Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 85
Futuro - Ele era o pai dela


Notas iniciais do capítulo

Dependendo do seu estado de espirito, era bom preparar o lencinho!



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—Certo - Beta suspirou enquanto fechava o livro com força e encarava ela e Gina - que tipo de amizade é essa nossa em que não podemos confiar umas nas outras? - ela perguntou aborrecida, Gina baixou os olhos continuando sua leitura, fazendo Beta bufar com aquela falta de iniciativa – é evidente que tem algo acontecendo aqui… com as duas principalmente e nenhuma quer contar – ela disse cruzando os braços - achei que amigos pudessem ter mais liberdade - Shara desviou o olhar.

—É complicado, apenas deixe passar – Gina sussurrou, Shara voltou sua atenção para a amiga ruiva, ela que estava tão envolta aos seus próprios problemas e dilemas não havia sequer reparado em Gina desde que as aulas haviam começado, ela parecia de fato abatida e Shara se sentiu mal por isso.

—Deixar passar? Não mesmo… certo, eu começo  – Beta disse, puxando a respiração e tanto Shara como Gina voltaram suas atenções para a amiga morena agora, o que exatamente ela estava tentando começar? – mamãe vai se casar... - ela informou - sim ela escreveu no natal – ouvir isso fez Shara se sentir ainda pior, ela não havia reparado nas amigas desde então, já que havia escolhido se afastar de todos daquela maneira… mas com as aulas voltando, era uma escolha bastante difícil de sustentar… principalmente com amigas que ela tinha, elas definitivamente não deixavam passar.

—Eu sinto muito – Gina foi a primeira a dizer – como seu pai reagiu? Ele ficou muito arrasado? – ela perguntou.

—Sobre isso… bem – Beta encarou o livro fechado sobre a mesa – digamos apenas que ele trouxe uma amiga na ceia de natal... foi como ele a apresentou a nós... uma amiga – ela bufou com ironia – como se fossemos tão novas e não pudéssemos entender isso… ele estava nervoso obviamente e derrubou todo o pote de ervilhas, ela a "amiga" é detestável… acredita que ela não gosta de ler… dá pra confiar em alguém que não gosta de ler? - Beta perguntou encarando o vazio.

—Eles estão seguindo em frente – Gina disse – talvez não seja tão ruim... como sua irmã reagiu a isso?

—Bom... ela tem 15 anos você sabe e começou a namorar o monitor chefe da lufa lufa então… ela passou grande parte do tempo com ele, pendurada naquele telefone ou usando o correio bruxo… isso por todo o feriado, é irritante acreditem – ela encarou as amigas – já eu… tive bastante tempo de sobra, já que ninguém me escreveu - ela as encarou brava - ninguém - ela reforçou.

—Eu... me perdoe Beta – Shara disse de forma sincera – é que havia tanta coisa acontecendo nesses dias... eu simplesmente não tive cabeça – ela admitiu.

—Ótimo, sobre isso… - Beta a encarava - sua vez… que tipo de coisas? – ela perguntou, fazendo Shara estremecer.

—Certo... eu fui visitar minha amiga Catie no lar... digo no orfanato, um dia antes do natal, e bem... aconteceu um ataque lá… bem nesse dia, e minha amiga ela se feriu gravemente... – Shara disse, se sentindo um pouco mais aliviada em poder entregar pelo menos um pouco daquilo que a afligia - foi complicado.

—Espera… na véspera de natal? – Gina perguntou – meu pai falou sobre esse ataque... um comensal da morte, houve mortes não houve?

—Sim... duas crianças e dois adultos – Shara confirmou

—Um comensal? – Beta perguntou com a voz trêmula – como assim?  por que um comensal estaria atacando um orfanato? – ela perguntou assustada.

—Shiiii – Gina pediu silêncio –  não fale tão alto… mas eles estão por toda parte... meu pai disse que alguns membros da ordem foram convocados nesse dia e as intenções do ataque são extremamente sigilosas, nem ele sabe, mas me parece sério… – Gina se voltou para ela. E ela sentiu seu coração acelerar, por favor não pergunte, Shara mentalizou… – eu sinto muito Shara, deve ter sido muito difícil – Shara assentiu, um tanto quanto aliviada - E como está sua amiga? – Gina perguntou.

—Ela… meio que quase morreu, trouxemos ela para Hogwarts... ela está na enfermaria agora, se recuperando, mas vai ficar tudo bem – Shara comentou - mas foram dias difíceis.

—Isso tudo... me desculpe Shara, não imaginei – Beta disse em tom solidário.

—Está tudo bem Beta… de qualquer forma eu deveria ter escrito – Shara sorriu de forma discreta - eu sinto muito por você também - Beta assentiu, agora olhando para Gina que se mexeu de maneira desconfortável.

—Bom – Gina parecia com alguma dificuldade – precisam prometer que não falarão sobre isso com ninguém ok? – ela disse, tirando um caderno da bolsa – é um diário – ela explicou – eu o encontrei nos meus pertences pessoais na primeira semana de aula... não é meu – Gina fez uma pausa... por que isso parecia tão ruim? mas Shara sabia que era suficientemente ruim, pois ela sentiu uma leve queimação em sua cicatriz.

—De quem é? – Beta perguntou interessada.

—De um garoto – ela respondeu vagamente - alguém que não conhecemos.

—Você leu o diário de um menino? – Beta arqueou a sobrancelha, agora ainda mais curiosa.

—Na verdade, não tem nada escrito – ela disse sem piscar enquanto o abria – como podem ver - ela mostrou - porém... – ela olhou para todos os lados para ter certeza de que ninguém estava ouvindo – eu acho que fui possuída por ele algumas vezes – ela admitiu, Shara se inclinou ainda mais contra a cadeira, ela que achava que coisas estranham só aconteciam com ela, agora havia sido pega completamente de surpresa com aquela revelação, afinal de tudo que a acometeu até ali, felizmente para ela, ser possuída não havia sido uma delas.

—Oque você quer dizer com ser possuída? – Shara ousou perguntar

—Bem... no começo foi tranquilo, eu podia conversar com o diário... – Gina tentou explicar

—Conversar? – Beta estava com a voz tremula outra vez

—Sim… eu escrevia e as palavras apareciam pra mim como resposta – ela disse – mas depois, algumas vezes eu simplesmente apagava, e quando acordava minhas vestes estavam sujas e molhadas, e uma vez minhas mãos continham sangue... – ela sussurrou.

—É... eu sei que você comentou sobre não falarmos sobre isso com ninguém... mas Gina, isso é sério... acho que deveria levar essa situação a professor Minerva – Shara aconselhou - eu sei que sou nova aqui… mas isso não é o tipo de coisa que se parece normal para um diário fazer.

—Eu nunca pensei que diria isso – Beta se inclinou para frente também, se encolhendo – Mas Shara tem razão – Shara a encarou confusa – oque? – Beta perguntou – não vai me dizer agora que tem algum apreço pelas regras…

—Eu não posso – Gina sussurrou – o diário, ele tem me ameaçado… ameaçado matar minha família se eu contar – ela as encarou, seus olhos estavam marejados – eu faria qualquer coisa para protegê-los, para proteger quem eu amo, qualquer coisa – ela reforçou e Shara entendia aquilo, entendia perfeitamente bem... Shara se aproximou do diário, ela encostou na capa, para abri-lo, mas o soltou imediatamente...

—Aiiii – ela olhou para a ponta dos dedos, aquilo havia queimado sua mão, Beta deu um gritinho assustada.

—Magia negra – Beta disse - você não pode encostar... - ela a encarou - é como se o objeto em questão, repelisse sua magia, já li sobre isso.

—De fato… isso nunca aconteceu antes – Gina disse a encarando confusa - quer dizer, não que eu tenha mostrado para alguém… mas de todas as coisas estranhas que esse diário faz, essa nunca foi uma delas - Beta se aproximou para encostar na capa de leve, preparada para mover a mão mas nada aconteceu com ela...

—Me parece que você não pode mesmo abrir – Beta disse olhando para ela, haviam bolhas em suas pontas de dedo, aquilo ardia.

—Olha nem pretendo – Shara respondeu nervosa – e se… - ela encarou as amigas - e se isso tiver alguma relação com a câmara secreta – ela disse, afinal de contas nada mais a surpreendia e Gina empalideceu na hora.

—Vocês precisam me prometer – ela estava nervosa agora – de que não falarão sobre isso com ninguém – ela parecia assombrada, Beta e Shara se encararam, mas assentiram.

—Deveriam tomar mais cuidado – a voz arrastada atrás delas as assustou, Gina guardou o diário apressadamente – dito dessa forma, pode parecer que estão aprontando alguma coisa – a voz do professor Snape era fria e séria, ele encarou Shara por um instante - Srta. Epson, preciso que me acompanhe – ele pediu, saindo.

—Como ele faz isso? Como ele sempre consegue te encontrar dessa maneira? – Beta sussurrou, ele já havia se afastado um tanto.

—É... esse negócio da mentoria... bem eu meio que sou obrigada a avisá-lo onde estou na maioria das vezes – ela mentiu, encarando o colar.

—Ele quase descobriu – Gina estava branca – sobre o diário... – ela soltou a respiração… - Shara me prometa… - Shara colocou a sua mão sobre a de Gina.

—Gina tem minha palavra... apenas tome cuidado – Shara disse, se levantando, indo em direção ao professor, aquelas bolhas estavam ardendo bastante... que magia era aquela? E por um momento ela se esqueceu dos seus próprios problemas, afinal Gina tinha um dos grandes também... o professor Snape a estava esperando no corredor... o que significava aquilo? ele a havia expulsado da sua sala de aula, apenas algumas horas atrás... ela se aproximou, e assim que chegou perto o suficiente, ele agarrou sua mão, a pegando de surpresa.

—Onde conseguiu isso? – ele perguntou, encarando a ponta dos seus dedos enquanto analisava os ferimentos – é uma queimadura de 2° grau – ele informou sério, ele realmente tinha bons olhos e um excelente faro para problemas, os que ela se envolvia no caso.

—É... chá – ela mentiu – eu derrubei chá – ele a encarou, ela torceu para que ele não invadisse sua mente ali, mas ele não fez, ela podia sentir aquilo agora.

—Desatenta – ele grunhiu – já que certamente estará indo a enfermaria, peça para que Pomfrey providencie algo para isso – ele orientou.

—Enfermaria? – ela perguntou, sentindo seu coração acelerar.

—De fato – ele respondeu – Pomfrey me avisou que sua amiga acordou tem algumas horas e que está apta para receber as primeiras visitas – então ele havia ido de encontro a ela, apenas para repassar aquele recado, mesmo quando ele parecia bastante aborrecido com ela mais cedo por aquilo que havia acontecido em sua sala de aula? ela teve que se controlar para não demonstrar nenhum afeto ali... ela estava ansiosa para ir até suas alas mais tarde, ela queria ver o que o diretor havia feito, ela tinha um quarto afinal... mas estava insegura com a forma que ele a receberia, depois daquele ocorrido... mas ele parecia simplesmente ter se esquecido daquilo, isso era mesmo possível? E ver Catie... falar com ela, era tudo que ela mais queria... isso era algo que ele sabia, e foi então que a realidade sobre a conversa difícil que elas teriam caiu sobre ela como uma avalanche, ela sentiu alguma dificuldade em respirar, e mesmo que ela tivesse ensaiado diversas maneiras de abordar aquele assunto com a amiga, agora simplesmente nenhuma forma parecia funcionar – não precisa fazer isso agora, se não quiser – ele disse parecendo notar sua aflição.

—Eu... eu quero – ela o encarou – já passou tempo demais… só que será difícil – ela sussurrou - independente de quando for, será difícil e prefiro que seja logo.

—Sim isso faz… – ele disse – acredito também que não irá querer companhia? – ele perguntou.

—É… acho que prefiro fazer isso sozinha – ela admitiu, não por nada... mas tornaria tudo ainda mais difícil tê-lo assistindo, e Catie não o conhecia ainda… e a figura dele poderia ser bastante assustadora à primeira vista, talvez a segunda também… ou talvez sempre… ele assentiu.

—Estarei em meus aposentos se precisar - ele informou se afastando, era estranho, a forma como ele se preocupava com ela e mostrava algum alento, ao mesmo tempo em que ele a expulsa de sua sala de aula, ou de como ele assustava seus amigos, ela pensou em Draco ali… ela ainda não sabia o que o professor havia feito com ele, Shara o analisou até o perder de vista… e então ela correu.

Shara correu por quase todo o trajeto, parando apenas por breves momentos para recuperar o ar e assim que chegou ao seu destino… ela congelou, ao encarar a imponente porta da enfermaria, parecia ainda maior agora… aquele era o lugar que ela mais temia no início e que com o passar do tempo e depois de vivenciar tantas experiências distintas ali, passou a ser um lugar de memórias, muitas boas e outras nem tanto assim, ela encarou os pulsos… seu coração palpitava, não apenas pela energia e esforço desprendido para chegar até ali no menor espaço de tempo possível, mas principalmente pelo fato de que ela ansiava por aquele momento mais do que qualquer outra coisa naquelas últimas semanas, ver Catie passou a ser sua prioridade, Shara estava feliz obviamente ao mesmo tempo em que ela estava tensa… e resolvendo não dar ouvidos para aqueles sentimentos conflituosos ela simplesmente abriu a porta, se deparando com a cena de Catie sentada em sua cama, ela sorria... enquanto falava algo para Antony, ela parecia incrivelmente bem, Madame Pomfrey havia feito um excelente trabalho ali... seus olhos se encheram de lágrimas, assim que encontraram com os olhos da amiga, Catie agora sorria para ela, como em muito tempo Shara não havia visto... não se importando com mais nada Shara correu até ela, soltando sua bolsa no meio do caminho e se jogando em seus braços, aquilo era como se sentir em casa novamente, aquilo era bom.

—Shara – Catie disse seu nome da forma como sempre fazia, passando as mãos em seus cabelos… Shara não podia dizer o quanto sentia falta daquilo, até sentir aquele contato outra vez – senti tanto a sua falta - Catie disse tirando seus próprios pensamentos da cabeça - e veja só… esse lugar, ele é mesmo real... e é incrível – ela soava esperançosa – Shara a abraçou com ainda mais força, como era bom tê-la ali, tão perto, viva e tão radiante – sabe que eu não me recordo como cheguei aqui – ela disse finalmente… - por mais que eu me esforce eu não me lembro dessa parte... eu me lembro de você... de como me encontrou no sótão, mas é como se todo o resto tivesse sido apagado – ela disse forçando a memória.

—Não há muito para se lembrar depois disso, você... estava machucada… era grave, então a trouxemos pra cá, você meio que apagou depois disso - Shara pulou todas as partes ruins.

—Antony… esse é o nome do enfermeiro não é? - Catie perguntou, Antony havia se retirado dando alguma privacidade para elas, Pomfrey havia feito o mesmo - ele me informou que fiquei desacordada e que se passaram duas semanas desde…

—Duas semanas e meio na verdade - Shara contava os dias… e Catie segurou sua mão com força, as bolhas arderam um pouco, mas ela não se importou.

—Eu sinto muito por isso Shara - Catie disse… - deveria ter sido um dia feliz aquele, mas então tanta coisa aconteceu… foi tão rápido e eu não queria deixá-la preocupada por tanto tempo.

—Não… - Shara a interrompeu, por Merlin não… Shara suspirou - eu que sinto muito, por tudo na verdade - e tudo significava muita coisa… era de fato tudo, em grande escala.

—Não é sua culpa - ela sorriu de maneira discreta - precisa parar de fazer isso… - Catie disse afastando uma mecha do seu cabelo que estava parcialmente cobrindo o seu rosto - você parece cansada Shara, está se alimentando corretamente? - ela a encarou, Shara ignorou a última pergunta... Catie era tão boa, mas aquilo não era sobre ela… quer dizer, não dessa maneira, dessa vez aquilo era sobre Catie.

—Catie… escute, Noah… - foi difícil dizer o nome dele na frente dela agora, não soava mais como antes…

—Eu sei... – ela colocou a mão sobre sua boca de forma gentil - está morto eu suponho - ela concluiu, Shara a encarou surpresa - eu vi quando ele foi atacado, não imaginei que ele pudesse sobreviver a aquilo, afinal quem poderia? E aquela mulher… ela era uma bruxa não era? - Catie perguntou.

—Sim ela era… - Shara respondeu - Catie, aquela bruxa que atacou Noah… e você, ela estava atrás de mim naquele dia... existe tanta coisa que preciso te contar - Shara não sabia muito bem por onde começar, Catie se encostou na cama, suspirando.

—Bom que temos tempo agora - ela disse com ternura - não se culpe por isso Shara, estamos bem e isso é oque importa - ela enfatizou, era evidente que ela não estava entendendo as consequências de tudo aquilo, Shara não podia culpá-la por isso – e... Noah, bem... ele não é exatamente uma perda né - ela disse, Shara sentiu seu estômago revirar ali... ele era, sim… ele era uma grande perda.

—Mancha também....  digo, ela não sobreviveu ao ataque - Shara disse sem ressalvas, Catie se ajustou na cama, parecendo receosa agora, não que ela se importasse com Mancha, mas Shara sabia o que ela estava pensando…

—Mais alguém? - Ela perguntou, ela havia entendido as implicações daquilo agora… era difícil… mas Shara decidiu que não iria sustentar nenhuma mentira, por pior que fossem as consequências daquilo, Shara sabia muito bem como era ruim ter alguém em que se confia, mentindo sobre algo, por mais que as intenções fossem boas.

—Sim… - ela respondeu - Elisabeth e Vitória - Shara disse os nomes… Catie levou as duas mãos sobre a boca, Shara sabia o quanto Catie era apegada com as meninas, ela era a mais velha da turma e ela se sentia responsável de certa forma por cada uma delas – eu sinto muito… - Shara disse vendo a expressão de dor que havia se formado no rosto da amiga – me perdoe... – Shara sentiu uma lágrima quente descer pelas suas bochechas.

—Isso é tão terrível - Catie disse quase sussurrando, enquanto encarava o vazio, derrubando uma lágrima também, Catie diferente de Shara, nunca chorava, ela era incrivelmente forte, ela não quebrava - mas ainda assim... não se culpe por isso Shara… não faça isso com você - ela se voltou para ela outra vez… acontece que era sua culpa… tudo ali era sua culpa, Shara sentiu vontade de gritar, não havia como não se culpar, mas Shara engoliu aquele impulso havia tanto ainda para ser dito ainda.

—Eu sei sobre você e Noah - Shara disse sem desviar o olhar da amiga - eu sei a verdade - Catie havia enrijecido agora… suas feições ficaram sérias como nunca antes Shara havia visto.

—O que?... Como? - ela perguntou - eu não lembro de ter mencionado algo sobre isso com alguém.

— Não mencionou - Shara admitiu, ela sentiu falta de ar e seu coração começou a bater de forma acelerada ali... era tão complicado… - eu encontrei Noah… um pouco antes dele morrer, foi horrível... ele estava agonizando - Shara fechou os olhos "diga a ela que eu a amei" - Catie… ele me pediu para dizer… para dizer a filha dele que ele a amava - Shara não estava acreditando que havia conseguido dizer aquilo, Catie estava ainda mais séria ali… mas Shara notou que os olhos dela marejaram… aquilo a havia tocado, mas Shara não sabia dizer se era de uma forma boa ou ruim.

—Amava? - ela perguntou depois de um tempo e de forma rude… certo não parecia ter sido bom - Shara você não acreditou nisso não é? - Catie meio que cuspiu aquela pergunta - tenho tantas cicatrizes em meu corpo que já perdi a conta, você também as tem… chama isso de amor? - ela disse com alguma revolta - não me interessa o que ele te disse, as pessoas dizem coisas sem sentido quando estão no leito de morte… acredite, eu sei muito bem - Catie disse parecendo se lembrar de algo do seu passado - e se quer saber… ele está morto agora, e era isso que todas nós queríamos não é? Eu… estou feliz, está vendo - ela forçou um sorriso - deveria estar feliz por isso também, o seu e o meu opressor… morreu, estamos livres Shara, deveríamos estar comemorando… - ela declarou com certo alívio.

— Acontece que eu não estou… não posso ficar feliz com isso… não posso comemorar, não depois…

—Shara entendo que a cena de alguém morrendo na sua frente, da forma como me parece que foi, pode ter sido bastante traumática para você… mas não se iluda, estamos falando do Noah aqui - ela disse tentando fazê-la recuperar a razão - Noah… você costumava dizer que preferia encarar o inferno do que ele, se lembra?... – sim ele havia sido seu bicho papão como não se lembrar? Mas muita coisa havia mudado desde então, ela não podia perdoar o Noah monstro que ele havia sido, mas havia um Noah antes daquele… havia o pai de Catie – Noah não era bom – Catie finalizou.

—Noah era o seu pai… e ele…

—Não… - ela disse com dor a cortando agora - não insista Shara - ela pediu - podemos ter o mesmo sangue correndo nas veias… mas isso não faz dele um pai pra mim, sabe… teve um tempo em que eu costumava sentir inveja de vocês… eu sei que é estranho – ela disse com certa tristeza - mas a maioria das meninas que chegaram no lar, elas não conheciam… ou não haviam tido a oportunidade de conhecer seus pais biológicos, assim como foi o seu caso… e então tanto você como elas… costumavam idealizar um padrão de família, um pai amoroso, atencioso, alguém que se importasse… eu não, eu nunca pude… sabe por que? - ela perguntou - por que ele era real, ele estava lá todos os dias, ele me machucava de diversas formas possíveis, ele era cruel… e a morte dele, não muda nada pra mim – ela disse, derrubando uma nova lágrima – então está tudo bem, quero que esqueça isso ok? – ela afirmou, mas não estava, Shara respirou fundo...

—Catie… acontece que ele se esqueceu… - Shara disse de forma objetiva, começando a chorar - ele esqueceu do que ele sentia… por você, e não por que ele quisesse... ele não teve escolha – Shara colocou as duas mãos no rosto - ele foi forçado a esquecer.

—O que está falando Shara? - Catie perguntou, se movendo de forma desconfortável – ele te disse isso também?... porque se ele te disse... isso é ainda mais cruel, suficientemente cruel...

—Não... – Shara a interrompeu – ele não disse… eu sei... eu vi o passado Catie, eu estava lá... – Catie a olhou de forma estranha.

—Eu não entendo – ela disse - você está soando confusa… olha podemos falar sobre isso em outro momento, eu prefiro - era óbvio que Catie não entendia, Shara precisava ser mais clara e específica.

—Noah foi enfeitiçado, um feitiço da mente, e isso o fez se tornar mal, ele foi enfeitiçado no dia em que eu fui entregue a ele – Shara disse se lembrando da visão – foi numa noite de tempestade, uma tempestade terrível - Shara se encolheu - eu fui trazida a ele ainda bebe, em um cestinho… eu havia recém sido afastada da minha mãe, por alguém que ela… minha mãe amava e confiava… minha mãe tirou a vida nesse mesmo dia... e meu pai, bem ele não sabia da minha existência até então – Catie a encarava assombrada – essa é a minha história Catie… e foi assim que eu entrei na sua vida e destruí sua família – Shara disse com pesar

—Não… você foi deixada na porta de casa... Noah disse que havia apenas um bilhete no cesto...

—Ele mentiu sobre isso – Shara a encarou – eu revisitei essa memória Catie… – Catie estava confusa – com magia – Shara respondeu, não havia o por que entrar em tantos detalhes com ela naquele momento – Noah foi enfeitiçado por minha causa, ele foi forçado a me levar naquele dia, a abrir o lar, o orfanato que era antes de tudo um sonho da sua mãe - Shara revelou aquilo e Catie parecia ainda mais assustada agora, talvez ao se dar conta da verdade dita daquela maneira - Noah foi obrigado... ele estava com pressa , ele queria voltar para casa, ele queria voltar para você... ele estava preocupado…  – Shara disse, os olhos de Catie mudaram... – ele foi enfeitiçado com o intuito de se tornar o monstro que conhecemos e todos os sentimentos que ele nutria por você... foram apagados Catie – Shara concluiu, vendo o quão difícil estava para Catie associar aquilo – ele de fato não teve escolha… ele simplesmente não podia mais amar nem você e nem ninguém… - ela finalizou.

—Eu… eu me lembro desse dia... como pude me esquecer? – ela perguntou incrédula – fazia apenas alguns meses que mamãe havia partido, ele recebeu uma ligação e precisou sair às pressas, ele disse que eu não precisava me preocupar, que  estaria de volta em breve, era noite e era tarde, ele me colocou na cama como sempre fazia, beijou minha testa, e ajeitou minhas cobertas... ele disse que me compensaria no dia seguinte e me contaria a história do Hobbit quantas vezes eu quisesse… aquela era a minha história preferida... mas ele nunca mais voltou, quer dizer no lugar dele... voltou o Noah que conhecemos, o monstro, ele queimou o Hobbit dias depois... aquele livro foi o último presente que mamãe me deu – Catie disse puxando as pernas contra o próprio corpo, movimento parecido com o que Shara fazia quando se sentia acuada - minha mãe era professora, ela era tão dócil e amava crianças, ela dizia que queria uma casa cheia delas… nunca pensei que ela podia estar se referindo a um orfanato, eu era muito pequena pra entender…

—Eu sinto muito – Shara disse, não podendo conter as lágrimas ali – ele te amava Catie, penso que quando foi atacado e estando prestes a morrer, o feitiço por alguma razão se desfez... ele se lembrou de você novamente, de quem você era pra ele, e do que significava... e foi nesse contexto que ele me pediu para dizer que ele te amou... de verdade – Catie estava soluçando agora - sinto muito que suas últimas lembranças dele, sejam todas tão ruins - Shara disse se aproximando da amiga, querendo abraçá-la, trazer algum conforto, mas ela se afastou.

—Então isso tudo... aconteceu… por você entrou em nossas vidas? – ela perguntou de forma fria, Shara também recuou… Catie havia entendido, finalmente entendido – então foi por sua causa que ele foi enfeitiçado naquele dia? – ela perguntou... ela a encarava séria, Shara sentiu como se parte do seu mundo estivesse desabando ali, lá no fundo era exatamente esse desfecho que ela imaginava que teria, mas passar por aquilo era muito pior do que simplesmente imaginar, Catie havia sido sua melhor amiga por tantos anos… ela não merecia nada daquilo, já Shara sim… mas ainda assim doía, e doía muito.

—Sim - Shara sussurrou… - eu meio que arruinei tudo… eu sei…

—Eu cuidei de você esses anos todos, você se tornou uma parte importante da minha vida… uma irmã, eu te protegi, eu apanhei por sua causa… e você está me dizendo que tudo que eu vivi até aqui… foi forjado… por sua causa? - Havia mais do que ódio naquelas palavras - então quer dizer que eu perdi qualquer esperança de ter uma família decente… por você? - ela disse enquanto a encarava - o quão doente eu estava quando você me encontrou no sótão naquele dia? - ela perguntou, pegando Shara de surpresa com aquela mudança de contexto.

—Voce estava prestes a morrer… - Shara disse encarando a amiga.

—Deveria ter me deixado morrer - ela cuspiu - qualquer coisa seria melhor do que isso.

—Eu não… não poderia… - Shara estava sem palavras - eu não me perdoaria, se eu perdesse você - Shara disse chorando, se lembrando de como havia usado sua magia ancestral para fazer algo totalmente desconhecido e salvar a amiga, ela faria de novo… quantas vezes fossem necessárias, ela faria qualquer coisa por Catie.

—O que acha que está fazendo comigo? - Catie disse chorando - ao me contar tudo isso agora e me deixar simplesmente viver com essa informação… como acha que lidarei com isso a partir daqui? - ela perguntou entre soluços - não acredito que seja tão ingênua assim a ponto de achar que ficaria tudo bem e que eu superaria isso… - não Shara não achava… mas não era justo, Catie merecia saber - Vai embora Shara - ela pediu - Sai da minha vida - ela disse levantando a voz, Shara a encarou… sair da vida? Ela podia entender isso..

—Catie - ela sussurrou o nome da amiga numa tentativa vazia, mas Shara sabia que era ruim… muito ruim…

—SAIA - ela gritou, parecendo sofrer com alguma falta de ar ali - SAIA AGORA - Shara notou que Pomfrey e Antony estavam correndo em direção a elas, Pomfrey acudiu Catie prontamente… já Antony parecia não saber ao certo o que fazer.

—Não é bom se indispor dessa maneira, ainda está se recuperando - Pomfrey havia dito para Catie - venha precisa se acalmar…

—SAI Shara… não quero te ver nunca mais - ela disse em soluços, Shara congelou com aquelas palavras, eram afiadas como uma navalha e seu coração estava sangrando.

—Shara precisa sair - Pomfrey orientou, mas Shara não podia se mover… ela estava presa ali - Antony não fique aí parado faça alguma coisa - Pomfrey disse, foi quando Antony a puxou pelo braço e a levou até a porta da enfermaria.

—Shara… falaremos mais tarde… agora vá até o Snape, ele saberá o que fazer… - ele disse de forma breve, fechando a porta na sua cara, estava feito… o destino podia mesmo ser terrível e cruel…

Shara virou as costas e correu outra vez, enquanto sentia as lágrimas descerem pelo seu rosto livremente… mas aquilo tudo havia despertado algo a mais nela, ela parou um pouco antes de chegar… apenas para encarar as suas mãos, aquilo era como na noite de natal… era ruim, ela estava revivendo a mesma sensação, sua magia estava aflorando de forma rápida e violenta… ela não esperava por aquilo, não ali… não agora, ela não podia controlar… não sozinha, ela precisava se regular, ela precisava de ajuda, ela não podia deixar aquilo sair… ela correu ainda mais rápido, abrindo a porta dos aposentos dele… com medo de explodir tudo antes de entrar… ela sentiu dificuldade em respirar, as crises pareciam cada dia mais frequentes agora, talvez fosse uma tradição entrar chorando naquele lugar dali pra frente… onde ele estava?… ela limpou o rosto desajeitadamente… seus dedos pipocavam e estavam quentes… ela estava com medo… medo de destruir o pouco que ainda lhe restava, ela precisava dele…

—PAI - ela gritou o chamando… - Pai… - ela disse mais fraco da segunda vez, a porta do seu laboratório privativo foi aberta com certa urgência e ele a encarava surpreso, ela o havia  chamado de pai?… sua mão, sua magia…. Ela não podia arriscar, ela correu até ele, e se jogou em seus braços, encostando a cabeça em seu peito e sentindo o cheiro dos ingredientes de poções, o cheiro dele… o seu remédio - minha magia - ela conseguiu dizer - está descontrolada.

—Shara… deixe me ver suas mãos - ele pediu, ela estava soluçando agora, ela não se moveu, ela não podia, ela não queria se soltar dele, nem agora nem nunca mais, ele a ergueu a segurando em seu colo, ela não se importava com o fato dela não ser mais uma criança de 5 anos… ela reconheceu que precisava daquele colo e se dependesse dela, ele poderia segurá-la assim pelo tempo que fosse, para compensar todos aqueles anos perdidos e toda a dor e vazio que ela estava sentindo - vai ficar tudo bem - ele disse a embalando gentilmente, ela respirou fundo, sentindo que sua magia estava se retraindo… era impressionante como ele podia exercer essa auto regulagem nela… ela precisava dele.

—Ela me odeia - Shara disse ao se recuperar - Catie… ela nunca mais vai me perdoar -  ela chorou - ela me odeia…

—Não - ele a corrigiu - ela não te odeia, apenas dê um tempo para ela assimilar todas as coisas - Shara nunca havia visto Catie naquele estado, nunca… ela não achava que seria possível reverter aquilo, mas Shara merecia… afinal ela havia estragado sua vida, sua família… e por fim matado seu pai - não foi você - ele disse como se pudesse ler seus pensamentos ali, mas havia sido… ele puxou sua mão com cuidado, haviam as bolhas, ele a levou para dentro do seu laboratório e a sentou sobre a bancada alta, convocando alguns insumos, Shara notou que ele havia passado algo ali e depois enfaixado, parecia estar resolvendo aquilo a modo trouxa… no caso sem nenhuma magia.

—Isso… - ela olhou para as mãos - isso é?...

—Sim, um curativo - ele disse - até às feridas mais sensíveis precisam de um tempo para cicatrizar - ele disse segurando seu queixo, ela estava confusa agora.

—A queimadura… por que não magia? - ela perguntou curiosa, enquanto tentava limpar seu rosto, ele ofereceu um lenço o que ela acatou prontamente.

—Estou falando de você e de Catarina - ele a corrigiu - verá que sua ferida - ele encarou a mão dela agora - irá sarar no tempo certo… é o processo natural… de todas as coisas, não é diferente para as feridas da alma - ele concluiu, ela o abraçou, aquela era uma metáfora, mas diferente de como era com o diretor… ela havia entendido aquilo, ela chorou na esperança de que ele tivesse razão sobre aquilo.


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Notas finais do capítulo

Começamos com uma conversa honesta entre amigas, e ai... quem sentiu falta desse trio?
Entrando de leve no cânon, vemos Gina confessando sobre o diário com as amigas... o diário é uma horcrux como sabemos e portanto carrega uma fração da alma de Voldemort... e bem, não seria simplesmente adequado que Shara o pudesse tocar... então o diário a queimou.

Mas o ponto alto desse capítulo, é o momento em que Shara revela para Catie a verdade sobre o seu passado, aquilo que aconteceu com Noah para que ele se tornasse o ser depressível que elas tanto temiam, obviamente que Catie não recebe isso muito bem... afinal isso é sobre a sua vida, sobre sua vida miserável... e com um pouco de empatia fica fácil sentir a dor de ambas... e então temos uma ruptura enorme agora.

Shara pelo menos tem pra onde ir agora... e como ela mesmo disse, esta se tornando tradição entrar nos aposentos dele naquele estado... e então vemos ela o chamando de pai mais uma vez... numa cena emocionante de reconhecimento do quanto ela depende dele, e Snape mais uma vez sendo um mega paizão... ele usando os ferimentos dela, para trazer uma lição... mas será que todas as feridas podem mesmo ser curadas? O tempo dirá...

Me contem o que acharam :)



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