Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 86
Futuro - Primeira despedida


Notas iniciais do capítulo

É uma despedida difícil.
Não tão explicito mas com cenas fortes... então se for sensível, não será uma leitura agradável.



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Era final de tarde de quinta-feira e Shara estava deitada em sua cama no dormitório da Sonserina, ela ainda não havia visto o seu quarto novo na ala do professor Snape, não por que ela não quisesse, afinal seria um equívoco dizer que ela não estava ansiosa por aquilo, um quarto era algo que ela desejava ter, não de hoje... mas desde quando era pequena, em tempos onde ela sonhava com um lar e uma família normal, e um quarto nesse contexto representava muito mais que apenas quatro paredes, aquele seria um lugar de acolhimento, um lugar para onde ela pudesse ir, um lugar onde ela se sentisse pertencente, algo seu, mas aquele domingo havia tido um desfecho infeliz e não havia simplesmente clima para um momento de euforia como aqueles, não depois da conversa que ela havia tido com Catie na enfermaria, não cabia e o professor Snape sequer ofereceu, ele definitivamente não era do tipo que fazia algo por impulso, ele parecia nunca ter pressa e parecia entender o tempo e o lugar de cada coisa então ele nem mencionou o fato do quarto ter sido finalizado... se o diretor não tivesse dito, bem… ela nem saberia... ela também não havia mais ido aos aposentos dele depois daquele final de semana, ainda mais por que agora eles tinham as tais das mentorias e sendo assim não havia mais motivos para encontros na surdina, e ser pega saindo e entrando nos aposentos privativos dele seria tudo menos apropriado, embora ela pudesse ir até ele sempre que precisasse ou achasse necessário, com algumas restrições é claro, restrições essas que o diretor repassou inúmeras vezes, os encontros deveriam ser em sua sala de aula e sempre depois do horário letivo, dado a disponibilidade dele, isso era fundamental para não chamar a atenção sobre eles, pelo menos não mais do que deveriam e também para não compromete-lo com suas responsabilidades com a escola, que pareciam ser algumas.

E por falar em responsabilidades… essa parecia ter sido uma semana bastante cheia, pois ele mal havia comparecido as refeições no salão principal e também não a tinha convocado para nenhuma sessão, claro que ela podia entender isso perfeitamente bem, afinal era evidente que ele tinha muito mais em suas costas do que apenas ensinar uma garotinha estúpida de 11 anos, como ele sempre dizia a fechar sua mente e mantê-la longe dos perigos, e sem falar que aquelas eram as duas primeiras semanas de aula após o feriado de natal, e a escola estava um caos completo devido ao ressurgimento dos boatos sobre a câmara secreta, aquilo havia tomado grandes proporções, o profeta diário fazia postagens agora quase que diariamente sobre esse assunto, e os pais dos alunos pareciam estar fazendo uma certa pressão, então certamente havia muito para organizar e se preocupar, embora ainda assim ela o visse todos os dias já que era obrigada a comparecer presencialmente apenas para tomar aquela maldita poção de sono sem sonhos, ela a bebia na frente dele e depois saia...  ela suspirou enquanto ouvia pela milésima vez a mesma música no som mais alto possível, benditos fones de ouvidos, benditas músicas e bendita coberta onde ela se escondia, aqueles velhos hábitos não seriam tão facilmente abandonados, ela gostava daquilo, a fazia esquecer do mundo, e de tudo que havia, sim por vezes... era ali que ela se escondia. Shara estava entretida em seus pensamentos quando sentiu alguém puxar sua coberta com alguma força e de supetão arrancar seus fones de ouvido.

—O que é isso? – Carla perguntou curiosa, olhando para o objeto em suas mãos.

—Ei... - Shara se sentou bruscamente na cama – não te ensinaram a respeitar a privacidade dos outros não? – ela perguntou aborrecida.

—Bom... eu não sei o que isso faz, mas pelo visto te deixa surda – Carla disse devolvendo o aparelho para ela – já que estou tentando te chamar tem um certo tempo... agora sobre esse negócio de privacidade, acho melhor você descer... o professor Snape está ai embaixo, e ele pediu a presença de todos os alunos da casa, ele deseja repassar alguns avisos, acho que é importante... mas se preferir ficar aqui em cima curtindo sua privacidade, bem a escolha é sua é claro... só terá que se entender com ele depois – Carla disse com alguma ironia – e não diga que não avisei, afinal ele não me parece em seu melhor estado de espirito – e quando é que ele estava em bom estado de espirito, Shara pensou.

—Ok... ok... ok... – Shara se levantou bufando – aliás muito obrigada por ser assim tão gentil comigo e me chamar – ela devolveu com igual ironia – se é isso que quer de mim... um agradecimento formal, saiba que eu sou de fato tão, tão grata – Shara disse zombando.

—Não... quer dizer me agradeça só depois disso... – Carla disse apontando a varinha para ela, Shara sentiu suas roupas sendo ajeitadas e uma brisa nos cabelos – assim está melhor... seu cabelo estava meio desajeitado e as roupas... nem se fala – Carla sorriu satisfeita ao contemplar o trabalho realizado ali.

—Tudo que eu precisava, é de alguém para cuidar da minha aparência – Shara sorriu revirando os olhos, enquanto elas desciam as escadas, a maioria dos alunos já estavam lá embaixo, enquanto outros ainda saiam às pressas de seus dormitórios, Shara se escorou contra uma das paredes de pedra bem aos fundos, Carla se posicionou ao lado dela e automaticamente Alany fez o mesmo, já o professor Snape estava posicionado no centro da sala, era um bom lugar para que a sua voz ecoasse tão fria e firme por todo o ambiente... ele havia feito algo parecido nas primeiras semanas de aula, ela podia se lembrar de como tinha ficado impressionada com a autoridade que ele exercia sobre os alunos, nada havia mudado nesse sentido, eles o olhavam com admiração, e agora Shara também, mas por motivos distintos.

—Como devem saber – ele começou com a voz arrastada - nossa escola tem enfrentando tempos sombrios - Snape disse olhando de relance para os alunos, sua expressão sempre impassível, mas carregada da autoridade que eles tanto admiravam – todos sabem também que alguns de nossos colegas foram petrificados no decorrer do ano passado, uma situação que devemos levar extremamente a sério – ele pontuou, Shara se sentiu desconfortável, havia o diário que Gina tinha comentado, e de alguma forma ela sabia que existia alguma ligação entre aqueles eventos, e isso tornava tudo ainda mais difícil, já que ela meio que se sentia cumplice de algo que para piorar ela desconhecia – Desta forma, o retorno desse semestre letivo só foi permitido com a condição de que houvessem adequações as regras de convívio e conduta na escola  - ele fez uma pausa para que todos absorvessem aquilo – e com isso garantindo a segurança de todos os alunos, o diretor junto com os chefes de cada casa nos reunimos e estipulamos medidas mais rigorosas para evitar quaisquer infortúnios – ele encarou os alunos novamente – desta maneira, a partir de hoje... o horário do toque de recolher passa a ser às 19:00 horas em ponto, isso significa que nenhum aluno deve se aventurar pelos corredores após esse horário, a menos que seja acompanhado por um professor ou funcionário autorizado – ele lançou um olhar sutil na sua direção que não passou despercebido por ela, a qual é? A falta de fé que ele tinha nela a surpreendia – outra questão, não andarão mais sozinhos, formaremos grupos de alunos, assim poderemos cuidar melhor uns dos outros – alguns buchichos começaram a se espalhar pelo ambiente – Quietos – ele pediu - Não subestimem a seriedade dessa situação – ele os encarava - Há algo sombrio e perigoso entre nós, algo que ainda não entendemos completamente –  Shara estremeceu com aquele comentário, magia negra Beta havia dito... um diário com magia negra e que possuía Gina... bem isso parecia de fato sombrio e perigoso, ele tinha mesmo razão.

—Professor com licença – Marcus Flint o capitão do time de quadribol havia levantado a mão.

—Sim – o professor disse dando permissão para que ele falasse.

—Bom... essa restrição de horários, ela meio que afeta a programação e os treinos de quadribol – ele pontuou – será que não está havendo um certo exagero... digo... quem se importa com essas ruínas de sangue ruins que foram petrificados... talvez seja um favor para a escola que alunos assim sejam expurgados do nosso meio – ele disse, enquanto alguns alunos riram... entre eles Draco, Shara sentiu seu sangue queimar, quase todos os seus amigos eram mestiços, nascidos trouxas ou até mesmo trouxas... aquele garoto era um completo idiota elitista, assim como quase todos ali.

—Na verdade – Shara interrompeu e todos os olhos se voltaram para ela, inclusive os do professor Snape, aquilo era mais forte que ela e ela simplesmente não podia controlar – um favor seria se os alunos que fossem expurgados do nosso meio – ela enfatizou - fossem aqueles sem cérebro algum, pois assim você certamente seria o primeiro da fila – ela disse encarando o menino mais velho... e ouvindo alguns risinhos, que Flint calou imediatamente ao lhe lançar um olhar assassino, parecia até que a temperatura do local havia caído.

—Sua sujeitinha... – Marcus estava prestes a replicar...

—SILENCIO... Ambos – o professor Snape pediu chamando a atenção novamente – Sr. Flint, comentários como esses não são bem vindos, trataremos de Quadribol em outro momento e Srta. Epson não lembro de ter dado alguma autorização para falar – ele a fuzilou – Agora... – ele encarou os demais alunos - o que estão esperando? todos vocês voltem às suas tarefas ou quartos imediatamente – ele ordenou, enquanto os alunos se moviam apressadamente, Shara sentiu o olhar gélido do professor sobre si, mas ela não se importava, ela não se calaria diante de tamanha falta de respeito, ela o ignorou e estava prestes a subir as escadas rumo ao seu dormitório quando sentiu a mão dele segurando seu braço com força, ele não disse nenhuma palavra, apenas lhe estendeu a poção... obvio, ele estava aguardando que ela a tomasse, ainda era cedo... e ela não queria dormir todos os dias as 19 horas, mas decidiu não questionar, não dessa vez, amanhã ela faria... ela a bebeu devolvendo o frasco vazio para ele que saiu, tão depressa que ela só pode ver suas vestes esvoaçantes atrás dele.

—Você é completamente maluca – Shara ouviu a voz de Carla atrás de si – quem em são consciência faz um comentário desses na frente de todos... ainda mais para o Flint – ela o encarava perplexa – está pedindo para morrer ou coisa do tipo? – ela perguntou – ele certamente vai te marcar depois disso... ele... você não tem ideia do que ele é capaz Shara...

—Não tenho medo dele  – Shara a cortou - e ninguém aqui deveria ter... ele é só um garoto mais velho e babaca – Shara pontuou, certamente de todas as coisas que ela precisava enfrentar ou já havia enfrentado até ali, Flint era o menor dos seus problemas... ele era apenas um valentão egocêntrico, que se preocupava unicamente com seus interesses... interesses esses que se resumiam basicamente a quadribol.

—Acorda para a realidade Shara – Carla disse – se fosse um pouco mais esperta tentaria ter aliados aqui dentro e não o contrário - Shara a encarou por um momento, mas honestamente ela não ligava, aqueles não eram bem o tipo de aliados que ela procurava ter e sendo assim não fazia a menor diferença, Shara fechou as cortinas da sua cama outra vez, e recuperou seu fone... Se escondendo novamente embaixo das cobertas, numa fuga silenciosa.

Shara acordou no meio da madrugada... o fone havia escorregado da sua cabeça e estava agora caído na lateral do seu travesseiro, ela havia adormecido ouvindo música sem sequer perceber, ela se sentou, estando com sede e puxou as cortinas devagar evitando assim qualquer ruído que pudesse vir a despertar suas colegas de quarto, o lugar estava um breu, as meninas ela notou também estavam com suas cortinas fechadas, Shara apoiou os dois pés com cuidado no chão, sentindo algo úmido e pegajoso ali... aquilo não era comum, ela pegou sua varinha apenas para lançar um lumus de menor intensidade e identificar do que se tratava aquilo... era sangue, havia um rastro de sangue na verdade que levava até o banheiro do dormitório, Shara sentiu seu coração acelerar, o que poderia ser aquilo agora? ela saltou da cama, e lentamente caminhou até aquela direção, abrindo a porta do banheiro com bastante cuidado, e convocando uma luz mais forte, o sangue a direcionava até um dos box de banho, ela seguiu aquilo e puxou a cortina de proteção se deparando com a cena deplorável... de um animal morto... ela sentiu vontade de vomitar, o corpo estava completamente separado da cabeça, aquele bicho havia sido decapitado ou algo assim... era um cena terrível, ela colocou as duas mãos na boca, se aproximando um pouco mais, havia tanto sangue que ela mal podia identificar do que se tratava aquele bicho... foi quando ela congelou, sim... ela conhecia aquelas patinhas, aquelas almofadinhas rosas agora sem vida alguma... era por isso que o rastro ia até a sua cama, era Flocos, o seu gato... ele havia sido morto por alguém e deixado para que ela o encontrasse naquele estado... Shara fechou os olhos tentando processar toda aquela informação... sim, havia apenas um nome em sua mente, mas ela não tinha provas, não havia simplesmente como denunciá-lo... Flint... Carla tinha razão, talvez ela estivesse mesmo mexendo com as pessoas erradas... num ataque de fúria Shara arrancou a cortina do box, e envolveu aquilo que restava do seu gato nela... ela sentiu vontade de gritar, de chorar… esmurrar as paredes com força, ela podia explodir aquele lugar, mas com todo o autocontrole que ela se esforçou a encontrar, onde ela sequer sabia que havia, ela cessou… surtar não resolveria, ela lançou um feitiço de limpeza sobre todo o ambiente, tanto no banheiro como também no quarto, apagando todas as evidências… Flint jogava baixo, mas ela também sabia ser fria... ela o destruiria.

Shara desceu as escadas, e passou pela comunal, não havia ninguém fora da cama naquele horário, ela sabia que haviam restrições sobre sair principalmente de madrugada e depois do comunicado da noite passada, ela ainda podia ouvir o discurso do professor Snape e sentir os seus olhos pairando sobre ela, mas nada mudaria… ela estava decidida... e não era como se ela planejasse aquilo ou desejasse de fato fazê-lo, não… mas aquelas circunstâncias simplesmente a obrigavam a fazer algo por ele... o seu gato, Flocos merecia pelo menos ter uma despedida decente, ela o segurou com bastante força contra si, sentindo que o ar podia lhe faltar a qualquer momento, mas ela não iria chorar... e por mais que ela amasse aquele gato, ela reforçou mentalmente o quão forte ela seria e que ela não daria a Flint aquilo que ele queria, não ela não iria quebrar... ela passou pelo quadro e caminhou até uma das portas laterais do castelo, haviam muitas... ela passou em frente a estufa de plantas e saiu no jardim, havia uma árvore especialmente bonita ali e que no verão chamava a atenção por ficar muito florida, Shara se aproximou dela... lançando um feitiço que removesse aquele volume de neve que cobria todo o chão em torno dela, deitando Flocos com bastante cuidado e notando que o resquício de neve existente rapidamente ficou manchado de vermelho, Shara se ajoelhou ao lado dele no chão, sem se importar em estar apenas de pijama, e muito menos com o frio latejante que estava sentindo, aquilo de alguma forma ajudava a aplacar um pouco a dor, dor de mais uma perda.

Ela encarou o vazio silencioso que fazia lá fora, como quem buscasse forças para aquilo que estava prestes a fazer, e então ela começou a cavar a terra, fazendo aquilo com as próprias mãos, assim como uma criança pequena cavaria um buraco na terra numa brincadeira qualquer, mas ela não, ela estava cavando um túmulo, em um tamanho adequado para aquele que havia sido sua companhia naqueles últimos meses, o gatinho dado por Harry... Shara parou apenas quando alcançou as primeiras raízes da árvore, não havia mesmo como prosseguir mais fundo dali, suas unhas completamente sujas… haviam quebrado, Shara removeu Flocos com ternura o colocou naquele pequeno espaço improvisado, e começou a depositar terra outra vez, agora a jogando por cima dele, ela se lembrou de como ela e Catie haviam feito um funeral parecido para um sapo no jardim certa vez, elas tinham achado aquilo tão divertido… mas agora não era, Shara encarou o breu algumas vezes antes de continuar... era difícil pensar que ela nunca havia conseguido se despedir de algo ou alguém a quem amassa antes... então ela tornou aquele um momento único em um ato simbólico, ela se despediu de Flocos obviamente, mas a cada novo lance de terra que ela mesmo depositava, ela se despedia de alguém... ela se despediu da sua mãe, mentalizando a dor da perda daquela que agora ela conhecia, havia um rosto e um nome... e aquilo doeu, mas ainda assim ela não choraria, ela se despediu de Elisabeth e Vitória... suas colegas no lar, se despediu de Noah e de quem ele teria sido de verdade, se despediu até de Medusa e por mais que elas estivessem a anos de distância uma da outra, Shara sentia como se elas fossem próximas o bastante, Shara se despediu da amizade que ela havia perdido com Catarina, se despediu de Antony que por mais que ele ainda estivesse vivo, tão logo ela também o perderia... Shara segurou o barro com firmeza em suas mãos… antes de lança-lo uma última vez, ela fechou os olhos... faltavam tão poucos dias agora para o prazo dado por Elza encerrar e Shara sentiu medo, e se ela cumprisse sua promessa? Não... ela não iria... Shara não podia se despedir de mais ninguém, não dele… nunca dele, não do seu pai, e pensar nisso arruinou os planos e qualquer tentativa de segurar as lágrimas foi invalidado ali, ela soltou o barro sim, mas não sobre aquele pequeno tumulo, ela deixou que a terra úmida caísse em suas roupas e se misturasse com as manchas de sangue… ela não iria concluir aquela despedida, ela se levantou do chão devagar, contemplando o trabalho que ela havia feito... aquele volume de terra que havia se formado no chão, e com um breve aceno da varinha, flores amarelas brotaram sobre o local, ela se virou e caminhou sentido ao castelo, e de todas as vezes em que ela havia decidido infringir uma regra ali… aquela tinha sido a primeira em que ela não havia sido surpreendida por ninguém… quisera o destino que aquele fosse mesmo uma cerimônia privativa, um marco de algo que ela jamais se esqueceria, ela se virou uma última vez.

—Adeus Flocos – ela disse e então ela correu.

—__

—O que aconteceu com você? – Gina perguntou se sentando do lado dela na aula de poções – dificuldades para dormir? – ela tentou novamente, já que Shara não havia respondido, ela definitivamente não estava a fim de conversar… e provavelmente estampava em suas feições de forma quase concreta sua total desmotivação em estar naquela sala de aula essa manhã, por sorte era sexta feira e aquela era a última aula da semana.

—Gina se puder simplesmente fingir que eu não existo hoje eu meio que agradeceria – ela disse com pesar, Gina não disse mais nada depois daquilo, diferente de Beta, ela tinha algum senso e não insistia. Era evidente que ela não conseguiria se concentrar em nada hoje, sua cabeça estava um turbilhão, ela não havia mesmo dormido, não depois daquilo e também não havia comparecido ao café... e se ela pudesse, ela estaria reclusa pelo resto da sua vida, ela olhou para frente, a aula havia acabado de começar, o professor Snape havia pedido que os alunos refizessem a poção da aula passada, já que quase ninguém havia conseguido acertar, mas ela sim… e isso tornava tudo ainda mais desgastante, ela não queria ter que fazer aquilo outra vez... ela fechou os olhos por alguns segundos, ela estava exausta, ela pensou em Flocos e em como ele certamente havia sofrido nas mãos daquele garoto cruel, Flocos não merecia aquilo, Flint era um covarde... ela olhou para os ingredientes que ela estava tentando cortar a grosso modo na bancada a sua frente, ela sequer sabia o que estava fazendo, aquilo era losna? Ela juntou uma porção de tudo aquilo, segurando com força na palma de sua mão, aquilo tudo a lembrava terra, a terra que ela havia usado para cobrir Flocos durante a madrugada, ela se preparou para atirar aquilo no caldeirão, era como se ela estivesse o enterrando outra vez, quando sentiu uma mão pesada sobre a sua, a impendido de finalizar aquele movimento e a fazendo voltar para a realidade de onde estava.

—A menos que deseje explodir essa sala de aula, eu ordeno que pare o que estiver fazendo – o professor Snape disse em tom sério, Gina a encarava assustada e Shara notou que ela estava observando suas mãos... Shara não havia tirado o barro debaixo das unhas.

—Eu não sei… - Shara havia misturado todos os ingredientes, ela jamais faria algo do tipo… aquilo poderia mesmo causar um estrago dos grandes, era o básico sobre preparo de poções... - eu não sei… o que estou fazendo - ela disse a verdade, soando confusa até para si mesmo.

—Posso ver isso claramente – ele rosnou, soltando sua mão com certa brutalidade e a fazendo derrubar o que segurava por toda a extensão da bancada, ele imediatamente baniu aquilo, juntamente com o seu caldeirão – está completamente inaceitável - ele disse parando na frente dela, não podia estar assim tão ruim... podia? Ela lamentou mais uma vez sua falta de cuidado… - menos 10 pontos para Sonserina pela sua total falta de atenção – ele disse, e quem se importava com aqueles malditos pontos?… ela certamente não, mas ela estava pela última gota e de repente aquilo havia sido uma enxurrada, ela sentiu seu estomago embrulhar, seu coração palpitar... não, ela não teria uma crise ali, não na frente de todos... por céus isso parecia terrível – “Shara...” – ela ouviu a voz dele ecoar dentro da sua cabeça, ele estava mesmo a chamando? ou aquilo era algo que sua mente estava criando... ele não a chamaria pelo primeiro nome... não na frente dos demais alunos assim, ela sentiu cocegas em sua mente, e aquilo a alertou sobre o que estava de fato acontecendo... ele estava em sua mente? Ele podia falar com ela por ali?... ela o encarou surpresa apenas para ter certeza e ele estava mesmo sustentando o olhar, era um olhar hostil... como ele podia destoar tanto? ele estava atuando? De qualquer forma ela não queria que ele visse suas últimas lembranças… então sem saber muito bem como... ela o empurrou para fora de sua mente, ela nunca havia conseguido antes... mas então ela havia feito, e essa foi a vez dele a olhar assustado, ela podia ler aquilo, ela o havia surpreendido.  

—Estou me sentindo doente... senhor – ela conseguiu dizer – enquanto pegava sua bolsa no chão, saindo o mais rápido que pode daquela sala de aula, o professor Snape não tentou impedi-la, não dessa vez.

Assim que ela saiu e se afastou a uma distância que ela considerou segura, ela se escorou contra a parede daquele corredor amplo que dava vista para o pátio externo a fim de buscar algum apoio e regular sua respiração… mas sua atenção foi redirecionada a cena que se desenrolava lá embaixo, Catie estava caminhando com alguma dificuldade em um dos braços ela usava uma espécie de muletas e no outro estava sendo amparada por Antony, ele sorria e parecia estar lhe contando coisas sobre o castelo, já que gesticulava bastante, apontado para todos os lugares, Catie parecia feliz e interessada e ela olhava de tempos em tempos para ele… de uma maneira que deixou Shara aflita… isso não podia estar acontecendo… Catie era de longe a menina mais sonhadora que ela conheceu, algo que Shara admirava, embora tivessem perfis diferentes nesse sentido, ela lia romances e sonhava em se apaixonar por um príncipe encantado, Antony era apresentável e se parecia com um… isso soava terrível… Shara desviou o olhar, tudo sempre poderia piorar… então ela correu, em direção ao topo da torre de astronomia e subiu… era silencioso lá, e assim que chegou, ela deslizou até o chão no lugar onde costumava se sentar, ela abriu a bolsa, encarando seus fones de ouvido que pareciam bastante convidativos, mas não...  ela tirou de dentro da bolsa aquela boneca de pano, que ela passou a carregar consigo... depois do comentário do diretor... "conversar com a boneca" ele havia dito e pensar nisso soava de forma patética… Shara olhou para todos os lados apenas para ter certeza de que não havia mesmo ninguém ali e apoiou a boneca sobre o parapeito "o que estou fazendo?" Shara se perguntou, no mínimo ficando maluca também… ela pensou e aquilo não era engraçado.

—Certo… bem isso é estranho - ela disse ouvindo sua própria voz percorrer todo aquele vazio – por onde começo... Balu… esse é seu nome certo? - ela pediu, e que nome estranho esse, nome que ela mesmo havia dado… enfim, ela olhou para a boneca completamente estática a sua frente, se alguém a visse ali, teria certeza sobre a sua total falta de sanidade mental – bom... não sou muito de me abrir, então vejamos...  meu gato morreu – ela começou - ele foi terrivelmente assassinado na noite passada, e eu o enterrei no jardim durante a madrugada - ela disse de forma vazia, até que não era tão ruim assim, aquilo era um monólogo apenas, nada demais…  - minha melhor amiga, ela me odeia e digamos que ela tem alguma razão para isso, afinal ela quase morreu por minha causa e agora está presa nesse castelo por tempo indeterminado, sem mencionar que eu arruinei toda a sua vida, causei a morte do seu pai e pelo que tudo indica matarei muito em breve o homem pelo qual ela está se apaixonando - Shara sorriu, mas não era de felicidade – é cruel eu sei – ela completou - tem também o fato de que ando angustiada pois faltam apenas alguns dias agora para que o prazo que Elza me deu para ir até ela acabe e eu estou tendo que lidar com o fato de que talvez ela venha até aqui, coisa que ela já fez antes e cumpra aquilo que prometeu… que é matar o meu pai… ah sim eu tenho um pai - ela admitiu - e eu meio que quase destruí sua sala de aula agora a pouco - ela lamentou novamente - então me parece que não me resta muita coisa… além é claro de fazer um ritual macabro num rio distante daqui e invocar uma divindade morta… sabe-se lá por qual motivo… mas é assim que Antony morre, só pra contextualizar - ela disse encarando a boneca outra vez, por Merlin aquilo podia até ser patético… mas a sensação de colocar tudo para fora de alguma forma era boa - ah e está vendo aquele lago enorme bem a nossa frente ali embaixo, pois bem... tem uma criatura aquática terrível que habita ali, e apenas pra variar aquilo também deseja me matar, é uma criatura bastante perigosa e ela também matou outros por minha causa… aurores treinados… sorte a minha tê-la cegado aquele dia na floresta proibida, se não… seria mais uma de tantas preocupações já que essa criatura podia se transformar em uma mulher nas noites de lua cheia… é eu sei que parece meio sem cabeça e impossível mas acredite não é - ela desabafou - tem também a voz da besta que esporadicamente pode ser ouvida no castelo… quer dizer eu posso ouvir pelo menos, eu e o Harry na verdade… e tem os alunos que foram petrificados por aquilo, e agora que eu sei sobre o diário com magia negra que acaba possuindo Gina as vezes… bom, não tem como não associar aquilo e assim mais uma vez, eu acabo sendo envolvida em algo perigoso e me sentindo meio que cúmplice disso tudo, já que não posso contar... - ela disse um tanto quanto desanimada- e sem mencionar os tantos outros bruxos das trevas que estão por aí à espreita esperando apenas uma oportunidade para poder me caçar, como a mãe da Carla ou o pai de Draco por exemplo… mas isso é algo que você já deve estar suficientemente a par, já que está na família a algum tempo e essa é a grande maldição da nossa genealogia, ser uma guardiã - Shara colocou a mão em seu ombro, sobre a marca estampada em sua pele - o nosso sangue... é miseravelmente valioso - ela finalizou de forma triste… - agora... como exatamente você me ajuda em tudo isso? - Shara perguntou para a boneca, sentido vontade de rir de si mesma naquela situação… quando uma brisa forte invadiu todo o lugar, balançando seus cabelos e derrubando a boneca no chão.

Shara se abaixou para ajuntá-la quando notou que embaixo do vestido florido que ela usava havia um pequeno e sutil cordão dourado solto, era uma miséria pontinha como se fosse um fio descosturado ali, com o intuito de removê-lo, Shara o puxou, mas para sua surpresa ele estava preso e por mais que ela tentasse aquilo não saia por nada… ela não havia visto isso antes, e aquilo chamou sua atenção… e por mais estranho que fosse, Shara sentiu que havia algo ali… ela puxou sua varinha, a removendo do coldre e apontou para a boneca em sua mão.

—Revelio - ela disse aquele feitiço que ela aprendeu de forma inusitada naquele que havia sido um sonho estranho, sonho que a havia impulsionado a descobrir aquele compartimento secreto dentro do armário no quarto privativo do seu pai, a fazendo descobrir toda a verdade sobre eles, e assim que dito o fio magicamente se transformou em algo parecido com um zíper… Shara o puxou devagar, havia um minúsculo papelzinho guardado dentro daquele espaço, ela o puxou e o abriu com cuidado. Shara não conhecia aquela caligrafia.

"Condado de Brecon, chalé 54, País de Gales" aquilo era um endereço… então ela congelou, sim um endereço… ela encarou a boneca de pano outra vez, que continuava completamente apática na sua mão a soltando no chão assustada, Elza... mas como? Aquele havia sido o presente de Antony... foi ele que a havia trazido, guardado e lhe presenteado no natal… como Elza poderia? Como ela?... será que aquele endereço sempre esteve ali? Esse tempo todo? Anos… talvez? Afinal aquela havia sido a boneca de Aurora, sua avó... porém Aurora era a filha de Elza… Haviam muitas perguntas agora mas a principal delas…

Como... como o diretor sabia? E pensar nisso fez Shara estremecer. 


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Notas finais do capítulo

Bom sem mais delongas, fica revelado aqui o motivo pelo qual Alvo Dumbledore queria que ela "conversasse" com a boneca... seria obvio e previsível demais se Elza fosse de fato entregar o endereço pelo sonho, lembrem que Alvo alertou Severo disso, agora manter o endereço dentro da boneca... me contem o quão surpreso isso foi?

E bem... sobre o endereço, eu os desafio a abrir o primeiro capitulo dessa fic e reler apenas a primeira frase da história, sim agora todos já sabem onde esse lugar vai nos levar!

Esse é um capitulo que eu considero forte, já tivemos alguns assim... mas Flocos foi literalmente assassinado de forma fria e brutal aqui e isso por vingança, e a cena do "velório" eu meio que desidratei litros, principalmente por que dessa vez ela não chorou... digo quase não chorou, precisa ser forte e ela é... cara ela é!
Ela fez desse um dos momentos mais marcantes da história...

Bye bye Flocos... Sentiremos sua falta!

Obrigaduuu mais uma vez a todos que vem acompanhando até aqui :)



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