— Hehe, então vocês são um grupo um tanto peculiar, certo? Mas podem ficar o quanto quiserem, eu fico bem solitária aqui, é até uma surpresa ter tantos convidados, ainda mais você... irmão Huo.

A garota que se chamava Hiang-Lin sorria gentilmente, sua voz emanava uma aura doce e pura que deixava todos ao redor com uma sensação de tranquilidade.

Por outro lado, Jia-Li estava ainda com o rosto vazio e nublado, seus olhos pareciam mortos, mas no fundo, quem a conhecia sabia que uma aura assassina emanava fortemente da garota.

— Irmã Jia, você está bem? Parece meio pálida...

Hiang-Lin perguntou em um tom de voz sincero demonstrando preocupação, mas Jia-Li continuava com uma expressão séria como se estivesse se contendo para não cometer nenhuma atrocidade.

— E-ela está apenas cansada, passamos por muita coisa sabe...

Huo-Lei suava frio.

Depois que encontraram Hiang-Lin, ela os convidou para descansarem em sua casa ao reconhecer Huo-Lei, e este, também a reconhecer.

Ela morava a trinta minutos de Yan-Rong, sua casa era simples porém aconchegante, ao redor, um pouco distante, outras casas semelhantes podiam ser vistas, alguns moradores olhavam com hostilidade de relance pelas cercas quem eram os visitantes repentinos,

Hiang-Lin havia reconhecido Huo-Lei quando o viu, ela os chamou para comerem e eles conversaram um pouco sobre o passado.

Ela havia crescido em Jianxi-Ho, uma cidade próxima à vila do Céu Prateado, quando pequena, junto de seu pai, ela ia até a seita frequentemente para entregar ovos, seus pais sempre foram criadores de galinhas, e nessas visitas ela acabou conhecendo Huo-Lei, fazendo amizade com o garoto que, segundo ela, havia a protegido de um rapaz que tentou assedia-la enquanto ela esperava por seu pai.

— Eu não esperava que você se lembrasse de mim, faz muito tempo!

Hiang-Lin sorria enquanto servia chá para todos ali que estavam maravilhados com a simpatia e hospitalidade da garota que, além de tudo isso, era muito bonita.

— Droga Huo-Lei, por que você sempre fica com as melhores partes!? Ei irmãzona, eu também sou da Seita do Céu Prateado sabe!

Yuan-Shui estava claramente com inveja de Huo-Lei, todos os homens ali ficaram pensando que Hiang-Lin daria uma boa esposa, até Yi-Fang se sentiu incomodada e estava comendo o caldo de maçã feito pela garota enquanto balançava seus seios frequentemente em uma tentativa de dizer para Hiang-Lin que os seus eram maiores, mas a garota nem pareceu se importar.

— Oh, eu não me lembro de você...

— É porque ele era um recluso.

Huo-Lei, ao responder, fez com que Yuan-Shui se levantasse e quisesse esmurrar o rapaz.

— Haha, vocês são bem animados, levando em conta tudo que passaram...

Hiang-Lin, pela primeira vez, demonstrou uma expressão mais séria e preocupada.

— Você não ouviu nenhum rumor sobre nós? Digo, acho que possivelmente estamos sendo caçados, depois do que aconteceu com a seita, talvez eu e a irmã Jia sejamos os únicos sobreviventes...

— Por que caralho está me excluindo de novo?

Yuan-Shui dessa vez esmurraria Huo-Lei com toda certeza.

— Não... Não vou muito mais pra cidade. Desde que meus pais morreram fiquei aqui cuidando das galinhas, vendo alguns ovos pros moradores dos arredores, não é muita coisa, mas é melhor do que a velha Jianxi, e acho que com tudo que aconteceu na seita do céu prateado, acho que foi melhor nem estar lá perto né?

Hiang ainda se sentia mal por Huo-Lei, ela olhava para ele como se precisasse ajuda-lo.

— Não precisa sentir pena de nós, vamos descobrir o que diabos foi aquele ataque e iremos nos vingar.

Jia-Li pela primeira vez havia falado, ela olhou com certa frieza para Hiang que franziu suas sobrancelhas.

— Apesar de dizer isso, nós vimos o mestre Mujang ser morto por Zao-Kung enquanto ele mal estava ferido, como lidaremos com ele? E se a corte imperial estiver mesmo nos procurando, acho que ir pra Yan-Rong seria um problema.

Yuan-Shui havia sido sincero ao encarar a realidade, mas Jia-Li parecia não se importar.

— Mas precisamos de informação, a cidade de Yan-Rong é famosa por ser um dos locais de maior comércio da região, alguém deve saber algo sobre o último céu, mesmo que sejam apenas boatos.

— Jin Manchu conhecia bastante a região, ele sabia que haviam pessoas com todo tipo de conhecimento em Yan-Rong.

— Nós estamos em um grupo forte agora, não acho que a situação seja a mesma, essa demônia aí disse que nos ajudaria, e o monge também está em dívida depois de ter nos traído, espero que morram pela gente, ou eu mesmo os mato depois.

As palavras de Jia-Li não soaram tão bem para ambos mencionados que olhavam com certa dúvida para a garota que parecia falar sério.

— Eu vou ajudar o Huo-Huo biscatinha, você sabe, se ele me pedir, eu luto.

— Bom, eu prometi que iria com vocês, se aparecer algum mestre de novo vamos ter que lutar, mas se esse cara que dizem aí for mais forte que o mestre Thaozang, acho que a melhor opção seria correr.

— Covarde.

Jia-Li fitou Jin com desprezo.

— V-vocês podem ficar aqui, não precisam se arriscar. O lugar é apertado mas podemos dar um jeito, vocês ajudariam com a granja e podiam colher cogumelos, a vila precisa de bons colhedores, todos estão meio velhos aqui...

Hiang-Lin olhava para Huo-Lei meio que implorando, Jia-Li pisou com força em um graveto em sua frente o fazendo em pedaços.

— Agradeço por isso, mas foi nos dada uma missão... Não, na verdade, a missão foi dada a mim. Vocês não precisam me seguir, monge, Yuan, demônia, vocês já fizeram demais se arriscando até aqui, considero que vocês fiquem ou voltem, Zao-Khung ainda não sabe de vocês, ele não irá os perseguir, mas se nos virem juntos, acho que já era.

Yuan-Shui ficou olhando para Huo-Lei incrédulo, Jin deu de ombros mas pensou seriamente quando fitou o corpo de Hiang-Lin novamente, era uma proposta tentadora. Já Yi-Fang se levantou e deu um beliscão em Huo-Lei.

— Não seja idiota, eu resolvi fazer o pacto com você e te seguir porque te achei interessante e parece que não ficarei entediada, está me dizendo pra ficar aqui com essa caipira cuidando de galinhas!?

As palavras de Yi-Fang fizeram Huo-Lei se envergonhar mas Hiang-Lin sorria levando a mão em sua boca.

— Hahaha vejo que você tem bons amigos, não acho que preciso me preocupar tanto irmão Huo. Mas essa missão que você diz...

Huo-Lei hesitou por um momento, ele não sabia se devia contar sobre o último céu para Hiang, mas depois de todo acolhimento dela, ele pensou que devia sinceridade.

— Estamos indo para o último céu, ou ao menos, procurando um caminho pra lá.

Huo-Lei disse sem hesitar.

— Aquele... da lenda?

Hiang-Lin de início não acreditou, mas quando ela viu a expressão séria de Huo-Lei, ela entendeu que não era uma brincadeira.

— Oh, mas o que tem lá!?

— Ei, não quero ser grossa porque você nos deu comida, mas não acha que tá sendo intrometida demais?

Jia-Li não conseguia mais aguentar calada, ela na verdade queria dizer algumas palavras para Hiang que encarava seu irmão desde o começo, ela finalmente havia achado um bom motivo pra aumentar sua voz.

— D-desculpe...Eu realmente não tenho o direito! Mas de toda forma, vocês podem ficar o quanto quiserem, por que não passam essa noite? Já está anoitecendo, as pousadas em Yan-Rong são meio caras.

— Careca, essa guria aí não tá querendo motivos pro Huo-Lei ficar mais né?

Yi-Fang cutucou Jin Manchu o questionando.

— Parece que é o caso, mas me preocupa a Jia-Li também estar por perto, podemos ter um assassinato essa noite.

— Tudo bem, vamos ficar por hoje, ainda precisamos nos recuperar da última luta.

Jia-Li arregalou os olhos com a decisão do seu irmão, ela não esperava ficar, mas todos estavam realmente cansados.

— Muito bem! Vou fazer um cozido de galinha no jantar, espero que não tenham comido muito caldo hihi.

Hiang-Lin parecia feliz com a decisão de Huo-Lei, ela pegou a panela onde havia servido o caldo e levou feliz para dentro.

— Podem ficar à vontade, eu vou limpar a bagunça aqui.

Jin Manchu aproveitou o tempo livre para tocar xiao, Yuan-Shui foi treinar alguns golpes com seu bastão enquanto Yi-Fang se deitou na cama de Hiang-Li sem nem pedir.

— Irmão...eu realmente não me lembro dessa menina.

Huo-Lei pensou que Jia-Li estava dando uma desculpa pela maneira hostil com que ela havia agido anteriormente, mas Huo-Lei, na verdade, também se lembrava vagamente de Hiang-Lin, ele se lembrou do seu rosto e em seguida do nome, mas depois que ela contou é que ele foi se lembrar do dia em que a ajudou na seita e que começaram a se falar.

— Ela é uma boa pessoa, ao menos, quando a conheci antes eu podia dizer com certeza.

— Hmmm, pra mim ela está é com outras intenções com você irmão.

— Partiremos amanhã, ela parece apenas solitária mesmo, vivendo aqui longe de todos e com aqueles velhotes por perto, além de ter perdido seus pais, eu meio que a entendo.

Huo-Lei viu Jia-Li emburrada mas conhecia bem sua irmã.

Quando o sol se pôs, todos comeram até se sentirem satisfeitos.

Hiang-Lin achou um lugar para todos dormirem, colocando Jia-Li e Yi-Fang no mesmo quarto que ela, apesar das duas não terem gostado, Huo-Lei e Yuan-Shui em um quarto e Jin Manchu preferiu dormir na rede lá fora, como sempre fazia.

Enquanto tentava dormir, Jin percebeu que Hiang-Lin se levantou duas vezes durante a noite e se dirigiu até uma pequena casinha que parecia um local para guardar ferramentas a alguns metros de sua casa, Jin achou isso peculiar mas devia ser algum tipo de banheiro ou algo assim, ele voltou a dormir pois ainda sentia dores por sua luta anterior e não queria ter pensamentos lascivos ao olhar para Hiang com uma roupa de dormir.

Quando Hiang-Lin abriu a porta da pequena estalagem, ela se moveu até um armário de madeira, destravou os cadeados e pegou um saco pesado.

— Eu estou realmente ansiosa com isso, ai ai.

A garota pegou o saco e o jogou dentro de um poço atrás da estalagem.

— Espero que não me culpe por isso, Hiang-Lin, descanse em paz.