou não confiar nele e estou cansado das pessoas me tratarem como o filho de um assassino. — Disse o garoto, em profunda tristeza. O garoto amava seu pai, mas era obvio para ele que aquela mudança repentina de personalidade é devido à desconfiança de Nathan. A cada tribunal que senhor Franco participava sendo ele o réu, Nathan se sentia como um filho de um assassino. Mesmo que acreditasse em sua inocência, os outros o tratavam deste jeito. Desejava a liberdade de seu pai, mas sentia-se mal por pensar que a memória das vítimas estavam sedo completamente desrespeitada com um possível assassino a solta — Sinto-me um personagem de teatro.
— Nathan, eu não acredito nisso. Seu pai apenas quer se reconciliar com você, eu vi isso lá no shopping, logo após você deixa-lo para trás. Eu acho que as intenções dele podem ser verdadeiras.

Nathan continuava sem esperanças diante das afirmações de sua amiga e a menina tentava convencer o garoto a fazer as pazes com seu pai. Odiava ver pai e filho brigarem. Próximo deles, sentado em um banco da praça, um homem ouvia atentamente a conversa deles lendo um jornal disfarçadamente. Era Hagar, que logo após Nathan e Emily se retirarem sorriu. “Então, o garoto está tendo problemas de relacionamento com o pai? Interessante”, pensou.

Nathan e Emily continuaram a caminhar, ele não falou mais nenhuma palavra com a menina até que eles chegaram à casa dela. A garota não queria admitir nem para si mesma, mas nutria sentimentos com relação à Nathan, mas não sabia se eram algo profundo a ponto de amá-lo como alguém em sua vida, ou algo fraternal, como irmão ou amigos muito próximos.
Enquanto isso, Denovian e Johnny chegavam ao hotel onde Hagar estava hospedado, chegaram à recepção e mostraram uma foto de Hagar que logo foi reconhecido como um dos clientes, mas o recepcionista se negava a falar alguma coisa, até que Denovian ofereceu um dinheiro e foi impossível de recusar.
— Sim, ele estava aqui mais cedo. Ele foi à delegacia, mas logo retornará. — Disse o recepcionista pegando o dinheiro discretamente.
— Vamos esperar. Já sabíamos que ele estava depondo. — Disse Denovian, sentando-se no sofá próximo à recepção. Não demorou muito e Hagar chegou com o jornal nas mãos, foi percebido por ele. Hagar se virou e correu desesperadamente para fora do hotel. Denovian levantou-se e rapidamente correu atrás dele. Johnny, por outro lado, largou calmamente o jornal que lia e caminhou calmamente até a saída do prédio.
— Senhor pode me dizer o que está acontecendo? — Perguntou um dos seguranças parando sua caminhada.
— Me desculpe, mas, eu não sei do que você está falando. — Disse Johnny. Seus olhos tornaram-se negros e então o segurança estranhamente caminhou em uma direção contrária, como se Johnny estivesse o controlando. Logo em seguida, Johnny continuou caminhando despreocupadamente enquanto Hagar corria tentando ser mais rápido que Denovian e desviar das pessoas ao mesmo tempo.

— Droga! — Exclamou Denovian. — Não o deixe fugir desta vez. — Gritava para ninguém em especial, já que Johnny havia ficado no hotel. Hagar entrou na floresta, se embrenhou cada vez mais mata adentro. Correu por mais alguns minutos até que foi vencido pelo cansaço. Mas já havia despistado Denovian.

Parou se apoiando em uma árvore e logo continuou, antes que pudesse avançar mais alguns metros Johnny apareceu em sua frente, com seus olhos ainda negros.

— Surpresa! — Disse Johnny, antes de dar um soco em Hagar, jogando-o fortemente contra uma árvore.

Hagar se levantou pronto para revidar com seus olhos modificados. Já se encontravam habitualmente na sua forma Dekai. A floresta em volta deles parecia entrar em combustão espontânea, mas Johnny sabia que se tratava da habilidade de Hagar. Denovian, que havia perdido o rastro de Hagar na floresta percebeu que havia algo errado pela quantidade de fumaça que o vento trazia acima das árvores e correu em direção de onde a fumaça vinha.

Johnny sorriu para Hagar e de repente seu oponente já parecia estar em algum lugar diferente daquela floresta. Tudo na volta de Hagar parecia um imenso vazio, e nem mesmo Johnny estava mais ali.

— Eu já conheço suas habilidades, Johnny. Isso se trata apenas de uma ilusão. — Disse Hagar, sorrindo, enquanto fazia uma pequena chama em sua mão. De repente, Johnny reapareceu, e seu sorriso sarcástico mostrava que aparentemente ele estava controlando a situação.

— Eu sei porque voltou, Hagar. Mas não irei impedi-lo. Estou lhe devendo uma ajuda então me deixe te ajudar desta vez. — Disse Johnny.

— Você está falando daquela vez com Yan, não é? — Disse Hagar, voltando ao seu normal. — Como você pode me ajudar? — Questionou Hagar olhando fixamente para Johnny.

— Primeiramente deixe-me te capturar. — Disse Johnny, sorrindo.

Hagar o olhou e fez toda as chamas em sua volta desaparecer e sorriu. — Vou acreditar em você. Denovian chegou e Johnny já possuía Hagar sob sua custódia.

 Horas depois, Hagar encontrava-se trancafiado dentro de uma das salas da Escola de Hayan. Denovian o interrogava tentando descobrir o motivo que o trouxera até ali depois tanto tempo. Ao que parecia existia muito mais coisas sobre a Havin que Denovian não estava muito disposto a revelar.
— O que veio fazer aqui? — Perguntou Denovian.
— Não banque o idiota. Eu sei seus planos, sei os planos da Havin. — Disse Hagar.
— Veio aqui tentar nos impedir? — Perguntou Denovian. — Se for sozinho sabe que não vai conseguir.

— Não seja ridículo Denovian, você sabe o que eu fiz no passado. Acabar com a Havin vai ser infinitamente mais fácil. — Fez uma pequena pausa, deixando Denovian tenso. Logo depois continuou. — Mas não é para isso que eu estou aqui.
— Então, o que veio fazer? — Perguntou Johnny, fingindo não saber do que se tratava.
— Vim me juntar a Havin novamente. O Fim desse mundo não é de perto um dos meus planos. — Disse Hagar, sorrindo. Johnny o olhou com um sorriso no rosto.
— Está brincando? Que estupidez. Sabe que não confiamos mais em você depois de tudo que fez. Sabe que sua presença aqui pode gerar grandes problemas para nós. — Disse Denovian.
— É obvio que causa, não é? Não estou surpreso que Samuel não esteja aqui. Mas eu não vim aqui dizer nada a ele. Eu vim porque Nathan precisa de proteção, e eu não confio em você para isso Denovian. Eu sou um dos fundadores da Havin e tenho tanto direito quanto você de decidir o destino do grupo. — Disse Hagar.
— Sabe que não concordaríamos com isso. Já existem pessoas competentes para proteger Nathan. — Disse Denovian.

— Quem? Seu filho? Marcos? Me desculpe, mas não confio neles. — Disse Hagar olhando fixamente para Denovian.

— Sua opinião não é mais válida. Não faz mais parte da liderança da Havin desde que nos traiu. — Disse Denovian, virando as costas para partir.
— Sabe que posso trazer Chain de volta, não é? Ou você me aceita de volta, ou vocês irão ver o mundo sendo destruído uma segunda vez. — Disse Hagar, em um tom desafiador. Denovian suspirou fundo de ódio de Hagar, mas Johnny que estava logo atrás estava sorrindo, afinal, aquelas ameaças de Hagar não se passavam de um plano dele. Denovian rapidamente virou-se para Hagar novamente.


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