Mestre do Poço dos Desejos escrita por Sorima
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura!
Me recostei na cadeira para escutar Bianca ler a carta, ela lia com tanta naturalidade que parecia que a própria a tinha escrito.
“Caro Pedro, como você está?
Esperamos que esteja bem, mesmo sabendo que você deve estar passando por poucas e boas agora.
Sentimos muito que não pudemos fazer mais por você em vida.
Então queremos que você aceite essa herança que lhe deixamos, nossa casa, nosso galpão, toda a terra que nos pertence e tudo que está aí dentro.
Você se lembra de que quando você era criança, nos lhe falamos do Poço dos Desejos? Ele não é nosso para lhe dar, você precisa se mostrar digno dele, mas podemos lhe apontar o caminho já que ele se encontra em nossas terras.
Esta será nossa última aventura para você, meu querido neto. Viva-a com toda a intensidade de seu ser!
Carinhosamente,
Seus avós.
P.S.: A nossa dica para você está escondida no mapa do nosso QG.”
— É só isso... - Bianca virou a folha algumas vezes. Repetiu – a dica está escondida no mapa.
Suspirei. Como aquilo era frustrante. Tornei a mirar o mapa que estava na parede; não havia nada de diferente ou novo ali, estava igual ao que sempre fora. Eu sabia disso pois já o tinha gravado na cabeça depois das dezenas de aventuras.
— Não tenho ideia do que eles querem dizer com isso – admiti – não tem nada que aponte o caminho no mapa.
— Eles disseram que estaria escondida – ela me lembrou.
Respirei fundo decidido a ver o que não parecia estar ali. Bianca se aproximou do mapa para estuda-lo cuidadosamente, então virou-se para questionar:
— Até onde é a área do terreno?
— O terreno tem uns 50 hectares, ele vai até mais ou menos esses lugares – falei apontando.
Bianca virou a cabeça de lado parecendo se esforçar antes de se virar para mim com as bochechas vermelhas e perguntar:
— Tem alguma caneta que possa usar para riscar? Eu sou péssima em visualizar essas coisas mentalmente.
— Claro!
Me levantei e peguei uma caneta hidrográfica na gaveta que tinha na mesa e fiz o contorno do terreno. Quando terminei me afastei para ver o resultado.
— Ah, agora ficou mais fácil! – ela tornou a correr os olhos pelo mapa antes de falar animada– e nessa região que não tem nenhuma marcação? O Poço pode estar aqui, né!
— Sim, pode...
Eu já tinha pensado nessa possibilidade, mas esperava encontrar alguma marcação ali.
— Mas você vai ter fôlego para explorar mais de 30 hectares?
— Nada é impossível para mim – ela falou confiante.
— São 300.000 metros quadrados – informei observando o rosto dela tremer levemente.
— Eu sou resistente.
Ergui as sobrancelhas sem acreditar.
— Você vai ter tempo para explorar isso tudo?
Ela comprimiu os lábios um contra o outro. Não lhe dei tempo para retrucar antes de revelar meus pensamentos.
— E tem outra, eles disseram que iriam apontar o caminho para mim, que é em algum lugar dessa área é bem óbvio.
Vi Bianca franzindo a testa.
— Agora que você falou isso...
Eu estava começando a me irritar com aquele mural... Devolvi a caneta para a gaveta e ouvi Bianca chamar minha atenção:
— Tem outra caneta aqui para guardar.
Olhei surpreso para onde ela apontava. Realmente tinha uma caneta ali. Só que eu não me lembrava de ter visto ela antes; ela era parecida com as outras canetas hidrográficas.
— Essa daí eu não conheço.
— Ela sendo toda preta, igual ao apoio do mural, ficou bem discreta aqui – falou pegando a caneta e destampando.
Parecia uma caneta comum. Mas algo naquilo me incomodou.
— Deixa eu ver – pedi estendendo a mão. Bianca me entregou a caneta tampada.
Não tinha nada escrito no corpo e a ponta era de uma cor violeta, virei a caneta para olhar a base, o que vi fez meu coração se agitar e um sorriso surgiu no canto da minha boca. Será que era aquilo mesmo?
— Bianca, apaga a luz ali para mim? – indiquei o interruptor que apagaria a luz só daquela área.
Ela logo se apressou para fazer o que pedi. Aquilo escureceu o mapa. Como não tinha nenhum botão na caneta tentei girar a base, mal fiz isso e uma luz arroxeada se acendeu. Virei-a animado para o mapa e linhas que não estavam ali antes surgiram.
— Tinta invisível! – exclamei vitorioso.
Meu vô era uma pessoa cheia de surpresas, sempre deixava a aventura mais emocionante, meu coração acelerado confirmava isso e a gratidão inundou meu ser.
— Caramba! Isso é incrível! – ela exclamou admirada.
— Acende a luz para mim, por favor. Vou passar essas informações para um mapa menor.
Procurei o mapa do terreno nas gavetas da mesa antiga, logo que o encontrei o abri e com um lápis preto fui desenhando a linha que se revelara no mural. O Poço dos Desejos realmente ficava na região que eu não tinha explorado. Porém, além da indicação de onde ficava o Poço, indicações que indicavam obstáculos margeavam a trilha. Uma frase próxima ao nosso destino me chamou a atenção: “Você é digno do Poço”.
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Próximo capítulo programado para lançar dia 11/01/2024.