Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 10
9. Você é imatura, tímida e, na maioria das vezes, distante. Sem contar com essa sua sensibilidade.




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Nem sempre palavras bastam para que ações sejam tomadas. Infelizmente essa era a verdade que fazia Cathrine sofrer muito, mais além do que ela esperava. Nada realmente mudou após ela falar para Richard o que a incomodava, promessas foram feitas, de fato, mas isso não significou uma real mudança, muito pelo contrário.

De fato, Richard conversou com os irmãos e Cathrine realmente começou a ser mais notada e incluída, mas foi apenas isso, nada mais que isso. Essas ações não tiveram efeito algum nos sentimentos de solidão da princesa, nem ajudaram ela a descobrir seu lugar nessa família... e nem mesmo mãe Cathrine seria por enquanto... essa situação estava ficando insustentável!

Richard disse inúmeras vezes que ela poderia falar tudo que pensava, quaisquer que fossem as preocupações dela... mas Cathrine não tinha a mínima coragem para fazer tal coisa, reclamar não estava no coração dela, mesmo que por algo justo! A verdade era que Cathrine tinha medo, e não era pouco, dos membros dessa família. O pensamento deles ficarem ressentidos com ela, principalmente considerando que Richard dificilmente os repreendia, era amedrontador.

Por isso mesmo, em um raro lampejo de coragem, Cathrine decidiu apelar para uma outra voz poderosa, uma que certamente faria algo... fosse bom ou ruim... Fechando os olhos com força, a princesa tomou coragem e abriu as portas duplas da sala azul. Que tudo fosse conforme a vontade de Deus.

— Anne! — Não sendo inicialmente atendida, Cathrine chamou pela cunhada, que, deixando as cartas que escrevia de lado, a encarou.

— Ah, é você, Cathrine, eu não havia percebido sua chegada. — Claro que não. Anne permaneceu sentada, claramente dizendo que não faria uma mesura, mas pelo menos ela forçou um sorrisinho. — Deseja algo?

— Eu gostaria de conversar... é sobre algo muito importante. — Caminhando em direção a mesa da cunhada, Cathrine começou. Anne, porém, olhou para a carta que escrevia e depois para a marquesa, fazendo-a parar ansiosamente. — Claro que apenas se você não estiver muito ocupada, sei como é atarefada a vida de toda senhora...

— Mas você não faz nada o dia inteiro. — Os olhos de Cathrine arregalaram com o debochado tom de Anne.

Um momento de silêncio instaurou-se entre as mulheres. Nesse momento, Cathrine, cujos lábios tremiam, fitou o chão e tentou regular a respiração. Ela não poderia sair dessa sala derrotada, ela precisava ter coragem! Então a princesa encarou novamente Anne.

— Não agora, mas certamente logo terei algo para fazer. — A única reação de Anne foi arquear uma sobrancelha, fazendo o sorrisinho dela tornou-se irônico. Mas Cathrine não pararia por isso. — Você deve saber que eu era a senhora da minha casa na Dinamarca, embora não fosse nada comparado às suas tarefas, claro.

Novamente o silêncio tomou conta, ficando ainda pior quando Anne retornou a carta. Uma sensação muito ruim estava nascendo em Cathrine, uma muito pior que o medo anterior. E a calma de Anne, o modo como ela assinou a carta, colocou a pena no porta tinta e assoprou o papel, apenas aumentava essa sensação ruim.

Finalmente, acabando a carta, a princesa levantou e sinalizou para a marquesa sentar no sofá. Cathrine obedeceu prontamente, e logo a própria Anne fez o mesmo, ambas ficando frente a frente. Faltava apenas o chá, mas nada mostrava que a, mais afastada, Srta. Neville iria buscá-lo.

— Somos tão parecidas, Cathrine, e em tantos aspectos. — A sinceridade que Anne mostrava era quase teatral, não parecia de verdade. Apesar disso, mesmo não sorrindo, Cathrine assentiu. — Temos praticamente a mesma idade, sem contar que ambas perdemos nossos pais muito cedo.

— Mas eu ainda tenho pai. — E que isso ficasse bem claro. Agora o sorriso de Anne tremeu, tanto que ela virou o rosto.

Era perceptível a irritação da princesa alemã, Cathrine conseguia até mesmo ouvir a respiração pesada dela. Um medo terrível voltou à mente da marquesa, mas a única ação dela foi morder os lábios e apertar ansiosamente as mãos... principalmente quando Anne voltou a encará-la, com um sorriso falso, claro.

— São tantas as preocupações de uma senhora da casa, não? Cartas para parentes e amigos; a organização da casa e dos criados... os jardins. — Onde ela queria chegar com isso? Cathrine inclinou a cabeça em curiosidade. — E ainda, como princesa, tenho que organizar os eventos sociais da temporada e nossas doações para a caridade, são muitas coisas.

— De fato, são, embora eu nunca tenha cuidado de tantos assuntos assim. — Soando compadecida, Anne assentiu a cunhada. Cathrine apertou mais ainda as mãos, mas continuou: — O que me leva ao ponto principal dessa conversa. Eu não faço praticamente nada, apenas leio, converso e escrevo cartas para meus...

— Parece uma existência tão vazia. — Novamente, um comentário debochado. Porém o que tornava tudo mais irritante era o olhar penoso dela. — Richard comentou que...

— Eu gostaria de assumir o meu lugar de direito nesta casa, assumir o meu lugar como senhora da casa. — Apesar de saírem rápidas, Anne entendeu cada palavra dita por Cathrine. O sorriso dela morreu instantaneamente, a princesa fitou piscando a marquesa. — Claro que não estou querendo roubar o seu lugar, mas poderíamos iniciar dividindo as tarefas.

Se isso ajudasse de alguma forma a aplacar a raiva dela. Essa situação, com Anne a encarando fixamente, estava tornando-se assustadora. Engolindo em seco, Cathrine até pensou em chamar pela cunhada, porém não foi necessário. Assustando a marquesa, Anne começou a rir altamente, mas não de alegria ou diversão, era... zombando.

— Oh, Cathrine, querida, existe um motivo muito bom para você ainda não ter recebido suas funções. — Essa risadinha... a marquesa nunca teve tanta dificuldade antes em reprimir uma raiva. Então qual era esse motivo? — Para ser uma boa consorte Tudor-Habsburg são necessários alguns conhecimentos e características que você não tem. Não é apenas chegar e tentar dar ordens...

— É ter organização, bom senso e paciência. — Não aguentando, Cathrine respondeu séria, o que novamente faz Anne parar de sorrir. — É sempre estar disposta a brilhar e ser o completo centro das atenções.

Ela estava certa, ou errada? A julgar pelo silêncio de Anne, estava muito correta. Cathrine não era do tipo orgulhosa, mas ela sabia quando estava com a razão. Ambos as princesas se encararam fixamente, até que o olhar da princesa alemã voltou à superioridade.

— E, infelizmente, você ainda não é assim, Catherine. Você é imatura, tímida e, na maioria das vezes, distante. Sem contar com essa sua sensibilidade. — Sensibilidade? A marquesa tentou negar, mas não conseguiu. Anne sorriu satisfeita. — E ainda há o maior agravante: uma consorte Tudor-Habsburg deve saber ser uma inglesa, enquanto mostra-se austríaca. Mas você... tudo em você fede a Dinamarca, Cathrine!

— Mas... o que então eu deveria... — A princesa sinalizou para Cathrine calar-se... ela obedeceu.

— Ainda não chegou a sua hora. Vamos esperar até o final da temporada, quando tudo estiver mais calmo. — Após Anne ter feito tudo conforme a vontade dela!? Cathrine negou e, percebendo tal ação, a princesa tentou pegar a mão dela. — Você...

Cathrine imediatamente afastou suas mãos da cunhada, o que deixou Anne horrorizada. O que mais fazer? Que outro protesto fazer? A marquesa ergueu a cabeça, essa seria a única forma dela protestar. Aceitar seria doloroso, muito doloroso, mas a única opção que ela tinha.

— Se você pensa assim e tem o apoio de Richard, tudo bem.

— Não fique desanimada, Cathrine, sua hora chegará. — Ela nem olhava para Anne mais. A marquesa assentiu, e a princesa sorriu. — Enquanto isso, por que você não fica com as cartas?

O que!? Cathrine fitou, com os olhos arregalados, a complacente Anne. Ela não poderia... Cathrine voltou a desviar o olhar. Seria necessário agradecer? Mas que humilhação!

Logo em seguida a princesa Anne levantou, fez uma mesura a marquesa e saiu da sala, sendo seguida, claro, pela Srta. Neville. Cathrine permaneceu sentada, apenas pensando como sua vida havia mudado tanto... chegado a essa humilhação!

*****

Quanto tempo ela passou sozinha na sala azul? Alguns minutos... ou talvez horas? Bem, era impossível saber, pois Cathrine mal percebeu quando levantou e voltou aos aposentos dela. Todas as seis damas de companhia estavam lá, todas ocupadas em distrair a mente, tanto que nem perceberam o abalo dela... não inicialmente.

— Algum problema, minha marquesa? — Lady Cavenbush, ao arrumar o cabelo de Cathrine para o jantar, perguntou docemente. — Seu rostinho está tão abatido, parece até desânimo de alma.

Não estava nesse nível, mas poderia muito bem chegar. Com a pergunta da baronesa, todas as outras damas voltaram-se curiosas a marquesa, certamente elas haviam percebido antes, porém não perguntaram. A única ação de Cathrine foi suspirar e permanecer calada, o que não impediu as damas de descobrir.

— Ela ficou assim logo depois de conversar com a princesa Anne. — Cuidando das joias da marquesa, Lady Paston risonha. Porém, ao perceber que nada mudou no rosto de Cathrine, a condessa sorriu compreensiva. — Sabemos como a princesa Anne, às vezes, pode ser difícil, minha princesa.

— Harriet, cale a boca! — Lady Spencer não gostou do comentário de Lady Paston, ou talvez elas estivessem atrasadas... não? De fato, seria um não: — Lembre-se que você está aqui unicamente pela vontade da princesa Anne, então tenha mais respeito por ela!

— Eu respeito, Lavinia, e respeito muito, mas não posso negar que ela é... bem, como toda mulher Tudor-Habsburg. — Como? Cathrine voltou-se rapidamente em direção a Harriet. O que ela quis dizer com...?

— Honrada, organizada e levemente exigente? — Lady Spencer ainda defendia Anne, mas nada disso importava para a marquesa. Como as mulheres Tudor-Habsburg eram? Cathrine quase levantou da cadeira, mas Lady Cavenbush a segurou. — Características assim não são defeitos, e mesmo que fossem, a beleza e gentileza da princesa iriam mascarar tudo.

A condessa de Paston revirou os olhos e voltou às joias, deixando para trás uma sorridente condessa Spencer. Mas... Cathrine queria saber mais, elas começaram, então tinham a obrigação de acabar. Esse assunto Tudor-Habsburg nunca antes foi da curiosidade dela, mas Cathrine sentia nesse momento que tinha toda a obrigação de saber. Lady Cavenbush, porém, fez a marquesa voltar ao espelho.

— Faça-me o favor, Lavinia, até mesmo eu reconheço que Anne é difícil de lidar. Embora ela faça apenas o que lhe é devido. — Não conseguindo manter-se por fora, principalmente com esse irônico comentário de Lady Carlisle, Cathrine voltou-se para trás, em direção às damas. — Você, todas vocês, na verdade, sabem muito bem como os Tudor-Habsburg são.

— Depressivos, distantes, frios e autoritários. — Os olhos da marquesa arregalaram com as palavras de Lady Chartents, que ainda acrescentou: — Um problema compartilhado basicamente por todos que usam o nome Habsburg.

— Homem ou mulher, não importa, todos são assim. — Negando consigo mesma, para o horror de Cathrine, Lady Carlisle acrescentou e riu tristemente. — Pobre de minha cunhada, ela sofreu tanto para se adaptar aos padrões dessa família, e o príncipe Wilhelm que nem mesmo tentou!?

A condessa de Carlisle riu, embora não de alegria, e também não alegrando Cathrine. Elizabeth sofreu e Wilhelm desistiu... a marquesa agarrou fortemente o peito com uma mão, uma sensação não muito boa estava tomando conta dela. Depressivos, distantes e frios... tudo fazia agora um sentido terrível!

— Mudemos de assunto, miladys, por favor. — Percebendo como esse assunto havia abalado a marquesa, Lady Newport tentou intervir, mas já era tarde. — Assim vocês irão assustar a marquesa!

— Gostando ou não, é a verdade. — Também cedendo a situação, Lady Spencer comentou em baixo tom.

Tudo então acabou, pelo menos era o que aparentava, e o silêncio instaurou-se no quarto. As damas retornaram as suas tarefas e Cathrine voltou-se ao espelho, embora... a vontade dela fosse gritar e deixar tudo isso! Uma sensação muito ruim nasceu na garganta da marquesa e foi ainda mais ampliada quando Lady Chartents trouxe um vestido para Cathrine... não o que ela havia escolhido.

— Eu pedi o rosa, Lady Chartents. — Ela tentou ao máximo não perder a calma, mesmo sendo muito difícil.

— A princesa Anne ordenou que a senhora usasse esse. — Ordenou? Cathrine levou ambas as mãos ao rosto e fechou os olhos. Lady Chartents hesitou um momento. — Branco é uma cor tão linda.

Mas não era o que ela queria! Cathrine fechou mais ainda os olhos, sentindo seu peito arder mais ainda. Anne estava... intervindo em tudo! Cathrine sabia que era assim, que sempre seria assim, e a ela cabia simplesmente aceitar, mas... Cathrine não era obrigada a nada! Então a princesa fez a única coisa que poderia fazer.

— Minha princesa, a senhora está chorando!? Lembre-se que princesas não choram! — As palavras de Lady Spencer de nada adiantaram, Cathrine continuou a chorar. As damas começaram a se aproximar. — Mandem!

— Saiam daqui! — Levando abruptamente da cadeira, Cathrine exclamou apontando para a porta. As damas simplesmente se entreolharam. — EU MANDEI SAÍREM DAQUI! SAIAM, JÁ!

Os gritos quase históricos foram o suficiente para que todas as seis damas assustadas fizessem uma mesura a fossem embora rapidamente. Ficando sozinha, novamente, Cathrine voltou a sentar e chorou livremente, derramando todas as lágrimas que a tempos segurava.

*****

— As cartas!? Você deu para Cathrine a humilhante tarefa de escrever cartas!? — Andando ansiosamente pela sala, Richard exclamou negando. Ele havia acabado de descobrir o que Anne havia feito, ou melhor, deixado de fazer. — Não foi isso que eu mandei você fazer!

— Você pediu que eu desse alguma tarefa a sua esposa e cuidar das cartas é uma tarefa. — E Anne ainda tinha a audácia de falar como se estivesse fazendo um favor!? Estando de costas para a irmã, o marquês negou irônico. — A culpa não é minha se isso parece...

Cansado de ouvir as desculpas dela, Richard voltou-se para trás e, apontando acusadoramente o indicador, aproximou-se furiosamente da irmã.

— Você deu para minha esposa, a verdadeira senhora de todos os Tudor-Habsburg, a insignificante tarefa de escrever e enviar as malditas cartas!

Essa tarefa era o cúmulo da humilhação, principalmente para alguém na posição de Cathrine. Os dois irmãos se encararam fortemente, Richard com uma expressão profundamente incomodada, enquanto Anne não mostrava preocupação alguma, pouco importava para ela!

— Sou obrigada a concordar com você, Richard. Nem mesmo eu quis as cartas para mim, é humilhante! — Sentada junto de Robert, Mary interviu empática. Era bom ter algum apoio, mesmo que ainda assim Anne não tenha dado atenção. — Por favor, Anne, ela é a consorte dos Tudor-Habsburg!

— E por isso mesmo já deveria ter sido colocada na posição de senhora da casa. — Surpreendentemente, Robert acrescentou numa séria calma. Foi o suficiente para todos os três encará-lo, fazendo Kendal sorrir irônico a irmã. — A menos, claro, que esse não seja o seu desejo, Anne.

O foco de atenção mudou então para a segunda princesa, que não mostrou reação alguma, a não ser dar os ombros indiferentemente. Impossível! Grunhindo irritado, Richard deu as costas e voltou a afastar-se.

— Nenhum de nós deseja uma incapaz cuidando do nosso lar. Cathrine não tem experiência, não tem coragem... ela não tem firmeza. — Também dando as costas ao irmão, Anne respondeu calmamente indo em direção a um sofá. Mas as deficiências de Cathrine não eram motivo para humilhação. — Nem a nossa sociedade ela conhece direito.

Agora foi uma piada, o tom dela já dizia tudo! Porém o marquês nada fez ou disse, simplesmente voltou a andar ansiosamente pela sala. Infelizmente, esse era um fato, e nem mesmo Robert ou Mary tiveram coragem de contradizer. Suspirando pesadamente, Richard passou a mão fortemente no rosto, toda essa situação já estava passando do aceitável, a mulher Tudor-Habsburg mais importante não deveria ser privada de suas funções!

Mas tinha apenas um culpado... ou melhor, um grupo... Parando de andar, Richard voltou-se lentamente aos irmãos, que muito estranharam o olhar dele.

— Suas desculpas são válidas, Anne, mas o suficiente para impedi-la de ter dado algo mais importante para Cathrine. — Ela, novamente, não deu importância. Levando uma mão à testa, Richard negou e fitou os irmãos. — Caso não saibam, Cathrine sente-se muito triste e quase esquecida, como se fosse até uma estrangeira entre nós. E vocês... nós, quase nada fazemos para mudar isso.

— Cathrine é uma estrangeira entre nós, Richard, e ela ser sua esposa não muda esse fato. — Qual era exatamente a posição de Robert!? O marquês franziu o cenho ao irmão, que levantou as mãos e acomodou-se no sofá. — O que você deseja de nós? Como vocês dois, Mary e eu temos coisas a fazer.

— Mas dificilmente o dia de vocês é gasto apenas estudando, fazendo atividades e estudando novamente. — Apontando ao príncipe caçula, Richard respondeu sério.

Bastou isso para Robert levantar as mãos em sinal de rendição e virar o rosto, sorrindo zombeteiro. Um imaturo presunçoso! Erguendo orgulhosamente a cabeça, Richard afastou-se. Esses dois, Robert e Mary, poderiam ter algumas ocupações, mas eles também passavam vários momentos do dia sem fazer nada. Pelo menos ele tentava estar com Cathrine.

— Robert e Mary não têm nada que os motive a conversar ou passar algum tempo com sua esposa, Richard. — Ele franziu o cenho com o comentário da indiferente Anne. Precisava de uma motivação? — Com certeza.

— Com motivação, Anne está querendo dizer que não queremos de forma alguma parecer forçados numa aproximação. — Apesar de mais conciliatória que Anne, Mary ainda ganhou uma negação do irmão mais velho. A irmã caçula suspirou. — Pior que não conversar, é conversar por pena.

— Quando passamos mais tempo com alguém sozinho, em parte, fazendo isso por pena. — Era impossível negar. O marquês fitou Mary, mas ela virou o rosto, fazendo o marquês sorrir irônico. — Ou não, vocês estão tão evoluídos assim?

— Você está certo, Richard, mas ninguém gosta de ser motivo de pena. — Abandonando o silêncio, Robert respondeu sério. Richard, arregalando os olhos, fitou o irmão e... não falou nada. — Obrigado por entender. Não fique tão preocupado assim, irmãozinho, as coisas certamente irão melhorar. Que tal eu pegar uma bebida para você?

Franzindo o cenho, o marquês fez uma careta ao irmão e deu as costas, fazendo Robert dar uma zombeteira risada. Mas que situação, Richard negou afastando-se, muito provavelmente nada iria mudar, não até que Cathrine tivesse um bebê e ganhasse, por obrigação, uma função. E o que fazer enquanto isso? Nada.

— Beba, se você deseja tanto assim. Faz bem ao espírito. — Voltando-se novamente aos irmãos, ele respondeu cansado. Sorrindo malicioso, Robert correu para o armário das bebidas, deixando para trás Anne e Mary horrorizadas. — Melhor ele aprender a aguentar a bebida em casa, do que lá fora e nos envergonhar. Traga-me um whisky, Robert.

— Não é essa minha irritação, — Não? Richard não acreditou de forma alguma no que Anne disse, mas ela não se importou. — afinal, Robert pode nos envergonhar em qualquer lugar e em qualquer situação.

— Eu escutei, Anne! Saiba que sou um brilho de luz na nossa família. — Richard sorriu divertido com isso, enquanto Anne revirou os olhos. Os quatro ficaram em silêncio, mas apenas até Robert provar o whisky e fazer uma careta. — Está... ficando tarde, não?

— É sim. — Pegando um livro, Mary respondeu e fitou Richard. — Onde será que Cathrine está? Devo enviar Emma para buscá-la?

— Talvez ela queira que Richard vá buscá-la. — Bebendo mais um gole de whisky, e novamente fazendo uma careta, o príncipe mais jovem respondeu. O marquês revirou os olhos, o que não impediu a brincadeira. — Então os dois se abraçam, beijam e depois fazem um conde de Rivers para nós, já que na última vez não deu certo.

Melhor nem perder tempo tentando responder. O conde de Rivers viria em algum momento, então não havia pressa alguma, pelo menos Richard não tinha pressa, o foco agora era descobrir os "desejos da carne". O silêncio instaurou-se então entre os irmãos Bristol, tanto que as madeiras queimando na lareira era o único barulho ouvido. Toda essa calma era... suspeita.

Aceitando um copo de whisky, o marquês fitou a porta esperando pela esposa. Por um momento ele desviou, simplesmente para rir da careta feita por Robert ao beber, mas... nesse mesmo instante Lady Spencer e Lady Carlisle entraram abruptamente na sala, completamente transtornadas.

— Lady Spencer! O que significa tamanha... — Levando rapidamente, e levando Mary consigo, Anne comentou.

— Foi a marquesa, minha princesa, ela...! — Cathrine? Richard deixou o copo numa mesa a aproximou-se curioso de Lady Spencer, que parecia com dificuldades para responder. — Oh Deus, a marquesa... fale por mim, Margaret!

— O que aconteceu, miladys? — Toda essa animosidade delas estava assustando o marquês, não parecia algo bom.

— A marquesa está chorando. — Sem nenhum receio, beirando a frieza, a condessa de Carlisle respondeu. Os olhos de Richard arregalaram em susto, mas não era apenas isso. — Ela acabou de nos expulsar do quarto, está sozinha, fazendo só Deus sabe o quê.

Sozinha e chorando... a primeira ação dele foi voltar-se furiosamente para Anne, que negou veemente. Difícil acreditar nisso! Sem esperar mais explicações, Richard saiu apressadamente da sala e correu para os aposentos da marquesa. Chorando, Cathrine estava chorando... isso era tão difícil de acreditar, a realeza nunca deveria chorar, mas com todas as humilhações de Anne...

Chegando no corredor onde ficavam os aposentos de marquesa, Richard foi recebido pelas assustadas damas de companhia, que fizeram uma rápida mesura, apenas Lady Newport atrasou um pouco, mas era ela que batia na porta chamando pela princesa. Não falando absolutamente nada, Richard passou pelas damas, abriu a porta e entrou no quarto, fechando novamente a porta em seguida.

Juntando forças para o que viria, ele cruzou a antecâmara do quarto e... lá estava ela, deitada e com o rosto escondido nos travesseiros. Ao passo que foi chegando mais perto dela, Richard começou a escutar soluços e uma respiração pesada. Definitivamente, Cathrine estava chorando... por culpa deles mesmo!

— Cathrine? O que está acontecendo? — Ela estava chorando, claro, mas Richard não conseguiu pensar em outra pergunta. Ele tentou tocar no ombro dela, mas a própria Cathrine afastou-se. Richard mordeu os lábios. — Eu vim saber... na verdade eu nem sei o que dizer... apenas fale, diga-me o que lhe incomoda.

Surpreendendo Richard mais até que o imaginado, Cathrine virou o rosto em direção a ele... vermelhos, os olhos dela estavam vermelhos e seu rosto inchado... havia lágrimas, muitas lágrimas. Richard abriu a boca, mas nada conseguiu falar.

— Eu não aguento mais, Richard... não aguento! — Num doloroso sussurro, Cathrine falou chorando. O coração dele estava sendo destruído. — Tudo me entristece!

— Não... não se obrigue a sofrer, Cathrine, por favor. Apenas chore. — Mesmo tentando, até a voz dele saiu embargada. Cathrine fechou os olhos e negou, fazendo Richard novamente tentar tocar nela. — Eu não...

— Não! Não fale mais nada, faça-me o favor do silêncio. — A princesa novamente tentou esconder o rosto, mas Richard, não aguentando mais, a agarrou num forte abraço e Cathrine apenas chorou: — Eu não quero ser assim, eu não quero viver assim. Eu quero apenas ser feliz!

Apertando ainda mais o abraço, Richard começou a acariciar o cabelo castanho da esposa. Não era surpreendente ela estar nessa situação, mas ainda era terrível. E tudo isso era culpa dele, de seus irmãos também, mas principalmente dele, que não fez nada. Richard beijou a testa de Cathrine.

— Apenas derrame seus sentimentos, meu amor. — Fechando seus próprios olhos, embora não o suficiente para aplacar a tristeza de vê-la nessa situação, Richard sentou na cama. — Dessa vez eu realmente tomarei uma ação.

As lágrimas de Cathrine continuaram a cair, mas ambos continuaram deitados na cama, até que o sono veio e eles dormiram juntos. Tudo iria melhorar.


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Notas finais do capítulo

* Bem, eu finalmente consegui cumprir um prazo, agora todas as quarta-feiras serão postados novos capítulos, visto que minhas histórias ficaram maiores.

* Aqui foi um capítulo completamente centrado nos Tudor-Habsburg, principalmente na relação entre Cathrine e os cunhados. Eu gostei do resultado, principalmente em fazer de Anne uma antagonista, me pergunto se vocês estão odiando ela ou compreendendo, porque logo eu farei todos terem pena, na verdade, vocês terão pena de praticamente todos os Tudor-Habsburg.

* O próximo capítulo é uma espécie de transição, não vamos ter uma mudança de tempo tão longa, não por enquanto.

* Em todos os capítulos eu deixo um link da página de "Era Uma Vez... Uma Ilusão" no Pinterest, e hoje não será diferente, eu apenas colocarei imagens de alguns soberanos, ou não, que os Tudor-Habsburg se correspondem. Fato interessante: todos eles têm algum nível de parentesco com os Tudor-Habsburg: https://pin.it/2PXZtE0



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