Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 32
31. É difícil manter a confiança, acreditar que o perigo é nulo, quando tudo aponta o contrário.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809577/chapter/32

06|12|1805 Amalienborg, Copenhagen

Beirando ao desespero, um jovem cavalga velozmente pelo centro noturno de Copenhagen rumo ao complexo palaciano de Amalienborg. A fúria dele ao cavalgar é tamanha que os guardas do palácio abrem imediatamente os portões. Mas, de fato, é necessário muita rapidez e urgência, o tempo é pouco!

O jovem cavalga até o Palácio Levetzau, onde desce do cavalo e entra correndo na residência. Todos os criados e nobres com quem ele cruza fazem uma rápida mesura, até que ele entra na antecâmara dos aposentos privados do príncipe Frederik...

— Christian, graças a Deus, você chegou! — a princesa Juliane exclama, abraçando-o fortemente. — Não sabe como eu... Oh, Deus!

Tomada pela emoção, Juliane começa a chorar no peito do irmão, que a abraça e encara suplicante a mulher sentada calmamente num sofá... a princesa herdeira Marie, que imediatamente levanta.

— Como aconteceu exatamente, Marie?

— Foi tudo muito rápido, estávamos no jardim, seu pai sentiu um mal-estar e simplesmente desmaiou. — Tanto que eles só perceberam tudo quando o príncipe estava no chão. Suspirando, ela acrescenta: — O médico ainda está examinando ele.

Fechando os olhos, Christian assente e aperta o abraço na irmã. Eles ficam assim por mais um momento, até que Juliane se afasta e, respirando fundo, senta num sofá.

— Onde estão Charlotte e Ferdinand? — pergunta Juliane, notando apenas agora a falta dos irmãos caçulas. Ela franze o cenho. — Não me diga que você os deixou em Sorgenfri!?

— Nossos irmãos logo estarão aqui, eu vim na frente — Christian responde, começando a andar ansioso pela antecâmara. — Papai mostrou algum sinal que...?

— Ele parecia tão bem quanto normalmente é, justamente por isso entrei em pânico. — A princesa herdeira traz água para Juliane, que bebe... e fecha dolorosamente os olhos. — O que será de nós, Christian!? Nosso pai não pode morrer!

— Devemos ser confiantes. — Normalmente isso é dito quando não há muita confiança. Respirando fundo, Christian pega as mãos da irmã. — Lembre-se que sempre teremos uns aos outros.

É o suficiente para fazer Juliane sorrir e assentir... Embora logo esse sorriso tenha virado novamente lágrimas. Christian entende essa reação e não nega; Cathrine mora numa ilha a quilômetros deles todos, então eles não estavam exatamente completos para suportar tudo.

Mas Christian permanece mostrando confiança que o pai ficará bem, mesmo não tendo certeza. A princesa herdeira senta ao lado da prima e a abraça pelos ombros. É bom ter o apoio de alguém do ramo principal da família real.

Logo, porém, o médico deixa o dormitório do príncipe Frederik, trazendo a atenção de Christian e fazendo Juliane levantar. Ambos encaram fixamente o médico.

— Receio não ter boas notícias — o médico começa, fazendo ambos se entreolharem —, dificilmente o príncipe, seu pai, sobreviverá.

O peso dessa notícia cai de forma terrível, deixando-os pasmados. Até que Juliane, num doloroso gemido, adentra no quarto do pai, e Christian a segue. Mas o que será deles agora!? Como Charlotte e Ferdinand reagirão!?... Como Cathrine reagirá!?

*****

Dezembro|1805 Palácio de Inverno, São Petersburgo

Sem alegria, risos e cores vivas... Naturalmente a corte russa já possui essas características, tal como um reflexo dos seus próprios soberanos, porém hoje... Talvez Mary tenha subestimado os efeitos da derrota em Austerlitz. Sequer foram recebê-la no portão.

— Eu já estava ficando com saudades, sabia? — Indo ao encontro da imperatriz viúva, Mary é parada no corredor pelo grão-duque Nicholas. — Uma pena que seu retorno tenha sido por causa da nossa desgraça.

É impossível para Mary não sorrir ao ver o pequeno cunhado, que a cumprimenta com um beijo na mão. Um jovem cavalheiro, tão cortês quanto... O sorriso dela morre, cortês como Konstantin jamais seria. Suspirando, Mary dá a Nika um sorrisinho.

— Desgraça ou não, eu estou de volta. — Não que dois meses longe de São Petersburgo seja muita coisa. Mary, porém, não consegue sustentar o sorrisinho. — Eu não suportava mais Konstantinovski; pior que seu irmão é a prisão dele.

Nicholas não dá uma resposta, embora Mary veja claramente o desconforto dele. É até penoso para ela, afinal a família sempre vem em primeiro para os Romanov. Os Tudor-Habsburg são similares, claro, mas não assim. Eles saem na direção da sala da imperatriz viúva.

— E o seu bebê? — Franzindo o cenho, Mary volta-se surpresa a Nika, que cora.

— Pavel? Eu o deixei no Palácio de Mármore, lá será melhor para ele. — Mas o rosto dele fica ainda mais vermelho, principalmente quando ele olha para... Mary instantaneamente entende, esse bebê. — Fazendo eu sentir muitos enjoos, dizem que é um bom sinal.

Embora terrivelmente desconfortável. Mas não se pode esperar muito de algo feito por Konstantin. Logo, porém, Nicholas e Mary chegam na porta da sala onde a imperatriz viúva os espera. Ela está prestes a entrar, quando...

— O seu bebê... Konstantin foi gentil, não foi? — Mary volta a franzir o cenho. Esse menino nem engrossou a voz e... — É que ele comentou...

Pouco importa o que Konstantin disse ou deu a atender. Mary abre as portas e entra na sala, fazendo imediatamente uma mesura a imperatriz e a imperatriz viúva. Nada, porém, é inicialmente dito, até mesmo as grã-duquesas Ekaterina e Anna ficam em silêncio...

— Você está atrasada, eu disse cinco em ponto, não quinze — porém a imperatriz viúva logo fala, tão doce quanto açúcar. — Se fosse uma questão de vida ou morte estaríamos perdidos!

— Mas não estamos nem perdidos e muito menos correndo risco de vida — Mary responde e, sorrindo inocentemente, levanta da mesura; a viúva franze o cenho. — Estou aqui agora... mamãe; quais as notícias? O usurpador nos tomou algo?

— Além da nossa honra e alguns dos nossos melhores homens!? — Ekaterina retruca atrás da mãe, mas Mary finge não escutar.

— Alexandre recuou antes de qualquer tratado de paz; sinal de que há alguma sabedoria naquela cabeça vazia. — A ironia nessa última parte é imensa. A imperatriz viúva começa andar pela sala. — Qual será a desculpa dele? O culpado?

Uma derrota já seria o ruim suficiente, mas uma derrota sofrida com o imperador no comando... De fato, Austerlitz foi uma humilhação, mas quem seria o mais prejudicado nesse desastre?

Os olhos dela acabam recaindo na escrivaninha da imperatriz viúva, mais especificamente num globo dourado. Mary aproxima-se e começa a analisar a Europa, cujas fronteiras ainda estão no século passado. Quais serão as consequências dessa vez? Mary suspira.

— Pelo menos nosso exército está retornando em paz.

— Ou o que sobrou dele — a imperatriz sussurra tristemente do sofá. — Não quero nem saber o número de mortos.

— E pensar que Konstantin poderia estar entre esses. — Instantaneamente Mary franze o cenho com as palavras de Ekaterina, que ainda acrescenta: — Ele quase morreu numa ofensiva contra os franceses; um verdadeiro herói.

Mas seria heróico o suficiente para ser lembrado por esse motivo? A única resposta de Mary é uma risadinha irônica. Konstantin não é o anjo de luz que Ekaterina imagina, não com Mary.

— Não posso acreditar numa coisa dessas, numa humilhação dessas! Maldito demônio! — a imperatriz viúva exclama, apenas para encarar furiosamente a imperatriz. — Satisfeita, Elizaveta!?

Naturalmente a imperatriz fica ofendida, tanto que levanta e tenta se defender. Uma discussão se inicia, embora Mary continue focando apenas no globo. França, Áustria, Alemanha e Itália; qual seria a vítima da vez?

— O que você está fazendo? — Nika, até o momento calado com Anna, aproximando-se.

— Redesenhando a Europa, porque essa Europa certamente não existe mais — Mary responde, ganhando de Nicholas um olhar preocupado. — Não se preocupe, Nika, estamos seguros na Rússia.

Nenhum exército estrangeiro ousaria marchar neste país esquecido por Deus. Mas Nika fica em silêncio, apenas observando a Europa com Mary.

— Você tem medo pelos seus parentes Habsburg, não é? — Mary assente para Nicholas, que pensa um momento e, encarando-a fixamente, afirma: — Eu ainda lhe trarei muitas vitórias, Mary; guarde isso.

Sorrindo docemente, ela assente para o pequeno cunhado. Que criança mais doce, se ele fosse assim para sempre seria maravilhoso. Os dois ficam em silêncio, apenas escutando a discussão das imperatrizes, até que uma delas menciona Batalha dos Três Imperadores...

*****

Dezembro|1805 Amelian House, Cheshire

— Três imperadores!? O usurpador ousou chamar Austerlitz de Batalha dos Três Imperadores!? — Batendo na mesa do escritório, ofegante e com o rosto vermelho de raiva... Richard fecha os olhos e respira fundo. — Mas só haviam dois deles; o imperador da Rússia e o próprio Bonaparte!

Franz jamais sairia para o campo de batalha. Mas que situação; novamente Richard respira fundo, embora permaneça em pé, não seria prudente da parte dele perder a paciência, não agora. E Robert, sentado na frente dele, espera pacientemente essa calma chegar, para então...

— Faz parte da propaganda bonapartista. — É o bastante para fazê-lo abrir os olhos. Rindo secamente, Robert ainda acrescenta: — Ele mandou anunciarem Trafalgar como "uma grande vitória francesa".

— Mas dessa vez Bonaparte tem o benefício de estar correto — Richard responde friamente e, negando, volta a sentar. — Não estou preparado para o desastre que virá após as negociações em Pressburg.

— E do que exatamente você tem medo, Richard? — questiona Robert, deixando ele momentaneamente pensativo.

— Não sei ao certo, apenas... sinto o perigo se aproximando. — Tão forte e alarmante, embora apenas uma sensação. Robert nega cético para Richard, que suspira cansado. — Em sua última carta, Anne falou sobre acordos franceses elevando Württemberg e Baviera a reinos.

— Isso só vai criar mais estados satélites para a França; não vejo perigo algum. — O tom de Robert, principalmente na última parte, é irônico.

Encarando fixamente o irmão, Richard franze o cenho e nega ofendido. Não vê perigo... Robert não vê perigo nisso!? Por Deus, como dois irmãos, príncipes da mesma coroa, podem ter focos tão distintos!? Mas, respirando fundo, o marquês mantém a calma.

— Reino da Baviera, Robert, isso não soa como um alerta para você? — O duque nega sem qualquer receio. Respirando fundo, Richard explica: — Não acredito que estou dizendo isso, mas... Nosso apoio a Áustria e Inglaterra pode custar a autonomia de Niedersieg.

— O perigo que representamos as ambições francesas é praticamente inexistente — Robert responde, embora sério e levemente pensativo. Logo, porém, ele nega. — Que benefícios traríamos a um possível conquistador, Richard?

Mesmo com o leve declínio econômico e social da última década, Niedersieg ainda figura entre os estados mais prósperos do Santo Império; seria um prêmio para qualquer um... Se não fosse pela pequenez territorial e os Alpes como barreira natural...

— É difícil manter a confiança, acreditar que o perigo é nulo — o marquês fala, virando-se ao irmão e encarando-o fixamente —, quando tudo aponta o contrário.

— Então foque em outras coisas, foque na Inglaterra — sugere Robert num tom alegre... mas levemente suplicante.

— A mesma que ainda regozija com a vitória em Trafalgar? — A ironia dele desfaz o sorriso do irmão. Richard nega e suspira cansado. — Francamente, Robert, nada aqui é importante o suficiente para capturar minha atenção, ou intervenção.

— E quanto ao funeral de Lord Nelson?

Oh, o funeral! Richard faz uma desgostosa careta ao lembrar, embora Robert sorria divertido. O corpo de Nelson nem havia chegado ainda e planos já precisam ser feitos! Mas... suspirando, Richard pensa um momento e responde que:

— Não acho que minha presença, como soberano estrangeiro, seja adequada na Catedral de St. Paul. — Talvez nem sair em público fosse bom. Richard pensa mais um momento. — Mas você estará lá, como duque de Kendal, representando nossa família.

— Será uma honra, principalmente porque nunca conheci pessoalmente Lord Nelson. — Depois da Batalha de Copenhagen tornou-se impossível Nelson ser recebido na corte dos Bristol. O silêncio instala-se, mas... — Pergunto-me quais as consequências de Trafalgar?

— Certamente que, quaisquer que sejam elas, não serão tão ruins quanto as de Austerlitz — Robert choraminga com as palavras de Richard, que nega. — É impossível, não consigo parar de pensar nisso; e não apenas eu, o próprio William Pitt me escreveu sobre os receios dele.

A ansiedade retorna, e dessa vez tão forte que é impossível para ele manter-se sentado; Richard levanta e se afasta do irmão. Mas agora é a paciência de Robert que também entra em colapso.

— Mas esqueça, Richard; não pense nesse assunto! — exclama Robert, negando veemente. — Quanto mais você pensar, quanto mais medo tiver, mais fácil será agir impulsivamente e...!

— Não ouse terminar essa frase! — Richard grita, fazendo Robert arregalar os olhos em pavor… Virando o rosto, ele tenta se acalmar. — Estou pensando seriamente em ordenar o levantamento de milícias.

Os olhos de Robert arregalam com essa declaração, ele até abre a boca... mas nada é dito e o silêncio instaura-se. Richard volta a sentar na poltrona, embora não olhando mais para o irmão. Por que falar de guerra é tão difícil? Por que disso tudo?

A sensação de estar sendo hipócrita é terrível nele. Como alguém fala que está seguro e ainda assim planeja se armar? Richard tem medo de dar razão a Neipperhard e... tudo perder o controle. Os Tudor-Habsburg não fazem guerra.

— Voluntários, — Richard volta a encarar Robert, cuja expressão é séria. — peço que convoque voluntários, é menos hostil.

Os Tudor-Habsburg não fazem guerra... os outros que lutam por eles.

*****

Nenhuma palavra é dita, nenhum grito ou alteração na voz são escutados... Talvez a conversa deles tenha voltado ao normal, ou... Suspirando cansada, Cathrine deixa o corredor do escritório e vai rumo a sala verde. Guerras e tratados dão dor de cabeça.

Entrando na sala, Cathrine recebe instantaneamente mesuras das damas de companhia e Lady Holles, embora Sophia permaneça sentada. Aparentemente altezas reais não se curvam a meras altezas sereníssimas. Cathrine senta ao lado dela no sofá.

— Eles não se mataram ainda, então? — zomba ironicamente Sophia, recebendo um contido assentimento de Cathrine. — Surpreendente, principalmente levando em consideração...

— Podemos não falar de política? Esse assunto já está repetitivo. — Virando-se para frente, Cathrine observa em silêncio Lady Cavenbush colocar a bandeja de chá na mesa.

— Como queira — responde Sophia, sorrindo e também olhando para o chá, porém... — Mamãe também não gosta de política, ela sempre diz que é rainha, não parlamentar, mas toda consorte deve estar a par dos acontecimentos políticos.

— Caso seja necessário uma regência. — Sophia assente para Cathrine, cuja única ação é pegar o bule prateado e negar. — Uma regência minha seria um verdadeiro caos.

A própria ideia de uma regência faz Cathrine tremer, ter que lidar com pessoas... Cathrine quase derruba o bule com esses pensamentos, mas ela consegue servir o chá para Sophia, cuja expressão é preocupada.

— Você está certa, melhor mudar de assunto. — Cathrine sorri em agradecimento e começa a servir mais chá. — Peço que não comente nada para Robert, mas acho que estou grávida.

Agora, de fato, Cathrine derruba o bule, cuja prata colidindo na bandeja faz uma barulho terrível. Mas... arregalando os olhos, ela vira-se para Sophia, de novo!? Sophia é o quê, um coelho!?

— Quando foi isso?

— Logo após as notícias de Trafalgar — Lady Holles responde e, fazendo Sophia corar, ainda acrescenta com malícia: — Deve ter sido a vitória, não estou certa, minha princesa?

As outras damas riem com a piada da baronesa, e riem tanto que logo a própria Sophia se junta a elas. Mas não Cathrine, ela fica calada e, virando-se para frente, encara o bule. Uma nova gravidez, a terceira em pouco mais de dois anos...

— Fico impressionada com a sua facilidade para engravidar — comenta Cathrine, voltando a servir o chá. É o bastante para trazer a atenção delas —, e a urgência também.

— Urgência? Cathrine, eu já tenho quase 30 anos, logo meu tempo fértil acabará. — O sorriso de Sophia treme... Até que, olhando para baixo, ela sorri mais ainda. — Robert sempre é maravilhoso comigo, mas ele tem desejos e alegra-me saciá-los.

— Como você consegue falar tão naturalmente disso? — questiona Cathrine numa negativa.

— Somos todas mulheres aqui, Cathrine, e casadas — responde Sophia, ainda ganhando uma negativa da marquesa. A duquesa volta ao chá. — Já organizou os presentes para o Natal dos necessitados?

Finalmente um assunto mais agradável, e dessa vez algo que Cathrine não está em grande desvantagem. Todos os anos são enviados presentes — em sua maioria, alimentos e roupas — para as casas mais pobres das vilas e cidades em volta das propriedades. Mas esse ano Cathrine fará mais:

— Darei uma festa para as crianças da região; confesso que tenho mais pena delas que dos adultos. — Crianças não podem segurar a fome. Logo, porém, Cathrine sorri largamente para Sophia. — E... quero agradecer por Juliane.

— Seria lindo um teixo decorando a sala, como mamãe fez em 1800 para as crianças de Windsor — sugere Sophia ao tomar um gole de chá.

— Lembro dessa festa, mas uma árvore? — Parece tão pomposo para o Natal, embora seja algo que os alemães façam. Cathrine nega. — Talvez seja alemão demais para o meu gosto.

— As crianças acharam mágico, e nós também achávamos quando crianças — Mas ainda assim... Cathrine não responde Sophia, que acrescenta: — Vocês não têm árvores ou ramos de Natal na Dinamarca?

Cathrine fica estoica com essa pergunta, tanto que torna-se o principal foco das damas de companhia. Geograficamente falando, a Dinamarca está mais próxima da Alemanha que a Inglaterra, e apenas a família real inglesa tem o costume de decorar teixos, mas... Cathrine nega em silêncio.

— Mas sua mãe era alemã! — exclama Lady Spencer, recebendo assentimentos das outras.

— E, tal como a rainha, uma Mecklenburg — acrescenta calmamente Lady Paston — do ramo Schwerin, de fato, mas ainda uma Mecklenburg.

Mas a duquesa Sophie Friederike não trouxe nenhum teixo ou galho de teixo de Schwerin. Alguns costumes foram trazidos, de fato, uma jovem de 16 anos não se deixaria tão facilmente os próprios costumes, mas...

— Minha avó, a rainha Juliane Marie, não queria príncipes alemães como netos, mas sim dinamarqueses.

— Você deve sentir tanta falta deles. — Cathrine volta-se para Sophia e, sorrindo levemente, assente.

— Especialmente nessa época do ano... É até estranho nenhuma carta de papai ou Juliane ter chegado ainda. — A última chegou no começo do mês, dá até uma sensação ruim... Negando, Cathrine sorri — Mas e você, fará alguma coisa para os necessitados?

É quase irônico fazer essa pergunta a Sophia, ela é incapaz de deixar os pobres no esquecimento. Mas Sophia começa a falar sobre as muitas ajudas dela, desde orfanatos até prisões. Porém, apesar de escutá-la atentamente, Cathrine constantemente lembra de casa.

*****

Dezembro|1805 Schloss Leonberg, Leonberg

Wilhelm e Anna correm alegremente entre as laranjeiras, agora sem folhas, do Pomeranzengarten; isso enquanto a pequena Charlotte os observava do caramanchão, igualmente sem folhas. Ela também deveria estar participando dessa diversão... se não fosse pela conversa na escadaria central.

— Mas qual seria o problema em levar as crianças? — Anne tem ao lado o Sr. Belgärd e a condessa Verweyen, essa última que acrescenta: — Há meses o eleitor e a eleitora não veem os netos.

— E há anos o "você sabe quem" também não! — retruca ferozmente Anne, chamando a atenção de Charlotte. — Não quero meus filhos perto daquele homem.

— Perdão pela ousadia, minha princesa, mas é um direito dele ver os filhos. — Os olhos da princesinha brilham com as palavras do Sr. Belgärd; falam do pai deles.

— Além de que, caso haja uma separação, — Anne, arregalando os olhos, volta-se horrorizada para a condessa, que finaliza: — quem ficará com as crianças, segundo a justiça, será o pai.

É o bastante para fazer a princesa voltar-se para Wilhelm e Anna brincando. Embora logo em seguida ela volte-se na direção de Charlotte, que sequer consegue desviar o olhar. Anne, porém, apenas volta-se para frente e começa a andar na direção da fonte principal.

— Isso segundo a justiça, mas desejo lembrar-lhe, Luise, que estamos na Alemanha. — Parando novamente, a princesa sorri arrogantemente para a condessa. — Não sou eu quem se curva à justiça, mas sim a justiça que se curva a mim.

Dito isso, ela cruza o jardim e caminha na direção da escadaria, embora logo os irmãos Anton e Luise a sigam. A distância começa a ficar maior e não demora muito para Charlotte deixar de escutá-los, sendo a última coisa...

— Você não poderá separá-los para sempre...! — a condessa fala descendo a grande escadaria da gruta.

Os adultos somem, deixando para trás uma Charlotte preocupada e pensativa... Mas isso não dura muito, pois logo Anna a chama para brincar e, esquecendo da mãe e do pai, ela corre para junto dos irmãos. A alegria da diversão faz qualquer criança esquecer os complexos assuntos dos adultos.

No meio dessa brincadeira, porém, começa lentamente a gear no castelo, aumentando mais ainda a alegria dos irmãos. Dando as mãos e rodando em volta da fonte, bem em frente a sacada da duquesa Sibylla, as crianças cantam sobre a neve e riem. Estão completamente extasiados, tanto que não escutam...

— Por favor, meu príncipe, não faça isso! — Mas, apesar dos protestos, Fritz continua seu caminho rumo ao jardim, tanto que o criado atrás dele fala suplicante: — A princesa ordenou que...

— Mas eu ordenei o contrário! — o príncipe responde, voltando-se ameaçador ao assustado criado. — Diga-me agora quem tem a voz maior?

— Eu serei castigado...!

Não desejando mais ouvir, Fritz adentra no jardim e... As crianças! Fritz instantaneamente arregala os olhos, tão perplexo com essa visão que fica incapaz de falar ou fazer qualquer coisa, a não ser encará-los. Charlotte, Wilhelm e Anna, as três crianças que ele abandonou...

Abandonou... Essa verdade, da qual ele tanto reprimiu nos últimos anos, o atinge de forma dura a crua, tanto que Fritz sente os olhos cheios de lágrimas. Já estão tão grandes e... parecem tanto com a família de Anne. O pensamento de ser um monstro é horrível, mas Fritz deseja consertar as coisas.

Inconscientemente, porém, ele acaba se aproximando das crianças, que finalmente percebem a presença dele... e recuam para trás num assustado grito.

— N-não precisam ter medo, crianças, eu... eu... — A voz de Fritz morre assim que ele avança e as crianças recuam. Fritz sorri para a filha mais velha. — Não lembra de mim, Charlotte?

— Como você entrou aqui? — ela retruca, mostrando que não lembra. O coração dele aperta, mas Fritz continua sorrindo. — Estranhos não são permitidos na casa da princesa eleitoral!

— Acho que é princesa herdeira agora — Fritz sussurra num suspiro. Mas não é oficial, não ainda. Ele continua se aproximando. — Sou eu, Charlotte... o papai.

As crianças imediatamente param de recuar, assustando-se agora com essa palavra tão simples, mas poderosa. Papai... Charlotte arregala os olhos, completamente surpresa, embora de uma forma diferente de Wilhelm e Anna.

— Nós temos pai? — pergunta Anna, encarando fixamente Fritz e depois a estoica irmã mais velha. — Charlotte?

Charlotte não fala nada, apenas solta os irmãos e corre para Fritz, abraçando-o com toda a força e saudade que sente. Ele sorri e, rindo, ergue a filha, Charlotte cresceu tanto. Mas logo a atenção dele volta-se a outra filha.

— Não vai me abraçar também, Anna? — A princesa caçula fica receosa, ainda dominada pelo medo. — Pode confiar em mim, eu sou o seu pai.

Hesitante e devagar, Anna se aproxima de Fritz e também o abraça... gradativamente sorrindo. Dá para sentir o amor incondicional dessa criança por ele, embora ainda um estranho. Mas ainda falta Wilhelm. Fritz sorri para o herdeiro e estende uma mão...

— Mas o que está acontecendo aqui!? — Porém Anne aparece na escadaria da gruta, fazendo com que Wilhelm corra na direção da mãe. Anne pega o filho no colo e encara Fritz com fúria. — Como ousa...!?

— Olá também, Anne — cumprimenta Fritz, erguendo Charlotte e Anna nos braços —, nossos filhos são tão lindos, não?

Anne ergue arrogantemente a cabeça, encarando Fritz com todo o orgulho e desprezo que sente, enquanto ele apenas sorri. Talvez Fritz não saiba, mas ele acaba de começar uma terrível guerra, uma da qual ganhou a primeira batalha... mas e as próximas?

*****

Final de dezembro|1805 Amelian House, Cheshire

O relógio na lareira marca meia-noite e, como de costume, os Bristol e os Kendal já estão jantando. Apenas eles ocupam a sala de jantar, permitindo assim que as conversas se desenvolvam mais livremente e, como consequência, sejam mais informais... E, naturalmente, Cathrine é a que menos fala.

— ... vocês realmente precisam ir amanhã? — pergunta Richard, bebendo uma taça de água e sorrindo para a cunhada. — Sei que é uma longa distância de Chester a Windsor, mas ainda é 21 de dezembro!

— Seria maravilhoso, mas a rainha nos espera mais cedo esse ano — responde Sophia, sorrindo depois para Cathrine —, para ajudar na decoração, sabe?

— Eu entendo, mas confesso que sinto falta dos meus irmãos no Natal. — Principalmente de Anne e Mary, mas fazer o quê? Encarando Robert, Richard suspira irônico. — Sinto até das reclamações de Robert sobre o pudim de ameixa.

Robert instantaneamente franze o cenho, embora Sophia e Cathrine comecem a rir, essa última mais discretamente. O ódio de Robert por pudim, principalmente de ameixas, chega a ser irracional, mas um irracional bastante prazeroso para Richard.

— Se lhe agrada, sou obrigado agora a comer do pudim para não ofender o rei. — Mas os risos não param, então Robert apenas nega e volta à refeição.

Não tarda muito, porém, e as risadas acabam, com todos retornando a refeição e o silêncio instaurando-se na sala de jantar. Uma pena que o próximo jantar seria recheado de aristocratas e nobres, não necessariamente desagradável, de fato, mas longe dessa familiaridade.

— Mas se vocês desejarem podemos incluí-los no próximo Natal em Windsor — Sophia, findando o silêncio, sugere para Richard, embora logo depois voltando-se à marquesa — O que acha, Cathrine?

— Seria esplêndido. — Mesmo sorrindo, Cathrine ainda soa fria e distante, não verdadeiramente disposta.

Franzindo o cenho, Richard encara confuso Cathrine, cuja única ação é suspirar e, com uma expressão extremamente séria, beber água. Não há arrependimento algum, não visível. Com um sorriso educado, Sophia assente e retorna a refeição. O olhar confuso dele torna-se questionador, mas Cathrine ainda não...

— Meu marquês? — Chamando a atenção de todos, o conde de Aylesford entra na sala e faz uma lenta mesura. — Perdão pela interrupção, mas chegaram mensagens urgentes... do continente.

Urgentes? Franzindo o cenho, Richard troca olhares preocupados com os outros, até mesmo Cathrine mostra-se confusa. Aylesford entrega ao marquês dois envelopes, sendo o primeiro deles...

— Niedersieg... — sussurra Richard, aumentando visivelmente a tensão de Robert e Sophia. — Parece de Neipperhard...

— Não estou me sentindo muito bem, com licença. — Interrompendo ele, Cathrine levanta e, sequer fazendo uma mesura, deixa a sala de jantar.

Mas o que foi isso? Richard franze o cenho e também levanta, pensando seriamente em ir atrás da esposa, mas os olhos dele voltam ao envelope, a aparente urgência dele... Sentando novamente, Richard abre e inicia a leitura da carta que veio.

— Do que se trata, Richard? — pergunta Sophia, trocando um preocupado olhar com Robert. — É algum problema?

— Não, é apenas... o relatório que eu pedi sobre a situação dos arsenais. — Deixando a carta de lado, ele pega o fatídico relatório no envelope. Ao começar a lê-lo... Richard arregala os olhos e sussurra: — Estamos perdidos... O meu povo está perdido...

— Como assim "perdido"!? — Richard encara fixamente o irmão, profundamente confuso. — A situação militar desse principado não deve ser...

— Toda a artilharia de Niedersieg não passa de 70 canhões! — o marquês exclama furioso, assustando até os Kendal. — Sendo, em sua maioria, restos da Segunda Invasão Austríaca, em 1759!

Nessa ocasião os austríacos tomaram a maioria das armas do principado e, após irem embora, deixaram apenas os restos. Em resumo: a maior parte das armas em Niedersieg são anteriores à Guerra dos Sete Anos, tão ultrapassadas quanto os generais austríacos!

— Você já ordenou o levantamento das milícias? — pergunta Robert, pegando o relatório.

— Não tive coragem, e não sei mais se terei. — Cobrindo o rosto, Richard olha para cima e geme derrotado. — Posso esperar pelo pior ou pedir pelo pior, porque em ambos os casos eu perderei.

Niedersieg pode ser próspero, mas ainda é um estado pequeno, e nenhum estado pequeno tem força militar o suficiente para aguentar qualquer exército, seja grande ou pequeno. Nada é dito por Robert e Sophia, esta última que pega a outra carta.

— Há uma quantidade relativamente aceitável de mosquetes, principalmente no arsenal de Königsstadt — Robert comenta, embora franzindo o cenho em seguida. — Mas haverá munição o suficiente...?

Antes mesmo de Robert acabar, Sophia exclama horrorizada... até que, encarando fixamente Richard, ela estende a carta que ele não abriu. Richard começa a ler... e arregala os olhos.

*****

"... sei que não chegará a tempo do Natal, mas saibam que estou com muitas saudades e não há um dia que eu fique sem pensar em vocês. Essa época do ano, principalmente, marcada pelo amor familiar, faz-me sentir saudades de todos; Christian, Juliane, Charlotte, Ferdinand e..."

Perdendo as forças, até mesmo o ânimo, Cathrine coloca a pena de lado e respira fundo, tentando ao máximo colocar os sentimentos em ordem. Novembro e dezembro nunca foram meses particularmente felizes, mas esse ano...

— Sinto-me uma invejosa da pior espécie. — Suspirando cansada, Cathrine vira-se as damas de companhia. — Adam e Juliane já estão dormindo?

— Lady Pembroke disse que Adam caiu exausto na cama — Lady Newport responde, fazendo a marquesa sorrir levemente. — Juliane parecia um pouco agitada...

— Então traga ela para cá, deve ser saudades.

A condessa assente e sinaliza para a Lady Paston, que faz uma mesura e deixa os aposentos da marquesa. Logo Juliane será trazida, mas enquanto isso... Cathrine deixa a escrivaninha e adentra no dormitório, onde as três damas restantes começam a despi-la.

Nenhuma palavra é trocada entre elas, cada uma parece em seu próprio mundo, mas principalmente Cathrine. Há uma parte dela, muito grande, por sinal, cada vez mais ressentida pelas próprias ações no jantar... ou até antes...

— A senhora não vai acabar a carta? — Cathrine é trazida de volta por Lady Chartents.

— Não sei o que falar... na verdade, não sei como falar. — Há tantos pensamentos, tantas preocupações, até mesmo em relação à Dinamarca. Cathrine suspira. — Tenho uma sensação ruim, como se algo não estivesse certo.

— Deve ser ansiedade — Lady Cavenbush responde num tom calmo e paciente. — Muitas notícias estão chegando, e notícias ruins, em sua maioria; é normal ficar ansioso.

— Talvez seja isso — sussurra Cathrine, mas longe de confiante e calma.

As damas percebem isso, mas, recebendo uma negativa de Lady Newport, continuam o trabalho em silêncio. Logo Cathrine veste a camisola da noite e, sentando no recamier, espera por Juliane... Mas quem entra no quarto é Richard, com uma expressão tão perturbada que...

— A carta do chanceler era tão ruim assim? — Cathrine pergunta ao levantar e se aproximar do marido, embora logo franzindo o cenho. — Ou você veio me repreender? Aviso logo que não estou com...

Surpreendendo-a, porém, Richard a abraça fortemente, tanto que Cathrine fica perplexa. Mas ela retribui o abraço, fechando os olhos e aproveitando todo esse carinho. Até que Richard se afasta e, acariciando o rosto dela, fala:

— Eu... queria ter forças para falar, para consolá-la com todo o carinho, mas não consigo. — Como assim consolá-la? Cathrine começa a ficar com medo; Richard estende uma carta. — Saiba que estou do seu lado, sempre.

Cathrine pega a carta e, vendo que é da Dinamarca, começa a lê-la com urgência. As palavras quase não fazem sentido, a leitura é frenética, até que... O horror apodera-se de Cathrine, fazendo-a leva uma mão a boca e abafar um grito, mas é impossível impedir as lágrimas.

Incapaz de acreditar, Cathrine nega veemente e, apoiando-se em Richard, começa a chorar. A única ação de Richard é abraçá-la novamente. No começo do mês, em sete de dezembro, o príncipe Frederik morreu...

*****

28|12|1805 Palais Schaumßen, Niedersieg

Mesmo ainda inebriados pelo Natal e exultantes com o Ano-novo se aproximando, toda a alta sociedade niedersieger reúne-se no Schaumßen. A rica mansão, recentemente reformada em estilo neoclássico, foi escolhida para sediar o recém-criado museu de Niedersieg.

— "... celebrar a arte e natureza não apenas de Niedersieg, mas também de toda a Terra..." — A voz do barão von Frieden ecoa pelo salão nobre, porém a atenção não está nele ou no discurso do príncipe. — "... visando também impulsionar os estudos científicos e artísticos..."

É a coleção de mineralogia no salão que monopoliza a atenção, embora alguns até mesmo já passeiam pelos outros salões, mesmo não oficialmente inaugurados. A alta sociedade olha tudo encantada; desde os diamantes e esmeraldas, passando por Rubens na galeria, até os pássaros empalhados das Américas.

Um escapismo dos problemas de Niedersieg, pode-se dizer. Não totalmente ruim, de fato... se ninguém fosse ler os jornais pela manhã.

— É o desastre do qual prevíamos, mas que, infelizmente, nunca estivemos preparados — lamenta o chanceler Neipperhard, entrando na Flämisch-Galerie com o coronel e a Sra. Karinberg. — Confesso que ainda confiava na diplomacia austríaca.

— Mas, tal como a força militar, ela mostrou-se falha! — exclama Karinberg, chamando alguma atenção, mas Cossiers é mais interessante. — E agora seremos nós quem colheremos os resultados.

— Rodeados pelo inimigo de uma forma da qual não há saída visível — acrescenta Neipperhard num suspiro, parando numa obra de van Dyck.

Uma pintura equestre de Charles I... certamente que veio da Inglaterra, a única obra de van Dyck na Coleção Principesca é religiosa. O chanceler volta a andar, com os Karinberg logo atrás. E, entre uma imperatriz Anna de Luycx e outra de van den Hoecke, a conversa reinicia.

Eles cruzam toda a galeria falando do assunto, embora ocasionalmente parando numa alegoria de Jordaens ou paisagem montanhosa de Momper. Até que adentram no Halle der Arten, cheio de animais empalhados. O barão Leopold von Eden encontra-se lá... junto da nobre Elise Röckel von Droßdik.

— É impressionante toda essa variedade nas Américas! Deve ser um verdadeiro paraíso! — Os dois observam uma coleção de beija-flores, que encanta Elise. — Todas essas coleções foram doadas?

— Nem todas, algumas retornarão à Inglaterra. — Incluindo os beija-flores. A dama assente tristemente, fazendo von Eden sorrir docemente e explicar: — A família do príncipe tem um grande amor pela coleção de botânica e mineralogia.

— Mas se não tomarem cuidado eles logo a perderão — retruca Karinberg, trazendo a atenção dos jovens, bem como de outros na sala. — Imagino que já saiba da notícia, Eden.

— Infelizmente — o barão suspira e, negando, volta-se ao chanceler. — O que faremos agora, Neipperhard?

— Mas de que notícia os senhores falam? — Os homens, e a Sra. Karinberg também, franzem o cenho para Elise, cuja expressão é curiosa.

A jovem deseja saber, mas eles falarão? Von Eden e Karinberg viram-se para Neipperhard, que pensa um momento e...

— As negociações em Pressburg chegaram ao fim.

Dito isso, o chanceler do tesouro afasta-se, deixando para trás uma assustada Elise nos braços de von Eden. Novamente no salão nobre, Neipperhard reencontra a esposa, bem como von Frieden concluindo o discurso:

— "... dispondo permanentemente do inteiro Naturalienkabinett, bem como parte do Kunstkabinette." — Os presentes começam a dar atenção ao barão. — Crio assim o Museum für Kunst und Naturgeschichte! Do seu príncipe, com o apoio do sempre leal Karl Leopold Neipperhard!"

Concluindo, von Frieden volta-se ao chanceler e começa a aplaudir, com os presentes logo fazendo o mesmo. Neipperhard sorri e assente em agradecimento, até que os Karinberg aproximam-se.

— Ludovika, querida, você já desejou conhecer o príncipe e a princesa? — A esposa do coronel fica perplexa com as palavras do chanceler, que volta-se a Karinberg. — Você levará a Paz de Pressburg ao príncipe.

Os aplausos continuam e Karinberg assente. O perigo está cada vez mais perto de Niedersieg, tanto que agora o cerca... literalmente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

* O príncipe Frederik, mais conhecido como príncipe hereditário Frederik, morreu; muito emocionante, não? Mas tem uma coisa que eu nunca quis falar muito, mas agora deu vontade. Existem alguns rumores de que os filhos do príncipe Frederik na verdade não eram legítimos, mas sim filhos do chefe da corte dele. Isso inclui Christian, que tornou-se rei no final da década de 1830, e Charlotte, cujos descendentes hoje são reis da Dinamarca. Eu acredito nisso? Não. Vocês realmente acreditam que o rei Frederik VI, que odiava o tio ( o príncipe Frederik) e a avó adotiva (a rainha Juliane Marie), iria deixar essas crianças herdarem o trono da Dinamarca se soubesse que eram bastardos? Não faz sentido para mim! 1⁰, algumas pessoas dizem que Christian e as outras crianças não pareciam com o príncipe Frederik, um homem franzino e não muito bonito, mas será que eles não pareciam com a família da duquesa Sophie Friederike? O irmão e os sobrinhos dela também era morenos, bonitos e fortes. 2⁰, o rei Frederik VI escreveu uma carta ao cunhado falando do "criador dos príncipes", mas isso parece ambíguo para mim, sem contar que Frederik VI odiava o tio — que ajudou a derrubar e exilar a mãe dele, Caroline Matilda; qualquer afirmação de Frederik VI contra o príncipe Frederik é de veracidade questionável para mim. E 3⁰, nossas mentes modernas podem achar impressionante um bastardo ter superado esse estigma e ascendido a posição de rei e ainda ter criado raízes na família real... Mas vocês realmente acham que isso seria possível? Ninguém na corte dinamarquesa teria levantado essa questão? Os Oldenburg estavam em crise, de fato, mas um bastardo jamais seria aceito. Se fosse verdade essa bastardagem, muito provavelmente Frederik VI teria revelado oficialmente isso e — como não haviam mais homens descendentes legítimos de Frederik III — sua filha mais velha ascendido como rainha; em linhas simples, porque era algo mais complexo. Em resumo: eu não acredito que Christian VIII e seus irmãos eram bastardos. Mas e se eles fossem mesmo? Nesse caso, eles não serão AQUI.

* As vezes eu posso dar a sensação de que fico soltando e criando algumas histórias sem qualquer finalidade, mas eu aviso que tem sim um motivo. Eu já planejei inúmeras histórias, todas passando no mesmo "universo" que os Tudor-Habsburg, então fiquem tranquilos, porque essas linhas soltas são, justamente, linhas soltas que um dia se tornarão lindas tapeçarias.

* Os fãs de Beethoven — há algum aqui? — devem ter notado algo bastante interessante com o nome de Elise, e confesso que quaisquer teorias estão certas. Uma das composições mais famosas de Beethoven é "Für Elise", ou Bagatelle nº 25, com certeza você já escutou essa música... é melancolicamente linda. Mas a pergunta é: quem é a Elise para quem Beethoven escreveu essa composição? Há três possibilidades: Therese Malfatti, Elisabeth Röckel e Elise Barensfeld. Eu pesquisei um pouco e vi que Beethoven se apaixonou por Therese e Elisabeth, mas esse amor nunca foi concretizado. Eu gostei da história, então criei Elise Röckel von Droßdik; Droßdik é o sobrenome que Therese assumiu depois de casar.

* E quanto ao museu? Pode parecer surpreendente, mas o primeiro museu público foi criado apenas na década de 1750 — o Museu Britânico. Ainda era algo novo no início do século XIX, mas ao longo do século foi tornando-se cada vez mais comum, a medida que os príncipes doavam seus gabinetes das maravilhas e da natureza. Então eu decidi criar um museu para Niedersieg. Os príncipes alemães, principalmente entre os séculos XVII e XVIII, davam muito valor a cultura e arte, tanto que gastavam bastante com isso. Então faz sentido Niedersieg ter uma coleção grande o suficiente para um museu e ainda sobrar nos palácios.

* É muito curioso que ainda no século XIX as Américas eram vistas como um lugar remoto e paradisíaco. A nossa imperatriz Leopoldina, por exemplo, tinha uma imagem complemente idealizada do Brasil, pensando que era um local onde as pessoas eram inocentes e a natureza dominava. Pode parecer preconceituoso, mas a maioria das pessoas na Europa nunca pisou nas Américas, então os europeus tinham na cabeça a imagem do que os aventureiros, viajantes e cientistas diziam. Claro que naquele momento a natureza realmente tinha mais domínio, a Mata Atlântica era maior, mas não era um verdadeiro paraíso. E um fato curioso: só existem beija-flores nas Américas, então esse seria um animal inédito e surpreendente para a maioria dos europeus, principalmente num pequeno principado alemão.

* Popularmente o príncipe Albert, marido da rainha Victoria, é creditado por trazer a Inglaterra o costume alemão da árvore de Natal, mas esse crédito pertence, na verdade, a rainha Charlotte. Quando veio da Alemanha para a Inglaterra ela trouxe o costume de decorar um galho de teixo — não carvalho — na sala. A rainha Charlotte fez disso uma grande festa na corte, chamando os amigos e nobres. Porém foi apenas em 1800, ao preparar uma festa para os filhos das mais ilustres famílias de Windsor, que ela decorou uma sala na Queen's Lodge com um teixo inteiro. Essa é a primeira árvore de Natal registrada na Inglaterra. Um costume que a família real continuou a praticar, tanto que a própria rainha Victoria menciona árvores de Natal nos seus diários da infância.

* "Era Uma Vez... Uma Ilusão" também está no Pinterest: https://pin.it/2mRPt0IrQ



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Era Uma Vez... Uma Ilusão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.