Ainda sobre efeito de toda a medicação que tomei desde que cheguei ao hospital, eu comecei a me arrumar pois já tinha sido alertada que teria alta. Uma médica amiga da minha mãe receitou alguns calmantes caso seja necessário. Eu não sabia direito o que fazer, estava no piloto automático. Coloquei meu suéter e uma calça jeans, mesmo com temperaturas acima de vinte graus, como uma tentativa de esconder as marcas no meu braço, pernas e barriga, levantei também a gola do suéter para esconder as marcas no meu pescoço, sairia daqui direto pra casa e não queria que meu filho e a Bree vissem essas marcas. Eu não permitiria que eles soubessem dessa violência.

     Jacob entrou no quarto enquanto eu estava ajeitando a gola, ele me olhou cabisbaixo. Colocou as chaves no bolso e se aproximou, colocando a mão da minha cintura , encostando seu rosto no meu. Eu observava suas ações através do espelho, quando ele encostou os lábios no meu rosto eu me esquivei automaticamente. Ele umedeceu os lábios enquanto passava a mão na nuca, constrangido.

     - Desc...- comecei a falar, mas ele não deixou. Percebi que ele tinha agido de modo automático também, claro, o que teria demais no beijo no rosto da própria mulher?!

   - Você não tem que pedir desculpas, eu tenho. – suspirou – Posso ao menos segurar a sua mão? – assenti e ele entrelaçou os dedos nos meus. Isso não demorou mais do que dois minutos. Eu não conseguia encostar no meu próprio marido sem relembrar os três dias que passei naquele inferno. – Vai ficar tudo bem meu amor, vamos superar isso juntos, ok? No seu tempo.

     Ele não parecia surpreso com a minha aversão ao seu toque. Saímos dali acompanhados pelo meu avô Carlisle, nenhum dos dois tentou encostar em mim novamente. . Em casa, o silêncio reinava. Sinal de que as crianças não estavam em casa ainda.

      - Onde está Anthony? – quis saber, perguntando a Nika.

      - Emily está com ele. E a senhora Heidi veio buscar a Bree pra passar uns dias na casa da mãe, conforme combinado com o Jake. – ela suspirou – Achamos que fosse querer descansar em seu quarto um pouco antes de ver ele.

      - Jake, traz o Anthony pra mim, por favor – pedi olhando pra ele, que concordou com a cabeça.

      - Nika, ajude ela a se acomodar no quarto dela, ok. Irei buscar Anthony. Você quer que coloquemos a cama do nosso menino no seu quarto?

      - Meu quarto ? – questionei.

     - Eu pedi a Nika que organizasse o outro quarto pra você. Até que esteja bem, você pode dormir lá. Não quero que se sinta mal ao dividir a cama comigo, um homem. – baixei meu rosto, uma sensação de alívio tomou conta do meu corpo. Eu realmente não queria ter que dividir a cama com ele, mas não tive coragem para falar nada. – Não se preocupe meu amor, você tem todo o tempo do mundo para se recuperar. – ele estendeu a mão, tocando meu cabelo de maneira carinhosa. – Quer que mude a cama dele pro seu quarto por hoje? – fiz que não com a cabeça. – Ok, eu volto logo. Cuida dela Nika.

       Eles haviam colocado minhas coisas no quarto onde estive antes, durante a semana quando Anthony ainda era só um bebê. As marcas roxas no meu corpo sairiam, mas, e as mar as psicológicas?! Subi pro meu quarto, retirei as sandálias e me joguei na cama.

      - Quer que traga alguma coisa? Um chá, remédio...?

      - Não, obrigada Nika. Quando a Judith chegar diga que venha ao meu quarto, quero saber como meu filho se comportou na minha ausência. Se ele ficou bem.

     - Senhora, seu filho foi muito bem cuidado por todos. Deve se preocupar apenas consigo mesma no momento. – e o olhar piedoso estava lá novamente, o mesmo que todos me lançaram desde que eu sai daquele maldito cativeiro. – Vou trazer um pedaço de torta de chocolate com cerejas, sei que você gosta.

       Nika saiu, e não demorou muito até Jacob entrar com nosso menino. Estendi os braços para receber meu filho que praticamente pulou os braços do pai pro meu. Foi impossível controlar minhas lágrimas por ter ele em meus braços de novo. Jake me assistia abraçar e beijar Anthony, e se sentou na ponta da cama. Tentou disfarçar, mas eu bem vi uma lágrima escorrer.

      - Mamãe viajou sem Tony. – por razões lógicas eles não contaram a ele o que havia acontecido. – Cadê meu plesente? – não sabia o que responder.

    Jake se levantou, e tirou uma caixa embalada com papel presente de dentro do guarda roupa. Ele tinha preparado tudo realmente.

     - O presente que a mamãe trouxe tá aqui. – ele entregou a caixa ao meu menino. Sussurrei um “ Obrigada” que Tony não percebeu, enquanto rasgava o papel presente e retirava o avião de dentro da caixa com ajuda de Jacob.

     - Avião. – ele comemorou, foi pro chão e ficou correndo pelo quarto fazendo barulho com a boca e levantando o braço com o avião. A cena mais linda da minha vida.

    - Obrigada. – repeti para Jacob.

   - A Bree também vai procurar por o dela, está no mesmo lugar. – alertou.

POV JACOB

     - Como ela está? Conseguiu dormir essa noite? – Edward quis saber, mesmo em casa e no quarto sozinha Nessie não estava conseguindo dormir sem auxílio de medicação. Eu estava procurando casas para alugar em Londres, ela insistia que queria ir embora do país, e eu estava ganhando tempo já que todo o auxílio médico psicológico que ela tinha aqui era o melhor que conseguiríamos.

     - Do mesmo jeito, quase não sai do quarto. A não ser quando escuta algum barulho estranho, e aí coloca os seguranças pra checar cada centímetro da casa. Ela sabe que aqueles dois estão presos aguardando julgamento, mas não se sente segura, me pediu para contratar mais seguranças, dois pra Bree e dois pro Anthony e mais um pra ficar na casa o tempo todo junto a Seth e Tyler. – respondi – Ela está mal. Eu nem consigo imaginar as barbaridades que aqueles dois fizeram com ela.

    - Ainda é cedo, fazem só sete dias. – eu balancei a cabeça concordando. – Vou pedir a Hope que vá a sua casa hoje, talvez seja bom conversar com a melhor amiga. Claire também disse que iria lá hoje, pediu que eu te avisasse para arrumar o quarto de hóspedes pra ela. - assenti.

      - Edward? – chamei antes que ele saísse da minha sala. – Sei que agora a Kate mora com a sua mãe e passa algum tempo com você todos os dias, e claro que  a menina não tem culpa de nada, mas por favor se for visitar a Nessie não leve a menina. Ela é a cópia fiel da mãe. – eu alertei, embora soubesse que Edward era cauteloso demais para cometer essa pequena falha.

         Ele assentiu, fechando a porta assim que saiu.

         Ela não estava bem, e não era pra menos. Por mais que eu fizesse de tudo para que ela se sentisse segura em casa, nada fazia com que ela sentisse estar segura. De acordo com a psicóloga, seriam dias bem difíceis até que ela voltasse ao normal. Não importa quanto tempo demorasse, eu estaria lá por ela.