Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 31
30. Alguém deve sofrer para sobrevivermos e, infelizmente, esse alguém é a Áustria.




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22|07|1805 Cabo Finisterra, Espanha

O nevoeiro no Atlântico é denso e irregular, tornando a visibilidade muito difícil, ainda mais com a pouca luz da lua. Porém nada acontece, o que deixa a frota britânica profundamente confusa. O único som audível é o do mar revolto, junto das velas se movendo e os gemidos dos marinheiros feridos.

Como se a batalha tivesse chegado ao fim... Não, a frota de Villeneuve não poderia chegar a Brest, os oficiais britânicos sabem que a segurança da Grã-Bretanha depende disso. Mas não há sinais do inimigo; nenhuma bandeira é vista, nenhum canhão é ouvido. De fato...

San Rafael a estibordo!

A bandeira espanhola do grande San Rafael, com seus 80 canhões, volta a ser vista e começa a atacar o Malta. A batalha reinicia com toda a fúria, embora a visão de ambas as frotas seja obscurecida pela névoa e fumaça. Os navios atiram para todas as direções.

Uma profunda confusão, sequer é visível saber quem está ganhando. Os franco-espanhóis? Os britânicos? Apesar do caos e falta de visibilidade, logo tornam-se visíveis o Firme e San Rafael rendendo-se ao Malta do capitão Edward Buller. Apesar da batalha continuar; já aproxima-se das 20h25...

— Sinalize para interromperem a ação — o vice-almirante Sir Robert Calder, observando a batalha do Prince of Wales, ordena ao capitão William Cuming —, continuaremos pela manhã.

— Mas, Sir Robert...!

— Obedeça, não há condição alguma de vencermos nesse nevoeiro. — A única opção do capitão é assentir ao superior, que volta a olhar pela luneta. — Além do mais, já temos nossos dois prêmios.

Os sinais são feitos, porém a confusão e escuridão fazem a batalha durar mais uma hora. No final, ambas as frotas recuam e, passando dois dias, desistem da vitória.

*****

25|07|1805 Palácio de St. James, Londres

Richard não consegue parar quieto na sala de visitas, a ansiedade é grande demais para permitir alguma calma. Os gritos de Cathrine voltam a ecoar pelo apartamento; gritos dolorosos, cansados e chorosos... É demais para ele! Cathrine já estava nessa luta para dar à luz desde o meio-dia; já passava das 19h!

— Não recordo de um parto da marquesa, natural ou prematuro, desacompanhado de dores e tribulações. — A atenção de Richard volta-se instantaneamente ao recém-nomeado visconde Sidmouth, que ainda acrescenta negando. — Deve ser uma característica dos Oldenburg.

O ex-primeiro-ministro Addington sequer olha para o marquês, mas... Isso é uma reclamação!? A ofensa toma conta de Richard, mas a única ação dele é engoli-la e ir para a adega. A paciência o estava deixando, e os gritos de Cathrine aumentando.

Como manda o protocolo, a sala de visitas está cheia de "testemunhas" para o parto de Cathrine. Normalmente apenas membros da família real faziam-se presentes, mas o primeiro-ministro William Pitt havia mandado, com a aprovação do rei, alguns membros do governo. Embora o desejo de Richard fosse...!

O sofrimento de Cathrine traz Richard de volta ao agora. A tensão dele aumenta a cada grito da marquesa que ecoa pelos corredores do apartamento. Richard sente o desespero cada vez mais próximo... Se ao menos Robert estivesse em Londres...

— Espero por notícias de Calder e aviso logo que não aceitarei nada além da vitória. — Porém, em meio a essa ansiedade toda, a atenção dele volta-se ao barão Barham com Lord Castlereagh. — Villeneuve não pode alcançar a Bolonha.

— Ou estaremos perdidos — Castlereagh concluí, fazendo Richard franzir o cenho. Eles estão... discutindo guerra? — Mas confiemos em nossos aliados; a guerra no continente certamente tomará bastante da atenção do usurpador.

— O que não necessariamente nos coloca numa posição agradável — Lord Barham rebate. Sim, estão discutindo guerra! — Nápoles depende da nossa marinha no Mediterrâneo; Rússia e Suécia agem apenas no Báltico e no Mar do Norte; enquanto a Áustria sequer tem marinha.

Como eles ousam!? As derrotas sofridas pela Marinha Real no Canal e Caribe foram tão desastrosas assim!? Nenhuma invasão aconteceu ainda! A raiva, de fato, domina Richard, e de tal forma que torna-se impossível para ele não perder a calma...

— Não é o momento para discutir tais assuntos, cavalheiros — Lady Castlereagh fala, apontando com os olhos para o marquês —, e Lord Nelson certamente destruirá a ameaça francesa.

É o bastante para Barham e Castlereagh deixarem esse assunto, com esse último retornando para junto da esposa. Cobrindo o rosto, Richard respira fundo e bebe num só gole o copo de whisky.

Toda a tensão retorna. Os gritos não tem mais fim e o desespero dele também não. Se estava havendo algum problema, por que Markson não avisava logo!? Talvez o fórceps... Richard já estava quase mandando chamar uma das damas de companhia quando os gritos subitamente pararam... por muito tempo.

O silêncio instala-se na sala de visitas. Os membros do gabinete e suas esposas de entreolham, bem como o duque de Sussex e a princesa Mary. Será que...? Richard imediatamente deixa a sala e corre para os aposentos da marquesa. Ele não quer esperar para saber, tanto que a entrada dele na antecâmara surpreende a todos.

— Meu marquês, não é próprio que... — Lady Spencer até tenta impedi-lo, mas Richard entra no dormitório.

As parteiras, bem como o Dr. Markson, imediatamente fazem uma mesura ao marquês, embora muito surpresos com essa repentina chegada. O quarto está escuro, quente e cheirando a sangue e suor. Os olhos de Richard focam inicialmente na cama de Cathrine, até que...

— Por que dessa demora toda? Esse mistério todo!? — questiona Richard, já sem paciência alguma com o plácido Dr. Markson. — Minha esposa está bem? E onde está a criança?

— Foi um parto surpreendentemente difícil, meu príncipe, quase tivemos que usar fórceps, mas... — Markson hesita um momento, fazendo Richard encará-lo mais questionador ainda. O doutor, porém, sorri levemente. — A marquesa está bem, e a criança também.

Oh Deus! Richard fecha os olhos e suspira fundo, sentindo um grande alívio com essas palavras. Ambas estão bem, ambas vivem. Porém... Uma parteira aproxima-se dele com a criança, já limpa e "arrumada", e anuncia:

— É uma bela princesa, meu príncipe.

A respiração dele quase para, Richard apenas sorri e pega a criança... a filha dele. Está acordada, mal consegue abrir os olhos e ver o terrível mundo que a espera. Rindo alegremente, Richard aproxima-se da cama.

Cathrine está cansada e com dor, ela mal consegue manter-se acordado. Mas assim que percebe a presença dela, e da filha também, ela tenta sentar na cama.

— Veja, Cathrine, essa é a nossa mais nova filhinha — Richard fala ao sentar e mostrar o bebê para Cathrine, a única ação dela é sorrir fracamente. — Não é linda?

— Um anjinho... só que vivo. — Cathrine ri consigo mesma, completamente emocionada. — Vivo... Meu bebê nasceu vivo!... Obrigada, Senhor!

Tomada pela emoção, Cathrine não aguenta e começa a chorar. Filha... Eles agora têm uma filha, linda e saudável! Richard tenta até dar a menina para Cathrine, mas o choro dela não permite isso. A emoção da marquesa é imensa, uma profunda alegria, uma que é compartilhada amplamente por Richard.

*****

Início de outubro|1805 Amelian House, Cheshire

A alegria de Cathrine é imensa, extasiante... profundamente grande! Só faz dois meses, de fato, mas Sophie Juliane já é a grande favorita no coração de Cathrine. O cuidado com Adam continua firme e duro... Mas nada é tão forte quanto uma vitória após inúmeras derrotas.

Em seus aposentos privados, Cathrine sorri largamente ao amamentar a filha. Tão pequena, frágil e inocente, ela ri consigo mesma, como não amar com uma criaturinha dessas? Cathrine sente-se muito mais feliz, até romances ela voltou a ler com mais ânimo. Mas agora a atenção dela está na filha e unicamente nela.

— A marquesa está bem, Lady Newport? —O foco dela na filha é tamanho que Cathrine sequer escuta Richard falando na antecâmara. — Senti falta dela no café da manhã.

— A marquesa? Ela... bem, ela está...

— Destruindo o próprio corpo — Lady Carlisle responde mal-humorada, quase irônica —, em outras palavras, amamentando.

Isso Cathrine escuta, tanto que volta-se a porta bem no momento que Richard entra com Lady Pembroke e as damas de companhia. Um leve sorriso instantaneamente surge nos lábios do marquês, fazendo o próprio sorriso dela permanecer... Mesmo com os olhares das damas.

— Dói tanto vê-la destruir os seios dessa forma, minha marquesa! — Lady Pembroke exclama num tom choroso, embora Cathrine apenas revire os olhos. — Já dissemos inúmeras vezes que eles ficarão em carne viva!

— E inúmeras vezes eu já ignorei esses avisos. — Cathrine realmente anseia sentir-se mãe, coisa que as outras princesas e damas da sociedade desprezaram. Ela sorri para a filha. — Fará bem para Juliane.

— Diga alguma coisa, meu marquês, por favor! — suplica Lady Pembroke, negando veemente e virando-se a Richard.

Isso, porém, é o suficiente para que todas as damas voltem-se para Richard, desejando que ele intervenha de alguma forma. Mas Cathrine não se preocupa com isso, tanto que não tira os olhos de Juliane e nem deixa de sorrir.

— Se esse é o desejo de Cathrine e ela está feliz, não há motivos para oposição. — Com um calmo sorriso, Richard senta ao lado dela e sussurra: — Lembre apenas de guardar um pouquinho para o meu uso pessoal.

Do que ele fala exatamente, hein? Cathrine, corando violentamente, ri negando para Richard; as damas estão observando, mesmo que absortas demais no assunto da amamentação. Porém não tarda muito e Juliane adormece, dando às damas a chance de analisar o "estrago" na marquesa.

— Sua teimosia deixará marcas impossíveis de apagar no futuro — censura duramente Lady Carlisle, recebendo afirmativas das outras. Porém a afirmação seguinte... torna-se perigosa: — A princesa Sophia, por exemplo, não tem imperfeição alguma, isso porque nunca amamentou o príncipe...

— E nem vai amamentar mais. — As damas, bem como Richard, voltam-se horrorizados para Cathrine, que instantaneamente percebe o que disse. — Perdão, eu... É por isso que odeio falar muito, sempre sai algo errado!

Ou até questionável, mesmo que ninguém ousasse repreendê-la. Nada mais é dito, o silêncio instaura-se no quarto e Juliane definitivamente dorme. As damas de companhia acabam voltando para a antecâmara e as distrações, enquanto o marquês e a marquesa focam apenas na filha.

Um ser tão pequeno, mas que gera sentimentos tão grandiosos. O assunto anterior é praticamente esquecido, graças a Deus, e os pais orgulhosos se derretem na filha.

— Nossa Juliane parece tão feliz — comenta Richard, acariciando o ralo cabelo loiro da filha e sorrindo para Cathrine —, mas quem não estaria feliz dormindo nos seus braços?

O sorriso de Cathrine apenas aumenta, principalmente com o rápido beijo de Richard logo em seguida. Ela cora, mas também encara encantada a pequena Juliane.

— É o presente do qual eu tanto necessitava. — A voz dela sai igualmente feliz e depressiva, mas como não seria assim? — Depois de abortos, natimortos e inúmeros alarmes falsos eu finalmente tive um segundo filho.

— Uma menina bela e saudável. — Saudável... O sorriso dela treme com essa palavra e Richard percebe isso, tanto que franze o cenho. Adam... — Não gosto quando você fica triste; Adam crescerá e se tornará um homem forte e vigoroso.

— Também tenho fé nisso, Richard, mas... Você tem razão — concorda Cathrine, fechando os olhos e respirando fundo. Há um motivo para esperança agora. Richard, porém, não parece acreditar, até que ela pergunta: — E nosso favo, já estudando?

— Lady Hastings o levou aos jardins para estudar sobre as flores e folhas da estação — responde Lady Pembroke, observando tudo ao fundo.

Logo Juliane é dada para Lady Pembroke, que a leva novamente para o berçário. Agora Adam tem uma companhia, para o imenso prazer dele. Felizmente não há ciúmes ou inveja, Adam sempre desejou um irmão mais novo. Com isso o casal fica sozinho.

— Adam crescerá e será grande, muito grande — Cathrine afirma, virando-se para Richard e sorrindo confiante. — Todas as futuras gerações lembrarão dele.

Para o melhor, ou pior... Richard assente para a esposa e os dois continuam se encarando. Até que ele encara os seios quase desnudos dela e a beija. Richard e Cathrine ficam juntos num beijo por um longo momento, até que se afastam e ele acaba suspirando.

— Chegou uma carta de Sophia — comenta Richard com seriedade, fazendo Cathrine franzir o cenho —, o retorno deles para Windsor com Amélia ocorreu pacificamente.

— E Robert, como está? — Afinal ele havia sido o mais afetado, tanto que partiu dele a ideia de passar um tempo da Ilha de Wright.

— Continua desolado; não é fácil suportar um natimorto e a morte de um filho, principalmente quando tão pertos. — Sem contar que George morreu exatamente dez dias antes de Juliane nascer. Richard suspira e tenta sorrir. — Falemos de coisas mais agradáveis, por favor.

Será melhor assim, o sofrimento de Robert e Sophia era apenas deles dois e mais ninguém... Ou talvez Cathrine apenas não desejasse falar disso... De qualquer forma, o marquês e a marquesa voltam a se beijar, determinados a aproveitar essa alegria.

*****

Início de outubro|1805 Palácio de Ludwigsburg, Ludwigsburg

— Sua Alteza Sereníssima, a princesa eleitoral! — o arauto anuncia, bem no momento que as portas do Marmorsaal são abertas.

Todo o salão volta-se imediatamente na direção de Anne, que placidamente faz uma mesura a distante eleitora. É uma surpresa a presença dela, afinal o inimigo está presente em massa. Mas Anne não dará a ninguém o prazer de considerá-la covarde. Logo a música e as conversas reiniciam.

Normalmente apenas nobres e oficiais do governo faziam-se presentes nas recepções da eleitora, mas hoje... um número absurdamente grande de generais franceses ocupava o salão. Mas há um motivo, Charlotte jamais aceitaria isso de bom grado. Anne se aproxima de Anton Belgärd.

— O eleitor ainda está em conferência com o... o imperador? — Essa palavra, referindo-se a essa pessoa, parece até veneno para Anne, mas é necessário. — Sinto-me até em Versailles com tantos franceses me rodeando.

E vigiando também, o próprio general Savary olha constantemente na direção dela. Mas Anne apenas sorri para o general e, pegando o braço de Anton, começa a andar pelo Marmorsaal. É o sinal para ele começar a falar.

— Boatos dizem que o imperador deseja causar uma debandada no Santo Império. — Anne franze o cenho para Anton, que sussurra no ouvido dela: — Dizem até que ele propôs elevar Württemberg a reino.

— Mesmo?... Bem, eu sempre quis ser rainha! — ela responde, forçando um largo sorriso. Não é em tudo mentira. Anne e Anton param, sempre observados por Savary. — E quando nossos amigos planejam partir?

— O imperador e seus marechais deixarão Ludwigsburg pela manhã. — E quanto ao resto?Anne assente para Anton, que se afasta e beija a mão dela. — Os austríacos, seguindo o curso do Danúbio, já cruzaram metade da Baviera.

— Que tudo aconteça então como deve acontecer.

E a França e seus aliados sejam aniquilados. Belgärd então se afasta. Parece até uma conspiração, o que é, de fato... uma conspiração contra a França. Pode parecer extremista, mas as ambições do usurpador não devem ser concluídas. Além do mais, é para a proteção dela.

Mas os olhares franceses continuam; Savary até mesmo aproxima-se do marechal Ney e lhe sussurra algo, agora ambos a encaram. Esses homens olham para ela com desconfiança demais. Anne começa então a conversar com as damas da corte, esperando que tais olhares parem logo.

— Sua Alteza Sereníssima, — uma das damas de companhia da eleitora se aproxima com uma mesura. — a eleitora deseja lhe apresentar as irmãs do imperador.

— Mas que honra. — Voltando-se na direção de Charlotte com as "princesas imperiais", Anne sorri com desdém. — Parecem tão agradáveis.

Tanto que Charlotte sequer esconde o desconforto. Mas Anne segue para junto delas, mesmo que, no caminho, passando pelo marechal Bernadotte, franzindo o cenho na direção dela; bem como Eugène de Beauharnais e, a julgar pelo brinco, Joachim Murat.

Três homens influentes entre o imperador e que causam uma sensação ruim em Anne. Murat é mais pelo olhar lascivo, enquanto Bernadotte e Beauharnais... É difícil saber. Mas a princesa logo chega na eleitora e faz uma respeitosa mesura.

— Creio que você ainda não foi apresentada às princesas Pauline e Caroline da França, Anne — a eleitora fala, apontando para as duas jovens. Mas... França? — Não são lindas? E sabia que vocês têm praticamente a mesma idade?

Mas que glorioso! Anne sorri e, rindo levemente, estendeu a mão para as duas arrivistas. Pauline e Caroline instantaneamente franzem o cenho, ofendidas com essa ação. Mas Anne permanece sorrindo.

— É um prazer conhecê-las. — O que dificilmente é recíproco... e também verdade. As duas, porém, ignoram a mão de Anne, que volta-se à Charlotte. — Quando o imperador chegará? Estou tão curiosa em relação a ele.

— Aviso logo que Napoleão não é tão pequeno quanto seus jornais afirmam — retruca Pauline, chamando a atenção da princesa. Não? Anne sorri, ela logo descobrirá. Porém, encarando o colar dela, Pauline sorri. — Lindas rosas... brancas e vermelhas.

— E douradas; são os símbolos da minha família — Uma família anglo-austríaca. Pauline lentamente assente; Anne retorna a Charlotte. — Estou preocupada com o avanço austríaco na Baviera, sei que meu primo nunca me faria mal, mas...

Pauline e Caroline naturalmente não gostam desse desdém, e nem de serem ignoradas pela princesa eleitoral. Então, se entreolhando, elas sorriem maldosamente para Anne e...

— Seu marido deixou Paris, sabia? — Caroline fala, fazendo Anne encará-la com o cenho franzido e Charlotte arregalar os olhos. — Não? Mas que estranho, deve ser uma surpresa!

— Como assim "deixou Paris"? — questiona Anne, virando-se para Charlotte, que nega veemente. — Isso significa que..?

— Que o príncipe eleitoral está voltando — Pauline responde e ainda, escondendo uma risadinha, zomba: — Ele deve ter se cansado de mademoiselle von Abel.

Fritz está... retornando? O horror apodera-se de Anne, aumentando a diversão das princesas Bonaparte. Mas quando ele chegará?... O que fará em relação a ela!? Anne sente que vai cair, literalmente cair! Porém isso não acontece... O arauto volta à entrada, sinalizando que havia chegado o momento.

— Sua Alteza Sereníssima, o príncipe eleitor! — Com isso, entra no salão o gigantesco eleitor de Württemberg, mas o arauto continua: — Sua Majestade Imperial, o imperador da França!

E o usurpador também entra... Os olhos de Anne arregalam, para logo em seguida serem tomados pela decepção. A diferença entre os dois homens é gritante... E até Cathrine é mais alta que o imperador francês.

*****

06|11|1805 Amelian House, Cheshire

Uma campanha pelo controle da cidade bávara de Ulm foi iniciada logo após Bonaparte deixar Ludwigsburg. O marechal Bernadotte já havia tomado Munique da ocupação austríaca, então ficou claro que o plano do imperador era empurrar humilhantemente os austríacos para o Danúbio... E foi exatamente isso que aconteceu.

Os austríacos foram humilhados durante a Campanha de Ulm, houveram vitórias, claro, mas a campanha foi perdida e a própria Áustria corre perigo agora. Richard, caminhando no jardim com o barão Linzmain, apenas nega. Mas há uma "consolação" nesta derrota:

— Seriam esses os soldados que estariam invadindo a Inglaterra agora. — Mas todo o Armée d'Angleterre foi enviado para a Alemanha após Finisterra. Suspirando, Richard vira-se ao barão. — Alguém deve sofrer para sobrevivermos e, infelizmente, esse alguém é a Áustria.

— O maior aliado de Niedersieg na Alemanha — comenta Linzmain num tom irônico. Mas Richard não dá atenção, apenas finge apreciar o jardim inglês. — Bonaparte está marchando rumo a Viena, meu senhor, a "entrada do Ocidente" será ocupada.

— Viena está longe demais para representar algum perigo.

— Mas não Innsbruck. — Innsbruck? Richard, franzindo o cenho, volta-se ao barão, que explica: — Os marechais Ney e Augereau estão adentrando cada vez mais no Tirol; logo estaremos cercados, meu príncipe.

São apenas 70 quilômetros que separam Niedersieg de Innsbruck, uma distância que torna-se ainda menor de Smaragdberg... que tem os Alpes como barreira natural. Mas, de fato, os franceses estão próximos demais do principado, mais até do que em 1796. Porém nenhuma ameaça foi feita ainda... não é?

O silêncio instaura-se, principalmente quando os dois param em frente ao lago artificial do jardim. Richard lembra de 1796, dos planos franceses de explodir o Fürstlich Palais, e... ele não deseja assinar outra execução. Respirando fundo, Richard volta a encarar o barão.

— Exércitos e ações militares não salvarão Niedersieg dos franceses; seremos um bebê lutando contra um gigante. — O barão não responde, apenas o encara em silêncio; Richard volta-se ao lago. — Continuaremos com a nossa política de neutralidade, é o mais seguro.

— Como foi para Ansbach? — Linzmain comenta, novamente irônico.

Richard, porém, mantém o silêncio, não há nada que ele possa dizer. Mas se Liechtenstein, cujo príncipe é um general austríaco, manter a autonomia, certamente que Niedersieg também manterá. Os niedersiegers estão exagerando com esse medo todo.

Logo o príncipe e o barão deixam o lago, mas agora caminhando em direção a casa. Essa conversa já se entendeu demais, apesar de ser algo bastante próprio e natural; as notícias demoram para chegar em Amelian.

— Tenho fé que a guerra na Espanha nos ajudará de alguma forma. — Apesar das notícias estarem demorando bastante para chegar. O barão assente para o príncipe, que continua: — Não sei como e nem quando, mas tenho fé.

— Se essa é a confiança do meu príncipe, nada posso dizer contra — o barão responde num assentimento. — Talvez uma derrota no mar seja o primeiro passo para a definitiva aniquilação do usurpador.

E o restabelecimento da duradoura paz, coisa que ninguém na Europa tem desde a Revolução Francesa. Mas o barão Linzmain logo avisa o príncipe que irá voltar para casa — ele passou a noite inteira viajando — e, numa mesura, começa a se afastar. Porém...

— Linzmain — Richard volta a chamá-lo; o barão para —, diga a Neipperhard que desejo relatórios sobre todos os quatro arsenais de Niedersieg.

Seria prudente avaliar como Niedersieg irá se proteger caso tudo dê errado. O barão assente e deixa o príncipe sozinho no jardim. Ainda há muito o que pensar... Richard suspira cansado, por que ele não nasceu num período mais pacífico da história!? Seria tão melhor.

Mas não tarda muito para o visconde Irvington aparecer no jardim uma aviso a Richard:

— O duque e a duquesa de Kendal estão aqui.

Robert e Sophia? É o bastante para fazê-lo franzir o cenho, mas Richard assente e volta para dentro com o visconde. Cathrine também deve ser avisada dessa chegada... Mas o que eles vieram fazer em Amelian?

*****

O silêncio na sala azul é tamanho que sequer parece haver almas no lugar, embora haja. Mas Robert e Sophia preferem o silêncio, cada um em seu lugar e com seus próprios pensamentos. O luto é compartilhado, a luta também, mas o impacto e a forma de lidar não.

— Você não poderia ao menos sorrir, Robert? — Mas Sophia, sentada confortavelmente num sofá, decide acabar com esse silêncio. — É o que todos esperam de você... de nós.

Não um sorriso de completa alegria, claro, afinal seria muito invencível, mas sim um sorriso de satisfação. De qualquer forma, Robert não mostra nem um e muito menos o outro, a única ação dele é encará-la friamente e...

— Nosso filho morreu, Sophia! O primeiro fruto do nosso amor não existe mais! — ele exclama ofendido, como se ela tivesse até cometido um pecado. — Entende o quão...!

— Claro que entendo, já vai fazer quatro meses! — Tempo o suficiente para entender, sendo justamente esse o ponto. Sophia encara fixamente o marido. — Entenda você uma coisa, Robert: não podemos fazer nada em relação ao nosso George... nada!

— Você... Parece até que não está sofrendo pela morte do nosso filho! — acusa Robert, fazendo Sophia arregalar os olhos e levantar furiosa.

Como ele ousa!? Chamá-la de insensível, indiferente ao sofrimento deles e do filho! Sophia tem todos os motivos para ficar furiosa e gritar, principalmente levando em conta o quão egoísta Robert está sendo. Mas... A princesa volta a sentar; um deles precisa ser maduro.

— Apenas aceite que nosso filho morreu; aceite para assim continuarmos nossas vidas em paz — Sophia fala visivelmente contendo a ofensa que sente. Fechando dolorosamente os olhos, ela então acrescenta: — Sorria, por favor, ou pensarão que você não está satisfeito.

Pensamentos que deveriam ser ao máximo evitados. Inicialmente Robert não mostra reação alguma, até que volta a olhar pela janela. Sophia suspira tristemente e nega; a morte do filho primogênito é terrível para qualquer pai, mas principalmente quando o filho é realmente amado pelo pai.

O silêncio volta a instaurar-se na sala azul, mas agora um silêncio estranhamente diferente. Mas não dura muito, pois logo o marquês e a marquesa, junto das damas de companhia e cavalheiros, entram na sala. Robert faz uma mesura aos soberanos, enquanto Sophia apenas assente.

— Perdão pela demora, mas tivemos problemas internos — Cathrine começa a falar, sentando num sofá à frente de Sophia; porém ela sorri para o cunhado. — Sorria, Robert, a seriedade não combina com você.

— O ato de sorrir está condicionado à alegria, coisa que não sinto no momento. — Nos últimos quatro meses, na verdade. Robert deixando a janela e coloca-se atrás de Sophia. — Mas não se preocupe, Cathrine, um dia haverei de sorrir novamente.

Provando a verdade nisso, Robert até força um irônico sorrisinho; ainda há alguma esperança. O duque coloca as mãos no ombro de Sophia, que aperta uma delas.

— Está sendo particularmente difícil para Robert crescer. — É o bastante para fazê-lo franzir o cenho, irritado; Sophia percebe isso. — Eu suportei seu mal-humor por quase dois meses em Orange Hall, e apenas com Amélia como companhia.

— Imagino que essa visita tenha um motivo, não? — Richard, porém, intervém logo nessa conversa, chamando a atenção de Robert e Sophia. — Vocês não viriam de Windsor para Cheshire sem um motivo; qual é ele?

Oh, o motivo... Robert e Sophia se entreolharam e depois assentem um para o outro. Olhando para todos na sala, o duque respira fundo.

— Nessa madrugada chegaram notícias expressas da Espanha — começa Robert, chamando a atenção de todos —, notícias no mínimo... interessantes.

— Lord Nelson morreu? — o barão Maurs sugere num tom zombeteiro... Robert assente.

O silêncio instaura-se na sala azul e um terrível horror instaura-se junto. Lord Nelson, um dos maiores almirantes britânicos, morreu... Todos começam a cochichar e se questionar sobre o que ocorreu. Porém Richard sinaliza para todos se calarem e Robert falar.

— Houve uma batalha num lugar chamado Trafalgar, uma batalha muito difícil e... horrível. — A julgar pelo número de mortos em ambos os lados. Mas Robert continua: — Lord Nelson acabou morrendo durante a batalha, mas nós... nós vencemos Trafalgar.

— A frota franco-espanhola foi praticamente destruída e o próprio almirante Villeneuve feito prisioneiro — Sophia acrescenta, agora com um satisfeito sorriso. — Vencemos no mar... vencemos Trafalgar!

Novamente o silêncio instala-se, mas agora com um misto de alegria e admiração. O grande Nelson morreu, de fato, mas morreu ao cumprir seu princípio dever: proteger a soberania marítima da Grã-Bretanha. A Batalha de Trafalgar será eternamente lembrada.

*****

Novembro|1805 Palácio de Ludwigsburg, Ludwigsburg

— Estou apaixonada, Paul, definitivamente apaixonada! — Na rotunda do Friedrichsgarten de Ludwigsburg, Katharina pula alegremente na frente do desdenhoso irmão caçula. — Papai disse que vamos casar; seremos marido e mulher!

Embora, na verdade, tenha sido apenas um comentário sobre casamento que uma das damas de honra da eleitora escutou e disse à princesa. A veracidade desse noivado é questionável, mas Katharina não dá importância alguma a isso. Paul, porém, mostra-se bastante cético.

— Você realmente acha que papai vai casá-la com um ninguém? — Paul questiona e, ganhando um olhar irritado da irmã, ri zombeteiro. — Faça-me o favor, Katharina, nem papai gosta daqueles arrivistas.

— Não fale assim de Jérôme! — exclama Katharina, aproximando-se irritada de Paul. — Você mesmo disse que Fritz gostou dele.

— Mas não como cunhado, disso eu garanto! — Tomados pelo susto, Paul e Katharina imediatamente franzem o cenho e... arregalam os olhos. Mas essa voz... — Gosto apenas do bom-gosto de Jérôme ao escolher mulheres.

Não muito longe no jardim inglês, os dois irmãos avistam um sorridente Fritz caminhando na direção deles. A primeira reação é, de fato, a surpresa; ele não era esperado assim tão cedo e... aqui. Mas à medida que Fritz se aproxima, as sensações vão mudando e...

— Fritz! — Katharina corre na direção do irmão, que a abraça com carinho. Os dois riem e se beijam, antes dela se afastar e falar emocionada: — Você não deveria chegar apenas na próxima semana!?

— Surpresa! — brinca Fritz, abraçando novamente Katharina e sorrindo para Paul.

A recepção do irmão caçula é inicialmente fria, apesar deles constantemente se comunicarem por cartas. Até que Fritz deixa a irmã e Paul o abraça, mais contido, porém não menos feliz. A alegria dos irmãos é imensa; esses dois anos separados deram muita margem para a saudade.

Mas não tarda muito e, após mais abraços e risadas, Fritz é levado para o escritório do pai, que fica sem palavras assim que o vê. Mas, em total silêncio, o eleitor aproxima-se e o abraça, embora sem muita emoção ou calor.

— É uma alegria tê-lo de volta vivo e saudável — o eleitor fala ao se afastar de Fritz, que sorri educadamente. — Espero que esse tempo em Paris lhe tenha sido útil.

— Sinto-me um homem de verdade agora, senhor. — Fechando os olhos, Fritz respira fundo e acrescenta: — Descobri o quão terrível Bonaparte é, até mesmo com seus aliados.

E justamente por isso Fritz decidiu voltar; os franceses planejavam destituir o pai dele e colocá-lo no lugar. Mas os princípios de Fritz jamais o deixariam aceitar isso, só pode haver um soberano, qualquer número além desse é usurpação. O eleitor assente solenemente ao filho.

— Você fez o certo ao voltar, meu filho, e o fez antes do pior acontecer.

— Estou arrependido dos meus erros, senhor. — Novamente respirando fundo, Fritz ajoelha-se na frente do pai e abaixa a cabeça. — Peço perdão por tudo, não foi honroso deixar Württemberg.

— E nem sua esposa e filhos — o eleitor retruca, fazendo Fritz arregalar os olhos, embora ainda de cabeça baixa. — Nessa situação você me superou. Eu maltratei sua mãe, fui um verdadeiro monstro, mas nunca passou pela minha cabeça abandonar você e seus irmãos por... uma meretriz!

Mas, em contrapartida, nunca passou pela cabeça de Fritz dar um tapa ou... violentar Anne! Fechando os olhos, Fritz mantém a calma e volta a encarar o pai.

— Desejo consertar as coisas — ele sussurra, tentando não transparecer a raiva. — Onde posso encontrá-la?

Nos aposentos privados da eleitora, que senta confortavelmente numa poltrona, Anne lê para Charlotte de um recamier a última carta contrabandeada da Inglaterra. As notícias são as melhores, tanto que torna-se impossível para Anne não sorrir ao acordar.

— É aliviante saber que os franceses foram derrotados em algo — comenta Anne, ganhando um assentimento de Charlotte. — Sinto por Lord Nelson, claro, mas a história lembrará do sacrifício...

A frase dela nunca chega ao final, pois as portas do quarto são abertas e Anne vira-se... Arregalando os olhos, ela levanta surpresa do recamier... Fritz! Ele sorri e aproxima-se dela, também trocando olhares com a surpresa madrasta.

Ficando frente a frente com a esposa, Fritz espera alguma palavra ou abraço. Porém, tomada pela fúria, Anne levanta a mão e dá um forte tapa em Fritz, cujos olhos arregalam. Como ele ousa!?

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02|12|1805 Império da Áustria

Os canhões e baionetas atiram furiosamente, fazendo com que uma fumaça terrível tome de conta do estranhamente ensolarado campo de batalha. A cavalaria dos hussardos franceses ataca furiosa os soldados e a própria cavalaria dos Aliados.

Cheiro de sangue, morte e derrota corre pelo vento frio do inverno boêmio. Nem mesmo unido o exército austro-russo está mais, cada um tem de lidar com seu próprio corpo francês. Ainda há, porém, uma esperança... Até que a cavalaria do austríaco general O'Reilly é obrigada a recuar.

Não tarda muito e o pânico se instaura no exército aliado, que começa a abandonar o campo por todas as direções. Os generais e oficiais mais importantes já estão recuando, não existe outra opção.

— Voltem a lutar! Não recuem contra o inimigo! — Alguns oficiais Aliados, porém, ainda tentam resistir, mas qualquer ordem é recusada. — Lutem!... Lutem...!

Mas os austro-russos continuam a fugir, principalmente quando começam a ser perseguidos pela infantaria francesa. A desordem e pânico são totais...

— Vamos embora, o resultado dessa batalha já está claro — ordena o imperador Alexandre, observando de uma colina todo o desenrolar da batalha. Porém, virando-se aos generais, ele ainda fala: — Mas não acabou... não para a Rússia.

— Devemos planejar um reagrupamento, senhor? — um dos generais perguntou, recebendo uma negativa do imperador. — Talvez Miloradovich ou o grão-duque Konstantin...

— Não, vamos apenas partir. — É a melhor decisão que ele pode tomar agora... principalmente após tantos erros. O imperador respira fundo e encara uma última vez o campo. — Somos bebês nas mãos de um gigante.

O imperador deixa a campo de batalha com os companheiros, não tardando para encontrar o incompetente irmão. Mas enquanto alguns lamentam pela perda, outros a festejam...

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Dezembro|1805 Palácio Konstantinovski, Strelna

Um oficial do exército russo caminha logo atrás de uma nobre mulher pelos corredores de Konstantinovski. As notícias haviam acabado de chegar e, após avisar o restante da família imperial, faltava apenas a grã-duquesa Maria Konstantinovna.

Os corredores estão escuros e frios, um efeito do inverno e também do horário, não fazia muito tempo que o sol havia nascido. Mas logo eles chegam na presença da grã-duquesa, que os espera na frente de uma grande janela com vista para o Golfo da Finlândia.

— Esse cavalheiro trouxe notícias de São Petersburgo, madame — a mulher, uma das damas de companhia da grã-duquesa, avisa num tom respeitoso. — É sobre o imperador.

A resposta da grã-duquesa é assentir, claramente sinalizando para o oficial começar a falar, coisa que ele imediatamente faz.

— Houve uma batalha na Boêmia e... infelizmente perdemos. — Nenhuma palavra sobre Konstantin, então ela ainda não está viúva. O oficial ainda diz: — A coalizão foi desfeita.

Nenhuma palavra é dita pela grã-duquesa, ela apenas encara o golfo, indisposta a falar qualquer coisa. Até que, suspirando, Mary pergunta:

— Onde foi a batalha?

— Austerlitz, madame... a Batalha de Austerlitz.

Uma batalha eternamente marcada na história. Mary assente e sinaliza para o oficial ir embora; novamente os franceses ganharam, novamente os Aliados perderam... novamente Konstantin voltava com vida.


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Notas finais do capítulo

* O primeiro casamento do pai de Fritz, o posterior rei Friedrich I da Württemberg, foi um total fracasso. Friedrich e Auguste — uma duquesa de Brunswick e sobrinha do rei George III, bem como irmã da Caroline de Brunswick — tinham personalidades bem diferentes. Além da idade, Friedrich era mais maduro, ele não via graça nas "brincadeiras infantis" de Auguste. Só para se ter uma ideia, Auguste queria o divórcio já na gravidez de Fritz. Posteriormente a imperatriz Ekaterina, a Grande, baniu Friedrich da Rússia e deu "abrigo" a Auguste, enviando-a para a Estônia. Lá Auguste acabou morrendo em circunstâncias misteriosas em 1788. A imperatriz ficou calada quando Friedrich escreveu pedindo uma explicação. Dizem que Auguste morreu de uma complicação durante a parto — ela foi violentada pelo guardião. Mas tudo não passa de conjunturas, não sabemos de nada.

* E só para deixar algo claro, novamente: a imperatriz Maria Feodorovna era irmã de Friedrich I de Württemberg, bem como da primeira esposa do imperador Franz II e I. Em outras palavras, Fritz era sobrinho, primo e cunhado de imperadores.

* Ainda falando do primeiro rei de Württemberg — é História, não tem como eu esconder ou mudar, Friedrich era um homem autoritário, nervos, pavio curto, gordo e muito alto. Sabendo disso, e também do primeiro casamento dele, você pode se perguntar: por que George III deixou a princesa real, Charlotte, casar com um homem desses? Auguste também não era sobrinha dele? Então... George III realmente não queria casar a filha com Friedrich, mas Friedrich insistiu tanto que ele acabou aceitando. Além do mais, Charlotte queria desesperadamente casar e deixar a casa da rainha Charlotte, então Friedrich "servia pro gasto. De qualquer forma, o casamento deles foi considerado feliz e pacífico.

* Vamos agora mudar de assunto, mas nem tanto. Durante a recepção em Ludwigsburg eu mencionei que até mesmo Cathrine era mais alta que Napoleão Bonaparte, mas Napoleão não era realmente uma homem baixinho. A maioria dos historiadores concorda que Napoleão Bonaparte tinha uma altura mediana, até que alta levando em consideração a altura média de um francês na época. Acontece que Napoleão estava sempre cercado de pessoas altas, como assim? O próprio Friedrich tinha quase 2 metros de altura, o imperador Alexandre também era alto e Napoleão tinha guarda-costas com 1,80 de altura. Os monarcas europeus tinham, e ainda têm, um "gene alto" no sangue. Só para se ter ideia, o próprio George III, pelo menos quando jovem, era maior do que a maioria dos homens na corte.

* Devo confessar que foi bastante difícil escrever esse capítulo e refiro-me as partes das batalhas. Eu nunca fui muito bom em narrar acontecimentos que exigem muito dinamismo. Mas acho que fiz um trabalho aceitável. Apenas um adendo: eu fiz minha própria interpretação de Finisterra e da Batalha de Austerlitz. Mas por que você não colocou Trafalgar também? Eu achei mais simples descrever Finisterra, além de que Finisterra é menos conhecida, embora seja tão importante quanto Trafalgar.

* Aqui eu soltei mais um pouco da história de Niedersieg, embora não tão distante assim de 1805. Nos próximos capítulos teremos mais fatos e também mais de Mary, foi de propósito esse "sumiço" dela.

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