Siren escrita por llRize San


Capítulo 4
Navio naufragado




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Jennie nadava em círculos, deixando Jisoo tonta com sua constante movimentação de um lado para o outro.

— O que você tem, Jennie? 

— Não é nada, Jisoo.

— Você está estranha desde aquele dia. 

— Só estou inquieta — Jennie sentou na cama para se acalmar. Alguns minutos depois estava batendo com os dedos na escrivaninha de pedra.

— Deve ter alguma maldição ou magia nos objetos humanos que os piratas felinos nos deram — Disse Rosé arqueando as sobrancelhas. 

— Pelos Deuses, Rosé! Pare de ser medrosa — Lalisa deu risada.

— Lisa! — Jisoo olhou feio.

— Está bem, defensora da Rosé — Lalisa revirou os olhos.

Jisoo balançou a cabeça negativamente, não gostava da forma como Lalisa falava com Rosé. Então, voltou sua atenção para Jennie, sentindo uma crescente preocupação com sua amiga.

— Jennie… o que posso fazer pra te ajudar? — Perguntou Jisoo, com a voz doce.

— Não sei, Jisoo. Me sinto estranha, é como se algo estivesse me chamando, eu não sei explicar. Sinto uma aflição aqui dentro — Jennie apontou para o coração — Não sei o que está acontecendo, mas é como se eu precisasse ir até aquele navio naufragado novamente, parece que as respostas estão lá. 

— Ainda pensando naquilo? 

— Não consigo dormir direito, fico o tempo todo só pensando nisso… é como se tivesse uma voz me chamando… não sei — Jennie olhou através da janela de seu quarto a imensidão azul lá fora, sentia uma aflição terrível em seu coração — Jisoo, eu preciso voltar lá, algo não está certo.

— Jennie, é perigoso, não deveríamos nem ter ido aquela vez.

— Eu preciso disso! — Jennie se levantou.

— Não é uma boa ideia — Jisoo colocou a mão em seu ombro.

— Eu vou, nem que seja sozinha!

Jisoo suspirou, fazendo sair bolhas de sua boca. 

— Por que você é tão teimosa? Seu pai odeia quando vamos pra lá, ele já nos proibiu. 

— Já viu eu obedecer meu pai alguma vez? — Jennie deu de ombro.

— Tudo bem — Jisoo fechou os olhos e suspirou — Eu vou com você, não deixarei que vá sozinha naquele lugar. 

— Eu também vou! — Lalisa se prontificou.

— Eu também vou… — Disse Rosé com a voz trêmula. 

— Então partiremos antes do nascer do sol, quando todos no castelo estiverem dormindo — Disse Jennie, com determinação. 

No dia seguinte, Jennie já estava acordada logo cedo. Na verdade, nem havia dormido. Lalisa estava ao seu lado, penteando seus longos cabelos castanhos.

— Jennie… seus cabelos são lindos — Lalisa deslizou a escova nos fios que dançavam em meio a água. 

— Os seus também, Lisa. Acho tão bonita a cor do seu cabelo.

— Branco? 

— Sim, é como o dos Elfos Noturnos que vejo nas pinturas antigas, acho que eles existem em algum lugar lá em cima. 

— Imagina se eu sou uma elfa misturada com humano, misturada com sereia — Lalisa riu. 

— Imagina? — Jennie deu uma risadinha — Por isso você tem uma beleza tão exótica. 

— Obrigada — Lalisa sorriu timidamente — Gosto de te ver sorrir — Ela se aproximou e tocou seu rosto, Jennie segurou sua mão, gostava de sentir seu toque carinhoso.

— Meninas? — Jisoo as interrompeu — Rosé já chegou? 

— Não — Respondeu Lalisa, irritada pela interrupção —, achei que ela viria com você. 

De repente elas ouviram uns murmúrios, parecidos com risadinhas.

— Tão ouvindo isso? — Perguntou Lalisa, tentando escutar. 

— Sim, parece que tem alguém aqui — Jisoo olhou em volta.

— Apareça criatura! — Lalisa pegou uma pedra para atacar o suposto invasor.

Então, um montinho de algas se remexeu no canto do quarto de Jennie, e Rosé saiu do meio dele.

— SURPRESA! — Berrou Rosé, erguendo os braços. As meninas recuaram para trás, assustadas. 

— Pelo sangue dos Krakens! — Disse Lisa com a mão no coração — O que é isso, Rosé? 

— É o meu disfarce.

Rosé emergiu do montinho de algas, suas longas madeixas loiras envolvidas por um véu de algas. Vestia uma espécie de vestido feito dessas plantas marinhas, e sua pele clara estava adornada com uma tinta verde que ela mesma aplicara.

— A Mulher Alga! — Lalisa deu risada. 

— Pare de rir, sua chata. É o meu disfarce! — Rosé colocou as mãos na cintura, queria parecer brava.

— Pra que? Pra assustar todos os peixinhos? 

— É melhor você parar de me provocar, Sr. Lisa, ou eu conto pra Jennie que você…

— PAREI! — Lalisa tapou a boca de Rosé com as mãos.

Jisoo empurrou levemente Lalisa para ficar de frente para Rosé, ansiosa para olhar nos olhos dela.

— Não ligue pra essa invejosa, você está linda Rosé — Jisoo tirou uma alga que caía nos olhos de Rosé.

— Linda igual a Mulher Alga — Lisa se acabava de rir — Dá pra fazer uma salada ao molho Rosé. Você ia gostar, Jisoo.

— É, ia mesmo, e daí? Cara de tartaruga — Jisoo revirou os olhos. 

— E você? Que parece um pepino do mar — Lalisa retrucou.

— Podemos ir ou tá difícil? — Jennie estava impaciente com aquela discussão boba das três. 

Elas se aprontaram para a jornada, um lugar distante e profundo, onde a escuridão dominava devido à grande profundidade. Poucos peixes se aventuravam naquelas águas pressurizadas, e a ausência de raios solares tornava o ambiente frio. Contudo, para as destemidas sereias, acostumadas com desafios, isso não representava nenhum problema.

Nadaram por várias horas até finalmente alcançarem o local. Lá estava o navio naufragado, em avançado estado de decomposição, suas madeiras já apodrecidas indicavam que o barco estava naquele lugar por centenas de anos. Atrás do navio estendia-se uma imensidão de água, o barco à beira do que parecia um precipício negro, mergulhando nas temíveis fendas mais profundas dos mares.

O local permanecia em um silêncio sinistro, com a fraca luz do sol começando a surgir no céu acima, lançando uma iluminação escassa sobre algumas partes do navio. Jennie nadava ao lado de Jisoo, ansiosa para alcançar o navio e descobrir o que tanto a intrigava. Era como se vozes a chamassem, ecoando pelo oceano profundo.

Lisa nadava logo atrás, ansiosa por encontrar algum espírito ou monstro marinho para testar seus novos golpes de luta. Rosé vinha logo atrás, com seu peculiar disfarce de algas, parecendo um montinho de grama ambulante.

Elas avançaram lentamente em direção ao navio, chegando ao convés onde havia vários barris espalhados, alguns ainda lacrados com alguma bebida misteriosa, enquanto outros serviam de abrigo para peixes e enguias curiosas. Olharam com assombro para os diversos esqueletos presos no mastro, ossos e crânios humanos espalhados por todos os lados. Podiam-se ver espadas e flechas enferrujadas, cravadas na madeira cheia de lodo. Rosé fechou os olhos com medo, agarrando-se ao braço de Jisoo; o lugar era assustador demais para ela.

— Vamos na cabine, deve ter algo lá do antigo capitão — Jennie apontou para cima e elas nadaram até a cabine, chegando em uma porta podre de madeira.

— Vou tentar abrir — Disse Jisoo colocando as mãos na maçaneta enferrujada e a girando. 

A porta quase se desmanchou de tão podre, uma cortina de lama e algas saiu junto com ela. As quatro observaram a pequena sala, nunca tinham entrado em uma cabine de navio antes. A maioria dos objetos estavam cobertos de musgo e algas. A escrivaninha estava podre e desmoronando aos pedaços. Um globo de plástico, coberto de musgo, flutuava na água. Na antiga e esverdeada prateleira de livros, não havia nada; os livros flutuavam aqui e ali, com suas páginas mofadas e verdes.

— O que estamos procurando? — Lalisa olhou ao redor. 

— Eu também não sei — Disse Jisoo se desviando dos objetos que flutuavam na cabine — Cadê Rosé? 

— Está lá fora, ela não quis entrar, medrosa — Lalisa deu de ombros. 

— Fique com ela, não gosto que ela fique só. 

Lalisa suspirou irritada; queria explorar o lugar e não ficar de babá de uma sereia medrosa. Foi reclamando, mas foi. Jisoo olhou para Jennie, que parecia apreensiva, procurando algo que nem mesmo ela sabia o que era.

— Jennie, tome cuidado, não encoste em nada, esse navio está caindo aos pedaços. 

— Acho que encontrei algo — Jennie rastejou embaixo da velha escrivaninha e pegou uma pequena garrafa.

— Bebida? — Jisoo examinou a garrafa de vidro na mão de Jennie.

— Não, veja — Jennie mostrou um papel enrolado dentro da garrafa. 

— O que é isso, Jennie? 

— É o que vou ver agora — Jennie abriu a garrafa, que rapidamente foi coberta de água, e então retirou o papel que havia nela, desenrolando-o para ver melhor.

— É um… mapa? — Perguntou Jisoo.

— Sim, é o mapa de Amicitia… mas veja… é o nome da minha mãe — Jennie apontou para uma escrita à mão com o nome “Jennifer” e algumas coordenadas, ao lado tinha um “X” escrito “Fonte da Felicidade” — Minha mãe escreveu isso — Os olhos de Jennie encheram de lágrimas e sua voz falhou — Será que ela queria que eu fosse até esse lugar? 

— Jennie, não fale besteira, isso é do outro lado do país, fica no sul… nem pense nisso! Além do mais, não acha estranho encontrarmos um mapa com a caligrafia da sua mãe justo aqui? É muita coincidência. 

— Não sei ao certo o que pensar, estou confusa. Mas não se preocupe, não farei nada estúpido. 

— Assim espero. Já achou o que queria? Temos que ir embora. 

— Sim, acho que era isso que eu precisava achar — Jennie guardou o mapa em sua pequena bolsinha presa na cintura — Vamos sair daqui…

Ao virar-se para sair, Jennie inadvertidamente esbarrou em uma das vigas do navio, partindo-a ao meio devido à sua condição extremamente deteriorada. O navio inteiro rangeu e começou a desmoronar em direção ao precipício, deixando-as com apenas um breve instante para trocarem olhares de desespero.


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Notas finais do capítulo

Nadem para as colinas!



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