Maldição Addams escrita por Kori Hime


Capítulo 2
Eu olharei direto para o Sol, mas nunca para o espelho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/808948/chapter/2

Pubert não queria ser diferente de sua família. Mas ele também não estava desconfortável em ser quem ele era. A única coisa que o deixava triste, era ver os olhares de pena de seus pais, avós e dos tios. No entanto, seus irmãos não o olhavam com pena. Pelo contrário, olhavam como se ele fosse alguma espécie de animal preso em uma experiência científica. E, com o passar dos anos, o garoto aprendeu a se defender das tentativas de sua irmã mais velha tentar abrir seu cérebro para examinar o que havia lá dentro. Por outro lado, seu irmão queria testar se ele conseguia correr tão rápido quanto outros animais, ou se tinha nojo de comer lagartixas.

Na ânsia de tentar agradar o irmão, ele chegou a segurar uma lagartixa contra sua boca. Mas não conseguiu comer o bichinho, estava com muita pena. Aliás, ele não comia carne, de nenhum tipo. O que causou um susto e mais choro na família.

Aos poucos, ele também parou de beber leite de vaca ou de cabra, não quis tomar mais os drinques que o pai preparava pela manhã e decidiu não usar nada que viesse de animais, ou que tivesse sido testado em animais.

— Em pessoas pode? — A Vovó Addams uma vez perguntou, segurando um machado.

— Não, vovó, nem em pessoas. — Ele respondeu, com sua voz gentil de sempre. — Obrigado por perguntar, e eu agradeço também a sua compreensão.

Ele saiu, sem olhar para trás, pois sabia que a avó deveria estar estática e com a boca aberta.

Para fazer novos amigos, Pubert precisou ser criativo e ir para longe do bairro em que vivia. Também não levava ninguém à mansão. Porém, uma vez, no Dia das Bruxas, um de seus amigos propôs uma brincadeira. Ele queria saber quem teria coragem de pedir doces na mansão da colina, perto do cemitério.

Pubert sabia que ele se referia à mansão de sua família, mas nada disse. Ou melhor, ele tentou fazer todos mudarem de ideia e, quando viu que não conseguiria, decidiu conversar com a mãe, que era a pessoa que mais tentava compreender as suas estranhezas.

— Mãe, eu posso trazer alguns amigos aqui para a noite de Dias das Bruxas?

— Oh! Meu ratinho querido, é claro que pode. — Ela sorriu amplamente, por ser a primeira vez que Pubert se mostrava interessado na festa de Dia das Bruxas. — Vou preparar os petiscos e algumas brincadeiras. O que acha de Cova profunda?

— Hmmm — O garoto refletiu. A brincadeira consistia em cavar o buraco mais fundo que pudesse e depois jogassem alguém lá dentro. Quem cobrisse a cova primeiro, vencia. — Acho que é uma brincadeira um pouco radical demais para meus amigos.

— Que pena, eles possuem alguma limitação? Porque, se tiverem, fica mais divertido ainda vê-los arranhando as mãos na terra para subir a cova.

— Mãe, meus amigos são como eu. Ou melhor, quase como eu. Eles queriam vir aqui pedir doces, mas eu não quero que nenhum deles morram do coração com o susto que vão ter.

— Compreendo. — Mortícia levou o dedo ao queixo, batendo as longas unhas contra a pele pálida.

— Talvez apenas se você desse os doces para eles, e deixassem eles irem embora. Sem susto.

— Sem susto?

— Isso, e sem machucar. Sem gritos, e nem foices.

— Mas onde está a graça nisso? — Ela soltou os ombros, se esforçando para compreender o garoto.

— A graça é que eles vão voltar para a casa deles e continuar sendo meus amigos.

— Oh! Isso me parece interessante. — Ela voltou a sorrir. — Você quer manipulá-lo?

Pubert balançou a cabeça, vendo que não havia outro jeito.

— Isso, mamãe. Eu quero que eles pensem que estão no controle da situação.

— Adorei! Que brincadeira divertida. Vou agora mesmo na cidade comprar doces.

— Posso ir com a senhora? Para me certificar de que vai escolher os que eles gostam.

— Sim, é claro. Você os conhece muito bem, não é mesmo? Vai fazer os amigos comerem doces... é inovador.

— Obrigado, mamãe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Own mamãe ama, mamãe cuida.