Jisoo e Rosé caminhavam pela floresta, totalmente encantadas pela riqueza e variedade do mundo humano. Elas se maravilhavam com a fragrância de flores exóticas e se deleitavam com os cantos dos pássaros raros que enchiam o ar com melodias desconhecidas. Cada passo as aproximava mais da beleza natural deste novo mundo.

Elas precisavam seguir uma rota específica, delineada pelo mapa de Amicitia que tinham adquirido — de maneira um tanto questionável — naquela vila onde estiveram em perigo de vida. O plano era contornar o Rio Nigrum, seguir até Hillvards, pegar o Rio Caeruleam e, por fim, chegar em Fratris. Com o mapa em mãos, a jornada parecia menos intimidadora e mais uma aventura cheia de promessas. A cada curva do caminho, a natureza as recebia com um espetáculo de cores, sons e aromas, alimentando suas almas com a beleza do mundo acima das águas.

— Se seguirmos por aqui e contornarmos esse rio, chegaremos em Hillvards, então saberemos que estamos no caminho certo — Jisoo examinava o mapa enquanto andavam. 

— Podemos ir nadando? 

— Suas pernas estão doendo? — Jisoo a olhou, preocupada.

— Não, não é isso, é que eu sinto falta da água — Rosé olhou para o rio com aquela água corrente que parecia tão refrescante. 

— Pode ser que voltemos à nossa forma original e depois vamos ter que passar por todo aquele processo novamente, tudo bem pra você? 

— Sim, eu aceito correr esse risco. Estou com calor, o clima está muito abafado hoje — Rosé se animou. 

— Então vamos juntas? — Jisoo pegou em sua mão e Rosé assentiu com um sorriso. 

Jisoo e Rosé adentraram o rio de mãos dadas, sentindo o toque refrescante da água fria nos pés descalços. À medida que avançavam, a água subia até a cintura, trazendo uma sensação de renovação e vigor. Elas trocavam olhares expectantes, cada uma aguardando ansiosamente o momento em que suas caudas de sereia poderiam ressurgir. Contudo, enquanto a água envolvia suas formas humanas, nada mudava. Permaneciam com suas pernas intactas, um sinal de que, por enquanto, a magia que as transformava não se manifestaria. Essa constatação trouxe um misto de alívio e incerteza, pois ainda precisavam entender os limites e condições de suas novas realidades.

— Acho que só nos transformamos nas águas dos oceanos — Jisoo mexeu os pés embaixo da água — Parece que água doce não quebra a magia. 

— Então podemos nadar pelo rio e andar pela terra, isso é ótimo — Rosé sorriu. 

— Sim! — Jisoo espirrou água no rosto de Rosé. 

— Ei! — Rosé tentou revidar mas Jisoo mergulhou para longe.

No rio cristalino e profundo, rodeado por árvores floridas que enchiam o cenário de beleza, iniciou-se uma perseguição divertida. Rosé nadava com agilidade e determinação, impulsionada pelo desejo de capturar Jisoo como uma forma de brincadeira devido a sua travessura. A água, límpida como o ar da manhã, facilitava a visão das duas figuras em movimento, adicionando um elemento de graça e leveza ao momento.

Quando finalmente alcançou Jisoo, Rosé a puxou rapidamente para a superfície. Com um abraço firme, ela garantiu que Jisoo não lhe escaparia, rindo enquanto a segurava. Ambas emergiram, rindo e ofegantes, aproveitando a alegria simples de seu laço de amor e amizade enquanto flutuavam lado a lado nas águas tranquilas do rio.

— Peguei você! — Rosé comemorou com um sorriso.

— Eu admito a derrota — Jisoo ergueu os braços em sinal de rendição — O que preciso fazer para que perdoe minha insolência, mileide? 

Rosé colocou a mão no queixo, pensativa, enquanto fazia um biquinho adorável, ponderando sobre algo com intensa concentração. Jisoo, observando-a, não pôde evitar um sorriso, completamente encantada pela expressão meiga de Rosé. 

— Hum… eu quero um beijo. 

— Um beijo? 

— Sim, um beijo. 

— Pelo visto você gostou de me beijar, não é mesmo?

Jisoo puxou Rosé pela cintura, olhando profundamente em seus olhos enquanto acariciava seu rosto, afastando delicadamente uma mecha de cabelo molhado. Então, aproximou-se e selou um beijo intenso em seus lábios. A respiração descompassada de Rosé intensificava-se enquanto Jisoo apertava sua cintura com firmeza. Havia algo novo e desconhecido em suas sensações corporais, um mistério agradável que ambas ansiavam por explorar mais.

Envolvidas naquele beijo ardente, não perceberam o perigo iminente. Uma flecha cortou o ar próximo a elas. No instante seguinte, mergulharam para as profundezas do rio, nadando freneticamente para escapar. Mas não estavam sozinhas; dois homens saltaram na água atrás delas, nadando com uma velocidade sobrenatural.

Logo foram encurraladas e forçadas a subir numa grande pedra. Ao sair da água, puderam observar claramente seus perseguidores: dois homens altos, de pele e cabelos brancos como a neve, e orelhas elegantemente pontudas. Intrigadas e cautelosas, Rosé e Jisoo se perguntavam se estariam diante dos lendários elfos, seres de quem tanto já tinham ouvido falar.

— Aonde vão com tanta pressa? — Um outro elfo de longos cabelos brancos falou nas margens do rio. Ele tinha uma postura ereta e imponente com seu longo manto preto. 

— Só estamos de passagem e não queremos criar problemas — Disse Jisoo calmamente. 

— Estão no meu território! 

— O nome dele é Kai — Rosé sussurrou baixinho — Ele é o líder do bando deles, mas não consigo controlar sua mente. 

Kai riu com deboche. 

— Não adianta tentar entrar na minha mente, minha querida! Ao menos conseguiu descobrir o meu nome — Kai bateu palmas desdenhosamente — Na próxima tentativa de invadir minha mente eu a deixarei em um estado vegetativo, então, pro seu bem, nem tente! Quero conservá-la como está, me renderia um bom dinheiro. 

— Não tem porque rendermos algum dinheiro — Jisoo falava cautelosamente, já havia sentido que aquele elfo era muito poderoso e carregava uma energia imensa — Somos apenas humanas comuns…

Kai deu uma gargalhada. 

— Sinto o fedor de praia e peixe daqui, aberrações aquáticas! 

— Respeite nosso povo! — Jisoo o olhou com nojo — Nós somos sereias.  

Jisoo observou cautelosamente enquanto se concentrava intensamente. Do outro lado, Kai, um dos perseguidores, fixava o olhar nelas, que permaneciam sobre a pedra. De repente, seus olhos piscaram e sua expressão mudou drasticamente. Por um momento, Kai viu-se diante de Jin, seu grande amor, que aparecia sobre as pedras, chamando-o com uma voz doce e amorosa, confessando seu amor e dizendo o quanto sentia sua falta.

Por alguns instantes, Kai foi completamente capturado pela ilusão, sua expressão suavizando-se enquanto se perdia na visão de Jin. Então, com um sacudir rápido da cabeça, ele voltou à realidade e começou a rir, percebendo que havia sido alvo de um truque. O riso quebrou o encanto momentâneo, revelando sua resistência a tais manipulações e marcando a situação com uma nota de despreocupação e desafio.

— Acha mesmo que isso iria funcionar comigo? — Kai balançou a cabeça negativamente — Colocando na minha frente o meu maior desejo? Sou um elfo noturno, o mais forte de meu povo, não sou esses humanos tolos que vocês, criaturas arcaicas, costumam comer. Meus desejos íntimos se tornarão realidade muito em breve, não preciso dessa magia barata pra ser feliz. Mas tenho que admitir, você fez um bom trabalho. 

Jisoo encarou Kai com um olhar furioso, a tensão palpável no ar. Ao lado, Rosé iniciou uma melodia doce, tentando usar sua voz encantadora para enfeitiçar os perseguidores. No entanto, Kai, percebendo a tentativa, respondeu com um sorriso irônico e começou a bater palmas, como se estivesse apreciando uma performance ao invés de ser subjugado por ela. O sarcasmo em seu gesto era evidente, desafiando as habilidades mágicas das sereias com uma despreocupação audaciosa.

— Ao menos sabem cantar. Confesso que subestimei vocês. Seus novos donos vão adorá-las.

Jisoo reconheceu a urgência da situação; sabia que não podiam cair nas mãos daqueles seres ameaçadores. Com uma inspiração súbita, ela lembrou-se do majestoso cavalo que haviam visto nos estábulos do vilarejo. Com um gesto concentrado, ela moldou uma réplica perfeita daquele animal, porém feita inteiramente de água, cintilante e fluida.

Os elfos observaram, intrigados pela manifestação mágica, enquanto Kai, subestimando as capacidades das jovens, soltou uma risada de escárnio. Jisoo montou o cavalo aquático com agilidade e estendeu a mão para Rosé, que rapidamente se juntou a ela, agarrando-se firmemente à sua cintura. Com um toque firme, Jisoo segurou a crina do cavalo e o instigou a galopar sobre a superfície da água.

Kai e seus companheiros elfos tentaram persegui-las; os que estavam na água nadaram com todas as suas forças, enquanto Kai corria pela margem, mas todos se mostraram ineficazes. O cavalo de água, sob o comando de Jisoo, disparou numa velocidade impressionante, cortando a superfície da água com uma elegância sobrenatural, deixando os perseguidores elfos apenas com a visão de suas figuras se distanciando rapidamente.