Maldição Addams escrita por Kori Hime


Capítulo 4
Deve ser exaustivo sempre torcer pelo anti-herói




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A Lua estava tão bela no céu, dizia Gomez, que retornava do jardim com Mortícia, após um passeio noturno. Ele beijou a esposa com amor e, depois de uma troca intensa de carícias e declarações apaixonadas, o casal ouviu um suspiro baixo vindo da varanda.

Ambos viram Pubert sentado na cadeira de balanço da vovó, mas sem balançar. Mortícia pediu para que Gomez conversasse com o garoto, pois ele estava muito estranho há várias semanas.

Era fato que Gomez tentava de todos os jeito uma aproximação com o filho, que agora tinha 12 anos. No entanto, era difícil quando ele o chamava para caçar e o garoto brincava com a presa. Ou quando ele o chamava para fumar um charuto e ele mostrava no celular, os malefícios do tabaco. E teve a vez que Gomez tentou levá-lo para uma aula de esgrima, mas Pubert acabou se machucando e torcendo o pé.

Gomez estava se sentindo culpado, o pior pai do mundo, mesmo tendo dado o seu melhor. Mesmo aceitado aquelas bochechas coradas e o sorriso amoroso. Gomez não sabia o que fazer, até pensou em contratar uma terapeuta familiar, mas desistiu quando ela o questionou sobre a fumaça do cigarro na cara dos filhos. “Como ousa? Minha falecida mãe me deu o meu primeiro cigarro aos sete anos”.

Mesmo com pouca confiança naquela relação, Gomez acatou o pedido de Mortícia e se aproximou do filho.

— Como vai, campeão? — Ele perguntou, tentando copiar um personagem que vira em um filme.

Pubert o encarou confuso, mas depois desviou o olhar para a lua cheia. Gomez ficou preocupado, sentando-se perto dele em um banco que rangia. Puxou assunto, contando sobre a vez que seu primo Vilse se transformou em lobisomem e quase comeu a perna da própria mãe.

— Claro que eles a salvaram, ela colocou uma prótese, que por sinal, era muito bonita. — Ele sorriu, mas Pubert continuou calado. — Bem, qualquer coisa que precisar, pode falar comigo, viu?

O garoto balançou a cabeça e, quando Gomez já desistia de conversar, Pubert fez uma pergunta curiosa.

— Papai, como a gente sabe que alguém gosta da gente?

Gomez retornou, com um olhar arregalado e esperançoso. Seria aquele o momento que eles teriam a conversa de pai e filho? A tão sonhada conversa sobre a doçura do amor e as belezas da paixão?

— Vejamos, essa pessoa costuma chamar a sua atenção?

— Como assim?

— Ela tenta se envenenar na frente das pessoas. Ou bate em você sempre que o vê?

— Não. — Pubert juntou as sobrancelhas. — A mamãe fazia isso?

— Oh! Não, não. Sua mãe sempre foi uma mulher magnífica. Eu que tentava chamar a atenção dela.

— Entendo. — Pubert continuou confuso. — Então como você a conquistou?

— Essa é uma bela história. — Gomez olhou para a lua, recordando-se do funeral que conhecera a esposa. — Ela estava tão linda naquele vestido preto, e o lenço de renda cobrindo sua cabeça a deixava misteriosa. Eu me apaixonei no primeiro instante, tentei chamar a atenção dela, quando caí na cova do defunto, mas ela se levantou antes de ver eu ser retirado. Um dia, quando eu não aguentava mais sentir meu coração dilacerado, eu fui até a casa dela e escalei a roseira. Machuquei toda a minha mão com os espinhos, sabe que eu sou alérgico a rosas, não sabe? Cheguei no topo, bati na janela dela e quando sua mãe abriu, viu o meu rosto inchado. Ela ficou apavorada e foi comigo até o pronto-socorro, segurou a minha mão a todo momento e foi ali que eu me declarei.

Ao fim da história, Pubert sorria para o pai.

— Você subiu uma roseira mesmo sendo alérgico?

— Por amor, você encara seus maiores medos. — Gomez estendeu os braços para o filho. Pubert o abraçou, apoiando a cabeça no peito do pai. A reação de Gomez ao ouvir o coração do filho tão acelerado o fez se emocionar. Ele alisou os cabelos macios e cheirosos do menino, beijando-o no topo da cabeça, olhando-o em seguida. — Você não precisa se provar corajoso arriscando sua vida, filho. Basta ser sincero com seu coração.

— Obrigado, pai.

Pubert se levantou, mostrando-se mais revigorado, com sua aparência angelical e o sorriso encatandor.

— Seja quem for essa pessoa, terá muita sorte de ter o seu amor. Pois o amor de um Addams é para sempre.

— Eu te amo, papai. — Pubert voltou a abraçá-lo e Gomez o apertou um pouco mais, fazendo-o tossir com a falta de ar.

Ele sabia que era uma criança diferente naquele mundo, mas se sentia orgulhoso de ter um pai que o amava, e que demonstrava sem vergonha esse amor. Pois, embora fosse uma criança amaldiçoada, ele era um Addams.


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao final, obrigada por lerem. Eu escrevi pouco porque hoje é o último dia do desafio e só agora tive tempo para fazer.
Até mais!